segunda-feira, 31 de março de 2008

À espera do "tal" comentário


E, por fim, cá está a "tal" imagem (Pobre senhora!)
Pobre senhora, de facto!! De que natureza será a terrível ameaça que sobre ela impende e paira? Freddy Kruger não deve ser: o Isaltino---que ao longe medita imerso nos profundos mistérios da Existência, ele que a todos domina através do seu profundo conhecimento da Vida colhido em cada uma das suas peregrinações ao eruditíssima universo das novelas-TVI...---não deixaria, com toda a certeza, que um tal "Fabiano" lhe invadisse os domínios e pusesse em risco a alma das devotadas paroquianas!...
Mas, então, quem poderá ser??!!)
Bom, o melhor mesmo é esperar que, vendo esta pavorosa imagem de assédio a uma infeliz donzela, o Próprio se identifique por meio de um revelador comentário...
Fico à espera, agora que a imagem "cresceu"...

quarta-feira, 12 de março de 2008

E hoje joga o Benfica (parte 2)


O futebol (ou outro desporto qualquer: eu gosto de futebol, neste espírito socializador e identitarizador que eu estou convicto que ele assumiu nas "public schools" inglesas e no modelo de educacionalidade aí veiculado); o futebol, dizia, permite-me, então, dispensar-me por inteiro de ter de explicar por que razão gosto do clube xis e porque oposta razão desejo a derrota do epsílon. Porque o futebol permite-me, de facto, desvincular o meu "gostar" e o meu "não gostar" da "opressão" de qualquer lógica ou razão fora da pura satisfação instintiva de gostar ou não.

Aquilo que me está vedado é (como dizer?) "dar erros de ortografia" ou "de sintaxe" no uso da linguagem para a qual escolhi "traduzir" aquelas tais pulsões irracionais---a saber, o código das leis do jogo.

Aquilo que eu não posso permitir-me é extravasar do (e violar, portanto, o!) código linguístico em causa, isto é, toda a minha hostilidade, todas as minhas pulsões negativas devem ser, tão literal quanto exaustivamente, vertidas para vitórias e derrotas desportivas.

Muita gente considera, por exemplo, que sendo nós, todavia... "desadeptos" do clube português xis "temos obrigação" de apoiá-lo sempre que joga com estrangeiras.

Ora, eu não penso assim: o futebol permite-me, por exemplo, (e aí é que reside o essencial do seu papel catártico e identitarizador!) não gostar desportiva ou não gostar competitivamente de modo mais ou menos absoluto do Futebol Clube do Porto.

Noutras condições, talvez eu devesse sentir-me obrigado (e sublinho: obrigado!) a apoiá-lo, mesmo contra vontade, contra as tais equipas estrangeiras.

O modo catártico como eu concebo o futebol, porém, dispensa-me do "dever patriótico" e, nesse sentido preciso, racional de fazê-lo e eu posso dar natural vazão à minha antipatia porque (e sempre que!) a expressei através da própria lógica estrita da competição e cuidando de seguir escrupulosamente as "leis" comummente construídas para veicular e transaccionar socialmente este tipo de estado de espírito ou de emocionalidade.

Pessoalmente, entendo que não se pode valorar demais esta saudável aptidão natural do universo lúdico, estritamente como tal, para a recomposição secundária mas reequilibradora da normalicidade afectiva e emocional específica do Eu cuja estrutura intrínseca está longe de ser, como se sabe, exclusivamente constituída pelo seu próprio conteúdo em racionalidade, digamos assim---ainda que as exigências estr(e)itas da socialidade me forcem continuamente a um investimento tão exaustivo quanto potencialmente violentador do meu próprio equilíbrio emocional e afectivo ou afeccional nestas.

A alternativa é o fascismo.

Isto é: quando eu começo a não dispor de (a não saber construir) áreas de projectividade e/ou educada, "ritual" esquizomorfia onde as minhas pulsões egóticas e especificamente ego-cêntricas possam resolver-se, de forma contínua, em paz consigo mesmas, digamos assim, é a própria realidade relacional e social que passa a receber "em cheio" todo o brutal impacto da minha irracionalidade em estado puro e "por tratar" ou "por processar".

A realidade não é a preto-e-branco mas o "jogo" (ou melhor: no jogo!) pode sê-lo e as minhas imagens e representações estáveis e identitárias dela tornar-se, por isso, não apenas socializáveis(o que já nem seria mau) como até (melhor ainda!) ulteriormente socializadoras.

E todos nos "entendemos" nas nossas discórdias e divergências.
E, depois, há a questão das "identidades"---pessoais ou individuais e colectivas. Eu gosto (sou do Benfica, ou melhor: eu assumo integralmente a minha "benfiquicidade"!) também porque a imagem que ele traz consigo da História e para a História é a do Clube do povo onde a "alma" se habitou a superar as contrariedades impostas pela própria carência e pela(s) necessidade(s).

Foi a questão do campo (que forçou à fusão do Sport Lisboa com o Clube de Benfica, cujos emblemas ilustram as duas partes desta "entrada" no presente "Diário"); foi o assalto/agressão dos ricos (do rival Sporting, o clube da aristocracia, fundado---literalmente---por um barão, o barão Holtreman Roquette); foi a depredação dos valores humanos (o "rapto de Artur José Pereira e, depois de Alberto Rio, o primeiro dos quais foi para o Soprting porque no Benfica não existia o luxo dos duches quentes...); foi o cavalheirismo de Cosme Damião (expulsando, por exemplo, o seu próprio jogador A.J. Pereira que foi indelicado num jogo na Galiza); foi o cavalheirismo de um Espírito Santo no famosísimo episódio com o grande Azevedo; foram as deficiências competitivas do velho Benfica de '40 contra os "Violinos" do Sporting; foram---eram---os modestíssimos sapateiros-de-vão-de-escada com os cromos do Rogério e do Corona ou do Vieirinha e do Sebastião colados na humilde madeira das improvisadas, esconsas oficinas; foram os sindicalistas e opositores ao regime fascista usando a bandeira do Benfica como sucedâneo autorizado de outra bandeira vermelha, estritamente proibida essa; foi, numa palavra, toda uma cultura de humildade e desprivilégio que se concretizou numa identidade institucional capaz de "escorrer" continuamente para quantos dela comungam e a partilham. Sendo "do" Benfica, eu sou também (e sublinho: também) muito claramente dos "humilhados-e-ofendidos" contra os outros; sendo "do" Benfica eu assumo integral ainda que, em larga medida simbolicamente, uma posição que é basicamente ética não deixando, no limite, de ser também e muito claramente política.

É verdade que eu não terei escolhido ser do Benfica---foi, sobretudo, como atrás disse, algo que aconteceu, que terá razões próprias para ter acontecido desse modo mas que eu nem me dou ao trabalho de tentar explicar.

Mas isso não significa menos que, sendo do Benfica, sou secundária ou intrínseca e necessária---conscientemente---tudo isso.


E VIVA, POIS, O BENFICA!

FIM DA SEGUNDA (E ÚLTIMA) PARTE

E hoje joga o Benfica... (parte 1)


Começo pelo seguinte: por dedicar a "entrada" de hoje (esta, pelo menos: não sei ainda se, depois dela, haverá outras) a dois bons amigos que há muito fazem parte integrante (e inalienável!) da minha vida: o Sr. Irracionalismo e a Sra. D. Paixão...




São, com efeito, excelentes amigos e companheiros de vida com quem partilhei (e espero continuar a partilhar) alguns momentos de eleição ao longo destes sessenta e três ("going on sixty-four"...) anos que compõem aquela.




Nunca percebi muito bem aqueles 'intelectuais' bigodudos (ou barbudos---também os há...) mas invariavelmente circunspectos e "sérios" que acham que o primeiro dever das pessoas que já alguma vez na vida leram um livro é, imediatamente após tê-lo feito, proceder à pronta inscrição do aventureiro em causa no Clube dos Desprezadores Veementes ("Et Pour Cause!") do Futebol cujo presidente julgo que é, ainda hoje, o deputado do PSD (e "pessoa séria de carreira"), José Pacheco Pereira.




Ora, para sermos muito claros, devo dizer que eu não desprezo, de modo algum, o futebol e que o considero (a ele como ao hóquei, ao rugby---modalidade para a qual, não tenho, aliás, pessoalmente, a mínima pachorra sem, todavia, minimamente menosprezar!---ou ao voleibol) actividades, todas elas, perfeitamente compagináveis, como agora se diz, com a leitura de uma Duras ou de um Beckett ou a audição (para mim, extasiada!) de um Mozart ou de um Beethoven.




Iconoclasia e sacrilégio?




De modo algum! Aquilo que eu penso nesta matéria (e agora estou mesmo a falar a sério, ham?) é que é essencial que, na nossa vida (tanto na exterior como, sobretudo, na outra, na íntima, de onde deve, de forma natural, emergir a primeira) saibamos (com a... brechtiana reserva e o piscatoriano distanciamento que as circunstâncias impõem...) reservar um espaço (como é que havemos de chamar-lhe?) ritual ou intelectivamente cerimonial para a celebração organizada das nossas pulsões irracionais que as exigências estr(e)itas da socialidade estão (mais ou menos) naturalmente impedidas de absorver e, muito em particular, de integrar.




E creio mesmo que essa "ciência" que se ocupa com um mínimo de método e eficácia do isolamento e da "educada, contínua alimentação" (in vitro?) das ditas pulsões constitui uma vacina verdadeiramente inestimável contra um conjunto enorme de formas-e-formatos comummente conhecidos de selvajaria e barbárie.




O "desdobramento inteleccional" (ou a "disciplinada, lúcida esquizofrenia") que, para o efeito, preconizo (isto é, a escrupulosa organização de cada um destes dispositivos celebracionais avulos em "loucura teleguiada" sólida e consistente) é já por si um meio valiosíssimo de auto- e hetero-conhecimento e socialização. De identitarização e (no melhor sentido da palavra!) integração social.



Ora, o futebol permite-me "resolver" num código (que é também uma linguagem que posso, portanto, negociar e partilhar com os outros) "dissolvendo-as" idealmente por completo nele, todo um conjunto de "premências" e/ou tropismos puramente instintuais ("objectos bio-psíquicos" não-necessariamente socializadores que residuaram de modo inerte do Eu absoluto infantil original) mas que, exactamente ao converterem-se em língua, em idioma comum (o "código" de regras do futebol, no caso no nosso exemplo de hoje---e pelo e no próprio acto de de fazê-lo!) mudam tão sólida quanto educadamente "de estado" (e, insisto, se devidamente diluídos nos símbolos que compõem o código em causa) tornam-se factores ulteriores de socialização e integração não apenas do Eu no colectivo como, sobretudo, do Eu em si mesmo.



Eu não posso (estou pela ética da própria siocialidade no ponto exacto em que ela intercepta a deontologia profissional ou já se esqueceram de que eu sou professor?...) impedido de detestar este ou aquele aluno (que, porém, de facto, detesto!...) e de por exemplo, reprová-lo (eu ainda sou do tempo em que os alunos reprovavam e passavam...) para dar satiasfação àquela que (quer eu queira admiti-lo, quer não...) é a minha vontade efectiva, profunda e real.



Por muito que o irracional em mim o desejasse, não posso, obviamente!



Pois não!



Mas posso, primeiro, isolar e racionalizar (elaborar sobre ela e projectando-a, dissociada, de mim, submetê-la desejavelmente ao meu controlo intelectivo) essa dissociação potencialmente dilacerante entre os imperativos de ordem epistemológica e social que tenho de aceitar me sejam impostos de fora da lógica estrita das minhas "paixões" (se o aluno sabe, não tenho qualquer direito de reprová-lo: deixaria a um tempo de ser professor, justo e, no limite, pessoa civilizada e até minimamente inteligente se o fizesse!) e as minhas pulsões mais profundas e irracionais.



Proceder a essa distinção é, aliás, já por si, um passo importantíssimo no sentido do conhecimento (assim como dos princípios da educada socialização a que como indivíduo minimamente civilizado devo aspirar).






E posso, depois, sublimar a minha inevitável frustração potencialmente neurotogénica resultante desse como de outros incontáveis episódos de que é feita a nossa vida "social" em sentido lato em "jogo" e em linguagem---e "debitar" aquela representação puramente irracional de "justiça" que era reprovar o bom aluno que, porém, me é menos simpático numa outra "conta existencial" expressamente aberta para o efeito.





E é aí que entra o futebol.



FIM DA PRIMEIRA PARTE

sábado, 8 de março de 2008

"Don't Get Me Wrong!" (part 3)


Bom, posto isto tudo (Cf. "Don't Get Me Wrong!", parts 1 and 2) interessa tirar conclusões.
Tiremo-las, pois!

Vejamos: diz respeito ao modo como a situação da Educação em Portugal tende a ser posta, hoje em dia e por quem, isto é, dito de outro modo, ao tipo de relação que está estabelecido (e é ministerialmente vistro como devendo institucionalizar-se) entre a profissão docente e o conjunto da sociedade portuguesa.

É óbvio que hoje-por-hoje, a Educação é uma espécie de roupa-de-franceses: toda a gente dá sentenças, toda a gente tem opiniões, toda a gente SABE. Isto não será propriamente novidade o pior (e a grande diferença relativamente a um passado recente) é que hoje, com o tipo de gente que se apoderou do poder em Portugal, toda a gente pretende que aquilo que "sabe" sobre Educação (não sobre os seus usos sobre a Educação propriamente dita) se torne regra e faça "lei".

ISSO---isso é que é novo e é muito grave.

Aliás, toda esta questão está tão óbvia quanto lamentavelmente ao contrário.

Ou seja: é evidente que os professores não devem ser os "donos da Educação". Não devem mesmo sê-lo no sentido exacto em que não é a eles como classe que compete dizer para que quer a sociedade em que estão inseridos essa mesma Educação.

Poderão os professores, cada um deles per se, dar o seu ponto de vista (legitimíssimo!), a sua (desejável) opinião sobre a questão.

Como classe, não têm evidentemente legitimidade para fazê-lo.

Agora, isso é uma coisa.

Outra é pretender que seja a sociedade de forma indiscriminada e desordenada a definir não já o que ensinar mas como fazê-lo e como construir os meios para alcançar os objectivos educativos.

Uma sociedade tem o direito (tem, mesmo, o dever!) de definir objectivos para os usos concretos (económicos, sociais, políticos, etc.) do conhecimento. Uma vez definidos esses usos, porém, é aos técnicos que são, neste caso, os professores, que compete conferir expressãio operativa a esse plano ou a esse projecto político de Educação.

E aí, no plano técnico, caso não "reinem" os técnicos e as suas técnicas, acabou-se o que de científico possa haver (e deva haver!) no projecto como todo.

E esse é o grande equívoco e o grande embuste actual: o ministério (que obviamente de Educação percebe muito pouco, da Educação como ciencialidade, digamos assim, envolvendo uma postura pedagógica e didáctica científica precisa) não percebe ou finge não perceber a diferença entre as duas realidades que atrás refiro.

A solução para os (gravíssimos!) problemas da Educação em Portugal não passa pelo esvaziamento epistemológico, científico, etc. das práticas educacionais. Não passa pela sua (impensável, estúpida, irresponsável!) "entrega" à sociedade civil, digamos assim.

Uma medicina não passa a ser "democrática" se essa sociedade vir reconhecido politicamente o "direito" a "fazer diagnósticos clínicos" e a "medicar".

Passa, sim, a ser mais atrasada, obscurantista: foi, está a ser, medievalizada.

Também não passa, do mesmo modo, a ser mais "educacionalmente democrática" pelo facto de um ministro ou ministra quaisquer "decretarem" que os pais devem "avaliar" o trabalho técnico dos professores e os sindicatos ou os empresários gerirem as escolas.

Gerir as escolas já é, dentro de limites muito precisos (e obviamente da razoabilidade que em tudo deve prevalecer) uma questão educativa.

Fiscalizável, evidentemente (desejávelmente!) mas sempre uma questão educativa.

A autonomia técnica (não a autonomia política ou, se assim se preferir, civilizacional) é um pressuposto absolutamente essencial do sucesso educativo.

Um governo e um ministério inteligentes não enfraquecem: reforçam a autonomia técnica das suas instituições. Fiscalizam-nas e pedem-lhes responsabilidades, claro, mas reforçam-lhe sempre (volto a dizer: como pressuposto absolutamente essencial) a independência técnica.

O que acontece é que este governo nem em si mesmo confia, quanto mais nos técnicos que diz formar.

É que avaliar o desempenho de professores já formados tem de ser uma tarefa digna, claro mas também conplementar (no contexto de um efectivamente responsável processo de formação do técnico em causa) de um longo trabalho no âmbito dessa mesma formação do próprio professor de que o Estado não pode alhear-se nem desresponsabilizar-se.

Que diabo de Estado é um Estado que gasta tempo e dinheiro dos contribuintes na formação de professores e chega ao fim e nem sequer sabe o que fez, isto é, se em vez de formar professores, não andou mas foi pura e simplesmente a brincar com dinheiro que não é seu??!!

Então, depois, de cumprida a parte nuclear, estrutural básica, da formação do professor é que vai avaliar se ele serve????!!!!

O Estado não percebe que ao excluir professores É A SI PRÓPRIO QUE ESTÁ A PÔR-SE EM CAUSA?

Que é ele nesse caso que deve responder perante a cidadania por uma incompetência e um esbanjamento de dinheiros públicos e de expectativas de cidadãos seus??!!

É por tudo isto que as coisas têm de dar uma volta enorme na Educaão em Portugal. A Educação é para os educadores. Deve ser feita não obviamente PARA eles mas certamente POR eles.

Enquanto não se perceber isto, nada feito!
[Proposto aqui, o que fica é, afinal, um novo "contrato social" senão mesmo "civilizacional" a subscrever entre a Educação e um governo sério e a sério quando e se ele se dignar "aparecer aos portugueses"... ]

"Don't Get Me Wrong!" (part 2)


NÃO!


As boas almas têm, pelos vistos, uma outra visão e um outro entendimento (obviamente muitíssimo diferentes porque---não tenho dúvidas---incrivelmente mais omniscientes!) das coisas da Educação!


E é aprender com eles que eles não duram sempre!...


Eles estão "ainda insatisfeitos" não porque os tais sessenta por cento das crianças de um país supostamente moderno e alegadamente civilizado em pleno século XXI e sob uma administração (poder-se-á ainda dizer?) "pública" socialista passariam fome se a escola não se substituísse uma vez por dia ao Estado social (que, pelos vistos, ainda faria "uma certa" falta mas que, apesar desta realidade social e até humanitariamente trágica, se vai muito... "socialisticamente" volatizando cada dia um pouco mais---e ainda dizem que os profesores são maus, que não têm consciência social, que se "baldam" a tudo, que se estão "nas tintas" para os seus deveres relativamente aos seus concidadãos e por aí fora!...); mas, dizia eu, não é por isso que os pais "ainda não estão completamente satisfeitos" embora, claro, não tenham, já hoje, "nenhuma razão para estar[em] contra [as] políticas de Educação" (?).


Pois, os pais (fiquem vocências sabendo!) estão ainda um pouco insatisfeitos porque... as crianças em causa (e cito) "comem [leia-se: devoram com a avidez que se adivinha a caridosíssima esmola] numa sala de aulas ou num polivalente" (!!!)


Já estou mesmo a ver-vos exclamar comovidamente perante isto: Que generosidade! Que consciência social e pedagógica! Que sensibilidade, que requinte didáctico-humanitário!


Pois é para que vejam! Gente humanitária e com ideias sólidas, assentes, firmes e esclarecidas sobre política... educativa é assim.


É outra coisa!


Agora cá uma Escola que só pensa em ensinar e/ou professores que pensam sabe-se lá em quê!!


Qual quê!


Sopinha e ainda não chega se for dada na sala-de-aulas ou no polivalente!


É assim mêmo ó Ti Mila!


Mas já agora, só mais uma destas pegagogíssimas exigências e a "coisa" da Escola começa a compor-se de vez.


Ou seja: se já hoje, pelos vistos, os "pais não têm nenhuma razão para estar contra as políticas de Educação", então, se estas se concentrarem um pouco mais na magna questão educacional dos tempos... livres, então, "é que"!...


(Pois, nos tempos livres porque os outros são "para aí presos, não?")


Ah, mas hoje já tudo começa a encaminhar-se para o ideal.


Sabem como?


Não?


Pois, o senhor em causa diz: com xis horas diárias de "actividades lectivas" temperadinhas a preceito com uns tempinhos avulsos de "enriquecimento curricular", num total de oito e zás: a coisa vai ao sítio!


Fácil, não é?


A ensinar o quê?


Como?


A quem?


Isso não deve ser problema, a avaliar pela entrevista onde a questão nem sequer é levantada.


Nem uma única vez, aliás!


As horas têm é de ser oito, isso santa paciência!


E fica a gente a pensar (muito confortadinha, claro!): "Pronto! Agora-agora!"


Com gente desta na liderança da Educação em Portugal, é um instantinho enquanto deixa de haver problema educativo! Deixa de haver Educação, claro mas esse é o preço a pagar por se ser eficaz, não é?


Porque o problema, ah, esse vai de certeza com ela: acaba-se uma, acaba-se o outro!


Genial, não?


Professores? Não gastamos disso, cá!


Quer dizer: podem entrar no "esquema", tá bem, mas pianinho, ham?!


Políticas de Educação é com a gente!


E assim ficamos todos a saber o que esperar de uma Escola onde cidadãos sensíveis como estes vão passar a ter finalmente voz activa na condução da política ou políticas... educativas!


Mas ficamos a saber mais: ficamos, por exemplo, a saber que as escolas "ainda não" (sic) "se estão a ressentir da contestação dos professores" (COMO é que os pais de fora da escola sabem disto com esta certeza toda, não me perguntem...) mas não ficamos por aqui: sabemos ainda que embora "se esteja a falar muito da excessiva carga burocrática em que estão mergulhadas as escolas para cumprir o que lhes está a ser pedido [sic] pelo ME" "isso não se está a reflectir nas salas de aula".


Como a carga existe, isto deve ser um elogio "cruzado" ao sacrifício da classe docente mas isso não nos dizem...


Dizem-nos é que "embora ela, carga, não se reflicta nas salas de aula", eles, pais, SENTEM "que as escolas estão a viver um momento de afogamento [sic] em tarefas.


Ou seja: não se reflecte mas... afoga! 'Tá bem... Faz todo o sentido...


FIM DA SEGUNDA PARTE

"Don't Get Me Wrong!" (part I)


É! Vou começar esta "entrada" exactamente do modo como abre um divertidíssimo romance policial de um dos meus autores de cabeceira, Peter Cheyney: "don't get me wrong!"

Ao Peter Cheyney, hei-de voltar um dia, aqui mesmo, neste "Diário".

Bem o merece! É um tipo literariamente bem disposto, com uma imaginação perversamente divertida (ou divertidamente perversa, como preferirem) que podia ensinar, ainda hoje, um par de coisas a muito boa gente que por "aí" anda e se acha (vá-se lá saber porquê!...) o máximo dos máximos em matéria de espírito e de graça...

Mas o bom do Peter fica, pois, para outro dia. Hoje há em Portugal "Marcha da Indignação" e há, sobretudo, carradas de razão para que qualquer delas, a Marcha e, muito especialmente, a Indignação que a motivou existam.

É para lá que, por essas boas razões, vamos "já em directo", pois!...

"Don't get me wrong, then, people!" Não me interpretem mal: eu até gosto de pais. E posso prová-lo: para estar aqui, esta manhã, a trocar as brilhantes considerações que vão seguir-se com a ilustríssima plateia virtual que sois todos vós, tive, também eu (é verdade! Juro!) de recorrer a um, a um desses tais pais, um que me durou, aliás, por curiosidade, toda a vida.

Toda a vida dele, para ser mais preciso...

Sem ele, nunca poderia estar hoje aqui, convosco, acreditem! Não é exagero creio.

E nunca me queixei.

Não é, pois, essa "a questão". A "questão" é outra!

Aquilo que me "chateia" muito francamente um bocadinho (aqui entre nós que ninguém nos ouve) nos pais é quando eles decidem tornar-se "conselheiros" (e, às vezes, também "cúmplices"!) de uma coisa hoje em dia absolutamente "indigesta" e insuportável chamada "ministra" e desatam todos a dar "bitates" sobre aquilo que, para que "tudo" corresse pedagogicamente bem em Portugal, devia estar, para eles (e, pelos vistos, até para a ministra...) rigorosamente "off limits": a Educação e/ou o Ensino, enquanto actividades em si.

Mas eu dizia há pouco que hoje havia Marcha da Indignação, não disse? Pois, ainda ontem, sobre esse tema, inseria o "Público" uma entrevista com um desses tais "Pais de carreira" provocado no sentido de "vir a público" perorar, entre outras coisas relativamente às quais tinha e tem toda a legitimidade para pronunciar-se, sobre... Educação.

E que diz o excelente "pai profissional"?

Fala dos "grandes problemas" dessa mesma Educação entre nós, os quais, segundo ele, se deve ao ministério (ao mini... stério, estão a ver? Só que aquilo é cada vez menos... "estéreo" e cada vez mais... "histérico": mini-histérico", pois.

Ou, se preferirem: cada vez menos "estéreo" e cada vez mais... "mono".

Mais... "móno" e, ao mesmo tempo, mais "môno"...).

Mas falando a sério, quais são, então, os tais magnos problemas que esse santuário precoce do Saber entre nós já "resolveu"? Querem mesmo saber? Aqui vão eles:

Número um: "os miúdos do 1º ciclo têm hoje uma refeição nas escolas".

Isto, nas palavras do tal pai.

Gente como eu pensava (ingenuamente, claro!) que uma escola é uma escola e que uma instituição de caridade é uma instituição de caridade. Que uma escola se fez para ensinar (que só funciona realmente quando o faz e que é por aí que se mede---que deve medir!---o grau de satisfação de uma comunidade com a "sua" escola) e uma instituição de caridade para fazer esta última. Pois, ao que parece, gente como eu estava redondamente enganada.

Se calhar, agora, é ao contrário: ensinar-se-á na Misericórdia e dar-se-á-se sopa-bebida-e-dois-pratos nas escolas---as quais se deverão, ao que tudo indica também, considerar resolvido um problema grave seu quando conseguem a espantosa proeza de servir um prato de sopa e "mais qualquer coisa" a SESSENTA POR CENTO da população escolar básica, por dia que é, segundo o tasl pai o número de crianças do 1º ciclo em situação de necesitar dessa ajuda.

Bom, satisfeita, o que se diz satisfeita, não será. Não acrescenta o tal senhor que "claro que ficam insatisfeitos" com "isto"?

E pergunta a gente (cheia de esperança...): "claro que" os pais ficam insatisfeitos, como cidadãos e como pais de outras crianças com mais sorte do que essas, pela circunstância verdadeiramente monstruosa de ser um verdadeiro escândalo humanitário que SESSENTA POR CENTO das crianças do 1º ciclo, em Portugal, em pleno século XXI, tenham de recorrer à caridade pública, (mal) disfarçada, aliás, para terem possibilidades de comer, nem que seja uma vez por dia?

Ou por se ter obviamente desmantelado já de tal maneira a arquitectura social do Estado que tenham de ser as escolas a fazer aquilo que mais ninguém já pode ou quer aparentemente fazer: alimentar crianças como aquelas que só se julgaria existirem no Darfur ou nos confins da África ou da Ásia?


(FIM DA PRIMEIRA PARTE)


sexta-feira, 7 de março de 2008

Sobre a propriedade ou impropriedade da propriedade---outra vez...




Sobre a questão da propriedade já conhecem algumas das coisas que sinceramente penso.


Mas há outras que eu igualmente penso e ainda não tive oportunidade de dizer.


Esta, por exemplo: como é que alguém pode, com seriedade, andar a "chatear-nos constantemente a porca" com ASAES, ameaças de prisão e, de uma maneira geral, limites absolutamente ilegítimos e juridicamente aberrantes, monstruosos mesmo ao exercício (porém oficialmente reconhecido) à propriedade invocando o "respeito devido à dita intelectual" (aquela do poder-se comprar um DVD mas não o poder mostrar aos vizinhos se forem mais de dois ou três cheira a "fascismo empresarial" que tresanda!...) e, depois, acha a coisa mais natural deste mundo que um qualquer burgesso armado em director de programas retalhe impunemente um filme autenticamente à machadada ou a golpes de bárbara podoa com o (culturalmente desprezível!) pretexto de estarmos numa estação (televisiva) "comercial?"


Então isso já não repesenta um vil atentado à propriedade intelectual?!


Um homem faz um filme com uma certa economia estrutural, um certo ritmo, uma certa consistência rítimica e um certo "balance" específico que (bom ou mau!) é o seu e vem um camelo qualquer que só vê dinheiro à frente e decide partir aquela m... toda de uma ponta a outra, metendo a faca onde muito bem apeteceu à sua estupidamente merceeira (ou esteticamente tasqueira, escolham!...) "cabecinha" e toda a gente acha muito bem e se cala perante a brutal cavalice cometida em nome da livre empresa e da "brilhante inventiva" publicitária perante o olhar impávido de todos!!


Já pensaram numa "Guernica" cortada em quatro "partes" com cartazes (sei lá!) de camisas-de-vénus nos "espaços vazios"?...


Ou num "David" de Miguel Ângelo desmontado e remontado por um taberneiro qualquer a soldo, por exemplo, de um banco de esperma privado de modo a caber no espaço entre o marmóreo, clássico ventre e a não menos marmórea (e clássica!) pilinha um frasco com "sumo de homem" e uma frase estúpida qualquer anunciando as vantagens de se fazerem filhos com a ajuda (ou a "desinteressada intermediação"?) dos mecenáticos "empresários" em questão??

Respeito pelos artistas e pela propriedade intelectual??!!

Como dizia o outro: "Porra! Não me lixem, pá! Vão mas é brincar com o c..."




Carpenter e os outros


Ontem, para mim, foi "dia semanal do pecado cultu(r)al", especificamente cinematográfico"...

Não sabem o que tal seja?

Eu explico...

Segundo alguns "especialistas" (melómanos, sobretudo) muitas pessoas, "intelectual" e, de uma forma genérica..."epistemologicamente respeitáveis" possuem, não-raro, vícios tão ocultos quanto inconfessáveis que, por razões óbvias, apenas podem satisfazer no mais absoluto segredo: são os amantes da «boa» Música que cedem ao prazer, canonicamente pecaminoso, de ouvir (e de gostar de ouvir) o Pavarotti cantar tarantelas; os leitores da «boa» Literatura que fazem outro tanto com os "whodunnits" de um Raymond Chandler, de um Horace McCoy ou de um Dashiell Hammett; os da «boa» Pintura que apreciam um H.R. Gigger (que, todavia, teve o atrevimento de conceber uns quantos mamarrachos para uma "coisa" excessivamente pop chamada "cinema") e por aí fora.

Eu, como dizia o outro, "é mais Hawks e Ford": o Howard e o John, respectivamente.

Já agora, confesso "tudo": e Anthony Mann (o de "Man From Laramie" e de "Bend Of The River".

E Delmer Daves (pois, esse, o de "3.10 To Yuma", um "irmão" menor e consideravelmente mais negro de "Rio Bravo" de Hawks.

Ah e Carpenter, John Carpenter.

Ontem, por acaso, foi dia de Carpenter.

Dele, estive a "banquetear-me cinematograficamente" com "Christine", a "estória" de um carro assassino.

Ou de um assassino que é carro.

Para muitos, estes filmes não passam de tolices sem nexo.

Ora, sucede que, na verdade, são, se vistos e equacionados correctamente muito mais do que isso.

A minha... "tese" nessa matéria é que toda a sociedade pensa---mesmo quando apenas a parte de cima ("if at all", é verdade!...) parece fazê-lo.

A parte "de baixo" quando pensa é com os "restos" ou os... "despojos" do pensar inadvertidamente deixados ao seu alcance pela parte "de cima".

Ou seja: a parte "de cima" tem Beckett, Adamov e/ou Kafka para pensar (se); a "de baixo" tem Carpenter, Frank Marshall e Tobe Hooper.

"Christine" é uma curiosíssima (e inteligentíssima!) "metáfora" da emergência na História das chamadas "contra/culturas" ou "transculturalidades" jovens.

Da "pós-modernidade pós-democrática", se assim quisermos dizer...

"Christine" é um discurso "aterrado(r)" sobre aquela "mudança de estado" (pós) cultural configurada pela deposição histórica das culturas onde ecoava e estava ainda expresso, onde estava ainda representado ou plasmado, o formato natural/original da Realidade e da História---um fenómeno a que chamei a substituição progressiva das "trickle-down societations" (ou societações vertic(i)ais tradicionais) pelas "shedding societations" (ou societações organicamente inorgânicas e/ou "horizontais" pós-tradicionais).

"Christine" é uma fábula sobre a destruição da relação natural da humanidade com o próprio real a partir da fetichização completamente alienada e (des) cultu(r)almente estupidificada com os objectos que caracteriza o pós-moderno das sociedades cujos meios, volto a dizer: naturais de relacionamento são com a realidade lhes foram roubados pela privatização económico-política do Conhecimento.

Desse ponto de vista, o filme "comple(men)ta" muito bem, a este nível fascinantemente quasi-série B, um "Halloween III" (do mesmo Carpenter) que era um filme notabilíssimo sobre a desintegração das sociedades ditas "ocidentais" ditas "democráticas" via televisão e via grandes empresas multinacionais ou não (como "Poltergeist" que era em parte sobre "isso" e sobre a culpa na sociedade norte-americana, algo de que já Henry James falava---e muito! E muito bem!---noutro "tom" em "The Europeans", por exemplo e a Beauvoir, noutro registo ainda, numa "coisa" caracteristicamente sábia e brilhante chamada "A América Dia a Dia") ou "Lobo/Wolf" de Mike Nichols, um fulano cinematograficamente não muito engraçado nem particularmente "luminoso" mas que aí teve o desarrincanço conceptual e narrativo de se sair com uma fábula "hobbesiana" realmente muito bem esgalhada sobre a "antropofagia laboral" no contexto de um certo tipo de vida e actividade económica.

Não posso, por tudo isto, aceitar que a uma (sub?) Arte que reflecte com esta lucidez e esta subtil, "apaixonada frieza" alguém possa ter a infinita insensibilidade de chamar uma "coisa" menor!


Eu numa "coisa única" chamada Astorga




Aqui estou eu em pleno périplo "gaudiano" diante de uma peça razoavelmente "descentral" do Mestre. "Descentral", digo eu, porque se situa fora da sua Catalunha natal onde estão as peças mais "canónicas", digamos assim.

E também porque não é exactamente uma dessas obras mais "canónicas".

Gaudì é, para mim (com um Horta, em muito menor escala, por exemplo) o Homem e o Artista que conseguiu dar expressão "dramática" e dialéctica perfeita, definitiva, a algo que era, sobretudo, uma actividade de puro ou impuro consumo burguês: a arquitectura "para ricos" do início do século passado.

A Arte Nova e a Art Deco são, com efeito, o mais perto que um merceeiro ou um tasqueiro analfabetos subitamente enriquecidos conseguem chegar da Arte e da Cultura Ocidentais.

Destas, formulam os "burgueses" em causa uma ideia confusíssima e caracteristicamente sincrética (ou "gestaltista", se quisermos "falar mais caro"...) onde convivem numa mesma peça (na qual inextricavelmente se confundem absolutamente "pêle-mêle": "c'est ça la règle du jeu"...) capiteis gregos jónicos e coríntios com outros bizantinos; gregas e abóbadas (ou cenários) de basílica turca ou búlgara; frontões barrocos e uma inspiração casuística e pontual de cabaret vienense.

Entre um número infindo de outras "coisas" do mesmo tipo.

Ora, o que Gaudì consegue nas suas melhores obras é levar o registo 'decadente' a uma inquietude e a um paroxismo onde o questionamento (involuntário?) do próprio modelo é já um motivo (angustiadamente) central (mas também empolgantemente descentrante e) essencial.

O fragmentário ou a fragmentalicidade estruturais (sugerindo a---auto?---laceração e a própria morte); a decoratividade sempre inquieta entre o (inconscientemente?) irónico e o tragicamente "festivo", induzindo o apocalipse de tudo aquilo que cultural e cultualmente lhe subjaz e a gerou; a integração do barroco como aspiração inconsciente à (lá está: auto!) imolação pelo fogo e antecipação subliminar do fim; tudo isso está no melhor Gaudì cuja opus essencial sugere irresistivelmente o sombrio fatalismo (ou suicidária fatalicidade) de um António Patrício, de um Álvaro do Carvalhal ou de um Manuel Laranjeira entre nós ao mesmo tempo que prenuncia criticamente a desintegração apoteótica do surrealismo de um Buñuel ou a louca surrealicidade da poética de um Éluard ou de um Breton; o delírio criacional de um Artaud mas também (e, num certo sentido, sobretudo) o suicídio orgásmico mais terreno de um Busby Berkeley de cujas torturadas plasticidades e triunfais explosões onanísticas e/ou sub-repticiamente homoreróticas a obra de Gaudì é uma sábia e inteligentíssima, deslumbrante, mensageira.

[Constato a posteriori que já tinha, noutro ponto deste "Diário" inserido esta fotografia e abordado este mesmo tema. Paciência! A fotografia é, no fundo, tão lisonjeira---como dizia o Fulano de noventa anos: "Ah! Quem me dera ter oitenta e cinco outra vez!..."---e traz-me tão boas recordações e o tema, por sua vez, tão inesgotável e fascinante que decidi não alterar coisa alguma no alinhamento e no próprio índice do presente "Diário".
Vai assim mesmo, pois, com imagem "a dobrar" e tudo...
Olhem: é "pr'á desgraça", pronto!...]

"A lata continua" (esta já é velha mas não lhe consigo resistir...)


É que a "lata" continua, com efeito...

Completamente "à nora" relativamente ao "que fazer com esta Escola" (e por "esta "Escola" entenda-se, aqui, a Escola enquanto serviço social e, secundária---ou reflexamente---civilizacional, i.e., a Escola burguesa-revolucionária saída da Revolução Francesa, associada a um modo-de-produção ou a um "paradigma de economicidade" específicos e, ao mesmo tempo, como parte integrante do amplo processo de "conquista e legitimação contínua do poder" por parte de uma burguesia que , em 1789 se viu finalmente triunfante---e "proprietária", por fim, em exclusivo da História); completamente "à nora", pois, dizia, relativamente ao "que fazer com" uma Escola (ou uma escolicidade) que herdou "assim" mas que, entretanto, se desencontrou já (des) estruturalmente por completo com o modo-de-produção "que a viu nascer" (e prosperar), o actual poder político neo-liberal (pós) "social", gestor electivo dos interesses de uma "terceira" ou "quarta burguesias (pós?) históricas" com muito pouco que ver já com "a primeira", a tal que apanhou (muito sabiamente, aliás!) a dado passo, o comboio da Revolução para se "apoderar" da História, apenas consegue, em matéria de Educação (é cada vez mais óbvio!) ou proferir autênticas boçalidades (algumas delas, então, verdadeiramente inenarráveis!) ou, em alternativa (em cumulação?) gerar autênticos (sucessivos!) monstros, sejam eles pessoas ("but I will, of course, name no names---perish the thought...") ou instituições.

Foi (citando "pêle-mêle") um Conselheiro Acácio e Grilo Falante (que até era também Grilo de nome: era o destino...); foi a virago Ferreira Leite, uma guarda-livros "de luxo" que "não teve governo" para mais; foi a inenarrável Seabra que se tornaria (e, se não tornou, devia legitimamente tornar-se...) o "anjo vingador" e a "esperança de vida" de "tudo quanto é" pura (ou impura...) inépcia e "vocação natural para a demência"; foi, enfim, um nunca-mais-acabar de patuscos e patuscas que "à Educação dissseram nada" (como, por paráfrase, acontecia no título célebre do Mourão Ferreira) e que não deixaram saudades mas cujo infausto cortejo culminaria na "luminária" que a maioria absoluta (e que tal alcunhar a senhora em causa de "maria absoluta", tendo em conta a sua propensão e o seu instinto naturais para a razoabilidade e para a transigência?...) deixou no sapatinho de um eleitorado mentalmente cada vez mais débil e "propênsico" a votar com... a parte de baixo do corpo (que é como se geram naturalmente, em Democracia, as maiorias e, por conseguinte, ipso facto as minorias, absolutas uma e outra ...)

Pois, após ter conseguido o milagre de (des?) mobilizar uma classe profissional inteira, por vocação amorfa e hostil à intervenção cidadã de cariz mais... "callejero", a tal "Maria Absoluta" vem, agora, para os jornais acenar com um (aliás, oportuníssimo!) relatório da Inspecção Escolar onde se contam (com minucioso pormenor e ao som de áureas trombetas, ao que consta) mais algumas... "assombrosas maravilhas" do "seu" governo.

Agora, dizem-nos, relatório e ministra, já "temos" extensão escolar de modo a permitir ter os alunos ocupados mais tempo.

Pois.

Sobre a selvajaria praticada em inúmeros A.T.L. 'independentes' já existentes, nem uma palavra.

Sobre a qualidade pedagógica e didáctica do que se faz educacionalmente nessas "extensões" a que foi supostamente sujeito, "a metro", o "tempo escolar", nem uma palavra.

Vai-se a ver e o grande triunfo, o estrondoso sucesso, do ministério Rodrigues foi, afinal, em última instância, neste como noutros domínios, a réplica institucional (chamemos-lhe:) "educativa" do modo como "a minha vizinha do terceiro direito" (que enriqueceu a vender ouro pelas portas) decorou a casa dela, a partir do "estudo" atento que fez da daquele famosíssimo escroque doublé de autarca chamado "Qualquer Coisa Que Já Me Esqueceu" que "vinha na Caras".

Ou seja, como disse, "a metro".

A metro, assim tipo "oh sr, Fulano, arranje-me aí metro e meio de livros encadernados que quero forrar uma parede que tenho lá, à intelectual..."

Mas, pior ainda: este imenso... "prodígio" foi alcançado com o professorado praticamente todo na rua a protestar!
Ora, como é que é possível que pela cabeça de uma pessoa minimamente normal e minimamente racional passe a (chamemos-lhe assim:) "ideia" de que sucesso educacional e professores são coisas afinal inorganicamente dissociáveis entre si---um e outros, meros "compagnons de route" acidentais e de pura ou impura circunstancial... circunstância??!!

Como é que alguém de boa fé pode imaginar que seja sequer possível (já nem digo: acreditar mas) suspeitar sequer da possibilidade de haver projectos educacionais de sucesso não apenas sem mas agora já inescondivelmente contra toda uma classe cuja actividade profissional (e cívica! E histórica! E civilizacional!) consiste, todavia, contraditoriamente, em protagonizar nuclearmente tais projectos??!

Não define isto toda uma maneira de estar na Sociedade, na Educação, na Política, no País?

Não é esta equipa ministerial a mesma que entra em (indecoroso!) êxtase quando, no mesmíssimo relatório, se regista no "haver" dos abracadabrantes prodígios tutelares, o espantoso "achievement" que é o encerramento final de TODAS as escolas "com menos de dez alunos", independentemente do lugar onde se encontravam e do tipo de enquadramento económico, social e sociológico que era o delas?
Não são estes fulanos os mesmos que através da "questão das faltas" ou da banalização absolutamente irresponsável, leviana e tecnicamente injuriosa dos exames ad hoc acabaram "dizendo" implicitamente tudo aquilo que efectivamente pensam sobre o papel (na sua perspectiva, puramente ancilar e incidental) que atribuem à matéria e às intituições que, apesar disso, tutelam?

Não é, segundo eles, a Escola apenas mais um lugar onde se pode aprender e a Educação algo que PODE ter mas também pode NÃO ter, de facto como de direito, a ver com as Escolas e com o sistema de Ensino, no seu todo?
Não equivale isso a "afirmar" que isto de ser professor, bem vistas as coisas, se calhar até nem é nada "do outro mundo" uma vez que cada um pode muito bem fazer em sua casa, dispensando a intervenção (obviamente sobrevalorizadíssima!) desses "adversários pirrónicos" do regime, que são os professores aquilo que estes têm a temerária veleidade de se julgarem indispensáveis para levar a cabo?

Não é isto tudo como disse, o retrato de corpo inteiro impiedoso, implacável, autenticamente... "assassino", de uma gente e de um regime mas, sobretudo, de um Povo inteiro que continua saturninamente a tolerar um ao mesmo tempo que não se decide, de uma vez por todas, a correr definitivamente com os outros?

Eu, sinceramente, acho que é.