Já aqui há uns tempos tive ocasião de relembrar uma frase "catch" do conhecido cómico brasileiro Jô Soares que assenta às mil maravilhas na geração "cut-n' paste" dos nossos dias: "A ignorância da juventude é (permanece teimosamente!) um espanto!"
Como professor, vi-a nascer do autêntico 'ovo da serpente pedagógica' que foi a "geração eu acho".
Meu Deus! Como eu abominava a "geração eu acho"!...
Era aquela cujos membros, desconhecedores brilhantes das coisas mais elementares da vida, "achavam sempre alguma coisa" a propósito dela, da História à Matemática, passando pela Música e pelas Ciências Naturais.
Se se perguntava, por exemplo, quem foi o primeiro rei de Portugal, a resposta saltava invariável e lesta, acabadinha de aterrar, vinda das profundezas de uma ignorância absolutamente completa e perfeita: "Eu acho que foi... "
Se, diferentemente, a pergunta incidia sobre a soma de 1 e 1, de imediato se ouvia: "Eu acho que são..."
Ora, sucede que alguns epígonos da geração "eu acho" se refugiaram hoje claramente nos concursos de televisão.
Só que agora não acham já tanto: têm mais... palpites.
Se se pergunta ("para 100 euros") quem escreveu "Os Lusíadas" logo alguém "tem o palpite" que foi aquele do "Equador" [ai, como é que se chama?...]
E após um homérico combate com a terrível hidra de Lerna da ignorância mais chapada, lá acaba por surgir, tardio mas inteirinho, o verdadeiro nome do "Nicholas Sparks com batatas-e-grelos" que tanto sucesso obteve, como é sabido, junto das donas de casa da Subúrbia nacional que sonha, agora, "levá-lo em digressão (idealmente, definitiva, segundo Saramago!...) ao Brasil"!
Mas só após homérica liça porque "a gente aqui esquece-se de tudo" (em especial do que não se sabe, acrescento eu).
Bom mas eu hoje vim aqui falar da "juventude" recordando mais uma vez a sua colossal, inimitável, cada vez mais aperfeiçoada "agnosia" a propósito de um artigo do inefável "D.N." sobre Elvis Presley, esse saudoso canastrão da minha infância que todos sonhámos, um dia, imitar.
Pois, discorrendo magistralmente sobre o velho "Pelvis", diz o articulista do jornal, a dado passo, que, quando ele morreu, já só se falava dos Beatles, dos Stones, dos Beach Boys e (imaginem lá de quem mais!) desse prodigioso, inesquecível, genial "entertainer" pop que foi... "Simon Garfunkel".
O Simon Garfunkel, diz ele!
"O", não é!
Palavras para quê? É o que dá ir à Net, "cut and paste"!...
No fundo, tudo isto se passa como dizia o título (genial!) de um velho filme inglês premonitoriamente intitulado "Situation Hopeless But Not Serious"---que é como quem diz (e estou a pensar em pérolas de erudição como a que hoje aqui trago e que até, honra lhe seja feita, nem é das piores: ainda não há muito, com efeito, na televisão do Estado alguém falava de uma tal "Frida Carlo" ao que pasrece pintora famosa...); mas, voltando ao tal título de filme britânico que aqui trago como retrato genial da "situação" de uma certa (sub) cultura pop entre nós, se o traduzíssemos por qualquer como "a situação, ainda que desesperada já há muito que deixou de ser... grave" teríamos seguramente achado a forma perfeita para retratar aquela "situaçõ" e, sobretudo, aquela (sub) "cultura"...
Já agora: sobre este tipo de erudição... "solúvel" como o Nescafé e certos pudins de gelatina há uma "estória" muito engraçada que fala de um fulano que passava a vida a fazer "diagnósticos" a si próprio e "receitar-se" adequadamente todo o tipo de droga e unguento, por um velho "Symposium Farmacêutico" (1) que nunca o abandonava.
Um dia, deixou de aparecer e os amigos, estranhando, foram lá a casa encontrando-o morto, na cama.
"Coitado do Fulano"--comentavam---sempre tão informado e afinal!... Morreu como os outros! Mas, afinal, ele morreu de quê? De pneumonia? Do coração?"
"Ná!---respondia um outro mais cínico (e também mais espirituoso...) do que os restantes.
"---Aquilo cá para mim foi coisa mais grave. Cá para mim foi... erro de impressão".
Sem comentários:
Enviar um comentário