sábado, 6 de dezembro de 2008

"Coerências, há muitas: só eu tenho várias!..."


Confesso que sempre gostei de gente coerente.

Ora, sucede que, como digo noutro lugar deste "Diário", há gente que tão preocupada anda com essa questão da coerência que tem, sempre, não uma mas várias coerências, de formas e tamanhos diferentes, de modo a nunca ser apanhado desprevenido...

É esse claramente o caso da sra. ministra da (chamada...) Educação.

Senão vejamos: andou semanas (senão meses) a clamar que o "seu" era "o único" (sic) modelo de avaliação possível razão pela qual, "argumentava" não "podia" pura e simplesmente considerar sequer a hipótese de suspendê-lo, como praticamente toda a gente exigia.

Agora, descobriu de repente que, afinal, "para o ano" até pode ser que...

Como exemplo de diversidade em matéria de coerência, não se pode seguramente pedir mais--nem melhor...

Já agora, também curioso é o seguinte: diz a senhora que não pode mudar porque apenas depois de testado na prática o modelo (o tal que até aqui era "o único" e agora já é só um entre vários possíveis) é lógico e razoável admitirem-se modificações.

Mas então... não o testou??!!

Quer dizer: claramente não o fez mas nem por isso teve dúvidas de que era o melhor (mais do que o melhor: que era o único!) nem se eximiu de pretender com base nessa... conclusão, impô-lo contra tudo e contra todos de modo que, se 94% dos professores não têm, finalmente, decidido "sair para a rua" e "partir a louça toda", hoje esse seria o modelo que vigoraria e ainda por cima para a totalidade do universo escolar português!!

Por testar e tudo!!

Uma conclusão é, desde logo, óbvia: em pleno século XXI, pretender impor modelos seja do que for completamente por testar é mais próprio de países e sociedades primitivas do que de um governo que se pretende "moderno", "europeu" e que passa, aliás, grande parte da vida a encher a boca com "(electro?) choques tecnológicos" e coisas parecidas que ficam semptre muito bem no papel; que dão (aliás, chorudo!) emprego a... pouca gente mas que na realidade (como o fato do imperador da história célebre) até hoje ainda ninguém conseguiu realmente ver...

Sucede, assim, desenvolvendo um pouco mais a inquietante ideia imediatamente atrás começada a equacionar que esse modo primitivo de conceber as instituições e, no fundo, por extensão, a própria História em geral só não triunfou sem apelo nem agravo porque a classe docente finalmente achou que era demais e decidiu agir--fazendo-o, pois, em defesa de formas intelectualmente credíveis, porque objectivamente científicas, de conceber essas mesmas instituições e essa mesma História assim como a interrelação orgânica entre umas e outra.

É, pois, aos professores (não à tutela) que se deve agradecer que medidas tomadas num "espírito" de natureza grosseiramente terceiro mundista ("aplica-se e, depois, logo se vê") não tenham sido tomadas com as implicações que (nem!) se adivinham para todas as partes envolvidas, incluindo nestas o próprio País como todo, isto é, como sociedade obrigada pelas próprias circunstâncias históricas, políticas, geopolíticas circundantes, a competir num mundo onde irresponsabilidades e amadorismos destes se pagam a prazo obviamente muito caro.

Concluindo a minha ideia: noutro ponto desde "Diário", falo do meu renovado orgulho em ser professor: aqui está uma parte substancial do fundamento dessa atitude, pois: a firme defesa da inteligência e do verdadeiro espírito científico por parte de uma classe que não anda "por aí" a tecer loas ao seu próprio "mérito" nesse domínio mas nem por isso fez menos (bem pelo contrário!) pelo futuro do País do que aqueles para quem a "defesa" deste se resume, no fundo, a uns quantos discursos e outros tantos empregos e sinecuras de luxo em gabinetes de "gestão" de míticos "planos" de desenvolvimento que chegarão, seguramente, pelas calendas gregas, não antes...

Isto é: ao "faz-se e depois logo se vê" da tutela respondem os professores com "testa-se primeiro e só depois se aceita--ou não..."

Um outro aspecto ainda: aquele que envolve um certo conceito (sobretudo implícito porém tão sólida quanto indesejavelmente implantado!) da Escola como grande... adolescentário "de serviço", primeiro do que tudo e só depois (se possível...) como Escola.

É comum (e certa imprensa mais... chegada ou mais "arrimada" ao poder apostou claramnte nese expediente de mera propaganda) verberar as greves e iniciativas laborais dos professores com a "argumento" de que assim "a escola não funciona e não tenho onde deixar os filhos"...

Não é que a preocupação em causa não seja legítima, entendamo-nos: aquilo que eu pergunto se os pais e encarregados de educação preferem que os respectivos filhos e educandos percam (quando perdem) umas quantas aulas ou se, em alternativa, preferem que eles continuem a se cobaias de pseudo-experimentalismos conduzidos por quem, destas "coisas" da Educação possui além de uma coerência diferente para cada dia, uma imprudência verdadeiramente incrível assim como uma "lata" de todo o tamanho para substanciá-la e i-la "argumentando"...

Sem comentários: