terça-feira, 1 de junho de 2010

"Lenore Kandel [1932-2009]"


É uma das poetas mais ousadas e estimulantes dos "filhos de Rimbaud e Baudelaire" que se juntaram temporal e cultu[r]almente na chamada geração "beat".

A sua Poesia cruza, por vezes---de uma forma "larga" e aparentemente casual, evocando, muitas vezes, o haiku na tentativa muito... "simbolista" de ir poeticamente ao encontro de toda uma hipótese de "metafísica por absurdo" [que se encontra objectivamente configurada no projecto poético consistente em achar formas organicamente textualizadas de isolar e aprisionar o instante mágico e secreto, irrepetível, dentro do delicadíssimo arco da experiência sensorial na palavra]---o erotismo ousadamente assumido com uma espécie de reflexão existencial implícita e difusa, "translúcida", que a situa naturalmente num tempo e num espaço americanos muito próprios e característicos.

Desta Autora, recentemente falecida, reproduzo aqui três textos traduzidos por Manuel de Seabra que ilustram estes aspectos:


NOTA DE ANATOMIA

a mão é uma flor
o espaço move a mão por áreas de tempo
o gesto
floresce e morre

CANÇÃO DE JÚBILO

O meu amado maneja o seu sexo
como um beija-flor
equilibrado na delicada orla

Que prazer ser uma planta de mel
e
abrir-me

AMOR NO MEIO DO AR

AGARRA-ME!
Amo-te, confio em ti,
AGARRA-ME!
agarra o meu pé esquerdo, o meu pé
direito, a minha mão!
aqui estou eu pendurada pelos dentes
90 metros acima, no ar, e
AGARRA-ME!
aqui vou eu, voando sem asas, sem pára-quedas, fazendo um dupla tripla
super-cambalhota salto mortal
AQUI MESMO SEM
REDE E
AGARRA-ME!
agarraste-me!
amo-te!

agora é a tua vez

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