domingo, 15 de março de 2009

"A Star Is Born" de George Cukor


Não é, nem de perto nem de longe (para mim, pelo menos) "O" Cukor.

É, ainda assim, um melodrama globalmente eficaz (mau grado o evidente esquematismo de algumas das personagens assim como das situações, de uma maneira geral) e onde avulta um actor, realmente notável, soberbo mesmo: James Mason.

"O homem que as mulheres mais amavam detestar" (ou "detestavam amar"?... Talvez seja mais a primeira...) era, efectivamente, um actor extremamente versátil que, no cinema, sendo sobretudo um "vilão", foi nesse registo praticamente tudo, desde o pedófilo compulsivo e suicida de "Lolita" (passado, aliás, na televisão em "sessão dupla" com este "A Star Is Born") ao cavaleiro negro de "Ivanhoe" de Thorpe sem esquecer o muito "balcanicamente sinistro" "Rupert Hentzau" de "The Prisoner of Zenda", igualmente de Thorpe.)
Aqui, dá uma "performance" verdadeiramente inesquecível, exemplar, de contenção (e de explosiva tensão) onde transmite, com uma eficiência por vezes de facto genial, a pungente sugestão de imaturidade e apetite pela morte que faz com que o seu "Norman" tome, praticamente desde o início conta do filme, "roubando-o" a partir daí definitivamente, a todas as restantes personagens (onde se inclui, por exemplo, um solidíssimo Charles Bickford no papel do director do estúdio, amigo de "Esther" e "Norman" de quem faz, aliás, no fim do filme, o sentido "elogio fúnebre").

Na película de Cukor, a Garland, a "co-star" (que não seria propriamente uma actriz) compete canta, dar as réplicas e não desmerecer globalmente («batendo» quase sempre, no entanto, muito num registo... "un peu trop" melodramático, aliás, muito característico seu) no interior de um filme que--poderíamos seguramente pôr a questão deste modo, sumarizando o seu peso relativamente menos relevante na História do Cinema e mesmo no contexto da obra de Cukor, sobreviveu com elegância e algum brio a si mesmo, pela música (para quem gosta do género...) mas, repito, para os cinéfilos, muito em especial pelo trabalho realmnte brilhante de Mason.

Da "Sessão Dupla" da RTP, do dia 14, há a dizer, desde logo, que, mais uma vez, a RTP, a televisão dita «pública», não teve qualquer pejo em passar apenas a parte central (para aí um terço ou pouco mais do total!) de um filme cujas "bandas" optou por mandar, pois, pura e simplesmente "para o lixo", burlando o espectador ao vender-lhe um "produto" grosseiramente "avariado" que é como quem diz: ao vender-lhe, com o despudor que caracteriza o modo como trata quase invariavelmente o Cinema (em casos como, por outro exemplo, "O Leopardo" de Visconti a prática converte-se facilmente em crime de lesa-Arte...) "gato por lebre".

A juntar a isso, essa outra prática (não menos característica e invariável, aliás!) de "chutar" tudo o que não seja "telenovela" ou "concursata" bacoca para as "frias madrugadas" que, no caso vertente, por acaso, até era uma anormalmente quente para a época (a exibição do filme terminou já passava das quatro da madrugada!...) o que quer, seguramente dizer alguma coisa sobre o grau de cultura da gente que por lá anda a trabalhar na programação e organização do tal "serviço" dito, então, «público»...

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