quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"Traduttore/traditore"

António Feliciano Castilho, o infelicíssimo "traditor" do "Fausto" de Goethe (verdadeiro referencial negativo da "arte" de verter ou "reidiomatizar" conceitos, sentimentos, ideias, etc.)...

Há erros de tradução e erros de tradução...

O mais famoso (e 'assassino'...) que me ocorre envolve uma legenda da famosíssima série "Twilight Zone", da qual um episódio ficou literalmente "ao contrário" no que respeita ao conteúdo devido à troca de um "take over" por um praticamente antónimo "take off". Foi o caso de uma invasão alienígena observada (e comentada) por uma personagem barricada no interior de uma casa (um bar ou coisa que o valha, se bem me lembro).

No écrã, ninguém conhece as intenções dos "visitantes" enquanto que nós, espectadores, apenas sabemos o que se vai passando justamente através do testemunho daquele observador.

A dado passo, alguém pergunta qualquer coisa como: "E agora? O que estão "eles" a fazer?

A resposta no original é: "I think they are going to take over".

E o episódio acaba com esse sugestão poderosíssima de ameaça pelo desconhecido: quem serão aqueles invasores? Que pretenderão fazer? E por aí fora.

Ora, confundindo os "prepositional verbs", o tradutor, completamente indiferente ao modo como subverte por completo o sentido do filme, "verte" imperturbavelmente a frase citada (ou aquela, em tudo semelhante, que constava, de facto, do 'script' para: "Acho que se vão... embora".

Como se a frase proferida tivesse sido, não a que efectivamente foi mas: "I think they are going to take off".

Um pequeno erro, pois...

Agora, do "Diário de Notícias" de 01.09.08, a propósito do divórcio da infanta espanhola Elena e Jaime de Marichalar, aparece em letra de forma o seguinte parágrafo: "Menos problemática parece ser a situação da infanta Elena, a filha mais velha dos reis de Espanha. Separada de Jaime de Marichalar desde Novembro passado, a infanta pretende dar um novo curso à sua vida."---escreve o jornal que acrescenta: "A reconciliação do casal parece impossível, sendo as relações entre os dois muito tensas: "Apenas se falam", refere a Hola. (...)" [sublinhado meu].

Ora, o que é grave é que "tradução" atraioçoa por completo a verdade dos factos. Não estando em causa a questão de determinar que interesse tem saber os reais ex-cônjuges se falam ou não (a mim, por exemplo, dificilmente me poderia importar menos se eles se falam ou se, pelo contrário, se andam à... "real pancada" todos os dias...) o que é grave, dizia, é que em castelhano "Apenas se hablan" significa de facto que NÃO se falam, sendo que "apenas" na língua de Cervantes é o exemplo acabado de um "false friend" como os ingleses "eventually" ou "presently" para citar apenas dois...


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