A tese que pretendo defender no texto sobre "O pensar diatópico como típico pensar português" assenta basicamente na ideia de que a emergência e a fixação de um paradigma judaico-cristão no domínio da reprentação estável da realidade bloqueou todo o processo histórico de formação de modelos estáveis e tópicos de consciência do real, inclusive do real social.
Trata-se, a meu ver, de um a forma de pensar in/essencialmente mágico primitivo adoptado e mutado no sentido de uma reconhecível complexificação onde as fórnmulas originais destinadas a promover a impressão de controlo sobre o funcionamento da realidade já integraram comnplexifuicações do modelo original, integrando noções como as de "pecado" [mutação com pessoalização do primitivo "tabu"] mas, de igual modo, de "penitência" [variante do motivo sacrificial primitivo, sublinhando o novo e mais complexo papel do indivíduo no processo de transformação do real.
Em meu entender, com efeito, os primitivos tentames de explicação e transformação ou controlo da realidade passam pela contrução mental e, em seguida, cultu[r]asl do tabu, violado o qual, a realidade desencadeia sobre o indivíduo e a comubnidade uma série de forças destruidoras. No tabu, o papel do indivíduo é em geral, passivo, i.e. muitas vezes viola um espaço tabu, inadvertida e, em muitos casos inconscientemente. Isto é muito claro na tragédia grega onde o motivo do tabu primittivo surge já algo "mutado" e consideravelmente complexificado, ritualizado na própria tragédia como entidade. Nestras formas primitivas de cienciação da realidade, tentando antecipá-la e prevê-la,reduzi-la a um quadro abstracto ou mesmo teórico obtido a partir dela, ou seja, em última análise, dominá-la, a culpa surge muitas vezes como algo de in-definido e difuso sendo que o causador da ruptura da ordem ou mesmo dos estados de franca des-ordem aparecem, muitas vezes, muito mais como vítimas do que propriamente cullpados.
As religiões monoteístas valorizam, individualizando-a a noção da responsabilidade na ruptura da ordem. A partir daí, desse grau de complexificação do próprio paradigma de explicação da realidade, já pode surgir em toda a sua extensão, a ideia ou a perceoção da culpa. Daí que o motivo do sacrfício ritual conmo que se vire para si mesmo e, ele próprio se torne uma circunstância, basicamente individual e, portabnto, pessoal. Agora não são precisos sacrifícios mas de fsacto que o culpado sofra e expie a sua culpa. Que morra no indivíduo o "pecador" e re/nasça o inocente. Neste novo quadro representacional, o indivídiuo não precisa que o matem num poste sdacrificial. Vai ele mesmo tomar a inciativa de morrer. Os quadros iniciáticoas e esotéricoas de explicação do real, valorizam e consagram formalmente esta morte.
Ora, é a meu ver da interiorização e generalização deste "suicídio ritual" libertador que, passa para o domínio do social, as bases conceptuais da tanatopia tão bem expressa, na construção cukltu[r]al morte dem torno da morte de Inês de Castro. Agora, a morte não representa já um mero estágio no caminho patra a perfeição e para a reinstalação da ordem mas um verdadeiro pressuposto. Morta, Inês deixa de ser o elemento subversor de uma sociedade inteira e passa a ser uma vítima. Não por acaso n' "A Paixão de Pedro o Cru", Lopes Vieira aponta para uma aproximação final de Inês à própria Rainha Santa. Tal como eu a vejo, a construção cultu[r]al envolovendo a corioação do cadáver de Inês, tem evidentes anaslogias com io sebastianismo: D. Sebastião, o jovem irreflectido que arrasta o País para uma guerra que quase o aniquila e para uma crise dinástica dificílima de resolver, começa por ser o rei incapaz que só pensa enm caçar e fazer guerras de Cruzada completamente ultrapassada; D. Sebastião, dizia, uma vez morto passa de rei incapaz no seu tempo para rei ideal de todos os tempos. A morte tal como sucede com o próprio Cristo, liberta-o das suas circunstâncias falíveis, logo, num certo sentido popular e não só, é possível dizer que a morte o salvou.
Há um evidente fundo crístico no sebastianismo como, de resto, acontece no motivário inêsiano.
Inês e Sebastião, insisto, tiveram de morrer [forma limite de situação sacrificial para se libertarem dos erros que induziam a des-ordem.
A morte converte-se assim, também no plano social e político, numa espécie de estação para a reciomposição da ordem.
Portugal é um país sem um proletariado historicamente habituado a tomar em mãos, como sucede em França, por exemplo, as tarefas de mudança social e, por consehguinte, a inyeriorizar uma [sub]consciência de efectivo embora, em muitos casos, apenas potencial poder próprio: confia, sobretudo, na intervenção da imanência senão mesmo do sagrado que pode assumir a forma de um Mouisés, i.e. um chefe providencial imanente à História re/criado à imagem do próprio Deus.
Isto explica que a sociedade portuguesa pareça sempre, de um modo ou de outro, disponível para se auto-imolar [se oferecer em sacrifício] enquanto comunidade detentora de direitos cívicos, sociais e políticos, aceitando prescindir deles para ter a protecção do "Pai" que vem à Hiatória conferir-lhe ou devolver-lhe uma direcção e um sentido.
É neste sentido preciso que eu digo que a interiorização e projecção no social do paradigma de organização ou "explicação" judio-criastão da realidade actuou como um travão e um bloqueio estável à libertação social e política da sociedade portuguesa que até comelçou de forma promissora, como recorda Álvaro Cunhal na sua "Luta de Clases na Idade Média Poertuguesa" quando fala da emergência e afirmaçãio de uma burguesis medieval capa de arrebatar direitos à aristocracia e, em seguida, de lutar e mesnmo morrer por eles. Com o tempo, porém, a acção bloqueadora do providencialismo como forma de domar a realidade, fez-ase sentir e acabou por triunfar no imaginário social e político colectivo, sempre à espwera do seu Moisés, sempre vendo o sentido para a História fora da acção determinada e determinante dos indivíduos intervindo organizadamente na transformação do real.
É isto a Diatopia, a utopia sem data precisa, dependente, na prática, não do ds homens mas de um "calendário da divindade" ao qual apenas se pode aspirar pela espera paciente we pela aceitação incondicional ou sacrificial.
Diatopia a que também chamo tanatopia uma vez que a forma limite de passividade é a própria Morte da qual existe, como vimos, pronta a ser apercebida e apropriada mutatis mutandis, como tenho vindo a dizer, toda uma cultura fornecida, como também disse, pelos quaderos mentais ligados à tradição judaico-cristã, onde a morte desempenha, como se sabe, um papel verdadeiramente crucial como pressuposto de «libertação» e/ou purificação.
É obviamente aqui que entra o motivário inesiano, na forma de súmla e símbolo electivos deste ideário tanatópico que coloca a morte no centro.
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