Estou volta-e-meia a ouvir gabar as maravilhas do chamado "Acordo" ortográfico recente. O jornal "Record" lembrou-se mesmo de implementá-lo, ao que julgo saber, espontaneamente, isto é, de forma mais ou menos original e avulsa.
"Acordos" destes é o que dão: uma salganhada incrível com uns a escrever "assim" e outros "assado" e o governo (o Ministério sda Cultura, o da Educação) a assobiar para caracteristicamente o lado porque tem de ir "chatear professores" o que dá um trabalhão danado e ocupa a maior parte do tempo das "mentes brilhantes" que por lá acamparam...
Um destes dias, li no referido "Record" (edição do dia 10.02.09, no curto texto referente às declarações do treinador de futebol Jaime Pacheco (*) titulado "Estamos mais confiantes", inserido na página 12) que "de fato" (juro! "De fato"!!) havia certa circunstância que não-sei-quê-não-sei-que-mais...
"De fato", ham?... ´
O balanço era tanto que do "ato" (onde o "c", com efeito, não se lê, é mudo) já vamos no... "fato".
Mas o tal "Acordo" tem muitas coisas giras em si mesmo. É, desde logo, uniformizador e autoritário. Isto é, se eu em vez de "artefato" quiser ler (e estou no meu direito!) "artefacto", com o "c" sonoro, o "Acordo" proibe-mo forçando-me a aceitar o idiolecto alheio administrativamente convertido em padrão obrigatório...
Se, por outro lado, uma criança quiser pronunciar a partir da língua escrita "guerra" e "unguento" continua, apesar do tal "Acordo" que ia "pôr na ordem" a relação lógica da escrita com a fonética sem ter suporte gráfico sólido, eliminado que foi em tempos o trema, o "Umlaut" alemão...
Bela aproximação da escrita à oralidade esta, sem dúvida, bela racionalização da relação entre ambas as componentes do discurso linguístico...
E, já agora, se quisermos distinguir a "recepção" (com "e" sonoro) da "recessão" (com "e" mudo?) Claro que na bolsa é (dolorosamente!) fácil distinguir um e outro mas em termos linguísticos, mesmo com a tal apregoada racionalização a coisa fia seguramente (bem!) mais fino...
(*) A frase completa é: "Começámos muito bem, conseguimos marcar um golo cedo, mas recuámos em demasia no terreno, um fato que o Paços de Ferreira proveitou, acabando por empatar o jogo".
[Imagem extraída com a devida vénia do blog Revista Decifra-me wordpress]
3 comentários:
Eu vi essa palavra no record. Acho que a intenção foi passar a ideia que são muito modernos e foram os primeiros a usar o acordo ortográfico.
Eu sugiro que eles alterem o nome Record, para Récor ou Recorde.
Abraços
..
Foi uma boa surpresa, chegar a esta página a partir de outro blog. Irei "segui-la" atentamente, se me permitir, saudosa que estou das sessões de cinema na biblioteca.
Bom fim-de-semana!
Manuela
O que é preocupante são os erros e as gralhas que encontro principalmente nos jornais desportivos o que quanto a mim tem a ver com o desconhecimento de quem escreve.Enfim será o resultado de um sistema de ensino cada vez menos exigente no qual interessa é o aproveitamento escolar a qualquer preço para ficar bem na estatística.
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