quinta-feira, 9 de outubro de 2008

"Globalização ou Ecologia"?


Uma pequena notícia inserta no "Público" de ? desvenda um aspecto novo da chamada globalização", uma vertente biológica ou biomórfica até ao momento ignorada. Diz o jornal, com efeito, citando o trabalho de um biólogo britânico que a evolução humana pode ter (o jornal é ainda assertivo...) ter acabado em resultado de alguma coisa que tem grandes semelhanças com o que podem ser as decorrências naturais da tal "globalização".

Reporta o jornal que, sendo a diversidade a base dinâmica da estratégia mutacional-sobrevivencial das espécies, a verificar-se o fechamento contínuo da humana através da sobreposição continuada das respectivas modalidades circunstanciais (as "raças"), o resultado pode ser, em tese, a ausência final de estímulos à mudança genética, cujo fundamento é, como se sabe, primariamente funcional.

Pessoalmente, sempre me lembro de defender que a natureza não tem apenas "horror ao vazio": em resultado da própria génese material do real tal como o conhecemos (ou imaginamos conhecer...) a essa pulsão comummente invocada para explicar um vasto conjunto de circunstâncias físicas há que juntar uma outra complementar que pode ser referida como "horror ao imenso" ou, dito de outro modo,"ao disfuncionalmente grande".

Eu acredito, com efeito, que a realidade é concêntrica, isto é, que ela possui, como todo, um ponto teórico central correspondente ao lugar teórico onde se originou a matéria original.

Contendo eu que, a partir daí, o que chamamos 'realidade' iniciou um percurso que é tanto de expansão como de des-integração', circunstância tética essa que me leva a dizer, por exemplo, como tantas vezes tenho dito que o "futuro da realidade" está logicamente todo ele atrás, não diante dela sendo que diante dela não existe propriamente coisa, fundamento ou sentido concebível algum.

Todo o "aparelho dinâmico do real" (o real coincide, em última instância, com uma espécie de "técnica de locomoção" pura envolvendo o conjunto do seu próprio conteúdo em 'coisas' ou 'corpos' ou "teorias" de ambos) opera segundo uma lógica retro-dinâmica de "respostas" dos corpos e dos "sistemas" ou "teorias" de corpos (uma lógica, entenda-se, não de "answers" mas de "responses") àquilo ou àqueles que imediatamnte os antecedem.

E esse, acrescento eu, é o único fundamento e a única "explicação" de si e para si que o real "conhece".

Isto é: conceber como costumamos fazer o real como um sistema que se move continua ou mesmo descontinuamente para configura uma pura falácia, devida não à lógica que rege a realidade mas ao modo como a consciência (cuja natureza é como digo noutro ponto, completamente descentral relativamente à forma autêntica realidade como processo) imagina essa 'lógica'.

O real des/organiza-se, isso sim, a partir do tal centro teórico que o "explica": quando a distância que separa cada corpo da respectiva "explicação" material, a estratégia do real consiste em renuclear secundariamente num outro (sub) sistema (que tenta reproduzir no sentido de reintegrar em si a forma da própria lógica do sistema original). A verdade teórica, por´m, é que a cada renucleação, a realidade vai perdendo fatalmente o contacto não com a propriamenre com a "memória" da lógica-em-si mas objectivamente com esta.

O resultado é que todo o sistema do real se des-conjunta. Ou seja: a "memória" da ordem original está lá mas o que em twese acontece é que ela residua sempre (como a flecha de Zenão...) primeiro como forma da lógica, em seguida como forma da forma, depois como forma da forma da forma e assim por diante até ao... infinito.

Até um teórico infinito, em todo o caso. O que eu digo é que ao lado da memória (material, genética, atómica, molecular) do funcionamento original da realidade presente em tese nos seres, se insinua, devido ao próprio modo como o "real" se des/constrói por desmodelação/des-integração contínua, na "consciência" ou na "inteligência" que esta vai tendo de si própria (a inteligência das coisas, segundo a mecânica do próprio paradima consciencial substitui e anula as coias, não serve para revelá-las ou desvendá-las ou dá-las a conhecer---é, pelo menos, a minha tese) uma espécie de "sub-" ou mesmo de "trans-consciência" imprecisa da própria desintegração, materializada na tal ideia de "horror ao vazio" que comecei por enunciar.

Ou seja: eu vejo a realidade, de facto, como algo que não cresce mas se des-organiza mas mais: que está condenada a isso pela própria mecânica da realicidade cujo único fundamento, volto a dizer, é des-integrar-se a partir de um centro que vai ficando cada vez mais distante.

Como que fugindo ininterruptamente (de facto, é o real que, como vimos, se move) e levando consigo a explicação e o fundamento últimos (e únicos!) da realidade.

Num certo sentido teórico preciso, pode pois em tese afirmar-se que a única inteligência válida das coisas é a memória delas.

Mas a memória expressa em átomos e "funções" ou "funcionalidades": não a representação consciencial dela, uma vez que a "consciência" está, como sabemos, des/estruturalmente impedida de ser pelo «facto» ou pela circunstância puramente "secundária" de pensar.

Neste sentido, eu (sempre insistindo que "pensar" tem de ser sempre visto como constituindo o oposto 'absoluto' de "ser"...) proponho mesmo a criação de um verbo (o verbo "esser") para contrapor ao vocábulo excessivamente interpretativo e "consciencial" "ser", verbo esse (refiro-me ao verbo "esser", claro) cuja "invenção" por mim tem, por sua vez em conta, a diferença que é, por outro lado, importante estabelecer entre as ideias de "realidade" (termo interpretativo e apenas supositivo) e "realicidade" (idealmente objectivo ou objectual).

Seja como for, parece-me admissível a conclusão (tética) de que o real tem horror ao "disfuncionalmente grande" exactamente porque a grandeza (leia-se a des-integração) do real, a partir de um certo grau teórico que correspobnde a um dado valor de afastamento teorético do "centro", converte-se em algo qie apenas pode ser persitentemente percebido como in/essencialmente disfuncional.

Como comecei por referir.

Transpondo esta visão da realicidade possível (o real permanece sempre, do ponto de vista de quem está limitado a "conscienciá-lo" em vez de imediata e imediadamente "essê-lo" uma mera possibilidade de si) para o plano geopolítico (isto é, dotando ou tentando dotar o nosso olhar político e geopolítico de um fundamento epistemológico teoricamente fiável com origem na própria realicidade) temos que a noção de império, com esse ou outro nome, repete no âmbito político e geopolítico os "erros" primários que a própria realicidade está condenada pela sua própria natureza possível a cometer.

Ou seja, o de tentar (a meu ver, irresponsavelmente) contrariar as normas básicas de dis/funcionamento e des/organicização da realidade elevando-a num único lugar a uma potência que apenas pode torná-la completa e literalmente inviável.

Porque, uma vez fatalmente formadas no tecido idealmente uno do real anisotropias ou "secundaridades objectuáveis" (objectuadas!) a "solução" não reside em tentar "emendar o erro" voltando a "colá-las" mas, uma vez que essa configura uma autêntica "fatalidade" ou "anátema" filo-bio-mórfico, em pensá-las como algo que não pode ser "voltado a colar".

Que não pode ser "voltado a colar" sem que a questão da ruptura entre a periferia e o centro dessas novas partes ou "grânulos de realicidade" se aprofunde e se agrave em vez de solucionar-se.

Voltaremos seguramente ao tema.
[Imagens: topo: Zenão de Eleia, imagem extraída com vénia de kplus.cosmo.com.br e, rodapé: cosmo, imagem extraída de pt.wikiquote.org]

Sem comentários: