Eu já o disse, no blog do meu Amigo "Sou de um Clube Lutador" mas vou repeti-lo aqui: acho que o Benfica e o Rui Costa cometeram um erro tremendo ao aceitarem ficar reféns de um treinador medíocre como é o Sr. Enrique Sanchéz Flores, vulgo 'Quique' das ditas.
O Benfica foi, também já o disse, por diversas vezes estrategicamente "refundado"--e quase sempre com sucesso.
Tê-lo-á começado por ser quando o Sporting "nos" veio "roubar" aquela que seria, por sua vez, a primeira grande vedeta do futebol nacional, o Artur José Pereira, ganho para a "causa" verde por uma tina de água quente, rezam as crónicas--e com ele seguiu parte da equipa, obrigando o Cosme Damião a fazer "das tripas coração" para evitar que o Clube, ainda muito jovem e inseguro, acabasse--ou pouco menos.
Antes, havia sido a "questão do campo" (ou da falta dele--que levaria à fusão do Clube de Benfica com o Sport Lisboa) e depois foram contínuos saltos qualitativos com homens como o húngaro Lipo Hretska (que trouxe consigo conhecimentos preciosos do grande futebol húngaro da época); Ted Smith (com quem entrou em Portugal a preparação física "à inglesa", dos tempos "arqueológicos" do "kick-n' rush", um tipo de preparação que, em Portugal, permitiu fazer de imediato a diferença); Otto Glória (o "Tio Otto", um brasileiro "bom malandro" mas astutíssimo, que profissionalizou o Clube e "construíu" o importantíssimo instrumento de modernização que foi o "Lar do Jogador" que eu tive ainda o privilégio de visitar; Bela Gutmann (que desse esforço tirou o partido que se sabe) e, por fim, uma meia-refundação com Eriksson que ainda levaria um Benfica em óbvio declínio a uma final europeia.
Mas o Benfica não soube aguentar o impacto da abolição da chamada "lei da opção" que permitia aos clubes ficarem proprietários (literalmente proprietários!) dos jogadores que iam, aliás maciçamente, contratando.
Dirigentes astutos teriam percebido que os novos tempos exigiam deles uma perspicácia invulgar a seleccionar e conservar os candidatos que podiam, todavia, agora, escapar-lhes "por entre os dedos", caso não houvesse em cada clube uma "máquina" bem oleada para cativá-los e rentabilizá-los.
Clubes até então "de província" souberam contornar o novo obstáculo com a organização de redes brumosamente transversais de poder que iam das instituições especificamente "futeboleiras" aos municípios e aos lugares onde havia poderio económico e financeiro: construção civil, etc.
Quer dizer: onde antes existira uma legislação leonina que permitia "engolir", "sugar" e fixar em pirâmide tudo quanto era talento futebolístico, fora-se gradualmente estabelecendo uma solidíssima rede de influências subterrâneas que logrou deslocar o eixo dessa bem sucedida tarefa de "sucção" para Norte, organizando aí um monopólio "em escadinha" onde os pequenos trabalhavam para os maiores que, por sua vez, pagavam em diversos graus de influência na partilha global do poder.
Foi o modelo inventado para substituir a prisão legal do "pé-de-obra" futebolístico, sedeado mais a Sul, numa altura em que clubes como o F.C. Porto por mais Cubillas e Flávios que contratassem, saíam, como dizia o Pedroto, da "sua" cidade (que não era, aliás, senão por acaso e adopção, a do próprio Pedroto...) sempre já a perder por 2-0...
Sucede, porém, que em Portugal, o único Clube, a meu ver, potencialmente rentável é ainda e sempre o Benfica.
O Sporting é, hoje-por-hoje, apenas um enorme equívoco e o Porto, por mais que ganhe e faça, nunca deixou, até em razão do modelo truculento e belicoso que escolheu para crescer, de ser um clube, não digo propriamente "regional" (seria injusto e inexacto!) mas seguramente "de região"--senão mesmo realmente "de cidade".
Sucede que, depois do inimaginável "Carna... vale Azevedo", o Benfica não conseguiu com um gestor hábil como é Luís Filipe Vieira tirar total partido da revitalização e redignificação institucional do Clube por esse mesmo Vieira trazida.
E não soube porque Vieira é, realmente, um excelente gestor mas "de gabinete" ou "de secretaria": de futebol não percebe rigorosamente coisa alguma.
É uma pessoa lúcida e hábil, dotada de ambição e visão, é verdade: levou tempo mas acabou por perceber que, se não se rodeasse de quem sabe, o benefício que a sua gestão trouxe no imediato (e trouxe!) corria sério risco de se esgotar a curto ou médio prazo porque a "máquina" sem vitórias emperra inevitavelmente.
A dado passo, pareceu mesmo embriegado pelo poder, gerindo o Clube como coisa sua, contratando e despedindo treinadores e jogadores como se o Benfica fosse a colectividade do bairro que obviamente não é mas cedo percebeu que assim "não dava" mesmo e acabou, como disse, por arrepiar caminho.
E veio Rui Costa.
O Clube parecia, finalmente, a dois passos de mais uma "refundação" ou salto qualitativo porque agora havia gente tecnicamente boa nos lugares-chave.
Ou parecia haver...
Porque Rui Costa inaugurou, de facto, o seu "consulado" com uma série difícil de entender de equívocos: foi o "caso" (o falhanço da re/contratação de) Eriksson; foi a fantasia Queiroz (que já vai sendo tempo de se perceber de vez que é, sobretudo, uma ficção que muito poucos se atrevem porém, por várias razões todas elas remetendo exclusivamente para o passado, ainda hoje a expor) e foi, por fim, o 'capricho «Quique» Flores' ao qual Rui Costa inexplicavelmente continua, mau grado os contínuos falhanços de objectivo, a obstinar-se em hipotecar o futuro do Clube.
Ora, a verdade é que Flores é tudo menos o homem certo para "refundar" o Benfica com Vieira e o próprio Rui Costa: é por natureza (tem-no amplamente demonstrado!) um treinador típico de clube pequeno, sem ideias nem a visão táctica e estratégica que o momento um Clube como o Benfica exige.
Compará-lo, por exemplo, a Mourinho só por troça.
A Camacho, sim, com certeza: Flores é mesmo, em meu entender, em última análise, isso mesmo, isto é, um Camacho um tudo-nada mais sofisticado.
Tudo indica que será mais uma "baixa" a prazo de uma suposta "maldição" benfiquista que não tem, porém, nada que ver com azar e tem, sim, tudo a ver com uma série de péssimas opções em matéria de selecção de pessoal técnico, uma "selecção" que engloba nomes que vão de um inimaginável Ebbe Skovdahl (alguém sabe quem é ou quem foi?); passando por um dificilmente descritível Graham Sounness (uma nulidade como "técnico" de futebol! Onde anda ele hoje??!! Que clube treina??!!); por um cinzento, limitadíssimo, globalmente medíocre Fernando Santos; por um pura e simplesmente inexistente Ronald Koeman; a um Camacho cuja maior (ou cuja única?...) "qualificação" para o cargo era a de ter passado férias no Verão com o presidente...
Perante "casos" como estes, como é possível alguém falar de "maldição"??!!
Incompetência, isso sim, com certeza--e muita!
Tudo isto é sabido.
A única coisa que surpreende é que no contexto desta inépcia toda, o nome de Rui Costa comece a ser cada vez mais insistentemente mencionado.
Rui Costa??
Como é possível???
[Na fotografia--aliás repetida, aqui no blog--um grupo de jogadores do Benfica onde se inclui o "Diamante" este ano contratado e quase mediatamente após "encostado" por se ter atrevido a reafirmar aquilo que qualquer benfiquista sério e a sério sabe, diz e deseja: que a equipa de futebol não pode contentar-se em achar que "já não é nada mau" empatar com o Sporting em casa...
Mas o "Diamante", claro, conhece por dentro a mística e a cultura do benfiquismo--o que não manifestamente acontece com alguns outros...
Nota: na foto, tirada no velho Estádio da Luz, o "Diamante" é o segundo a contar da direita, entre o Chalana e o malogrado 'Manel' Bento]
Sem comentários:
Enviar um comentário