quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Os «psicocratas», ideólogos e teóricos da «pós-modernidade» e o modo (possivelmente...) inteligente de evitá-los..."


Traço, hoje, aqui, a memória viva (a memória activa!) de uma ocasião em que, integrado numa acção de combate escolar à droga, tive ocasião de polemizar directamente sobre alguns aspectos relevantes da vida e da actividade escolar com um conhecido psicólogo da nossa "pós-moderníssima" praça.

Qual em essência o cerne da "polémica" em causa?

Teve ela por base a descrição por ele re/feita de um incidente envolvendo um aluno, uma professor e uma... pastilha elástica.

Foi o caso de o aluno em questão ter sido mandado pela professora citada deitar fora numa aula uma pastilha elástica que, ao que se supõe (assim o reportava o narrador do 'conto'), tranquilamente mascava.

Na sequência da ordem dada, terá o aluno reagido com (óbvio!) excessivo "calor" com uma ruidosa exclamação cujo teor seria no essencial este: "Mas, afinal, que m... vem a ser esta??!! Uns deixam, outros não! Afinal de contas, pode-se ou não mastigar esta m...??!!"

Contada (assim) a sua "estória", ficou o conhecido psicólogo à espera das reacções de uma audiência esmagadoramente composta por professores.

Reacções que (inevitável quanto naturalmente) incidiam sobre os termos em que fora veiculada a "indignação" do jovem.

"Que não!"---insurgia-se o nosso conhecido psicólogo. "Que não, seguramente! O aluno tinha razão. Na verdade, ele estava apenas a apontar com toda a pertinência e fundamento a uma "falha" grave da instituição escolar em causa a qual se havia "esquecido" de definir certas regras, supostamentre essenciais à normalidade da vida escolar.

Foi a vez de eu próprio me insurgir. E de argumentar, na essência, do modo como aqui detalhadamente recordo. Ou seja:

Numa sociedade multitudinária, numa sociedade "massificada" como aquela em que vivemos hoje, não há muito claramente lugar a "razões" que se possam "ter" FORA DO PRESSUPOSTO ELEMENTAR DE SABER TÊ-LA.

Ou seja: quando alguém pretende "queimar étapas argumentativas" e, sobretudo, cívicas, pondo um suposto "ter razão" seu antes de um demonstrar indispensável, da própria razoabilidade possível daquela "razão", aquilo que está a fazer, de facto, é a aplicar à dimensão microcósmica, à dimensão fractal, um paradigma de (mais do que discutível!) "razoabilidade" que é próprio não das democracias mas, sim e muito claramente, de um pensar estruturalmente totalitário que se disfarça de bom senso exactamente para melhor negá-lo e impedir a sua desejável emergência no quadro da formação de uma consciência ou de uma inteligência da realidade relacional que as formas de vida social moderna não podem, em caso algum, dispensar.

O grande "pecado" ético-político enquistado na própria "raíz teórica e epistemológica" dos fascismos foi exactamente esse configurado na possibilidade de uma minoria (um bloco ou uma oligarquia económico-politica através de um "chefe" executivo) pretender deter as formas estruturais de impor essa "razão" sem sentir a necessidade elemental, básica, essencial, de, momento algum do processo político (ou em momentos inorganicamente simbólicos---tanto quanto "simbolicamente", no fundo, inorgânicos...) demonstrá-la.

É, de resto, por esse mesmo (in) exactíssimo motivo que devem repugnar ás sociedades consistente (e inteligentemente!) democráticas as maiorias ditas "absolutas" e mais ainda os falsísimos "democratas expedientes" ou "democratas funcionais" que as "exigem" como condição prévia de acção e de sucesso políticos.

Porque uns e outros consubstanciam um golpe-de-estado institucionalmente permitido na claríssima medida (em que não bastando em caso algum confessar---confessar prévia e institucionalmente uma patifaria, de índole cívica e política ou não, perdão para ela) formas dificilmente negáveis de "elipse autocrática" num regime que, com a intromissão desse expediente, no fundo, primário e "careca" no centro mesmo dos seus mecanismos nucleares não pode seguir sendo aquilo que, apesar disso e com um despudor verdadeiramente repulsivo segue reivindicando constantemente ser: um paradigma democrático e representativo (porque representativo) de poder.

E, se as Escolas (e os psicólogos que, pelos vistos, gostam cada vez mais de duplicar aquela que é a trafedfa essencial, elemental, primordial das Escola e da Educação) que não percebam isto e o não apliquem à dimensão, volto a dizer "fractal" da sua actividade, não percebem nada de nada e dão, por isso, um contributo importante para a "miséria da escola" que é também (citando uma fórmula clássica "desse bom e velho Marx"...) a própria "escola da miséria" (mal) disfarçada...

Insisto: não é possível nos dias de hoje, a quantos aprenderam adequadamente a alma mesma do espírito ou específico democrático como tal pretender, nas escolas (sancionando comportamentos que violam regras básicas, convencionais embora, de convivialidade e socialidade); na vida política do macrocosmo social e político exigindo que os deixem "brincar uns momentinhos" com a autocracia pura e simples, com os seus mecanismos electivos essenciais, a fim de "consolidarem" a... democracia que é, como ninguém ignora (ou deve ignorar) a inimiga natural dela...

Este, um aspecto essencial.

Outro: claro que as escolas como qualquer comunidade, "funcional" ou não, devem impor regras às pessoas que as frequentam.

Isso nem sequer está em causa.

O que, sim, está é que, por um lado, se argumente que as escolas tendem, por vezes, a funcionar como modelos excessivamente normativos de convivialidade, coarctando, desse modo, a própria liberdade fundamental de criar dos indivíduos que nelas operam---de uma ou várias das diversas maneiras por que se pode (de facto, se deve!) criar na Escola e na Educação, em geral.

Mas, por outro, quando surgem lacunas nesse quadro completamente indiferenciado de normatividade, se venha clamar que ele ainda cobriu, apesar de tudo, pouco território, devendo , portanto, cobrir mais ainda.

Ou seja: volto a dizer que é evidente que a acção da instituição escola deve assentar em regras precisas de convivialidade.

Mas deve, também aproveitar essa mesma necessidade básica de possuir um projecto amplo de regras de funcionamnto para distinguir entre aquelas que (por serem, de facto, básicas e elementais como a que manda que se respeite a integridade da dignidade natural de todos os envolvidos, nas várias formas que o garantir da dignidade dos seres humanos pressupõe e que não podem, em caso algum, ser objecto de negociação pontual e casuística) das que são puramente circunstanciais (ou "circunstanciáveis") e podem (de facto, devem!) ser objecto dessa negocioação.

Como o "direito" a mascar pastilha (que não atenta contra a liberdade seja de quem for e que o máximo que pode é, dependendo dos casos, repugnar outrem, ficando, portanto, dependente da capacidade para as comunidades humanas integrarem nas suas práticas regula(ment)ares o respeito pela sensibilidade circunstancial do próximo ou próximos.

Distinguir entre ambos os códigos é ensinar civismo---e civili(ci)dade.

Eu diria (e disse-o!) que completa da pior maneira a tarefa deseducativa iniciada no ponto anterior esta incapacidade para, em matéria de inserção dos códigos básicos de socialidade, perceber, em nome de um "psicologicamente correcto" de algibeira a diferença, em matéria de Cultura entre o (im) puramente acessório e o (verdadeiramente!) essencial.

E o resto são... cantigas, se me é permitida a (tentadora!) vulgaridade do lugar-comum...


[Imagens extraídas com vénia de www.notapositiva.com, a primeira e de www.estudanteonline.com.br a segunda]

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