quinta-feira, 10 de junho de 2010

José Afonso - Já o Tempo se Habitua

[Esta entrada é dedicada à Amiga "Ezul" pelo belo esforço de esclarecimento e militância ambiental que o seu inestimável "Fluir da Terra" infatigavelmente desenvolve com a regularidade que a vida vai permitindo]

Juntamente com "O Cavaleiro e o Anjo", definitivamente uma das minhas canções favoritas do Poeta José Afonso.

Pessoalmente, vejo-a, sobretudo [para além do evidente 'significado' político imediato] como um belíssimo hino à sabedoria e à sensatez dos ritmos naturais e à proposta de estabelecimento, por parte do Homem, de sábias [e necessariamente corajosas!] 'plataformas de homeostase' subjectivas e objectivas entre as «não-ideias naturais de "vida" e de "morte"»---conceituações, como é sabido, pura ou impuramente conscienciais que a Natureza na sua paciente caminhada sempre em direcção a si própria desconhece por inteiro, confundindo-as a ambas numa única, poderosíssima e ininterrupta corrente de dinâmicas interactivas de onde emerge ciclicamente renovada e reconsolidada.

Um dos grandes méritos do poema [uma verdadeira "cantilena" no melhor e sensorialmente mais empolgante---mais encantatório!---sentido da palavra] é precisamente, a meu ver, o de ter sabido "traduzir" esse ritmo interminável e dual original de Géia em quasi-puras sonoridades que se vão continuamente desenrolando numa sinfonia quase abstracta de matizes sonoros onde o sentido comum das palavras começa muito sabiamente por perder-se para recomeçar logo a seguir triunfante com tudo aquilo que originalmente indiciava [ou representava mesmo] contradição magicamente unido numa única corrente poética e musical onde a harmonia e a organicidade reproduzem fielmente a fisionomia [e a "fisiologia"!] uma e outra poderosamente dinâmicas da respiração original da própria Natureza, trazendo, desse modo, o político de regresso aos seus fundamentos firme e consistentemente naturais---ou estruturalmente ecológicos.

2 comentários:

Ezul disse...

Fico sensibilizada com a dedicatória, Carlos! Já tinha passado por aqui e vinha agora, precisamente, referir a coincidência de ter incluido também esta canção do Zeca no meu blogue. É uma canção belíssima, que me tocou profundamente quando a ouvi, não há muito tempo, pela serenidade com que nos faz sentir os ritmos da Vida e da própria Natureza. Acredito que já a teria ouvido, tal como tantas outras deste cantor mas não a teria escutado e sentido verdadeiramente como agora.
Muito obrigada!
:)))

[Ah, e a "militância" do Fluir anda um tanto ou quanto morna, com textos e fotografias em lista de espera.]

Carlos Machado Acabado disse...

A dedicatória é mais do que justa e acredite que é com a maior sinceridade e o maior prazer que lha faço, Ezul!
Sou há muito um incondicional do seu "Fluir" e da respectiva filosofia i.e. do seu modo entusiasticamente lúcido e sempre esclarecido, sempre comovidamente militante, de abordar as questões ambientais e tenho feito o possível para divulgá-lo e à sua mensagem entre todos os que conheço e que, como a Ezul, se preocupam com a questão cada vez mais premente, cada vez crucial, da nossa sobrevivência colectiva assim como com os aspectos da Cultura que se prendem com a sua busca de modelos estética e existencialmente consistentes, responsáveis, de habitar o mundo à nossa volta.
Partilho, de igual modo, já agora, das suas opções estéticas em matéria musical e só lamento que, às vezes, as tarefas do dia-a-dia nos preguem a partida terrível de nos afastar do cumprimento de tarefas de interesse menos imediato mas de alcance ainda assim muito mais vasto e profundo.
É a vida, como dizia 'o outro'...
De qualquer modo, isso só valoriza o seu esforço de intervenção intelectual, cultural e cívica pelo qual me permito, aqui, voltar, ainda uma vez, de uma tão entusiástica quanto incondicional agradecer-lhe e felicitá-la!
Um beijinho e volte sempre, ouviu?...
São Pessoas como a Ezul que, para além da qualidade dos contributos que nunca deixam de dãr-lhe, justificam, em última instância, os "Quistos" todos desta terra.
E---mais importante ainda!---os desta Terra.