segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Um 'sinal'?..."

Vasco Pulido Valente (com cujas sempre avinagradas mente e pena não nutro, humildemente o admito, qualquer empatia intelectual de que 'valha a pena falar', devo dizer...) chamou-lhe, um dia (Cf. "Público" de 17.07.09) "uma vergonha" .

"Uma vergonha" é favor: a criatura é uma autêntica aberração pessoal e política, senhor de um discurso, em regra, inadmissivelmente desbocado e inimaginavelmente desassisado (cheio de "cubanos", "colonialismos", "senhores silvas" e necedades ou grosserias afins) a quem uns quantos representantes desse "Portugal incuravelmente boçalão, beato e obstinadamente menor" que se espalha, como uma doença, um pouco por toda a parte do território nacional, se obstinam em fazer, mau grado as evidências, um... "homem de Estado" (!!).

Falo, claro, do projecto de revisão constitucional local em que se incluía a brutal proibição do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda.

Ora, eu, devo dizer, li a notícia (e a crítica de Pulido Valente) praticamente na mesma altura em que tomei conhecimento de uma outra, de natureza aparentemente muito distinta (cf. "Público" de 13.06.09, artigo "Casa Branca pode desistir de instalar prisioneiros de Guantánamo nos E.U.A.", da autoria de Rita Siza) envolvendo, pois, estes "extraordinários" "prisioneiros de Guantánamo" e uma possível "desistência" por parte dos E.U.A. (que os têm presos há vários anos, nas mais degradantes condições de selvajaria prisional e jurídica: sem julgamento, culpa formada e/ou genericamnte o mínimo substantivo fundamento: jurídico ou até "simplesmente" humanitário) relativamente à hipótese de instalá-los no mesmo território nacional do país que ora persiste, pois, em, de forma juridicamente de todo insustentável (leia-se: à mais escandalosa e indigna revelia de qualquer princípio reconhecível de Direito e mesmo de Civilização) tê-los presos.

Aparentemente, como disse, nada permite ligar entre si as lucubrações pretensamente políticas de uma criatura vagamente antropomórfica qualquer perdida no meio do Atlântico e gerindo aí uma espécie de "Zimbabué insular" de que não se decide, pelos vistos (e ouvidos), a largar de vez de mão e esta outra envolvendo, por sua vez, os inimagináveis atropelos à Civilização de um fulano que (honra lhe seja por fim feita!) a América lá se decidiu finalmente, num assomo de lucidez e dignidade, a "pôr, de vez, com dono", uma ou duas guerras estúpidas e sangrentas depois...

Eu próprio só me dei conta da espécie de nexo que liga ambas as notícias quando, naquela que se refere aos presos de Guantánamo, se escreve: "A Casa Branca cederia assim [ao recusar a instalação, como diz o jornal, nos E.U.A. dos presos entretanto libertados em território norte-americano] à pressão dos legisladores do Congresso que não aceitam receber homens que foram anteriormente classificados de "combatentes inimigos" e suspeitos de terrorismo nos respectivos estados".

Lida, pois, a notícia e este período dela em particular, conclue-se, com a indignação que se compreende, que os E.U.A. aceitam, afinal---que o congresso deles aceita, afinal---que uma suspeita baste (em determinados "casos", pelo menos...) "perfeitamente" de sentença final irrevogável e que seja ela e/ou uma qualquer "classificação" (?) de "combatente inimigo" (com que fundamento jurídico demonstrável, isso não interessa aparentemente nada!) suficiente "fundamento" jurídico e político para condenar ao exílio sabe-Deus-para-onde (em muitos casos, à própria morte: é, de resto, por isso que alguns países, apesar de tudo, mais civilizados aceitaram, esses sim, recolher alguns) homens que estiveram anos injustamente presos!!

Grande "democracia" esta, não!?...

E lá está! Temos achado o 'elo que faltava' para ligar este singularíssimo entendimento da democracia e a não menos bizarra ideia que dela faz o "jardinismo" ao considerar que um partido político que expressamente declara aceitar as regras do chamado 'jogo democrático', esconde afinal, sabe-se lá-que cavilosos projectos de tomada ilegítima do poder.

Quando condenavam, os tenebrosos juízes 'plenários' utilizavam um aparelho argumentativo indecorosamente ilegítimo e insustentável do mesmo tipo quando declaravam condenar este ou aquele "inimigo do regime" sem provas mas por... convicção do "tribunal"!

Chama-se a isto julgar intenções, chama-se a isto abusar escandalosamente do poder, chama-se a isto aviltar indecorosamente o Direito, a democracia e a própria inteligência de cada um; chama-se, numa palavra, a isto reencenar, à custa da legitimidade política e jurídica mais básica e elementar, a velha (e, no fundo, sinistra) fábula do lobo e do cordeiro, no ponto exacto em que aquele, para "justificar" e "legitimar" a matança deste último, o acusa de um crime que, se não foi cometido pelo próprio, foi-o, com certeza, pelo... pai dele...

Imagina a besta que com a expressão (a expressão animalesca e sanguinária) de tal "convicção" (que, porém, facto algum permite sustentar) que "legitima" o canibalismo bestial a que pretende entregar-se.

Ele, claro, tem, em última instância, desculpa: é uma fera (uma verdadeira fera, quero eu dizer) mas e... os outros: que desculpa terão?...

Mais: precisarão eles sequer de desculpas?...

Uma terceira notícia do "Público" (que me chega, essa, sem data) fala de uma lei recentemente revogada envolvendo o arrendamento de casas camarárias, lei essa que datava, diz o jornal, ainda dos anos de chumbo do salazarismo.

E eu pergunto: tratar-se-á, afinal, bem vistas as coisas, de um sinal?

É que há, pelos vistos, outras coisas para além dessa lei que o "Público" agora recorda que vêm (e---pasme-se! Não apenas cá, naquele que foi o "habitat natural" da selvajaria autoritária) desse negérrimo (e, pelos vistos, difícil de morrer!) "tempo dos Salazares" e que se obstinam em ir ficando "por aqui", onde houver almas... caridosas que, troçando alarvemente da democracia onde vieram sabe-Deus-como-e-porquê, um dia, "cair" lhes vão, apesar de tudo, dando guarida e providencial alimento...

Tratar-se-á, pois, de um 'sinal'?

A dúvida, juro, não me larga!...

Ou, como dizia (ainda e sempre...) o famoso 'outro': isto, afinal, anda tudo ligado, não?...

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