terça-feira, 28 de outubro de 2008

"Sobre o conceito 'teoricamente primário' de 'falácia de composição' "

Aristóteles, autor de "A Política", uma referência absoluta do pensamento filosófico-político do "Ocidente"


Há um conceito a que, em matéria de "teoria da realidade" (uma "teoria da realidade" a que procuro em todos os casos e momentos dar corpo) presto particular atenção que é o conceito de "falácia de composição".
Tal como eu a 'vejo', a "realidade" pode ser teoricamente concebida (e descrita) em termos genéricos como uma 'sucessão globalmente funcionante de quantidades' (ou de "quanticidades") interagindo---"quantidades" que, é preciso dizer, a partir de dado ponto teórico de composição e interarticulação, ou: por um lado, se cindem (dando origem a novos sistemas secundários situados cada vez mais longe dos respectivos fundamentos e "explicação") ou são, à medida que a realidade cresce ou continuamente se des-integra (e degrada) acumuladas e concentradas nos corpos que a compõem ou protagonizam (que a medeiam) de modo a sugerirem mudanças substantivas de estado, na verdade completamente aparentes onde se origina e inscreve a noção, igualmente aparente, de "qualidade".

A "qualidade" das 'coisas' em termos do funcionamento normal da 'realidade' mais não configura, pois, em última e real instância, a meu 'ver teórico', do que um mero "encurtamento funcionante" drástico (i.e. uma concentração a-normal de "quantidade") na composição genérica do real, daí resultando que, na teoria, os 'atributos' ou 'qualidades' das coisas não existem de facto, fora destas (são as próprias coisas quantitativamente mutadas e ajustadas à sua própria "História" e ao seu próprio contínuo funcionamento) resumindo-se as "qualidades" dos objectos do real, na verdade, a ilusões de óptica composicional que é, por outro lado, vital denunciar a fim de podermos ter esperança de conhecer como opera a realidade desenrolando-se ("deploying itself") ou "existindo", isto é: essendo.

Voltando, porém, àquela relevante questão da "falácia de composição", aquilo que com toda a franqueza me parece é que (como recordo, aliás, noutro ponto deste "Diário-e") toda a observação confirma a ideia de que a realidade não tem apenas "horror ao vazio", como, resultando do modo como ela material ou fisicamente se origina, um "horror" paralelo e complementar, ao "demasiado grande".

Eu sempre defendi, por outro lado, que é importante (que é essencial!) radicar a Política (no sentido nobre e profundo que lhe é atribuído na Obra de um PLatão ou de um Aristóteles) na Filosofia (e na Ciência!) sem o que aquilo que de facto possuímos não é uma Política mas uma mera "política" ou simples pretexto para a legitimação gratuita e abusiva de toda a espécie de arbitrariedades e abjecções.

Reportando-me ao princípio teórico amplo que diz que a realidade tem "horror ao demasiado grande" (a realidade rege-se, diria eu, por um conjunto/teoria de 'princípios' básicos que estão presentes em todas as manifestações objectivas ou objectuais da realidade; 'princípios' como o da "continuicidade permanente" ínsita do real---que resulta, enquanto vária "mutação" da própria dinâmica expansional característica da realidade física original---sentida em todos os pontos e momentos do curso, da órbita ou do trajecto sucessional da "realidade"); reportando-me àquele princípio teórico, dizia, eu permito-me acreditar (substanciando pontualmente a minha... crença"...) que um capitalismo sem Estado (uma "economocracia" pura ) acaba invariavelmente disfuncionando por razões que se prendem com a própria estrutura natural da realidade, digamos assim.

Ou seja: tal como uma economia onde alguns poupam funciona mas passa a deixar de funcionar quando todos poupam (havendo um instante teórico em que o poupar, acumulando-se criticamente---crescendo, tornando-se 'demasiado grande' para a própria realidade que o cerca e onde se inscreve) passa naturalmente de um "bem" funcional indiscutível a um "mal" em si da "economia" onde opera), do ponto de vista "liberal" (que, devo dizê-lo com toda a clareza está muito longe de ser o meu...); tal como isso acontece, dizia, uma "economia" com pouco Estado funciona "bem" até um dado 'momento teórico', desunindo-se, todavia, por completo em seguida (como, de resto, a realidade "global" actual tem vindo a demonstrar e de forma absolutamente eloquente) a partir de um determinado "instante teórico" teoricamente demonstrável a partir do qual o "demasiado grande" passa a intervir no sistema.

E isto porque (regresso aqui a uma questão que não me canso de uma e outra vez voltar a abordar) o chamado "Estado social", em meu entender, nascido, embora, da generosidade civilizacional e política dos "revolucionários" de todos os índices e matizes, muito cedo na História moderna foi "recuperado" pelo "establishment" em cujos cálculos passou a operar de facto (embora não de direito) como uma "almofada de segurança teórica" (e prática!) reabastecendo o mercado quando o funcionamento normal do próprio sistema o conduzia a uma qualquer "crise" periódica ou entregando à própria comunidade onde se inseria o encargo de compensar as desigualdades inevitavelmentre geradas por aquele mesmo 'funcionamento normal' do sistema.

Uma vez encurtado o Estado até este se ver incapacitado de ir repondo alguma ordem global no sistema, as desigualdades e as disfuncionalidades ínsitas ao próprio operar 'normal' do capitalismo acabavam por ficar expostas, bloqueando o sistema.

É exactamente por isso que eu digo que o Estado dito "social" sempre foi (visto por liberais "hard core" tipo P.P.D. ou por liberais... "compassivos" como os que actualmente detêm o poder entre nós) incomparavelmente mais útil para o "establishment" económico-político que uns e outros configuram e não pretendem, em caso algum, ver no in/essencial alterado ("establishment" esse ao qual o Estado "social" fornecia, além de tudo o mais, um alibi político e supostamente humanista que visava "legitimá-lo" civilizacional e politicamente aos olhos da História) do que para aqueles aos quais era suposto defender e ao lado dos quais era suposto encontrar-se: a sociedade em geral.



Platão, autor d "A República", outra referência cultu(r)al incontornável da reflexão filosófico-política "ocidental".

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