quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

"Olga Roriz «revisitada»: se há perfeição, está aqui, prodigiosamente unida ao sentir!"


Quando me preparava já para 'fechar a loja' por hoje, deparei-me com estas duas soberbas imagens de Olga Roriz no "Facebook" que não resisti a incluir aqui...


Plasticamente perfeitas, sugerem, uma e outra, na sua ideal complementaridade, de forma poderosamente irresistível, esse estados de alma indefiníveis, etéreos e inconsúteis---essa sublime e contraditória suspensão absoluta do Tempo que emerge da Beleza em estado puro sendo impiedosamente cortada [ou talhada!] à nossa frente com a faca de luz do dorso ideal convulso [o dorso convulso do Ideal?]---o sangue augusto do êxtase... em êxtase---esse decidido e permanente cortejar da Morte com o grito mudo do corpo inteiro em chamas, a arder de luz e pura energia bruscamente libertada---essa ortografia magicamente vertical e intensa [a máquina explosiva da vontade e do desejo subindo agilmente pela forma sucessiva, obsessiva e rutilante, de ambos]---o território secreto, íntimo, da luz e dos gestos---dos gestos que nascem da visão líquida, superiormente determinada, do corpo humano "traduzido idealmente para movimento"; todo o arrebatamento e toda a translúcida, perfeita, estudada, ideal inquietaçãoda Beleza, enfim, gerada por essa sublime "ontologia sem palavras" e/ou "metafísica por imagens" que é a dança nas mãos---e no corpo---de "quem priva regularmente com os deuses" na linguagem primaveril e máxima dessa água inteligente e poderosa que é o sentir!...

Sobre a 'questão da propriedade' "

Uma ideia ou princípio básicos que venho, há muito, argumentando e que constitui, assumidamente, um dos pontos essenciais do modo como abordo a realidade, em geral e especificamente a História é a de que um 'bom' conceito de "Civilização" deve assentar sempre num iguamente bom plano de "culturalização" e de "cultualização" da informação que chega à consciência "vinda da" Natureza.
Vinda da própria realidade como tal, portanto.
Uma 'boa' civilização é, neste quadro, aquela que, de episteme, em última [que, tratando-swe de um posicionamento de episteme, a primeira!] instância, "regressa---sempre!---críticamente" à realidade [à Natureza, desde logo]; a que assume, cumulativamente, perante aquela nas suas várias formas uma atitude cognoscente [e activa] humilde e tão despida de pré-juízos quanto o permite o próprio modo como 'opera cognicionalmente' em condições próprias e naturais a consciência humana e, portanto, a que consegue com maior exactidão, eficácia e rigor chamemos-lhee metodológico, obter uma 'tradução operativa' consistente e competente da "Natureza" em "Cultura".
Da "Natureza" como matéria-prima a [o termo é mau mas é o que uso geralmente nas reflexões que sobre a matéria faço] a ser "desmodelada" numa "Cultura" final: num paradigma, num modelo qualquer teórico---teoricamente sustentável---de "cultura" e de "civilização.
Fala-se hoje muito em "sociedade do Conhecimento" a propósito daquela em que vivemos e que, pelas razões que aponmto, "tem [como dizer?] tudo para não sê-lo".
Exactamente porque, no modelo de "cultura" seguido, em geral, no 'Ocidente' se partiu de episteme do posicionamento teórico errado---que foi o de privatizar nuclearmente a "cultura" privatizando e convertendo numa espécie de "capital original" ou de "capital-mãe", como forma determinante de organização da máquina social institucional [económica, social, etc.] básica não apenas o conhecimento como,sobretudo, as formas básicas efectivas de obtê-lo e gerá-lo.
Um aspecto onde se pode, a meu ver, perceber com muita clareza como e onde "se enganaram" na via que escolheram para a "cultu(r)alização"---para se "civilizarem"---as sociedades que vieram dar as sociedades "democapitalistas" ocidentais ["where they went wrong"] está configurada no que chamo a "questão da propriedade".
De facto, ao privatizarem-na, as sociedades ainda ditas 'primitivas' mas cuja organização essencial assenta, no essencial, já na sedentarização das suas formas de existência grupal não souberam ver [era provavelmente impossível que pudessem ver, por razões que são, de resto, por diversos motivos, óbvias] como operava estruturalmente a "propriedade", i.e. as formas móveis e operativas que dela circulavam entre os indivíduos e as comunidades não-conscienciados ou não-conscienciais, na sua relação com a 'Vida' em geral.
Com aquilo que, à falta de uma terminologia pré-existente e rigorosa chamo a "Bios" ou a "vitacionalidade" e/ou a "dinâmica vitacional" como grande sistema orgânico global.
Na natureza, chamemos-lhe 'original', i.e. pré-consciencial, não-mediada, ainda, pela intervenção nuclear da "consciência" [cuja "gravidade cognoscente" específica, veio, com efeito, inteferir---e secundarizar definifinitivamente---os modelos básicos de "vitação" ou de "vitacionalidade" já existentes, a propriedade não se prende estruturalmente aos indivíduos e/ou aos grupos mais ou menos estáveis e funcionais por eles formados mas à própria função que eles originalmente desempenhavam que era, na essência, a de "existir".
O processo de "individuação funcional" original, com efeito, tinha essa lógica e esse fundamento básicos: o de operativizar ulteriormente a função básica da matéria que é "ser".
[Pessoalmente, prefiro expressar-me deste modor: recorrendo à expressão alternativa "esser" termo no qual vejo muito mais objectividade e rigor do que na expresão, incomparavelmente mais argumentativa e interpretativa "ser".
Na minha semântica pessoal, "ser" representa, pois, já um ponto de vista "consciencial" e, portanto, de uma forma ou de outra, secundário e crítico sobre o "esser" que configura, por seu turno, na essência, uma espécie de "objecto natural em si" com o qual se defronta a "consciência" para gerar, então sim, o "conceito abstracto" ou o "juízo" de um modo ou de outro, "teórico" envolvido no termo "ser"].
Voltando, porém, ao ponto onde nos encontrávamos antes do parênteses: é preciso dizer que eu vejo o fundamento efectivo , a verdadeira "explicação" da realidade---a chave que permite "entendê-la" e à sua lógica operativa"---na dissipação ou des-integração contínua básica da matéria.
Se a realidade e a matéria tal como as "conhecemos" [ou julgamos conhecer; ou julgam conhecê-la as nossas ciências humanas] se originou num ponto mais ou menos teórico original que veio, em seguida, a matericizar-se e expandir-se de forma contínua, dissipando-se, a conclusão teórica só pode ser a de que a essência última ou "explicação" efectiva do real não é sdeja-me permitida a liberdade de exprimir-me deste modo sinntaticamente bizarro...] dirigir-se para um "futuro" de facto, em si mesmo inexistente ou "in-existível" a não ser nma forma secundária num certo sentido, puramente teórica de 'ideia' e/ou 'conceito' "puros" [isto é, imprevisível no próprio modo como se des/estrutura e des/organiza a realidade, logo a partir da maneira como se forma e se des/organiza e des/estrutura, na base, a própria matéria como tal] mas vir de um passado que é, assim, de algum modo o verdadeiro futuro do real, o verdadeiro futuro de quanto "existe".
[Pessoalmente, devo dizer que me permito mesmo falar de uma "propriedade continuacional básica e pura" da matéria em geral que conceptualizo como uma desmodelação da própria dinâmica expansional subjacente ao funcionamento específico e particular da realidade, existente na base e como fundamento ou chave última desta---"propruiedsade essa de onde se gera, por exemplo, a nossa "impressão" ou "hipótese teórica" puramente "secundária", de "causalidade", desde logo].
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] de e que, por conseguinte, ]
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"«Assembleia dos Ausentes» [isto, agora, é a sério, heim?...]"

Para que não se pense que é só brincadeira [que "é-só-rir-é-só-rir", como dizia o Herman José quando era vivo...] regresso aqui à necessária seriedade para recordar a tragédia palestiniana: todo um povo refém da selvajaria política de um daqueles outros povos e sociedades que "aos costumes [e à Civilização] "dizem [invariavelmente] nada", que é como diz, que nada aprenderam com a História---ou, pior ainda, que a aprenderam "completamente às avessas" que é pior maneira de [não] aprendê-la de todo.

Países párias da Humanidade e da Civilização como a África do Sul ou a Indonésia ainda não há muito tiveram de refazer, com efeito e com a dificuldade que se adivinha, quase integralmente a sua própria História---e assim vai fatalmente acontecer com Israel, "a única democracia no Médio Oriente" [será para rir? Para chorar?]---mas apenas depois de muita abjecção [muita miséria, muita servidão, muita morte] terem sido "generosamente servidasainda " em nome de uma Civilização regularmente negada e, na prática, completamente inexistente mas que, mesmo na sua essência inexistindo, aos grandes interesses multinacionais---petrolíferos, políticos, etc.---dá um jeitão "don caraças" ou "do catorze", como costumava dizer o Alexandre O'Neill...

Cá estaremos, todavia---felizmente!...---para assistir ao fim de tudo isto, como assistimos aos outros fins análogos da Ásia a África---"and back"...

Importante é não esquecer e, por isso, aqui fica, vibrante e sentida, a minha modestíssima mas, como digo, muito viva, vibrante e incondicional pública solidariedade com essa tenaz luta pela Dignidade, com esse anseio muito nobre e determinado de Independência e de Liberdade.

Viva, pois, a corajosa resistência do povo palestiniano!

Nenhuma cumplicidade com os povos opressores de outros povos!

[Na imagem: "Assembleia dos Ausentes", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado, dedicada à luta do povo palestinino contra o opressor judaico]

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"O Sono da Razão" [colagem sobre fotografia de Carlos Machado Acabado]

"Ecologia E Revolução, Não! Antes, Ecologia É Revolução!»


Do “Monde” de 24.12.09, um título:Après l´échec de Copenhague: l' Europe qui pleure, l' OPEP qui rit.

Uma primeira constatação: o modelo económico-político que nos rege e tutela [pelo qual se rege, em qualquer caso, globalmente o mundo em geral nos dias de hoje] está, na in/essência [passe o pleonasmo] intrínseca e [des] estruturalmente errado.

Ou seja, dito de outro modo: não é, em caso algum, mais possível continuar a alimentar a ilusão de são separáveis a ecologia, por um lado e, por outro, a contestação frontal, radical e [tenhamos, por uma vez, a coragem de assumi-lo frontalmente assim como às respectivas decorrências e implicações] incondicional da in/essência mesma do próprio modelo económico-político—“europeu”, inclusive—como tal.

O problema ambiental é hoje, pois—nunca será demais repeti-lo—como tantas vezes tenho dito e repetido, não já um problema político mas, de algum modo, em última instância, o problema político por excelência.

Isto é: enquanto forem as OPEPs [e as OPOPs e as OPUPs—os FMIs e por aí adiante] a operar como as determinantes sistémicas nucleares, como constantes motoras des/estruturais, dos próprios regimes políticos como tal não há hipótese material de haver verdadeira sustentabilidade ambiental e, por conmseguinte, a prazo, sustentabilidade da própria vida na Terra como tal: da dos regimes “político-funcionais” que, na superstrutura instrumental “politiforme”, vão irresponsavelmente colaborando com [e levianamente possibilitando, desse modo, pois] o próprio núcleo infra-estrutural económico-financeiro que os determina e mantém, por interesse próprio, nessa forma, objectualmente irrelevante e inerte; das pessoas, em geral—e, em última instância e por muito contraditório que à primeira vista possa parecer, do próprio modelo económico-finnceiro ele próprio como tal [cujo futuro, tudo o indica, é cada vez mais apenas o respectivo presente—e, mesmo assim, demonstravelmente já pouco e mal...]

Quando alguém ou alguma coisa, com efeito, se congratula porque não foi possível garantir que a Vida fique [mesmo apenas um pouco] mais ao abrigo de selvajarias sistémicas como o recurso intensivo e persistente às energias contaminantes ou “sujas” como factor, de algum modo, básico e primário de produção; à desflorestação exaustiva [do pulmão amazónico, por exemplo referencial e simbolicamente limite] e, de um modo geral, a todas as formas de pilhagem ambiental como modo de vida estável e tópico—de facto, como paradigma des/estrutural persistente de “desenvolvimento”—não há, com efeito, maneira de pensar [responsavelmente] de outro modo senão daquele—radicalmente intransigente e sem lugar a compromissos—que referi.

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Segunda [possível] constatação: como criticar a “Europa” pela respectiva [e, de resto, evidente, óbvia, gritante!] 'irrelevância geossistémica' no contexto global das nações do mundo actual quando dela apenas se obstina em existir uma versão autenticamente “feita a martelo” na cave de uma 'adega ideológica' qualquer, localizada algures entre a Kurfüstendam ou a Brandenburger Tor e o Arco do Triunfo por uns quantos conhecidos [e outros menos conhecidos mas não menos diligentes...] “brokers” dos grandes interesses financeiros privados multinacionais---das grandes "fábricas transcontinentais de dinheiro"---reunidos em conclave, “classe sacerdotal” e/ou sociedade [para muitos efeitos, literalmente...] “secreta”, em regime de... 'comunhão de bens' com uma autêntica cáfila internacional de 'medíocres profissionais' e oportunistas “de carreira”, autênticos falhados locais cuja utilíssima [e, em muitos casos, verdadeiramente escandalosa!] irrelevância pessoal e política o regime faz absoluta questão de premiar com sinecuras verdadeiramente principescas e toda uma panóplia de [outros] munificentes privilégios, dificilmente imagináveis pela maioria dos respectivos concidadãos?...

Gentinha” tipo Barroso, Blair, Aznar e Co.

“Euro-parasitas”, lhe chamavam já em '72 rosnando em compreensivelmente incomodada surdina os próprios belgas que com eles tinham forçadamente de conviver—com o “prazer”, a “alegria” e, em geral, a “vontade” livremente exercida que o epíteto deixa eloquentemente perceber...


[Imagem extraída com a devida vénia de library.thinkquest.org]

"«MuckRussia», «MurkRussia» ou "«MacRoussia» e..",


E, por falar, em colagens: aqui vão mais duas: uma intitulada "MacRoussia" que testemunha a minha [desencantadíssima] visão pessoal do pós-comunismo soviético e uma segunda ["Les Damnés de La Terre"] onde abordo, num registo ferozmente sarcástico, os mecanismos de apropriação e violação cultu(r)al; de desintegração antropológica e cultural primária característicos da [i] lógica colonial, que tentei fixar naquela que é cronologicamente uma das minhas primeiras [e também das favoritas de entre todas as minhas] colagens.




"Os Amantes"


A minha versão pessoal de um tema verdadeiramente fundador da condição [muitas vezes, impropriamente chamada...] humana...

Por uma razão qualquer que não pretendo dar-me ao trabalho de aprofundar, apoderou-se de mim hoje, com efeito, um súbito impulso de revisitá-lo assim como a esta colagem que sobre ele fiz já há uns tempos e de que gosto, aliás, especialmente [considero particularmente interessante a perspectiva muito ironicamente... "orson-wellsiana" da imagem a que se "cola" muito eficazmente, a meu ver, o sarcasmo---ou o cinismo?...---profundamente arrasador da presença da disparidade, do des-encontro, da dissonância mas, sobretudo, da Morte nas suas várias formas---a pedra, a múmia, o silêncio--expressamente associada---à impossibilidade d?---o Amor].

"«A Farewell to Arms»", «Papá Hemingway» traído num filme retórico, ambicioso mas, sobretudo, completamente inútil"


Revisito hoje, aqui, a 'Galateia' do [cinematograficamente farfalhudo, truculento, vulgar, impositivo, moderadamente visionário---e apenas razoavelmente competente] 'Pigmaleão'-O' Selznick: a recentemente desaparecida Jennifer Jones.

Vemo-la aqui naquele que foi, em Portugal, um sucesso comercial verdadeiramente assinalável: "A Farewell To Arms", na segunda versão, dirigida por Henry King com a própria Jennifer e Rock Hudson, à época provavelmente o paradigma absoluto de beleza masculina.

Em termos globais, o filme foi um "flop" imenso que precipitaria, aliás, o fim do próprio O' Selznick como todo-poderoso produtor de "coisas" cinematograficamente, de facto, muito díspares que vão do clássico 'subcultu(r)al' e 'pop', "Gone With The Wind" ["avôzinho barbudo" de "tudo quanto é "Dallas", "Dinastia" e por aí adiante...] um "pastelão" imenso marcado por uma acidentadíssima realização que teria, como se sabe, o dedo do próprio Selznick [além de conhecer um rol infindável de candidatas a 'Scarlett O' Hara', um rol que incluíu, aliás, a própria Jennifer]; de "Gone With The Wind" a "Rebecca", o clássico absoluto de Hitchcock onde, porém, Selznick terá igualmente tido uma intervenção, directa e indirecta [através de imposições variadas que não vêm agora, todavia, ao caso] substancial e substantiva.

Este "A Farewell to Arms" [regressando a ele] seria cimatograficamente fatal a Selznick cuja carreira como produtor já não se reergueu do fracasso que o filme [muito justamente, aliás, pela maldade imperdoável que fez à obra literalmente referencial de "Papa Hem"...] constituiria.

A RTP Memória "deu" recentemente em re/passar mais ou menos regularmente o filme [o que seria, aliás, óptimo porque se trata, apesar de tudo, de um documento ilustrativo da maneira, quase invariavelmente infeliz, como Hemingway foi adaptado ao cinema mas, de igual modo, uma obra, a seu modo, considerável ao menos do ponto de vista antropológico nacional para que possamos ter uma ideia daquilo que encantava e comovia os nossos pais, avós e inclusive a nós mesmos, ainda não há muito---antes das telenovelas da TVI e quejandos 'objectos' "pantanosamente subculturais" que, entretanto, se enquistaram firmemente no universo supostamente cultural dos portugueses ---o que nos prova, aliás [outro aspecto antropológico e, concretamente, político, sem dúvida, relevante!] que, bem vistas as coisas, mudámos desgraçadamente como País, afinal, muito pouco em trinta e tal anos de uma chamada "democracia" que era suposta ser também [e, num certo sentido, sobretudo] uma democracia especificamente cultu(r)al [e "intelectual", em termos mais latos] mas que, afinal, nem sequer remotamente económica, social e política conseguiu [ainda?] ser...

O pior é que, com a "sensibilidade cultural", o "bom gosto", o "esclarecimento" e o "respeito" pelas obras de arte [boas ou más, essa é outra questão...] que a caracteriza, deliberou a televisão estatal passar do filme de King apenas para aí... um terço de espaço "útil".

Ou seja, apenas os metros---a 'tranche', a... "fatia"---central do filme chegou, de facto, a casa de quantos ligaram o receptor nos dias em que o filme passou, ficando os metros--as "pontas" correspondentes a, para aí, dois terços do filme!...---que "faltaram" reservados para o público 'de cinemateca' [que, como é sabido, não prima proprianente pela quantidade, entre nós...]

...e tudo indica que não primará nos tempos mais próximos com a RTP a fazer do Cinema propaganda desta natureza---e o fomento que costuma fazer com "medidas" como aquela de suspender o globalmente notabilíssimo "Cinco Noites, Cinco Filmes" no canal 2 ou "organizando" ciclos verdadeiramente "a pontapé" [ou "com os pés"---para não dizer com outras partes ainda mais imencionáveis do corpo humano...] como aquela "coisa" que, aos sábados se dedica trapalhonamente a "misturar alhos com bugalhos cinematográficos" até [literalmente!] às "tantas da manhã" e a que a direcção de programas chama tão pomposa quanto saloiamente "Sessão Dupla"...

Enfim...

Na falta de uma "inteligência cultural institucional" que nos leve, como sociedade, de facto e de direito, para a Europa [para a Europa sem aspas, entenda-se...]; na falta de um ministério e de uma política culturais consistentes e minimamente esclarecidas, resta-nos a memória e alguma inicitiva pessoal mais ou menos voluntasrista e "espontânea" que consiga ir resistindo à "selvajaria por absurdo" que é a Cultura em Portugal, hoje, para não deixarmos morrer a própria Cultura e, dentro dela, claro, o cinema com os seus Fords, Hawks, Hitchcocks, Wells, Langs, von Stroheims, Eisensteins e até esse "facho de luxo" que foi Griffith mas também com os seus "tarefeiros" mais ou menos "históricos" [os Sam Woods, os Raoul Walshes, os William Dieterles, os Edward Dmytryks, os Leo McCareys, os Richard Fleischers] e os seus "leiteiros e padeiros" de [alguma] visão, como este Selznick que, queiramo-lo ou não, marcou [tal como, noutro plano e à sua maneira, outro tanto fez Rock Hudson---e digo Rock Hudson porque Jennifer Jones era, de facto, como actriz "de outro campeonato", como muito judiciosamente recordava ainda recentemente no respectivo---comovido---obituário o "Monde"] com a suas acção por vezes megalómana e truculenta, o cinema mundial.

De uma das coisas boas do filme, deixo aqui uma memória viva: Hudson e Jones numa cena onde o 'espectáculo' de um erotismo cuidadosamente... "secundário", muito retoricamente, aliás, sublimado numa espécie de ínvio "humanismo de cartão" ["de Corín Tellado" ou "de fotonovela": o soldado ferido, a devotada enfermeira, etc. etc.] vagamente fetichista [a nudez de Hudson, a "críptica" inclinação dos volumes no plano, o uniforme de Jones, o quase beijo de Jones no ombro nu do parceiro estrategicamente filmado em primeiríssimo plano, o difuso elemento de persuasividade que consta de toda a cena e está, desde logo, claramente configurado e presente na postura da própria Jones] emerge em toda a sua sugestiva e contraditória---de algum modo, "problemática"---glória visual e [mau grado tudo o mais...] composicional e plástica.

domingo, 27 de dezembro de 2009

"Posicionamento moral e político [hoje, por acaso, até mais 'moral' que político...]"


Profissão de fé

Detesto [abomino!] tão incondicional quanto instintivamente, confesso—sempre abominei de modo verdadeiramente visceral e intuitivo—essa espécie de estalinismo esbranquiçado de direita; de autismo [ou de “cruzadismo”<"Cruzada"] intolerante e sonso, apenas decorativamente piedoso; estéril; víscido, retoricamente mole e moralmente espapaçado, peganhento; pendente [como os testículos inférteis dos auto/castrados e dos impotentes por opção de vida ou por inata vocação]; delambido, ínvio, tortuosamente farisaico e mal-disfarçadamente 'maricas'—esse 'despotismo instintivo e profissional' de perigosa criatividade [e ferocíssima intolerância!] a que alguns se obstinam, ainda hoje, em chamar “virtude” e eu a própria estupidez em estado natural e [im] puro, 'traduzida literalmente para crueldade' e erigida, por fim, triunfalmente, em modo ou “programa” definitivo [sempre obsessivamente impositivo: im-positivo!...] de vida, cada vez mais obstinado em contaminar [em infectar e violar! ] a esfera mais íntima e privada de cada um de nós, se [mesmo por brevíssimos instantes apenas!...] nos distraimos, “nos enganamos com seu ar sisudo” e caimos na suprema [invariavelmente fatal!...] esparrela de “lhe franquear as portas à chegada”, como escreveu o Poeta...
E não digo mais nada que o meu tio padre ainda me deserda...
[Imagem extraída com a devida vénia de proudatheists.wordpress: "hony soit..."]

Diálogo [quase confessadamente] elegíaco



I

hoje por tudo quanto amo—e desejo,
amanhã pela razão ou razões exactamente opostas
hei-de ter sempre um grito agudo, azul, vertical, compacto, inteiramente cego, no olhar
e uma alegre expressão da mais firme, láctea e intransitiva, expectativa
—em pleno dorso!

II

pois o quê?!--inquiriu o mais jovem, atónito.—A tua esperança é láctea,
habita o teu dorso
e gritas, cego, com o olhar??!!
jovem—respondeu o mais velho, sorrindo com lenta e melancólica mas serena bonomia.
Se eu tivesse um só motivo que fosse para sorrir
[ou até simplesmente para esperar fazê-lo um dia]
seria capaz de inventar o modo novo inteiramente novo de trazer comigo a esperança
e de sorrir—eu primeiro
—mas aí, ah, podes crer, em corpo
inteiro! ...

Carlos Machado Acabado [Dez. 2009]
[Texto e ilustração---"Anunciação"---colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

William Somerset Maugham e “Of Human Bondage” [Text in the making]



Uma crítica de Helena Vasconcelos a “Of Human Bondage” de Maugham no “Público” de 24.12.09 [Cf. “Público”, ed. 24.12.09, sup. “”ípsilon”, texto intitulado “O Sentido da Vida”] traz consigo para mim memórias antigas [os “meus” primeiros amores literários, as minhas primeiras descobertas e 'arrebatamentos textuais'—e cinematográficos—espontâneos, realmente livres—e até, em determinados casos, mais ou menos claramente transgressores: Greene—“O Terceiro Homem”, “O Nosso Agente em Havana” na belíssima edição da “Ulisseia;O Americano Tranquilo”, comprado em segunda mão igualmente na edição da “Ulisseia” no Hipólito da calçada da Glória; Hemingway e “Fiesta.O Adeus Às Armas”, oferecido num inesquecível dia de anos.
E também Jennifer Jones e Rock Hudson, no—muito mauzinho, aliás...—filme do King baseado no clássico do “velho Hem”, remake de um outro com o 'Coop' e Helen Hayes nos papéis principais—Orson Wells, Joseph Cotten e a Valli na versão cinematográfica d' “O Terceiro Homem” do Carol Reed; Alec Guinness e “O Nosso Agente em Havana” cinematográfico.
E, claro, Maugham.
Durante muito tempo, Maugham e, sobretudo, o seu “Creatures of Circumstance”—“Encontros de Acaso”, na versão portuguesa, como não podia deixar de ser da “Ulisseia”...—foi, para mim, uma referência “absoluta” que tentei, mil vezes, imitar em longos e infindáveis “ensaios de escrita” que invariavelmente terminavam antes de se tornar sequer claro de que tratavam...
Claro que “Creatures of Circumstance” nem sequer é [está longe de ser!] o melhor Maugham.
Esse está, claro, sabê-lo-ia posteriormente neste “Of Human Bondage” e em “Razor's Edge”, por exemplo—embora eu tivesse mantido por “The Confidential Agent” na edição da “Miniatura” uma relação de deslumbrada atracção [e mesmo, em mais de um sentido, de quase “dependência...] que nunca chegou, aliás, até hoje, a esmorecer e muito menos a desvanecer-se por completo...
Havia, voltando a Maugham, naquele “Creatures...” [eu, pelo menos, pensava que havia...] uma vaga, remota, atmosfera global, quase visível [e seguramente experimentável ou indirectamente experienciável através da leitura] de subtil mas, também, de um sobriamente silencioso desespero muito delicadamente sugerido nas entrelinhas que me impressionou extraordinariamente; era uma espécie de digníssima sugestão de um “estoicismo existencial” geral e difuso—ou de decadência generalizada e inelutável, fatal que, embora, como digo, não nos fosse abertamente revelada, era [para mim, pelo menos, repito] perceptível na atmosfera e nos gestos indisfarçavelmente cépticos—sofisticadamente cépticos e fatigados—daquela gente que um império já claramente condenado a desaparecer atirara para os confins do mundo, quase para fora do planeta; uma decadência, porém, digna e corajosamente vivida [e mudamente assumida!] por todos aqueles “drifters” ou “párias” de luxo; convertida mesmo, com uma trágica e estóica sobriedade, por esses mesmos obstinadamente dignos “párias”, numa “cultura” comum, completamente inexprimível por palavras cuja essência estivesse, em última instância, na partilha, precisamente muda e já reconhecivelmente resignada, de uma espera colectiva da morte impendente.
Como se todos soubessem, com efeito, que o fim estava próximo mas uma espécie de fundo e ingente decoro existencial, individual e colectiva, lhes vedasse qualquer alusão directa a ele; como se todos soubesem que a viagem de que as narrativas falavam não fosse, de facto, para lado nenhum e esse “lado nenhum” final o fosse tanto dos indivíduos como do mundo [colonial, genericamente cultu(r)al, etc.] a que [talvez, afinal, nenhum deles...] pertencesse já, na realidade.
Era, repito, isto que eu via [ou queria ver] num autor que, com grande 'generosidade crítica' [fruto, sobretudo, do cru deslumbramento com a palavra escrita que sempre marcou a minha relação pessoal com o mundo] comparava a Fitzgerald [de que li “The Great Gatsby” numa, para mim, fabulosa edição da “Portugália” com—um longo—prefácio do Rodrigues Miguéis] e que me evocava, cumulativamente, por exemplo, aqueles prodigiosamente fascinatórios destroços da “lost generation”—esses “exhiles”, como titulou Joyce que, para mim [desde que vi “The Sun Also Rises” no cinema, na versão do Henry King com o Tyrone Power já na curva descendente da vida e da carreira; a Ava Gardner, esse prodigioso arquétipo de perfeição feminina e, até, humana, em geral e um incrivelmente envelhecido Erroll Flynn] passou definitivamente a ter o rosto seco mas prodigiosamente impressivo de Mel Ferrer que, desempenhando o papel de André Bolkonski, em “Guerra e Paz”, de outro, King, Vidor este, me “impusera” [quase literalmente!] a urgência de ler a Obra do próprio Tolstoi, numa maciça edição que ainda guardo da “Inquérito”...
Of Human Bondage”, regressando expressamente a ele, era, porém, excessivamente complexo, para mim, à época e, como é óbvio, nem o entendi nem o apreciei por aí além.
Helena Vasconcelos vem, agora, numa curta mas consistente e esclarecedora abordagem dele, ajudar o leitor mais jovem [para quem Maugham será, hoje, sobretudo, uma figura do passado e provavelmente de todo desconhecido] a contextualizá-lo—e até a situá-lo, em termos do valor literário intrínseco, próprio—relativamente a alguns dos respectivos [verdadeiramente grandes] contemporâneos, designadamente Lawrence, Joyce e o já citado F.S. Fitzgerald.
Do filme [de que tenho, alías uma versão cinematográfica apenas moderadamente tolerável e tematicamente muito distante do original, com Bette Davis e Leslie Howard] relevo, sobretudo, a sublimação, a 'encriptada' projecção ficcional da homossexualidade do autor que [e, aqui reside, a meu ver, aliás, o seu interesse possivelmente maior] sobre ela “discorre” figuradamente intelectualizando-o e “fechando-a” no que admito poder constituir uma espécie de 'jogo fabular' próprio a que liga, de forma argumentativamente dsem dúvida hábil, a proposta de contenção existencial de Spinoza de cuja obra, como recorda Helena Vasconcelos, provém tambérm o próprio título do livro.
Não por acaso, a figura de 'Mildred', a figura que protagoniza directamente [e, sobretudo, que, num certo sentido muito evidente, de resto, no livro, manipula] o masoquismo figuradamente auto-punitivo e projectivamente expiatório de 'Philip' é [recorro aqui à descrição que dela faz Helena Vasconcelos] um ser “andógino, sem peito, magro, destituído de atractivos femininos, tanto físicos como morais [...]”.
Há, a meu ver, com efeito uma des-sexualização equívoca mas não gratuita da figura que atormenta 'Philip' ao longo do livro, des-sexualização essa na qual se esconde/expõe o objecto da atracção erótica de Maugham, deixado, desse modo, significativamente num limbo identitário equívoco que reflecte, ficcional/simbolicamente as hesitações da própria identidade sexual de Maugham.
Maugham que recorre a Spinoza para racionalizar a pulsão auto-punitiva, intelectualizando-a e “abstractizando-a” num apelo teórico à contenção por trás do qual se oculta a verdadeira intenção de reprimir o impulso culpável.
É nesta subtil ligação entre o plano imediato e próximo da existência estrita [mas não estreitamente!] pessoal e o universo teoreticamente 'nobre' das ideias [onde entra a lição de Spinoza] que, repito, reside, em meu entender, o interesse maior da obra de um Maugham que foi, sobretudo, como também refere Helena Vasconcelos um competente contador de “estórias”—“estórias”, acrescento eu envolvendo indivíduos desenraizados [uma personagem que, igualmente, me “deslumbrou” foi a de 'Sadie Thompson', da narrativa “Rain”, uma evidente figura de “drifter” a que Rita Hayworth deu rosto no cinema] e, de algum modo, expatriados de um lar que, também ele, opera, no contexto simbológico da obra de Maugham, como uma espécie de ponte recorrente entre o concreto e o abstracto, o individual e o colectivo: entre a pátria física e o “estrangeiro”, entre o 'lar cultu(r)al' e a subtil perda de referências identitárias a um nível que é, no fundo, também, voloto a dizer e a sublinhar, o de toda uma época que vai irregressivelmente chegando ao seu termo, por trás da qual, se estende, a perder de vista, o Desconhecido.
Se mais não é, para mim, é isto que Maugham há-de sempre, em última análise, ficar a ser.

Torres Novas em 26.12.09

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"To All My All-Year-Round Friends A Heartfelt Bit Of Christmas Feeling And Season's Spirit"





Uma das minhas canções favoritas de Bob Dylan que aqui deixo como sentidíssimo tributo aos Amigos que quiseram fazer o favor de aqui vir "visitar-me", com a sua cordialidade, o seu esclarecimento e a sua inestimável presença!



Vocês merecem o melhor e o melhor é mesmo o Dylan "vintage" que aqui se re/apresenta!

Um grande Natal a todos!
All I Really Want To Do

I ain't lookin' to compete with you,
Beat or cheat or mistreat you,
Simplify you, classify you,
Deny, defy or crucify you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.
No, and I ain't lookin' to fight with you,
Frighten you or uptighten you,
Drag you down or drain you down,
Chain you down or bring you down.A
ll I really want to do
Is, baby, be friends with you.
I ain't lookin' to block you up
Shock or knock or lock you up.
Analyze you, categorize you,
Finalize you or advertise you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.
I don't want to straight-face you,
Race or chase you, track or trace you,
Or disgrace you or displace you,
Or define you or confine you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.
I don't want to meet your kin,
Make you spin or do you in,
Or select you or dissect you,
Or inspect you or reject you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.
I don't want to fake you out,
Take or shake or forsake you out,
I ain't lookin' for you to feel like me,
See like me or be like me.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

Copyright ©1964; renewed 1992 Special Rider Music

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"«Traduzindo» Beckett para português"


Para os [como eu e o Armando Nascimento Rosa, entre alguns outros] "amantes" de Beckett, deixo aqui duas das "Notas" com que me pareceu necessário dotar o meu próprio trabalho de verter para português o texto inglês de "Play", de Beckett, originalmente representado na versão alemã, intitulada "Spiel".

A primeira nota refere-se à opção de "traduzir" o título da versão inglesa, o tal "Play", não dessa mesma versão mas da francesa, também da pena do próprio Beckett e intitulada "Comédie".

Eis, então, a "Nota", tal como consta dfo documento enviado à "Comuna" que me encomendou a versão portuguesa::


[1] Entendeu o autor da versão portuguesa de “Play” recorrer supletivamente, neste [como, de resto, em diversos outros] pontos, ao texto francês da peça, da lavra do próprio Beckett, intitulado “Comédie”, solução que utilizou, na sua versão, por exemplo, desde logo, especificamente, também um pouco mais à frente [página 11] num contexto particular em que o termo em causa volta a ocorrer.
Considerou, com efeito, o tradutor mais significante e mais concisa em termos de língua portuguesa, a lição “Comédia” à alternativa da tradução literal do termo ”play”, “peça”, em seu entender, incomparavelmente menos sintética e menos conclusiva: francamente menos autónoma.


A segunda nota que aqui deixo [a 4ª do conjunto que entendi agregar ao texto traduzido] reporta-se à "tradução" [impossível de dar nas suas múltiplas sugestões e ecos sémicos] do título e reza assim:

[4] Ver nota [1].
No presente contexto, porém, haverá, ainda, no caso específico do texto inglês, que contar com uma sugestão subliminar adicional [nada despicienda, de resto—longe disso!...] envolvendo a ideia de “jogo” [“play”= “jogo”, “Spiel”, na versão alemã onde a ambiguidade, portanto, se mantém integralmente; cf. vg. a fala de M1 na página 15] remetendo, então, para a ideia possível de uma subtil potenciação do carácter de vacuidade senão mesmo de efectivo ‘absurdo’ dos gestos e atitudes exteriores [meramente exteriores?...] das personagens na medida em que essa sugestão de imaginar [?] as mesmas envolvidas [também?] num ‘jogo’ pode [em tese, pelo menos] trazer consigo uma outra sugestão implícita ulterior de cumprimento mais ou menos mecânico e impessoal, por parte delas, de ‘rituais de sociabilidade’—ou, se quisermos ir um pouco mais longe, pode trazer consigo a sugestão de uma objectiva dissociação ou mesmo des-integração, entre a vontade, o arbítrio [a liberdade?] e/ou inclusivamente o próprio desejo das personagens e os respectivos actos—algo que seria, de resto, sem dúvida, muito [mas mesmo muito!] beckettiano.
Numa opinião meramente pessoal, pensa, aliás, o autor da versão portuguesa que um dos modos possíveis de ler esta “Comédie” é justamente abordando-a, em termos globais, como uma espécie de transversal e, aos mesmo tempo, muito beckettianamente exaustiva, impiedosa e também estratégica—“cirúrgica”—des-construção de uma certa experiência/comédia ‘burguesas’ [muito... por exemplo, “noel-cowardiana”, no caso da comédia: “Spiel/Play/Comédie” poderia, nesse caso, ser uma espécie de “revisitação”—lá está!—muito beckettianamente céptica e sardónica—senão mesmo inquietantemente desesperada—de, por exemplo, uma “Still Life” de Coward, de onde David Lean extraíu, como se sabe, um soberbo “Brief Encounter” com uns inesquecíveis Celia Johnson e Trevor Howard]; comédia 'burguesa' essa cujos fundamentos retóricos e, sobretudo, volto a referir: existenciais estariam aqui a ser metodicamente reduzidos ao absurdo, encontrando-nos nós, nesse caso, perante uma espécie de concha vazia e de uma “comédia da comédia” ou “framed comedy”, ela mesma obtida, assim, por des-construção, como disse, ou, também aqui, dissociação de um certo paradigma anterior de que “Comédie” representaria, então, a contraparte ou o eco já determinadamente “absurdizantes”. Acrescente-se, também, já agora, citando—e alargando ulteriormente [“desfigurando” apenas o... estritamente necessário...]—o conceito de “dark comedy” beckettiana adiantado pela académica britânica Julie Campbell a propósito do criador de Godot, poucas vezes como aqui, nesta sombria comédia de sombras, o termo “dark” terá sido, no contexto da exegese beckettiana, empregado com tanta propriedade.



[Na imagem: "Void-otopy", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

"Mas como é que é possível, meu Deus???!!!"" [text in the making]


Leio no "Diário" dito "de Notícias" de Domingo, dia 20, que, afinal, a progressão na carreira dos meus colegas professores no activo já não vai obedecer a uma, em si mesma, dificilmente explicável seriação dos mesmos entre os "titulares" e "os outros".

Ninguém que conheça minimamente os pormenores do processo de obtenção do tal estatuto de "titular" ignora a "roleta" que o mesmo constituíu: os sacrifícios a que foram submetidos professores, alunos e a própria Educação [para já não falar no futuro do próprio País] a fim de, no quadro de uma gestão verdadeiramente surrealista [inimaginavelmente incompetente, com a incompetência a roçar, não-raro, a franca e bovina imbecilidade] tentar entrar no autêntico combóio-fantasma-de-feira-popular em que a [verdadeiramente indescritível], ela própria "equipa" tutelar anterior atirou com o que restava do sistema, dito "educativo", nacional enquanto lhe foi permitido que o fizesse.

Pessoalmente, comparo um pouco a sua "sorte" à minha que aceitei, a dado passo, submeter-me a um famoso e, entretanto caído no limbo com quantos a ele se sujeitaram, "exame de admissão" ao 8º escalão da carreira docente [entretanto, como disse, suspenso sem mais por um governo "socialista" que dele fez pura e simplesmente tábua rasa para, uns anos depois o exumar na forma de um caos técnico e administrativo---o tal modelo Rodrigues de má e falecida memória...---que devia envergonhar qualquer indivíduo minimamente idóneo em termos pedagógicos, políticos e até simplesmente intelectuais que aceitasse deixar o seu nome---se nome tivesse, claro... se tivesse um "nome" para deixar ligado ao que quer que fosse de cultural e politicamente relevante...---ligado "àquilo"].

Também os colegas que, por qualquer... generosidade particular da fortuna lograram vencer o inimigo feroz que foram as famigeradas quotas; o outro, irmão gémeo e cúmplice desse, das "avaliações" das respectivas competências técnicas e científicas feitas, em muitos casos [literalmente] "a olhómetro" por professores menos qualificados, inapropriadamente qualificados e até por outros professores que eram, a um tempo, avaliadores e concorrentes, presentes e/ou prospectivos, ao lugar dos próprios avaliados [!]; também esses colegas, dizia, que aceitaram, apesar de tudo, sujeitar-se àquela lotaria das "avaliações" "made by Rodrigues, Lemos, Pedreira e Co." se vêem, agora, em resultado da mudança de um governo [volto a dizer: tecnicamente inepto e politicamente indigno] para outro do mesmo partido e, no fundo, com os cargos de liderança ocupados pela mesma gente em sistema de "roda-bota-fora", o seu trabalho deitado pura e simplesmente para o lixo, sem que a gente que passou a ocupar a pasta da tutela manifestamente soubesse o que fazer com esse esforço [como evitar que tivesse sido, de todo, vão e perdido] mas não só: sem que ela soubesse como "descalçar a bota" de evitar que todo o sacrifício imposto ao conjunto alargado do edifício educativo em Portugal [sobre o qual uma suposta ministra se lembrou um dia de aplicar uma pressão que o ia conduzindo, a prazo, à implosão, pura e simples] tivesse sido ele próprio gratuito e completamente inútil.

É preciso, relevo, perceber claramente a situação da actual tutela [que, para utilizar um lugar comum popular, foi colocada na ingrata posição---e em mais de um sentido, aliás, mas essas ão "outras contas" que, a seu tempo, se verão...---do"tolo em cima da ponte"...]; é preciso, dizia, perceber o que está implícito neste escandaloso desprezo de que o governo em vigor, com ou sem "remendos" dá mostras---pela Educação em Portugal, a começar pela dignidade e pelas condições profissionais dadas aos seus profissionais.

É preciso, desde logo, começar por perceber que também a actual ministra tutelar considerou---ela como centenas, como milhares de concidadãos, professores ou não---que o único destino razoável e civilizado a dar àquela tralha toda do "estatuto rodrigueiro" era o caixote de lixo [de onde nunca deveria, de resto, ter saído] ainda que esse acto de 'higiene pedagógica, mental e política' tivesse como preço a vanidade imediata do sacrifício a que, como disse, foi obrigado todo o edifício educacional, em Portugal.

Não sei, claro, o que vai fazer a actual ministra em matéria de estatuto: o que até agora ouvi [banalidades e lugares-comuns para começar; franzir progressivo de sobrancelhas, a seguir] não me augura nada de bom até por que o governo é, na sua [in] essência o mesmo com uns retoques de circunstância, impostos pela perda de uma maioria absoluta que funcionou como um autêntico cancro no coerpo sempre sacrificasdo do País].

Banalidades e lugares comuns não resolvem os múltiplos problemas da Educação [em Portugal como no Cazaquistão ou na Mongólia Interior] e franzires bruscos de sobrancelhas apenas podem agravar ainda mais a instabilidade já existente no seio de um sector verdadeiramenmte vital para a sustentabilidade social e política presente e futura do País que é o da formação das suas gerações igualmente presentes mas, sobretudo, das futuras;

Sobre, pois, o que irá asco0ntecer na Educação em Portugal [se serão "aventuras" ou qualquer outro tipo "estórias" e "rapazadas"] só o tempo o dirá---e, idealmente, cá estaremos todos para ver---e agir em conformidade: com os nossos princípios e com o próprio interesse real do País.

Uma coisa, porém, é ceerta e pode ser, desde já, dita: só isto---o que até agora já asconteceu e que ninguém é, em boa verdade, capaz de escamotear: omodo como um conjunto de políticos impensavelmente medíocres, irresponsáveis e clamorosamente incompetentes, "doublés" de "técnicos" a condizer, conseguiu impor a um país inteiro medidas que, meia-dúzia de meses ou anos depois, já estavam... completamente podres e a serem tão adequada quanto discretamente [tão discretamente quanto possível] postas no lixo por gente da mesmíssima cor política daquela que levianemente as começou por introduzir, sem ter a minima noção dos estragos [alguns deles completamente irreparáveis, como se vê] na vida pessoal dos cidadãos mas, de um modo muito particular e mais grave ainda, nunca será demais repeti-lo, no próprio futuro próximo e distante do País; só isto, dizia, bastaria para, numa sociedade cívica e politicamente sã, para conduzir à respectiva responsabilização pública dos agentes do [clamoroso!] desgoverno e, no limite, à própria expulsão dos mesmos do serviço público.

Que confiança ter, com efeito, em gente que, um dia, diz uma coisa e, no dia imediato, o seu exacto contrário?

Que, um dia, acha que o seu é o único caminho para a "salvação" da Educação [e, insisto, por via dela, da própria capacidade material de o País sobreviver objectivamente numa "Europa" onde, já hoje, não passa de "margem" e de "remota periferia geo-económica e geo-política"] e, no dia seguinte, aceita ir "negociando"---e ir caindo "alegremente" de cedência em cedência até que, por fim, alguém, com um mínimo de decoro político, intelectual e [talvez...] pedagógico se decide piedosamente a pôr um ponto final no triste espectáculo proporcionado pela estupidez mais inimaginavelmente teimosa e asinina erigida "em política de Estado" e dá a machadada final na abominável fantochada em que a tal "negociação" [e, mais grave ainda, no limite, todo o edifício da Educação pública em Portugal] se tornaram?

Quando um fulano ou uma fulana destes nos diz, com efeito, que "a única saída para o problema da Justiça" [ou "da Saúde" ou "da Segurança Social"] em Portugal é este, como acreditar nele que, um dia, disse que "a única saída para o da Educação" era exactamente este de que, já hoje, ninguém sabe visivelmente ao certo como desfazer-se sem aceitar reconhecer que "aquilo" era, de facto, mau demais para ser verdade e deveria estar, há muito, "muito sossegadinho" no caixote de lixo da [triste] História recente do País---o que, como se constata, na prática, seja o que for que "aí venha", já aconteceu sem que, para tanto, o governo tivesse sequer de mudar de cor política, apenas utilizar um pouco a cabeça e algum [mesmo mínimo!] bom senso, algo que aparentemente ainda não ocorrera, até agora, a nenhuma daquelas luminárias que por lá andaram até bem recentemente??!!


Vamos ser claros: a única coisa que interessa realmente começar por apurar---porque é dela que tudo o mais, afinal, em última mas real instância, deriva---é como é que alguém pode ainda---pôde ainda!---cair na esparrela de votar em pessoas destas que, como dizia alguém algures, de forma, aliás, verdadeiramente lapidar, em vez de uma coerência têm várias e em vez de uma vergonha [técnica, política, etc.], não têm... nenhuma??!!...




[Imagens "gentilmente cedidas" respectivamente por por fringefestival.org. e stampedeblue.com]

domingo, 20 de dezembro de 2009

"Hoje é dia de... «Santa Loucura Ao Serão»"!


Não resisto, pronto!

"Ele" há momentos na vida em que a gente percebe que tem mesmo de pôr de parte algum [por vezes, de facto, "inoportuno"!...] 'excesso de Razão' e entregar-se docilmente [nem que seja apenas por breves mas ah-quão-deleitosos-deleitosos momentos!...] nos braços... "pecaminosos" [porém sempre arrebatadores!] da loucura mais ou menos inócua e inocente!...

Que o mesmo é dizer: O BENFICA GANHOU, PÔ!!!

GANHOU!
Ao "Porto", ao "Sopa da Pedra Futebol Clube"!
Ao "Desportivo da Açorda d' Alho"!
Ao "Papas de Serrabulho"!
Eu sei lá a quem!!
Ganhou, pronto!
Pois... e não é que, levado pelo entusiasmo da "coisa" e para a loucura ser maior ainda, dei comigo, de repente, a "gamar" descaradamente a imagem que acompanha esta---excitadíssima, febril!---"entrada" do "Quisto" ao "fervente e vermelhosamente militante" blog do meu Amigo-e "Sou de um Clube Lutador" [a quem aproveito para desejar um Natal Feliz assim como a todo o "povo quístico" que me deu a força adicional que agora sinto por isso reforçada para resistir às 'chatices da vida'---que, pelos vistos, decidiram que, no jogo da mesma, como diria o Carlos Gomes, agora era eu, Carlos Acabado... "a ficar"...]

Enfim... haja saúde, sopa na mesa, golos do Saviola [e um livrito ou outro para ler!...] que "o resto"---penso eu, nestes instantes de puro ou impuro delírio... há-de vir por acréscimo!...


..................................................................................
[Era bom, não era?...
Pois era...]

"Revisitando David Lean e «Brief Encounter»"


Tenho para mim que um dos grandes equívocos do cinema [e da cultura em geral] se prende directamente com a ideia de que a meta final da Arte não está, em última instância, na própria tensão dialéctica como tal que idealmente se estabelece entre a consciência, individual e conjunto das limitações que se objectivamente se opõem ao seu "épanouissement" particular mas, para além dessa mesma dialéctica, num "lugar estético e mental" arquetípico e meta-histórico, de natureza impossivelmente providencial que apenas uns quantos iluminados logram alcançar.

Trata-se daquilo a que chamo a visão "horizontal ou finalista" da História e da realidade em geral---uma espécie de "oozing" ou "escorrência cosmovisional" do universo conceptivo [e... "conceptivizador"] da tradição inteleccional judaico-cristã onde vieram, como é sabido, acolher-se diversas linhas de pensamento fatalista e mesmo em muitos aspectos marcadamente determinista de raiz oriental.

Num certo sentido, por outro lado, aquela visão acriticamente "continuista" que comecei por referir e que imagina que a Arte é sempre suceptível de "progrsso" e "evolução" numa espécie de direcção e sentido genéricos e---lá está!---únicos, comum às culturas em geral independentemente até das circunstâncias específicas, da História própria, dessas mersmas culturas, de algum modo; evolução essa, de algum modo, pré-determinada [associada, desde logo, por exemplo, a aspectos puramente "técnicos", em sentido amplo mas, de igual modo, especificamente artístico] da realidade decalca, de alguma forma [não-casual, longe disso!] a estreita concepção neo-colonialista de Rostow do chamado "desenvolvimento linear", discurso teórico [e globalmente teorizador] do neo-colonialismo "moderno", de resto, ainda [e de que modo!] em vigor.

Falo disto, por razões que exponho noutro lugar, concretamente a propósito de um dos meus filmes "de cabeceira" [que tive ocasião de recordar---e de rever---recentemente quando traduzi "Play" de Beckett para a "Comuna"] "Brief Encounter" de Lean, baseado numa curta peça de Noel Coward intitulada "Still Life".

Relativamente ao filme de Lean [que vi pela primeira vez, ainda na década de '50, num ciclo de "Cinema Inglês do Pós-Guerra", salvo erro, no antigo S.N.I. da ditadura] ouvi e li eu diversas críticas que pretendiam pôr em relevo o fundamento auto-censório [auto-mutilador e auto-repressional da cultura que o iluminava---e, em última instância, "explicava"].

É, a meu ver, o mesmo tipo de visão da criação artística que vê wem Brian DePalma o "continuador e epígono electivo" de Hitchcock, por exemplo.

Ora, nada disto é, em bom rigor, verdade.

Dito de outro modo: a verdade [especificamente a da criação artística] é muito mais complexa do que isso.

Na re/construção de Lean, "Brief Encounter" é, com um rigor e um laconismo formal e narrativo impecável, um retrato exacto da tragédia do des-encontro [do "desconcerto do mundo", como lhe chamou Camões] mas é, de igual modo, uma perspectiva, um ponto-de-vista asceticamente preciso sobre a 'tragédia da ordem' e os seus fundamentos particulares.

Toda a ordem humana [como muito bem perceberam, primeiro, a cultura grega que fez, com Ésquilo, sobretudo, a ligação 'culturalmente crucial', 'verticial', entre o sagrado e o artístico a a própria tradição judaico-cristã---que no-lo "ensinou", plasmando-o, de forma tão subtil quanto exaustiva, para o nosso modo cultu(r)al específico de ver o mundo] é auto-sacrifício e auto-mutilação [1].

É morte: toda a cultura é idealmente uma forma consciente e interior, sempre presente, de morte---ou não é.

Cultura, quero eu dizer.

Num certo sentido preciso, como atrás, de modo um pouco diferente, recordava, "a cultura é sempre, na base, a sua própria experiência".

Uma cultura onde não haja "lugar para a morte" é sempre uma cultura perigosa de que é preciso desconfiar.

Ora, foi isso que Lean re/descobriu nesse sublime primeiro "Brief Encounter" que agora, pela enésima vez, revi com o deslumbramento de sempre [Lean dirigiria uma segunda versão, completamente inútil que, em nada, faz, de resto, justiça à primeira, protagonizada por Richard Burton e---imagine-se!---Sofia Loren de que mais vale piedosamente não falar...].

Deslumbramento que nasce precisamente, em larguíssima nmedida, da presença obsessiva, "narracionalmente translúcida" e [quase literalmente] "fantasmática", dessa componente agónica [como dizer? "Sentimentalmente crítica"] da Morte no burguêsmente trágico [em que pensar a propósito dele? Em Flaubert e "Madame Bovary"? Em Dostoievski e na "Tragédia de um Homem Ridiculo"?] romance de um anónimo clínico-geral inglês em busca de um lugar no mundo [ou na realidade, de um modo mais amplo] e de uma burguesinha suburbana londrina tímida e contida, que imaginava ter já achado o seu.

Claro que eu estou particularmente ligado, em termos emocionais [e até quasi-experienciais...] a essa Londres hoje dificilmente imaginável da 'Blitz' e do imediato pós-guerra, por razões familiares: uma tia minha que viveu a primeira dessas medonhas realidades [e no-las descrevia, ponto por ponto, horrorizada: as bombas, o filho, o meu primo Charles, filho de um primeiro casamento, levado em pânico nos braços de casa para o abrigo e, às vezes, mesmo de abrigo em abrigo, o grito lancinante das sirenes na noite gelada que eu quase ouvia nas cartas que iam chegando a Moura].

Isso e a impávida serenidade dos londrinos, a sua espantosa capacidade ['natural'?] para se conterem---e organizarem!---em face da tragédia e do horror; o modo como se converteram, por fim, com todos os seus vícios e baixezas próprios, em símbolos ideais [que tanta falta nos faziam, aliás!] da resistência obstinada à inimaginável selvajaria da "Besta", por fim, à solta num mundo que, em geral, por pura hipocrisia e sórdido interesse, pactuara longo tempo, tacitamente com ela [incluindo o "acrobata e trapezista geo-político" Chamberlain que só perante a tenaz teimosia alemã em desencadear o conflito... "cederia" a contrariar os manejos bestiais do ogre nazi]; e claro que tudo isso [e até certos nomes de lugares e mesmo marcas comerciais: o Bovril, a Heinz, a Marmite e, noutro âmbito, os Estúdios da Ealing, Alec Guinness, Margaret Rutherford e por aí fora] contribuíu para a minha adesão praticamente, estou em crer, instintiva a um filme que, de um modo ou de outro, transportava essa "minha" Londres, em larguíssima medida, indirecta e apenas inventada para o universo abstracto da reflexão existencial e do pensamento filosófico, em geral.

O filme é, porém, num certo sentido o veiculo ideal para tanto.

É, a seu modo, uma ópera---pela discretíssima intelectualização que, em meu entender, faz da própria ideia de Cultura como 'objecto quase'---diria Saramago---antropológico arquetipal fornecendo-nos uma imagem 'perfeita', definitiva, do próprio específico cultu(r)al como tal, melhor e de um modo infinitamente mais arrebatador e até, num certo sentido, trancendental do que o de muitas religiões formais...



[1] E como muito bem perceberam as tribos ditas primitivas onde este tipo específico de perspectiva ou ponto-de-vista sobre a realidade toma a forma ritual do tabu como explicação do funcionamento global dessa mesma realidade .

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Portrait of Jenny"

A silhueta diáfana da recentemente desaparecida Jennifer Jones uma das muitas quasi-Scarlett O'Haras que foram ficando 'pelo caminho' e que, entre outras coisas, de um modo ou de outro, cinematograficamente referenciais [embora nem sempre cinematograficamente ideais, é preciso reconhecer...] protagonizou com Joseph Cotten um filme pretensamente fantasmagórico e candidamente etéreo, visto a partir de hoje com olhos de tolerante cinefilia, deliciosa, quase empolgantemente ingénuo no seu ambicioso projecto de intrigar plateias [dito de outro modo: sempre 'coerententemente vulgar'...] de William Dieterle [cuja banda sonora incluía, porém, Debussy...] intitulado "Retrato de Jenny" que preencheu as embasbacadas conversas de muita dona-de-casa lisboeta dessa sempre, de um modo ou de outro, 'provicianamente boquiaberta' Lisboa de '50---filme de que se revêem hoje [com a nostalgia de quem viveu intensamente na adolescência o cândidíssimo espanto por ele suscitado] aqui dois, exemplares fotogramas...

[Sobre o filme de Dieterle escreveu José Augusto França, no seu nem sempre justo---e nem sempre facilmente decifrável...---"Dez Anos de Cinema":


"Com o espírito do «Reader's» também terá relação o «Retrato de Jenny»---uma história de fadas narrada directamente em termos de realismo e mistério, com interrogações propositadas ao racionalismo de cada espectador. Não se tratava de nada com intenção intelectual, antes de um simbolismo ténue e delicado, esparso numa vaga história de amor, na novela de Robert Nathan; para Selznick, porém, e para o «movie-goer» pequeno-burguês, a coisa tinha de mudar de rumo, na grosseria de uma expectativa que a plateia via sempre satisfeita mas cuja «razão» ignorava. Quero crer que um francês iria directamente para a convenção simbólica---mas estou certo de que só um realizador inglês enconttraria o plano de identidade com o original literário. O colorido vário da fotografia, no fim do filme, o verde da tempestade, o sépias da bonança, é que eu não conheço ninguém tão ingénuo para o usar---nem mesmo este William Dieterle que o fez..."]

"Good memories belong in Heaven"


Já depois de expresso o irreprimível júbilo pelo regresso a casa da activista sahraoui Aminatu Haidar [ver entrada imediatamente a seguir] sou surpreendido por um "rodapé" da SIC [salvo erro] dando conta do falecimento da actriz Jennifer Jones.

Poderá quem teve a lamentável ideia de reduzir o desaparecimento daquela que foi sem sombra de dúvida um dos grandes mitos do Cinema de todos os tempos---essa 'Lilian Gish sensual e misteriosa' que nos daria a inesquecível 'Pearl Chavez' de "Duel In The Sun" de King Vidor, baseado no romance homónimo de Niven Bush--a um mísero rodapé de estação-tablóide [cada vez mais estúpida, esta Idade Mídia em que deixámos se tornasse o tempo histórico e, sobretudo, cultu[r]al à nossa volta!] entre as mais inimagináveis vulgaridades que, invariavelmente, povoam esse tipo de modelo 'informativo' tão caracteristicamente "pós-moderno", ter uma ideia, mesmo apenas remota, da emoção, do arrebatamento pop, que filmes como "Portrait Of Jenny" de William Dieterle, "Since You Went Away", de John Cromwell ou "Love Is A Many-Splendored Thing", de Henry King para citar apenas dois; ou os arrepios de excitação e puro escândalo que o já citado "Duel In The Sun" com os tórridos des/amores de Jones e Peck envenenando a cândida pureza do de Joseph Cotten por Jones causaram entre nós na, hoje paradoxalmente [ou talvez não...] saudosa pasmaceira que era a vida quotidiana [e cultu(r)al! E cultu(r)al!]lisboeta nos anos '50 e '60?...

À Jennifer, revi-a já entradota mas sempre etérea e deslumbrantemente enigmática no 'pastelão' indescritível que foi "The Towering Inferno" [revi-a meio distraído, preso, então, ao fascínio incontrolável---virtualmente arrebatador e irrepetível---de um Abril acabadinho de chegar...] envolvida num trágico romance com esse outro, a seu modo, deslumbrante 'objecto arqueológico' da nossa memória colectiva que encantou Fellini, Fred Astaire---um romance, como disse, trágico que acabaria impossivelmente envolto em cinzas, despenhando-se num abismo que o era também de vulgaridade e mau gosto...

Na SIC ignoram-no--com a despreocupada alarvidade dos sem-memória mas toda aquela gente que levou anos a encher devotadamente o velho "Royal", o falecido "Lys", o desaparecido "Rex" e tutti quanti, como diz o meu querido Amigo-e Samuel; o "Royal", o "Lys", o "Rex", todos eles, hoje-por-hoje, fantasmas de uma Lisboa cultural [e cultual] condenada a alimentar-se continuamente da sua própria triste [e forçada] inocência, sem 'direito ao pecado' e privada inclusive do 'privilégio moral' nobre da própria culpa, como [quase] escreveu Natália num texto famoso que o Zé Mário converteu em quasi-hino; essa Lisboa, todos esses fantasmas que por aí se obstinam, mau grado tudo, em ficar---apesar dos drugstores e da mamarrachada indescritível do Taveira, recorda-lá-á com a emocionada melancolia com que se recorda uma improvável juventude que, a dado passo [e eu já dei esse passo!...] se começa a duvidar se realmente existiu ou o cadáver da inocência [definitivamente] perdida!...

"Good riddance, then, sweet Pearl! You're definitely much better off "up there": "up there" is the ideal shrine for lost dreams, it's where all dreams should be kept anyway: up in Heaven with all ideal impossibilities and all too pure perfections"...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Aminatu Haidar


No meio da persistente inquietação pessoal, um instante de excitação e júbilo humaniária vem pôr-lhe, por instantes, barreiras: o regresso de Aminatu Haidar a casa, descerrando um pouco mais a negra cortina de conveniências e cobardias por trás da qual se oculta [mas obstinadamente resiste!] a esperança que todas as pessoas livres e 'civilizacionalmente responsáveis' têm de ver o mundo [finalmente!] liberto da garra tenaz, obstinada, persistente do colonialismo.
Do colonialismo formal, pelo menos...

Do outro, falaremos noutra altura...

Entretanto e porque a hora é, de facto, de esperança...


...Viva a República Saharoui Independente e viva a Palestina Livre!


[...E, já agora, por muito possidónio ou planfletário que isto possa hoje parecer, "Morte aos tiranos!"--incluindo, claro, os povos tiranos, a começar, no caso vertente, pelos de Marrocos e Israel!...]

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"«Renascer» com Feijó e a Tanatopia Nacional..."


Retomo, hoje, de uma "sede" [temporariamente?] distinta, ass actividades "quísticas" [salvo seja...] ordinárias.

Reabro, assim, com os dois/três Amigos que, querem [com a generosidade e o espírito de sacrifício que caracterizam a boa e genuína Amizade] volta-não-volta virm aqui... "tomar umas ideias" comigo um contacto que a doença tem, se não de todo impossibilitado, pelo menos dificultado.

De entre as muitas possibilidades de partilha que, assim de repente, me ocorreram para marcar este [infelizmente, ao que tudo indica, ainda provisório] regresso, decidi-me por este belo e famosíssimo poema de um dos mais representativos nomes da "Tanatopia nacional", António Feijó, que constitui, com Álvaro do Carvalhal, Manuel Laranjeira e António Patrício, um "quadriunvirato" de Autores portugueses injusissimamente esquecidos, todos eles, de um modo ou de outro figuras trágicas de 'marginais' e/ou autores "malditos"---párias de um sucesso antológico e crítico incondicional, seguramente---e alguns, como Feijó e esse 'brevíssimo mas fulgurante Carvalhal', abertamente "tanatópicos", cuja Obra releio sempre com uma renovada [e invariavelmente vibrante] fascinação.

Literário, claro e, de um modo mais lato, também cultu(r)al: são homens [e escritas] que apontam para um lado mais negro [mais "dark", como chamou Julie Campbell à "comédia" beckettiana] e subterrâneo da portugalidade mental, intelectual e estética---homens e escritas que lhe conferem a esta última uma dimensão de inquietação e angústia, pessoal e, de alguma forma, também, de um modo ou de outro, colectiva que a muitos dos "consagrados" tradicionais, decididamente, falta...

São a expressão, creio eu, cultu(r)almente possível de uma inquietação existencial que ganha foros de verdadeiro "paroxismo suicidário" que, no caso de Patrício, permitiu a Jorge Listopad referir-se-lhe [muito judiciosamente, na minha modestíssima opinião] como um "Beckett com várias décadas de antecedência" ou coisa que o valha.

Várias décadas e... uma cadeias de montanhas pelo meio, acrescentaria eu---os implacáveis Pirinéus que, ainda hoje, pesam muito...

Dito isto, cá vai o texto---mas [curiosidade adicional!] vai num italiano verdadeiramente arrebatador que potencia subtilmente preciosa sonoridade do original.

A tradução em causa é de Guido Battelli, está incluída numa curiosíssima, vetustíssima ["simpática mas nem sempre muito feliz em termlos de escolhas, é preciso reconhecer...] "Antologia de Lirici Portoghesi" editada em Lanciano em Janeiro de 1929 "a cura" daquele mesmo Guido Battelli que fez a opção de, por exemplo, incluir autores como um respeitável e, acima de tudo, honestíssimo operário das letras Silva Gayo; um autor de "papel de parede literário" como Júlio Dantas ou até autores nascidos fora do País como Avelino Gomes Ledo, nascido na Galiza].

A Antologia em causa [o meu exemplar tem ainda a curiosidade adicional de ter pertencido a Manuel de Seabra] vale, sobretudo, pela possibilidade que dá ao leitor interessado em "emoções estéticas" mais ou menos invulgares de ftruir experiências curiosíssimas como essa de [re] ler alguns sonetos de, por exemplo, Antero na língua de Dante ou de testar como nela soam [como funcionam plasticamentem] a "Morena" de Junqueiro ["Brunetta", na versão de Battelli ou ]o famosíssimo "Rosário" de G0nçalves Crespo [que a "rapaziada do Gil", do meu tempo teve de saber de cor e declamar sem uma hesitação ou esquecimento nas aulas de Português da "tenebrosa" Ana Rosa Monteiro...]

E posto isto, cá vai, para... "memória futura", o 'nocturníssimo' soneto de Feijó:


Morí. Distesa nella stretta baia,
pallida e bionda, tutta bionda e bianca,
sul triste labro conservava ancora
l'ombra d' un sogno virginal che manca.

Giglio apassito allo spuntar del giorno,
abbandonata como fosse stanca,
le bianche mani s' incrociava al petto
pallida e bioda, tutta bionda e bianca.

Avea il colore d' un' aerea fata
e dell' antiche suori penitenti,
nella piccola bara adormentata.

Morte la prese coll' adunco artiglio:
giammai, giammai non la potrò scordare,
pallida e bioda, bianca como um giglio.


[Eis o texto original do soneto:

Morreu. Deitada no caixão estreito,
Pálida e loira, muito loira e fria
O seu lábio tristíssimo sorria
Como num sonho virginal desfeito.

Lírio que murcha ao despontar do dia,
Foi descansar no derradeiro leito,
As mãos de neve erguidas sobre o peito,
Pálida e loira, muito loira e fria...

Tinha a cor das rainhas das baladas
E das monjas antigas maceradas,
No pequenino esquife onde dormia...

Levou-a a morte na sua garra adunca
E eu nunca mais pude esquecê-la, nunca!
Pálida e loira, muito loira e fria...]

Um abraço a todos!

sábado, 5 de dezembro de 2009

"Fair Warning..."


Por razões de saúde [na realidade, por imperativos de---dupla!---falta dela!] viu-se o "Quisto" compelido a dar temporariamente 'férias às meninges'.

Em breve, porém, espera ele [espera o respectivo titular e anfitrião...] regressar muito em breve ao convívio dos seus poucos mas bons companheiros de electrónicas "aventuras", às lides "comentatoriais"---trabalho que realiza por sua própria conta e risco e sem a tutela seja de quem for com excepção da quie sobre quianto pensa e escreve exercem a sua própria inteligência e discernimento.

Não sabe o referido anfitrião se é promessa se... ameaça---seja como for [e como dizia o mostrengo que [com toda a naturalidade, aliás---viria a ser governador de um estado norte-americano, a "sunny" Califórnia] "I'll be back".

"Very soon, I hope"...

Love to you all!


Carlos

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"Educação e «educatividade»----algumas notas e reflexões pessoais" [Ainda não completamente redigido]


Desde que Henrique Medina Carreira, antigo ministro das finanças de um governo Soares, se referiu ao pessoal político dos dois maiores partidos políticos do espectro partidário nacional, com a drástica fórmula que dizia: "essa gente é um nojo" ["Essa gente??!! Mas essa gente é um nohjo!!] que se me tornou, confesso, especialmente difícil (por muito "simpático" e generoso que, para com a maioria dos políticos nacionais, pretendesse ser...) encontrar modo mais eloquente, ainda que indiscutivelmente brutal, de qualificá-los.

Devo esclarecer que coincido com o impiedoso "crítico" dos políticos do "establishment" partidário nacional, desde logo, na [evidente!] indignação e ["sonoríssima!] revolta relativamente ao modo como, de facto, aqueles que parecem ter "tomado de concessão" esse mesmo espectro---"pê-ésses" e "pê-pê-dês"---vêm, há muito, contribuindo, por inércia e pura inépcia, para, leviana e irresponsavelmente, bloquear sine die qualquer hipótese, mesmo remota, de modernização estrutural do País, trocando teimosamente as tarefas necessárias à realização desse desiderato nacional (que, se calhar, é até, cada vez mais, civilizacional) por todo um acervo ou parafernália de... "causas" onde o urgente debate colectivo sobre o que para muitos é já a questão essencial da viabilidade futura do País continua obstinadamente a naufragar.

Um dos iens básicos a considerar incontornavelmente naquele debate [que, repito, para "esta gente" parece representar um mero fait-divers por oposição a questões, essas sim, para "esta gente" questões-chave como a da co-avaliação dos professores pelos chamados 'encarregados de educação' [!!]] e/ou outras que, pura e simplesmente o não são como a das uniões ditas "de facto" e a que envolve o "casamento dos homossexuais" que são, afinal, na realidade, nestes dois últimos casos, coisas tão evidentes que nem deveriam ser objecto de "debate"]; um dos itens básicopas da verdadeuira discussão, dizia, prende-se com a questão ou questões da Educação e da educatividade, em Portugal, hoje.

Questão consistente [e persistentemente!] mistificada por gente que, se não é, como afirma Carreira, o tal "nojo" é seguramente de uma incompetência e falta de visão histórica e [não me canso de dizer] civilizacional que arrepia [Maria de Lurdes Rodrigues ou Maria do Carmo Seabra, as duas últimas ministras da educação, por exemplo e para não irmos mais longe, foram verdadeiros "aleijões técnicos e políticos que ilustram, afinal, na sua trágica perfeição a asserção de Carreira...]; questão persistentemente mistificada, dizia, ela é-o precisdamente na medida em que parte invariavelmente da des-consideração e des-peercepção da verdade básica de que todo e qualquer modelo ou paradigma de educatividade parte de uma situação de objectiva e dialéctica des-iogualdade configurável numa fórmula:

1. a 'educação', qualquer variante da relação educacional básica e nuclear genuína, existe porque um ou uns sabe[m] aquilo que outros não sabem.

2. a 'educação' [repito: qualquer variante do modelo educacionalbásico e genuíno] existe para que essa desigualicidade tética venha a ser anulada a prazo constituindo essa "anulação" ou "superação dialéctica" o objectivo mesmo da prática educacional e/ou educativa.

É versdade que um certo modelo de apropriação civilizacional e política do conhecimento tornou moderna e pós-modernamente "problemática" a relação objectiva da 'educação' e da respectiva utilidade técnica e social, por um lado e da 'educação' e, de um modo mais amplo e abstracto, dos paradigmas de apropriação e transformação crítica do real, por outro.

É verdade, dito de outro modo, que quando parte da sociedade tende a tornmar-se, como hoje acontece nas sociedades ditas "de capitalismo pós-industrial" excrescencial e redundante, próprias educação, tal como a concebíamos [se é preciso fixar uma data de referência] desde a Revolução Francesa se tornou, com ela, ela mesma potencial (ou mesmo realmente!) excedentária.

Ainda assim não há como "dar a volta" a isto: só há 'educação', repito, quando e, sobretudo, porque há uma reconhecível desigualdade inicial entre os indivíduos; só se justifica que a haja quando e porque as comunidades humanas [e até, num certo sentido, animais, em geral] estabelecem como objectivo, de um modo ou de outro, básico de intervenção na História e/ou na realidade que deixe de as haver. O fundamento epistemológico essencial da "autoridade" vem daí: da capacidade ou aptidão circunstancial que alguns têm de mediar e implementar o processo de nivelamento estrutural que tem a 'educação' no seu vértice, digamos assim.

A "autoridade" nos modelos de 'educatividade orgânica' chamemos-lhes "tradicionais" [os que, de um modo ou de outro, sairam das teorizações dos filósofos revolucionários franceses] não se dissocia dessa capacidade e/ou dessa aptidão.

Representa uma componente instrumental, primeiro e simbológica, em seguida, do próprio processo e, por isso, é dele epistemologicamente indissociável.

Quando as tarefas de 'educar' passaram dos anciãos para a "Escola" a autoridade, a efectiva e objectual como a simbológica passaram com ela.

E é só quando a "Educação" se torna, primeiro, potencial, em seguida, realmente inorgânica relativamente à própria sociedade que a "autoridade" se torna "problema" ou ou "questão" [problema em si ou questão em si] e pode começar a ser consistentemente concebida fora da utilidade ou 'utilicidade' que a fundamentava e tornava orgânica com a Educação.

O que eu quero dizer como conclusão é, pois, numa palavra, o seguinte: apenas quando/se [1] reencontrarmos como civilização para a Educação uma [nova?] utilidade social e quando [2] o Conhecimento deixar de ser uma propriedade privada estr(e)itamente integrada no [anexada ou mesmo indexada ao] processo de gerar contínua e ulteriormente capital, poderemos ter esperança de veer consistemente resolvida a "questão" da "autoridade" nas [e das] escolas e poderá ser reposta [resgatada] o esquema básico da educatividade: aquele que passa, como disse, nuclear ou verticialmente por uma relação contínua e estrutural/estruturantemente dialéctica da des-igualdade básica entre os indivíduos de uma mesma comunidade e um projecto de igualicidade organizada em que a técnica ou o Técnico mandam fazer e a Política ou o Político operativizam e operacionalizam.


[Imagem extraída com a devida vénia de tevescopio.blogger.com.br]