Terá o governo pretendido suicidar-se de vez politicamente, desde logo, com o tipo de "porta-voz" que escolheu para discorrer publicamente sobre a greve dos professores?
Se não foi esse o seu propósito, digamos que... imitou muito bem...
Vir, com efeito, a público, perante o que reconhece ser um posicionamento numericamente "significativo" de uma classe profissional com a qual pretende (ou diz pretender), apesar dessa significativa prova da existência de uma oposição generalizada, fazer uma reforma que é suposto mudar "tudo" da Educação em Portugal no sector só pode, de facto, ser ou um acto de profunda ironia (mas com quê? À custa de quem ou de quê?) ou, em alternativa e como digo, um projecto de hara-kiri político em directo e com todos os "matadores" entregue nas mãos de um dos funcionários sem dúvida mais competente para fazê-lo, o Dr. Lemos; vir com efeito, dizia, a público argumentar, perante a evidência de uma disposição generalizada da classe docente inteira para a desobediência pura e simples (uma realidade que já nem o governo consegue esconder ou sequer disfarçar, aliás!) que "está bem mas a greve não foi um sucesso total e eles, afinal, perderam porque só 61 por cento deles se manifestaram contra a greve" (SÓ sessenta e um por cento!!) é realmente, se outra coisa não for, um verdadeiro prodígio de inépcia argumentativa.
O pior para o governo é que é também outra coisa além disso: é a admissão evidente por parte de... parte (pelo menos) dele da incapacidade total de compreender que "isto" não é--não pode ser!--uma guerra ou um jogo de futebol em que contam as "baixas" produzidas, no primeiro caso e os golos marcados e sofridos no segundo.
Não!
"Isto" envolve a resolução (ou, pelo contrário, a incapacidade total de alcançá-la...) de um dos mais graves problemas que afectam hoje-por-hoje as sociedades humanas: o problema da formação de quadros aptos a concorrer num mercado de trabalho global cada vez mais exigente e selectivo onde todo o conhecimento é pouco para competir com um mínimo de hipóteses de sucesso.
Admitir que as resistências são "significativas" (caramba! Aquela gente--tanta gente!--não terá mesmo razão alguma??!!...--mas persistir, apesar disso, obstinadamente no próprio tipo de proposta que fundamenta essa mesma (crescente!) resistência apenas demonstra a meu ver, pelo menos e desde logo, duas coisas.
Primeira, que as pessoas que lideraram até aqui o processo das ditas "reformas" não têm manifestamente capacidade nem técnica nem já sequer política para fazê-lo.
Não percebem nada do que está em causa; para eles "isto" é uma mera questão de sobrevivência política pessoal (para eles, sim, a questão é "de interesse corporativo" porque envolve as respectivas "vidinhas" em altos cargos principescamente pagos para os quais é, porém, evidente que não estão--que nunca estiveram!--minimamente habilitados); foram queimando, de uma forma impensavelmente desastrada, uma a uma, todas as "pontes" negociais e agora é visível que já ninguém lhes liga nenhuma; perderam definitivamente a oportunidade de fazer vingar o que quer que seja em matéria negocial; só atrapalham--devem ser de imediato afastados da condução de um processo onde é óbvio que estão a mais e onde nunca deveriam, volto a dizer, sequer ter entrado por não terem, volto também a dizer, o mínimo dos mínimos de aptidão intrínseca para tanto.
Segunda, que o próprio poder político que os nomeou já não conta, de facto, com eles.
Um governo que, com efeito, se permitiu, ainda não há muito tempo (através de extensões tentaculares "estrategicamente" distribuidas por todo o território nacional) mandar a polícia intimidar "discretamente" os ospectivos discordantes e que agora, perante as atabalhoadas declarações do "terceiro pé do gato" (os dois "pés" anteriores parecem, com efeito, ter tido o bom senso de já nem se "meterem nisto"...) finge que não é nada com ele e assobia sonoramente para o ar, está objectivamente (a meu ver, pelo menos) a "dar o beijo de Judas" final a uma das mais improváveis, ineptas e incompetentes "equipas" ministeriais de que há memória (e olhem que há memória de várias!...)
Razão tem-na o movimento de professores (cuja recente--espontânea--re/organização, é preciso dizer, muito deve, aliás, à gritante inépcia "reformista" e negocial dos três... mosqueteiros da "Educação") quando clama que é essencial "repartir à zero": depois de tanto disparate, de tanta falta de siso (de tanta "torresmada", como diria um amigo meu filólogo...) só mesmo uma "explosão nuclear" pré-negocial pode criar a tábua rasa onde há-de vicejar (ou não mas essa é outra questão...) a única possibilidade que existe de reformar participada, consensual e portanto harmoniosamente, o que quer que seja na Educação, em Portugal.
Mas não é apenas a criação objectiva de condições favoráveis à reorganização que os professores ficam afinal, por absurdo, a dever ao desajeitadíssimo 'ministério Rodrigues': mais ainda do que isso é, enquanto cidadãos de uma democracia exercida "absolutamente" por vários outros "Rodrigues", "Lemos" e "Pedreiras" "sortidos"... a possivbilidade de percebermos todos, enquanto indivíduos mas sobretudo enquanto comunidade de que, com unidade e organização, também a Saúde, a Justiça ou a (in!) Segurança Social, por exemplo, sectores tão maltrados todos eles pelo poder político em exercício, podem deixar de ser as "disaster areas" em que o mesmo, à semelhança da bagunça em que "em três tempos" transformou a Educação, os converteu...
Vale seguramente a pena ver a coisa por este ângulo--e, sobretudo, meditar a sério nisto...
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