domingo, 16 de agosto de 2009

"Causa Mortis"

Já aqui há uns tempos tive ocasião de relembrar uma frase "catch" do conhecido cómico brasileiro Jô Soares que assenta às mil maravilhas na geração "cut-n' paste" dos nossos dias: "A ignorância da juventude é (permanece teimosamente!) um espanto!"

Como professor, vi-a nascer do autêntico 'ovo da serpente pedagógica' que foi a "geração eu acho".

Meu Deus! Como eu abominava a "geração eu acho"!...

Era aquela cujos membros, desconhecedores brilhantes das coisas mais elementares da vida, "achavam sempre alguma coisa" a propósito dela, da História à Matemática, passando pela Música e pelas Ciências Naturais.

Se se perguntava, por exemplo, quem foi o primeiro rei de Portugal, a resposta saltava invariável e lesta, acabadinha de aterrar, vinda das profundezas de uma ignorância absolutamente completa e perfeita: "Eu acho que foi... "

Se, diferentemente, a pergunta incidia sobre a soma de 1 e 1, de imediato se ouvia: "Eu acho que são..."

Ora, sucede que alguns epígonos da geração "eu acho" se refugiaram hoje claramente nos concursos de televisão.

Só que agora não acham já tanto: têm mais... palpites.

Se se pergunta ("para 100 euros") quem escreveu "Os Lusíadas" logo alguém "tem o palpite" que foi aquele do "Equador" [ai, como é que se chama?...]

E após um homérico combate com a terrível hidra de Lerna da ignorância mais chapada, lá acaba por surgir, tardio mas inteirinho, o verdadeiro nome do "Nicholas Sparks com batatas-e-grelos" que tanto sucesso obteve, como é sabido, junto das donas de casa da Subúrbia nacional que sonha, agora, "levá-lo em digressão (idealmente, definitiva, segundo Saramago!...) ao Brasil"!

Mas só após homérica liça porque "a gente aqui esquece-se de tudo" (em especial do que não se sabe, acrescento eu).

Bom mas eu hoje vim aqui falar da "juventude" recordando mais uma vez a sua colossal, inimitável, cada vez mais aperfeiçoada "agnosia" a propósito de um artigo do inefável "D.N." sobre Elvis Presley, esse saudoso canastrão da minha infância que todos sonhámos, um dia, imitar.

Pois, discorrendo magistralmente sobre o velho "Pelvis", diz o articulista do jornal, a dado passo, que, quando ele morreu, já só se falava dos Beatles, dos Stones, dos Beach Boys e (imaginem lá de quem mais!) desse prodigioso, inesquecível, genial "entertainer" pop que foi... "Simon Garfunkel".

O Simon Garfunkel, diz ele!

"O", não é!
Palavras para quê? É o que dá ir à Net, "cut and paste"!...

No fundo, tudo isto se passa como dizia o título (genial!) de um velho filme inglês premonitoriamente intitulado "Situation Hopeless But Not Serious"---que é como quem diz (e estou a pensar em pérolas de erudição como a que hoje aqui trago e que até, honra lhe seja feita, nem é das piores: ainda não há muito, com efeito, na televisão do Estado alguém falava de uma tal "Frida Carlo" ao que pasrece pintora famosa...); mas, voltando ao tal título de filme britânico que aqui trago como retrato genial da "situação" de uma certa (sub) cultura pop entre nós, se o traduzíssemos por qualquer como "a situação, ainda que desesperada já há muito que deixou de ser... grave" teríamos seguramente achado a forma perfeita para retratar aquela "situaçõ" e, sobretudo, aquela (sub) "cultura"...
Já agora: sobre este tipo de erudição... "solúvel" como o Nescafé e certos pudins de gelatina há uma "estória" muito engraçada que fala de um fulano que passava a vida a fazer "diagnósticos" a si próprio e "receitar-se" adequadamente todo o tipo de droga e unguento, por um velho "Symposium Farmacêutico" (1) que nunca o abandonava.

Um dia, deixou de aparecer e os amigos, estranhando, foram lá a casa encontrando-o morto, na cama.

"Coitado do Fulano"--comentavam---sempre tão informado e afinal!... Morreu como os outros! Mas, afinal, ele morreu de quê? De pneumonia? Do coração?"

"Ná!---respondia um outro mais cínico (e também mais espirituoso...) do que os restantes.

"---Aquilo cá para mim foi coisa mais grave. Cá para mim foi... erro de impressão".

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