Podem chamar-me anti-semita!
Não o sou (de todo!) mas podem chamar-mo!
Faz parte de uma certa propaganda (agressivamente!) pró-sionista que "foi à escola com Goebbels" e os amiguinhos deste e lá aprendeu que, para desacreditar com alguma eficácia uma verdade, o melhor caminho é antecipar-se a quem sabemos que há-de proferi-la e tentar condicionar, atenuar e recuperar, a partir dessa astuta mas já gasta 'jogada de antecipação' as reacções que sabemos irem inevitavelmente suceder-se: é velho, é conhecido, é truque de compêndio.
Quem está de fora vai pensar: se fosse verdade, eles não se atreveriam a abordar o assunto; por outro lado, ao referirem-se ao tema eles mesmos, antes de alguém mais, esses 'tipos' devem saber "alguma coisa" porque eles não iam espontaneamente levantar uma questão que obviamente os desfavorece.
É, repito, uma táctica como qualquer outra.
Sócrates, por exemplo, usou-a abundantemente na primeira metade do seu 'reinado' por instigação da empresa de publicidade política e (des) informação que o "aconselhou" quando, em nome de uma "contabilidade de mercearia" que sob a sua tutela sempre vigorou (e continua, de resto, a vigorar) na gestão do Estado dito 'social', decidiu atirar-se, como "gato a bofe", a tudo quanto era "social" (se é "social", é "caro", para ele: foi, em síntese, o lema---não assumido---da sua in/acção política geral) baralhando intencionalmente as coisas e confundindo, sempre, estrategicamente, "social" e (como lhe ensinaram a dizer) "interesses corporativos"...
Outro tanto fazem, como ia dizendo ao início, os "mestres cantores" israelitas, senhores de uma "Mossad informativa" informal, astuciosíssima (e, pelos vistos, tentacularmente multinacional também) cuja missão consiste, precisamente, em (tentar) branquear sistematicamente uma imagem, sobretudo externa, a que o crime e a barbárie se "colam", porém, tão persistente quanto indelevelmente, digamos assim.
Basta pensar na política de "assassínios selectivos" (um dos meus inúmeros recortes, extraído quase ao acaso de uma extensíssima pasta onde não faltam, aliás, outros como ele---Cf. "D.N." de 4ª feira, 08.02.06---diz, com uma eloquência que arrepia, "Israel intensifica política de assassínios selectivos").
Pois, apesar desta cínica e persistente "estratégia de sangue" a que, com metronómica regularidade, se entrega, não teme, ainda assim, Israel reclamar-se, com um desplante de deixar qualquer um boquiaberto, a (inimaginável!) condição de (imagine-se!) "único estado democrático na região"...
Enfim...
A "última" da central des/informativa sionista prende-se com uma notícia (que cito indirectamente via imprensa portuguesa) do sueco "Aftonbladet" de 17 de Agosto onde se põe a (aterradora!) questão de uma quadrilha internacional de tráfico de órgãos operando nos E.U.A. (Cf. por exemplo, "Público" de 25.07.09, "Autarcas, rabis, tráfico de rins e corrupção") e de que faziam parte, também, ao que parece, alguns rabinos (!) poder ter utilizado "jovens palestinianos" assassinados pelo exército judaico a fim de precisamente lhes utilizar os órgãos para tráfico.
A notícia, envolvendo aquilo que mediaticamente é identificado pela designação de "Operation Bid Rig", levanta uma questão de tal modo monstruosa que qualquer sugestão de possível silenciamento em torno dela se reveste de um carácter de (im!) pura abominação que só pode, como é evidente, escandalizar e despertar o mais vivo horror.
Esther Mucznik retoma-a num escrito intitulado "As palavras também matam" (cf. "Público" de quarta-feira, 27.08.09) insurgindo-se, porém, não contra a possibilidade, mesmo remota, mesmo muito distante e apenas suposta, de haver algum fundo---insisto, mínimo---de verdade nela (a quadrilha existiu, foi, recentemente, desmantelada pelas autoridades policiais norte-americanas, o tráfico de órgãos ao que tudo indica também existiu, estes têm obviamente de vir de algum lado e, afinal, ao contrário do que acontece com a tal questão dos "assassínios selectivos" que são mesmo política... de Estado, neste caso, não são---não serão, em tese...---todo o exército e/ou o próprio Estado de Israel como tal a estar em causa mas, apenas, um bando de criminosos dentro do primeiro e/ou talvez também do segundo.
Motivo pelo qual, partindo do princípio teórico de que instituições políticas realmente sérias pretendem assim permanecer, seria previsível que a atitude de qualquer judeu igualmente sério e digno fosse a de exigir a todo o custo o esclarecimento cabal do (possível) "affaire" em nome da credibilidade do próprio Estado de Israel---o qual, repito, até poderá neste caso nem estar como tal propriamente em causa sendo que é possível que o possa estar apenas uma parte invulgarmente 'pôdre', no seu interior.
Não é esse, todavia, o sentido da 'argumentação' utilizada pela articulista do "Público" que opta por começar logo por increpar o jornal sueco quando escreve que a notícia (e cito, do próprio artigo dela, as palavras do editor sueco): "levanta numerosas questões que devem ser investigadas".
Ora, será que não devem?!
É falso e/ou é errado que devam?
A articulista do "Público" acha que uma exigência que devia ser a de qualquer pessoa minimamente humana e séria (nem seria preciso que editor de jornal algum o viesse lembrar!...) configura a intolerável atitude de (e volto a citar) "cabe[r] aos judeus e israelitas provarem a sua inocência" (!!).
E acrescenta: "num perfeito remake inquisitorial--onde uma acusação servia de condenação até prova de inocência---obviamente improvável (?)"...
Ora, segundo a própria transcrição feita por Mucznik, o que o "Aftonbladet" pede é que se investigue; repito: é mau (é crime, é... "remake inquisitorial") investigar uma suspeita desta dimensão e gravidade?
Há aqui um problema de semântica (Mucznik não apenas ignora o que é "inquisição" como não sabe distinguir uma "investigação" de uma "acusação") ou, mais grave, de ética e de humanidade?
Afinal, não é Israel aquele Estado cujos soldados (e cito, de novo, o "Público", agora a edição de 23.02.09) "mandaram fazer T-shirts com imagens de crianças mortas e de mulheres grávidas (!!) transformadas em alvos"?
E não diz ainda o mesmo "Público" de 23.02.09 pela pena da jornalista Ana Fonseca Pereira que "o jornalista Uri Blau, que assinou a investigação [em torno destas práticas horrendas e verdadeiramente bestiais] [que] esta é uma prática habitual para assinalar o fim da recruta ou o fim de uma missão"?...
E não acrescenta ela que "[...] as encomendas que chegaram nos últimos meses às lojas de estampagem, muitas delas com o aval das hierarquias (sublinhado meu) retratam uma violência sem precedentes" sendo que "uma camiseta mandada fazer por uma brigada de snipers mostra uma mulher grávida na mira de uma caçadeira" e que "por baixo [se] pode ler: "Um tiro, duas mortes", divulgando o "Público", de resto, como ilustração do inimaginável artigo, uma foto das costas de um soldado com a (abominável!) legenda em inglês e em hebreu?...
Pergunto eu: não será normal que um Estado que se reivindica, apesar disto, da democracia se sinta obrigado a investigar (se) perante tantos e tão comprometedores elementos contra si, quando à barbárie pura (?) e simples (??) se junta agora, na forma de, no mínimo, uma horrível possibilidade e/ou aterradora suspeita, o comércio e a venalidade---a possível 'indústria da selvajaria' mais desapiedada e primária?...
O que o "Aftonbladet" pede, afinal, é que ao Estado de Israel seja dada a posibilidade de limpar o seu nome, talvez injustamente misturado com políticas de "assassínios selectivos" (essa ao que se sabe, bem real!) e/ou envolvendo uma dificilmente imaginável "protecção hierárquica" dada aos mais ferozes crimes de guerra e à respectiva propaganda (também estas bem reais): é isso um "acto inquisitorial"??!!...
É isso crime?...
Valha-nos Deus...
Mas fala, ainda, Muzcnik de supostas cavilosas propagandas anti-semitas (o "chavão" e o "papão" do costume...), de "calúnias", "difamações" e de um ódio, ao que parece, generalizado por parte das nações do mundo a Israel cuja etiologia, porém, a autora do artigo (claro!) desconhece.
Mas se o desconhece é porque não lê os jornais, incluindo aquele no qual regularmente escreve---ou, então, porque o não faz com a atenção e o cuidado com que deveria fazê-lo.
Se o fizesse, saberia, por exemplo, que, para além do que eu próprio aqui já escrevi (e que está, de resto, publicado, é do conhecimento de toda a gente que queira informar-se, vem na imprensa isenta e respeitável onde, repito, a própria Mucznik escreve); se o fizesse, dizia, não ignoraria, por exemplo, o que o "Público" insere na sua edição de 2o de Maio de 2008 sob o título "Bombas de fragmentação matam de meia em meia hora e 109 países querem eliminá-las".
"109 querem" mas (escreve a autora do artigo, Sofia Branco) "outros, como os E.U.A. (que detêm entre 700 a 800 milhões de bombas de fragmentação, segundo a Handicap International) Rússia, China, Índia, Paquistão e Israel pura e simplesmente opõem-se e nem sequer compareceram ao encontro de Dublin" [sublinhado meu].
Não será também por isso que... enfim... não é... a tal generalizada desaprovação que a autora confunde com ódio emerge, muito justamente aliás, no interior das opiniões públicas dos países civilizados e verdadeiramente democráticos ?...
Por isso e/ou porque (para dar outro "exemplo", ainda do jornal "Público", desta feita da edição de 02.01.09, no texto intitulado "A humanidade está em jogo em Gaza")"[...] Israel [...] obriga[...] os 1,5 milhões de habitantes de Gaza a enfrentar uma situação de fome real" [sublinhado meu].
Por isso e por "coisas" como as que, ainda e sempre, o "Público" divulga, agora a 29.09.08 pela pena de Margarida Santos Lopes (Cf. "Radicais judeus ameaçam de morte pacifistas em Israel") onde ficamos a saber que a sanha assassina dentro do Estado de Israel já se vira contra os próprios judeus numa demonstração de singularíssima "democraticidade" que deve, pelos vistos, constituir uma "especificidade" local?
"Junto à residência [de "um dos maiores intelectuais do país, o historiador Ze'ev Sternhell"] foram [...] encontrados panfletos oferecendo uma recompensa de 220 mil euros a quem assassinar (sic, sublinhado meu) membros do movimento Peace Now".
Isto, depois de o mesmo ter sido vítima de um "atentado" a tiro que, escreve M. Santos Lopes, deixou o país em estrado de choque.
"Et pour cause", não?...
Se tudo isto (e, note-se, que poderia, como disse, sempre reportando-me ao meu extensíssimo arquivo de recortes, seguir por aí fora citando...) não basta para explicar, desde logo, a repugnância que este Israel tem forçosamente de despertar junto das pessoas sérias, efectivamente civilizadas e de espírito genuinamente democrático mas de igual modo e, num certo sentido, sobretudo, a desconfiança relativamente ao Estado que assim procede; se, dizia, isto não basta para explicar a indignação generalizada e a justíssima vontade de firme distanciamento, não sei francamente o que seria necessário para o efeito...
Insinua ainda subtilmente Esther Mucznik (é outro 'gag' argumentativo muito conhecido e comum, aliás!) nas derradeiras linhas do seu artigo uma identidade entre a resistência à barbárie institucionalizada usada como política de Estado (e que ela se obstina teimosamente em confundir com ódio e anti-semitismo mais ou menos "primário") e o próprio nazismo; há, todavia, uma outra analogia que (sem que seja, como pede o "Aftonbladet", apurada toda a verdade deste 'caso') é inevitável que façamos: a que existe ou pode existir entre precisamente uma Alemanha nazi que além de extinguir fisicamente--de dizimar de forma brutal, maciça e indiscriminada---os judeus ainda lhes aproveitava exaustivamente os óculos, os dentes, o cabelo quando não, literalmente, a própria pele e um povo ou parte dele [recordo que a quadrilha detida incluia sacerdotes (!) judaicos] que, outrora sujeito a estas exacções e vilanias, volto a dizer, pode (e sublinho: pode) estar hoje a protagonizar algo em tudo semelhante semelhante com os próprios órgãos de alguns jovens palestinianos "cirúrgica" (ou devo dizer: "selectivamente"...) abatidos para o efeito.
Não basta esta aterradora possibilidade para que se investigue exaustivamente e sem preconceitos de qualquer espécie, por escrúpulo de humanidade e compostura humanista, a possibilidade levantada?
Espírito "inquisitorial"?
"Anti-semitismo"?
"Calúnias"!
Ora, adeus!
Contra-informação, (im!) pura propaganda e a mais insustentável campanha de branqueamento de um Estado sem memória histórica e cada vez mais refém da sua própria ferocidade e bestial estratégia de cega e indiscriminada fereza, isso sim!