quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"We Was Robbed, Some Say..."


Jornal "Público" de 02.02.09. Editorial de José Manuel Fernandes. Tema: os "upsurges" de xenofobia (chamemos-lhes esperançadamente: circunstancial ou meramente contextual) ocorridos em Inglaterra (sobretudo!) mas agora também já aqui ao lado, em Espanha, com os migrantes (neste último caso com os "over-the-border commuters" portugueses).

Sobre esta questão, um único comentário: como é que é possível (mas, meu Deus, como é que é possível??!!) que ninguém (a começar pelo sempre opinioso editorialista/director do jornal) perceba que "aquilo" é apenas o resultado mas o resultado inevitável de uma "Europa" "feita a martelo", que é como quem diz: feita de encomenda por--e, sobretudo, para!--um conjunto muito específico e limitado de interesses realmente económicos e financeiros e apenas instrumentalmente políticos que não conseguem, em caso algum, por isso mesmo (i.e. por serem os de um grupo muito particular e muito estr(e)ito de indivíduos dentro de uma única classe) ser em última instância, partilhados pela chamada sociedade civil no seu todo??!!

Como é que é possível que, depois do descalabro e do sangrento des-ordenamento administrativo e político aparentemente em muitos casos irreversível demonstravelmente institucionalizado na maioria das antigas colónias europeias em África; depois do fracasso de nações (de pátrias "postiças"...) inteiras como a jugoslava ou a belga; depois de tudo isso ainda haja quem com a maior leviandade e a mais criminosa das irresponsabilidades (estupidez a este nível é crime, meu Deus!) pretenda construir 'em laboratório fechado' e sem acesso das sociedades civis, verdadeiros "meta-países" e/ou "trans-nações" completas como se "a História não existisse" e a realidade fosse "de borracha" ou (sei lá!) "de cera" ou "de plasticina e cartão"?...

Como é que é possível, pergunto eu?

É verdade que, na mesmíssima edição do jornal se diz que os "irlandeses diriam hoje sim ao tratado" a que ainda há pouco na "segunda étapa do mesmo" voltaram a dizer não...

É verdade isso mas... não se perceberá, mesmo perante esse outro facto aparentemente favorável aos "europeizadores de carreira" que por aí pululam, que aquilo que volta aí a ser a ser de facto afirmado é, ainda uma vez, que as pessoas não querem "esta" "Europa" feita brutalmente de cima, feita por decreto senão os irlandeses (os "tais" que se afirma que "hoje diriam sim ao tratado"...) não expressariam (tê-lo-ão realmente feito ou trata-se aqui de puro "wishful politicizing" feito... "por via transversal"?...) essa nova atitude relativamente a ele senão perante um conjunto de garantias (e aqui? Tratar-se-á de verdadeiras garantias ou de "garantias" puramente "simbólicas" e na prática à partida já desactivadas?...) de não-federalização e, por conseguinte, de não-europeicização "a martelo" do seu país, ao contrário daquilo que obviamente se obstinam em pretender os promotores do tal "Tratado" sobre o qual os cidadãos foram, porém, tão... "prudentemente" impedidos de ter voz activa?...

Francamente: quem, editorialista ou político, não percebe a diferença entre uma coisa e outra ou é realmente muito ingénuo (muito tolo?...) ou anda a tentar meter os dedos nos olhos de alguém...

E receio bem que seja nos meus...


[Ilustração extraída com vénia de photobucket.com]

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