domingo, 26 de setembro de 2010

"Eddie Fisher, 1928-2010


Embora nos E.U.A. [onde nasceu em Filadélfia, no ano de 1928, filho de russos imigrados] tivesse atingido o estrelato tendo sido trazido para o mundo do espectáculo por Eddie Cantor, um cómico de grande sucesso popular no seu tempo, em Portugal esteve sempre, com Perry Como ou Vic Damone, por exemplo, numa espécie de segunda ou terceira linhas de "crooners" "importados", incomparavelmente menos conhecidos [e apreciados] à cabeça dos quais se achavam nomes como os de Frank Sinatra ou [o para mim, muito melhor em tudo!] Dean Martin.

Entre nós, Fisher ficaria sobretudo associado a um "escândalo" mediático que foi o divórcio de Debbie Reynolds, com quem constituiu de 1955 a 1959, uma espécie de casal ideal intensivamente usado pela imprensa norte-americana e pelo seu próprio marketing profissional e comercial como modelo de juventude, beleza e sucesso.

No provinciano Portugal da época, Fisher, que deixou a mulher, muito jovem, para casar com Elisabeth Taylor, amiga do casal, pouco [de facto, coisa alguma!...] faltou para que fosse apresentado como um perigoso "immmoraliste" [para citar um título famoso de Gide] e uma ameaça para a solidez das instituições [o casamento era à época uma dessas instituições literalmente intocáveis para o opressivo conservadorismo "moral" da ditadura, hipocritamente apoiado num moralismo farisaico e repressor que se confundia amiúde intrinsecamente com o próprio 'regime', inclusive na sua vertente estrita---e estreitamente!---política].

Já Taylor vinha, pelo seu lado, pôr em causa a imagem dócil e discreta da 'Mulher ideal' católica e salazarista, sexualmente inexistente [ou apenas... "funcionalmente" existente] e, por isso, naturalmente desprovida do direito moral e especificamente político-jurídico à afirmação de um erotismo próprio e autónomo, independente do do homem [para uma parte da "hermenêutica" mediática da época ela foi, neste contexto, a Eva, mais velha e "experiente", que "roubou" o jovem Adão à inocente Reynolds, fornecendo assim um rosto e uma circunstância visível, a seu modo, tópica, ao paradigma abstracto, à época cultu(r)al e politicamente inquietante, aterrador, da Mulher que toma iniciativas em matéria amorosa e que conduz os ritmos e as formas específicas da nupcialidade ou que, de um modo mais geral, toma em mãos a condução dos "rituais de acasalamento", rompendo desse modo um tabu e uma ecologia da sexualidade que a igreja tinha conseguido impor como mandamento e imperativo moral absoluto e que o 'regime', sempre ávido de explorar e investir nas múltiplas formas de docilidade, contenção e renúncia, acolhera, por sua vez, entusiasticamente].

E se é verdade que a explosiva e torrencial, sempre excessiva, Taylor soube recuperar essa imagem de.... "vulva devoratrix" que tanto aterrorizava a, com frequência, no fundo, equívoca e 'problemática' virilidade oficial "fascista à portuguesa"; se é verdade, dizia, que Taylor soube muito bem recuperar [e inclusivamente 'reinvestir' de forma muito hábil na sua própria "ebuliente" imago profissional] essa citada componente de "devoradora de homens", já a de Fisher ficaria para sempre marcada por aquele [e uso aqui a expressão de um modo deliberadamente premeditado] "pecado original" que, de resto, a própria Debbie Reynolds mais tarde viria a "perdoar".

Em vida, Fisher publicou nada menos do que duas autobiografias "Eddie: My Life and Loves", já nos anos 80 do século passado e uma segunda, em 1999 intitulada "Been There, Done That" que despertaria, aliás, segundo a crónica, uma escandalizada rejeição, entre outros, por parte da própria filha que teve com Debbie Reynolds, Carrie Fisher, uma efémera estrela de "Star Wars" de George Lukas.

Fisher faleceu com 82 anos, vítima de complicações pós-operatórias.


Imediatamente a seguir um exemplo do que Eddier Fisher foi profissionalmente: música fácil, de irrecusável eufonia numa voz extremamente plausível, dúctil e elegante, globalmente muito móvel e muito agradável, nada... 'complicada': uma receita eficaz para o sucesso que logrou, como disse, de facto, a dado momento, alcançar.


4 comentários:

Ana G disse...

Prof. Carlos Acabado, desculpe a abordagem, mas o senhor deu aulas na escola secundária do laranjeiro há uns valentes anos atrás?

Carlos Machado Acabado disse...

Dei, sim senhora.
E não tem de pedir desculpa: andou por lá?

Ana G disse...

Genial! O meu nome é Ana Garrett. Eu e o meu Prof de Inglês (C.A.), tinhamos uma relação extraordinária :)
Jamais esqueci esse Homem. E, subitamente, ei-lo :)
Estou feliz por encontrá-lo, não deve lembrar-se de mim, presumo que terão sido largas centenas de alunos ao longo da sua carreira, mas tome lá um forte abraço! :)

Carlos Machado Acabado disse...

Então, não me lembro!!!
Eu, aliás, já tinha suspeitado de que a Ana G. e a Ana Garrett eram uma e a mesmíssima inesquecível pessoa!!
Quantaas vezes, eu ainda hoje falo de vocês, da Ana, da Odete, do Chibeto eu sei lá! Ana: tem de me contar tudo sobre vocês: o que é feito de vocês, daquele pessoal todo.
Tem e-mail?
Mande-me um mail, está bem, para a gente conversar.
O meu endereço-e é c.acabado@gmail.com
"Apasreça" por lá que a gente conversa, ham?
A Ana Garrett!...
Então, não me lembro!...
Um beijinho e "apareça", ouviu?
Por lá e por aqui...
Sempre que quiser!
Claro que foram muitos alunos mas há um pessoal especial que a gente nunca esquece...
Beijinho!
"Apareça", Ana, e "traga" a Odete, ham?...