É! Vou começar esta "entrada" exactamente do modo como abre um divertidíssimo romance policial de um dos meus autores de cabeceira, Peter Cheyney: "don't get me wrong!"
Ao Peter Cheyney, hei-de voltar um dia, aqui mesmo, neste "Diário".
Bem o merece! É um tipo literariamente bem disposto, com uma imaginação perversamente divertida (ou divertidamente perversa, como preferirem) que podia ensinar, ainda hoje, um par de coisas a muito boa gente que por "aí" anda e se acha (vá-se lá saber porquê!...) o máximo dos máximos em matéria de espírito e de graça...
Mas o bom do Peter fica, pois, para outro dia. Hoje há em Portugal "Marcha da Indignação" e há, sobretudo, carradas de razão para que qualquer delas, a Marcha e, muito especialmente, a Indignação que a motivou existam.
É para lá que, por essas boas razões, vamos "já em directo", pois!...
"Don't get me wrong, then, people!" Não me interpretem mal: eu até gosto de pais. E posso prová-lo: para estar aqui, esta manhã, a trocar as brilhantes considerações que vão seguir-se com a ilustríssima plateia virtual que sois todos vós, tive, também eu (é verdade! Juro!) de recorrer a um, a um desses tais pais, um que me durou, aliás, por curiosidade, toda a vida.
Toda a vida dele, para ser mais preciso...
Sem ele, nunca poderia estar hoje aqui, convosco, acreditem! Não é exagero creio.
E nunca me queixei.
Não é, pois, essa "a questão". A "questão" é outra!
Aquilo que me "chateia" muito francamente um bocadinho (aqui entre nós que ninguém nos ouve) nos pais é quando eles decidem tornar-se "conselheiros" (e, às vezes, também "cúmplices"!) de uma coisa hoje em dia absolutamente "indigesta" e insuportável chamada "ministra" e desatam todos a dar "bitates" sobre aquilo que, para que "tudo" corresse pedagogicamente bem em Portugal, devia estar, para eles (e, pelos vistos, até para a ministra...) rigorosamente "off limits": a Educação e/ou o Ensino, enquanto actividades em si.
Mas eu dizia há pouco que hoje havia Marcha da Indignação, não disse? Pois, ainda ontem, sobre esse tema, inseria o "Público" uma entrevista com um desses tais "Pais de carreira" provocado no sentido de "vir a público" perorar, entre outras coisas relativamente às quais tinha e tem toda a legitimidade para pronunciar-se, sobre... Educação.
E que diz o excelente "pai profissional"?
Fala dos "grandes problemas" dessa mesma Educação entre nós, os quais, segundo ele, se deve ao ministério (ao mini... stério, estão a ver? Só que aquilo é cada vez menos... "estéreo" e cada vez mais... "histérico": mini-histérico", pois.
Ou, se preferirem: cada vez menos "estéreo" e cada vez mais... "mono".
Mais... "móno" e, ao mesmo tempo, mais "môno"...).
Mas falando a sério, quais são, então, os tais magnos problemas que esse santuário precoce do Saber entre nós já "resolveu"? Querem mesmo saber? Aqui vão eles:
Número um: "os miúdos do 1º ciclo têm hoje uma refeição nas escolas".
Isto, nas palavras do tal pai.
Gente como eu pensava (ingenuamente, claro!) que uma escola é uma escola e que uma instituição de caridade é uma instituição de caridade. Que uma escola se fez para ensinar (que só funciona realmente quando o faz e que é por aí que se mede---que deve medir!---o grau de satisfação de uma comunidade com a "sua" escola) e uma instituição de caridade para fazer esta última. Pois, ao que parece, gente como eu estava redondamente enganada.
Se calhar, agora, é ao contrário: ensinar-se-á na Misericórdia e dar-se-á-se sopa-bebida-e-dois-pratos nas escolas---as quais se deverão, ao que tudo indica também, considerar resolvido um problema grave seu quando conseguem a espantosa proeza de servir um prato de sopa e "mais qualquer coisa" a SESSENTA POR CENTO da população escolar básica, por dia que é, segundo o tasl pai o número de crianças do 1º ciclo em situação de necesitar dessa ajuda.
Bom, satisfeita, o que se diz satisfeita, não será. Não acrescenta o tal senhor que "claro que ficam insatisfeitos" com "isto"?
E pergunta a gente (cheia de esperança...): "claro que" os pais ficam insatisfeitos, como cidadãos e como pais de outras crianças com mais sorte do que essas, pela circunstância verdadeiramente monstruosa de ser um verdadeiro escândalo humanitário que SESSENTA POR CENTO das crianças do 1º ciclo, em Portugal, em pleno século XXI, tenham de recorrer à caridade pública, (mal) disfarçada, aliás, para terem possibilidades de comer, nem que seja uma vez por dia?
Ou por se ter obviamente desmantelado já de tal maneira a arquitectura social do Estado que tenham de ser as escolas a fazer aquilo que mais ninguém já pode ou quer aparentemente fazer: alimentar crianças como aquelas que só se julgaria existirem no Darfur ou nos confins da África ou da Ásia?
(FIM DA PRIMEIRA PARTE)
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