terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

"Do Estado Consciência" ao... "Estado almocreve": breves reflexões a respeito do "caso" Freeport


Punhamos, desde logo, as "cartas" todas "na mesa", de uma vez: não tenho qualquer problema em admitir (e isto para ser simpático, ham?) que não suporto ("nem com molho de tomate"!...) o cidadão que o eleitorado entendeu que podia ser escolhido para primeiro-ministro do País onde nasci e vivo--do meu País, portanto; que não gosto mais daquela... "espécie de partido político" asmático, zoina, comborço e caprichoso (uma autêntica "menina histérica ideológica e cívica"--cívico, aquilo??!! Enfim...--percorrida pelas mais impúdicas tremuras e pelas mais grosseiras flatulências de 'virgem imaginária' sempre que voluptuosamente dela se acercam, a fim de lascivamente, lhe... "tocarem" os arreitados "interesses"--como dizia o Dr. Cravinho...

Sem reservas declaro de igual modo (e com igual franqueza!) que nutro o mais profundo desprezo pelos "diários" de "notícias" que não hesitam em vender a própria mão que lhes "dá o pão" se isso contribuir para aumentar as vendas, sem deixarem, só por causa desse "insignificantíssimo" pormenor de estar, aliás, sempre com caracteristicamente untuosa "devoção", "ao serviço da causa" quando a "causa" é objectivamente ameaçada.

Uns e outros, não são, afinal, eles mesmos outra coisa senão parte integrante e activa dos "interesses"--dos tais "interesses" que chutaram o Dr. Cravinho para Bruxelas, acho eu (ou talvez fosse para... "Trás-do-Diabo-Mais-Velho", não me lembro bem; de qualquer modo um e outro são, para os mais diversos efeitos, vizinhos e assim fica tudo, afinal, "em família"...).

Não gosto, pois, da "gente" que uns e outros configuram: se pudesse, corria com todos e pronto: recomeçava o País do zero, no ponto exacto em que o deixou o generosíssimo (e também imerecidíssimo! O País nunca o mereceu!) esforço saneador de '74, esse malogrado denodo higienizador a que ficam para sempre ligados rostos e personalidades como os Maias, os Gonçalves (é absolutamente arrepiante o que uma certa "velhacaria funcional" contumaz, múltiplice e institucionalizada fez a uma das mais solitária e mais exemplarmente sérias figuras que o País alguma vez conheceu!), dos Otelos (porque não dos Otelos, meu Deus? Valia mais ele com toda a sua desmesura e os seus truculentos, espumejantes excessos do que trinta ou quarenta Sócrates todos juntos!...) e de poucos mais.

Bom mas se hoje retomo aqui esta questão não é tanto por eles mas é, sobretudo, como consequência directa e imediata de uma notícia que li recentemente na imprensa referente ao pantanoso "caso" do Freeport.

A notícia é do "Diário das ditas" (é verdade, sim senhor! Comprei-o: era dia de darem um DVD e aquilo que eu comprei realmente por um euro e qualquer coisa foi o DVD que à sexta e ao sábado "dá", como sabem, um jornal de borla...).

Pois, dizia eu, lá comprei a "coisa" (não se iludam, ham? "Aquilo" até às vezes tem graça, ham? Como daquela vez em que um fulano de lá vinha muito indignado desafiar, em editorial e tudo, o patuscão do "Pacholas" Pereira "pr'á porrada" porque ele lhes chamou "pasquim da situação" ou coisa que o valha... São momentos de puro humor como esse que acabam, afinal, por salvar a honra da casa--quem faz rir assim não pode ser completamente mau, digo eu...).

Pois, mas, como ia dizendo, comprei a "coisa" e deparo com uma notícia em que um outro fulano qualquer, um tipo do C.D.S., esse (ou talvez fosse "do-cêdeêsse-èsse"...) informava com todas as letras que na Cãmara de Alcochete chegou a funcionar, diz ele (e cito:) "um gabinete de recrutamento de mão de obra para o estabelecimento comercial".

O "estabelecimento comercial" é evidentemente o tal Freeport ou lá como é que se chama aquilo.

Ora, eu não sei, obviamente, se o cidadão José Sócrates é culpado ou não do que dizem (e algum fundamento terão obviamente para dizê-lo mas enfim) que ele pode ter feito no âmbito deste escabroso "caso" Freeport.

Também não sei se o tal primo e o tal tio são aquilo que se diz poderem eles ser, isto é, associados nalguma tramóia envolvendo o Freeport e agora também uns americanos quaisquer, entre os quais se encontra, aliás, o "cabalístico" e brumoso Carlucci (que andou, como sabem, por cá em '74 e '75 a "dar força à democracia contra a ameaça totalitária" e coisas no género, aparentemente sem reparar que "isto" era, afinal, um País independente).

Não sei, pois, dizia, se o tal tio e o tal primo são o que a Justiça inglesa (que não terá andado, essa, a "assobiar para o ar" como outras suas congéneres terão andado, neste "caso"mas pronto, isso são "outros" contos!...) admite que eles possam ter sido.

Não sei mas também no fundo não me interessa muito: se são que os prendam que para isso pagamos a polícias e juízes. E pronto! Não são mais do que ninguém: se forem culpados, que paguem e acabou-se. Não os conheço nem quero conhecer, antes ou depois.

Não me interessam, ponto.

Já no que diz respeito ao caso do cidadão Sócrates, as coisas "fiam mais fino", como é evidente e estou em completo desacordo com outro senhor do tal jornal (adivinharam! É o mesmo!...) o tal que não é "da situação" ("Perish the thought, of course!...") e que achava, pela boca de um dos seus articulistas residentes, incorrecto que o assunto fosse discutido publicamente como se isto de o primeiro-ministro do nosso próprio País figurar numa lista de suspeitos da polícia internacional não fossem "contas do rosário" de todos nós e não devesse, aliás, escandalizar-nos e deixar-nos, no mínimo, profundamente apreensivos e incomodados com o tipo de pessoas com quem politicamente temos, queiramo-lo ou não, de relacionar-nos...

Mas não é nem do tio nem do sobrinho nem do político que venho hoje, realmente aqui falar: é de uma certa imagem muito... pós-moderna e pós-cultural--completamente pós-civilizacional!--de "Estado" que subjaz àquela inimaginável "patacoada" de ter o gabinete de recrutamento de mão-de-obra de uma multinacional qualquer instalado num órgão de poder do Estado!

Subjacente a essa pouca vergonha de pôr órgãos de soberania a "trabalhar" especificamente para "os interesses", ostensivamente em nome da "solidariedade social" e da "promoção do emprego" encontra-se, afinal, aquilo que permite a cidadãos como eu, defensores assumidos da importantíssima (da verdadeiramente vital!) conquista civilizacional moderna que foi o que chamo o Estado-consciência observar com toda a propriedade crítica e analítica que a ruptura dessa mesma Modernidade e a tentativa de fazê-la regredir miseravelmente para "tempos históricos e mentais" (sociais, políticos, económicos, civilizacionais etc.) anteriores à Revolução Francesa e a tudo o que foi penosamente aberta porta-de-entrada para a Modernidade passa hoje (eu diria: passa hoje de forma literalmente subversiva e nuclear) pela re/conversão daquele em indesejáveis paradigmas de "Estado (im!) puramente funcional" ou mesmo abertamente de "Estado almocreve" de que o tal "gabinete", obscenamente "enquistado" numa Câmara Municipal, é um lamentável e, em meu entender, absolutamente indecoroso "exemplo"...

Que explica, aliás, em última análise, muita coisa...


[Imagem extraída de semiramis.weblog.com.pt representando o rei de Portugal, na figura de Laoconte, enredado com os "filhos", Fontes Pereira de Melo e Braaancamp, nas complicaões da época--legenda original da fonte de onde a imagem foi extraída com a devida vénia.]

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