quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Arthur Penn, 1922-2010"


Morreu Arthur Penn.

Com ele, morre um dos mais importantes e brilhantes cineastas norte-americanos que foi também um dos mais europeus.

Em termos cinematográficos, foi, basicamente, um homem da "década política" de '70 embora a sua carreira no cinema tivesse começado em 1958 com "The Left-Handed Gun" com Paul Newman [não por acaso, durante algum tempo visto como uma espécie de Marlon Brando menor] um filme onde era evidente um espírito que Penn partilhava com cineastas como Nicholas Ray, por exemplo ou até com Elia Kazan, o Kazan 'dessa altura', o Kazan do desconforto e das personagens stanislavskianas e inadaptadas; Kazan, o "revolucionário" cuja contestação começava logo na própria técnica de representação e, pelos vistos [ao contrário de Penn] acabava também, em larga medida, aí, como posteriormente se comprovaria.

Foi, dizia eu, um homem da "década política", marcusiana, do Cinema Americano e em geral da História do mundo [com a guerra do Vietname "lá" e toda uma série de conflitos de libertação anticolonial "cá", i.e. envolvendo várias potências europeias entre as quais Portugal] e diversos fenómenos de guerra social em Itália, na Alemanha e em França, por exemplo; foi, dizia, um homem da "década política" do Cinema Americano, mau grado a estreia [e logo com esse excelente western humanista e psicológico que foi o citado "The Left-Handed Gun"] e mau grado aquele que foi, sem dúvida, o seu filme mais determinante e icónico, a sua obra-prima servida por uma montagem absolutamente fabulosa [e fabulosamente revolucionária] de Dede Allen, "Bonnie & Clyde" datar já da década de '60.

"Bonnie & Clyde" é o "À Bout de Souffle" e até um pouco, [ressalvadas as devidas proporções] o "Pierrot le Fou" de Penn: um filme esteticamente muito "europeu", muito... godardiano, desesperadamente louco, lucidamente niilista e esplendorosamente apocalíptico: um suicídio político verdadeiramente arrebatador e absolutamente inesquecível, de uma beleza desesperadamente final e absoluta.

Depois dele, Penn faria ainda em 70, um relevante "The Little Big Man" com Dustin Hoffman e um terceiro "western", "The Missouri Breaks", com Marlon Brando e Jack Nicholson.

A partir dos anos '80, Penn dirigiria ainda uma curta série de filmes que ficaram, todavia, sempre, muito aquém do êxito [e do interesse, da relevância] dos seus maiores sucessos e, no final da carreira regressaria mesmo à televisão onde foi produtor executivo de uma série de grande sucesso, de resto, ainda em exibição, "Law & Order".

Faleceu de ataque cardíaco com 88 anos.


[Na imagem: Arthur Penn dirigindo Faye Dunnaway e Warren Beatty em "Bonnie & Clyde"]

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