sábado, 12 de junho de 2010

"Evocando Muito Brevemente Graham Greene"


Na pesquisa que recentemente empreendi tendo em vista o provável próximo "renascimento" do "Cine-clube na Biblioteca" [agora com a colaboração de uma excelente amiga e competentíssima colega de profissão e sempre sob os auspícios da proficiente bibliotecária da Biblioteca Municipal de Montemor-o-Novo] estive recentemente a regravar velhos videos em DVD e a coligir notas que tencionamos utilizar, a referida colega e eu, na apresentação dos vários ciclos previstos para o novo "Cine-clube"---agora concebido de modo a articular-se mais ou menos estreitamente com um "Clube de Leitura" já existente da responsabilidade da bibliotecária, a sempre activa Dra. Elvira Barrelas.

Um desses videos atrás citados refere-se a Graham Greene que é há muito um dos meus escritores preferidos e uma das minhas referências literárias e culturais absolutas.

Trago, aqui, Greene à colação porque, revendo o documentário que o aborda, me dou conta de alguns aspectos particulares da suas personalidade que são, talvez, capazes de lançar alguma luz sobre, pelo menos, alguns pontos da sua em geral, magnífica Obra.

Um dos entrevistados no filme fala por exemplo do Greene "voyeur", do homem que, a dado passo da sua vida, frequentou ["quase compulsivamente", diz-se no filmer] prostitutas.

Porque, dizia, lhe forneciam inúmeras informações mas também porque a frequência das mesmas lhe evitava o desconforto ou a incomodidade da proximidade emocional e, sobretudo, afectiva demasiada.

Os dois aspectos encontram-se, de resto, a meu ver, admissivelmente ligados entre si, constituindo mesmo dois lados de uma mesma moeda caracteriológica e existencial estável e reconhecível.

Por ela ficamos em tese a conhecer algo do Greene que sonda continuamente o mundo em seu redor sem verdadeiramente entrar nele e se tornar parte dele.

Há uma hipotética tensão entre o querer pertencer e o recear pertencer que o episódio citado pode, em tese, ajudar a esclarecer um pouco melhor.

Greene foi um homem que, em criança, a mãe não terá rodeado das atenções que lhe teriam permitido superar as inibições de uma personalidade e de uma consciência muito jovens nos seus primeiros contactos com o mundo.

A vida escolar do autor de "The Third Man" [uma das obras-primas absolutas do século XX] contribuíu para essa condição de "outsider" que Greene sempre terá mantido até aos seus últimoa anos de vida vividos por opção na Riviera francesa [europeu em África, na América Latina, católico numa sociedade anglicana---vago?---simpatizante do marxismo e da teologia da libertação num país tradicionalmente conservador, inglês no Meio-Dia mediterrânico].

Segundo o documentário, o facto de ser filho do director da escola manteve Greene, ao longo de toda a sua vida escolar, com um estatuto de "suspeito" [de possível denunciante] que lhe retiraram a condfiança e a intimidade do universo estudantil onde terá sempre permancedido como uma espécie de "odd man out" que fez reflectir ndas inúmeras personagens de perseguidos com que o conjunto da sua obra se encontra exaustivamente preenchido.

Não, seguramente, por acaso [ou não sem consequências significativas, pelo menos] uma das grandes referências de Greene foi Conrad, outro expatriado.

Com Conrad o expatriamento foi, aliás, duplo: foi-o em termos materiais, físicos [Conrad era, como se sabe, polaco] mas foi-o, de uma forma literariamente muito relevante, em termos linguísticos porque Conrad escrevia [escreveu toda a sua obra] numa língua que teve de começar por ser toda ela exaustivamente pensada, sondada, testada, autonomamente reflectida antes de ser utilizada o que lhe permitiu manter com ela uma relação... épica profundamente racionalizada e distanciada com inevitáveis consequências no domínio da produção especificamente literária como tal.

Seria interessante saber quanto dessa perspectiva objectualmente epistemológica terá passado para ou permeado para ["may have... oozed into"] a Obra do próprio Greene...

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