sábado, 8 de março de 2008

"Don't Get Me Wrong!" (part 3)


Bom, posto isto tudo (Cf. "Don't Get Me Wrong!", parts 1 and 2) interessa tirar conclusões.
Tiremo-las, pois!

Vejamos: diz respeito ao modo como a situação da Educação em Portugal tende a ser posta, hoje em dia e por quem, isto é, dito de outro modo, ao tipo de relação que está estabelecido (e é ministerialmente vistro como devendo institucionalizar-se) entre a profissão docente e o conjunto da sociedade portuguesa.

É óbvio que hoje-por-hoje, a Educação é uma espécie de roupa-de-franceses: toda a gente dá sentenças, toda a gente tem opiniões, toda a gente SABE. Isto não será propriamente novidade o pior (e a grande diferença relativamente a um passado recente) é que hoje, com o tipo de gente que se apoderou do poder em Portugal, toda a gente pretende que aquilo que "sabe" sobre Educação (não sobre os seus usos sobre a Educação propriamente dita) se torne regra e faça "lei".

ISSO---isso é que é novo e é muito grave.

Aliás, toda esta questão está tão óbvia quanto lamentavelmente ao contrário.

Ou seja: é evidente que os professores não devem ser os "donos da Educação". Não devem mesmo sê-lo no sentido exacto em que não é a eles como classe que compete dizer para que quer a sociedade em que estão inseridos essa mesma Educação.

Poderão os professores, cada um deles per se, dar o seu ponto de vista (legitimíssimo!), a sua (desejável) opinião sobre a questão.

Como classe, não têm evidentemente legitimidade para fazê-lo.

Agora, isso é uma coisa.

Outra é pretender que seja a sociedade de forma indiscriminada e desordenada a definir não já o que ensinar mas como fazê-lo e como construir os meios para alcançar os objectivos educativos.

Uma sociedade tem o direito (tem, mesmo, o dever!) de definir objectivos para os usos concretos (económicos, sociais, políticos, etc.) do conhecimento. Uma vez definidos esses usos, porém, é aos técnicos que são, neste caso, os professores, que compete conferir expressãio operativa a esse plano ou a esse projecto político de Educação.

E aí, no plano técnico, caso não "reinem" os técnicos e as suas técnicas, acabou-se o que de científico possa haver (e deva haver!) no projecto como todo.

E esse é o grande equívoco e o grande embuste actual: o ministério (que obviamente de Educação percebe muito pouco, da Educação como ciencialidade, digamos assim, envolvendo uma postura pedagógica e didáctica científica precisa) não percebe ou finge não perceber a diferença entre as duas realidades que atrás refiro.

A solução para os (gravíssimos!) problemas da Educação em Portugal não passa pelo esvaziamento epistemológico, científico, etc. das práticas educacionais. Não passa pela sua (impensável, estúpida, irresponsável!) "entrega" à sociedade civil, digamos assim.

Uma medicina não passa a ser "democrática" se essa sociedade vir reconhecido politicamente o "direito" a "fazer diagnósticos clínicos" e a "medicar".

Passa, sim, a ser mais atrasada, obscurantista: foi, está a ser, medievalizada.

Também não passa, do mesmo modo, a ser mais "educacionalmente democrática" pelo facto de um ministro ou ministra quaisquer "decretarem" que os pais devem "avaliar" o trabalho técnico dos professores e os sindicatos ou os empresários gerirem as escolas.

Gerir as escolas já é, dentro de limites muito precisos (e obviamente da razoabilidade que em tudo deve prevalecer) uma questão educativa.

Fiscalizável, evidentemente (desejávelmente!) mas sempre uma questão educativa.

A autonomia técnica (não a autonomia política ou, se assim se preferir, civilizacional) é um pressuposto absolutamente essencial do sucesso educativo.

Um governo e um ministério inteligentes não enfraquecem: reforçam a autonomia técnica das suas instituições. Fiscalizam-nas e pedem-lhes responsabilidades, claro, mas reforçam-lhe sempre (volto a dizer: como pressuposto absolutamente essencial) a independência técnica.

O que acontece é que este governo nem em si mesmo confia, quanto mais nos técnicos que diz formar.

É que avaliar o desempenho de professores já formados tem de ser uma tarefa digna, claro mas também conplementar (no contexto de um efectivamente responsável processo de formação do técnico em causa) de um longo trabalho no âmbito dessa mesma formação do próprio professor de que o Estado não pode alhear-se nem desresponsabilizar-se.

Que diabo de Estado é um Estado que gasta tempo e dinheiro dos contribuintes na formação de professores e chega ao fim e nem sequer sabe o que fez, isto é, se em vez de formar professores, não andou mas foi pura e simplesmente a brincar com dinheiro que não é seu??!!

Então, depois, de cumprida a parte nuclear, estrutural básica, da formação do professor é que vai avaliar se ele serve????!!!!

O Estado não percebe que ao excluir professores É A SI PRÓPRIO QUE ESTÁ A PÔR-SE EM CAUSA?

Que é ele nesse caso que deve responder perante a cidadania por uma incompetência e um esbanjamento de dinheiros públicos e de expectativas de cidadãos seus??!!

É por tudo isto que as coisas têm de dar uma volta enorme na Educaão em Portugal. A Educação é para os educadores. Deve ser feita não obviamente PARA eles mas certamente POR eles.

Enquanto não se perceber isto, nada feito!
[Proposto aqui, o que fica é, afinal, um novo "contrato social" senão mesmo "civilizacional" a subscrever entre a Educação e um governo sério e a sério quando e se ele se dignar "aparecer aos portugueses"... ]

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