O meu gosto pelas viagens (pelas viagens, quer dizer: pelas viagens que o salário de professor--no tempo em que os havia--tornava possíveis...) levou-me a ter um razoável conhecimento da Europa mais próxima--muito antes de haver "Europa" (que era, afinal, exactamente quando havia Europa mas enfim!...)
Conheço razoavelmente a Andaluzia (a Espanha "sanguínea e africana"...); conheço (um pouco menos bem, admito) a Espanha "germânica" (Catalunha e Países Bascos); e conheço (como dizer?) assim-assim-para-o-meu-gosto (que era conhecer a fundo) a Espanha rústica e seminal: a Galiza.
Conheço de lá ter vivido a Holanda, a Bélgica e esse Portugal ideal e perfeito que foi, para a minha geração, a França.
Sempre me gabei de fazer um turismo orgulhosamente "contra-corrente": evitava os hotéis (mesmo aqueles que podia, se quisesse, pagar: detesto a "gentileza de hoteleiro" (que é o nome "fino" que a abjecção e a subserviência mais vis tomam quando se está perto do mar...); fugia (como o diabo da cruz!) dos campings "com court de ténis e piscina" com a mesma convicção e a mesma rapidez com que fujo dos livros do Sousa Tavares e das homilias do Marcelo) e fazia absoluta questão de viajar sem itinerário.
Cheguei a planear (vagamente! Vagamente! Sempre planeei vagamente: é a única maneira de planear sem que isso se transforme num dever e, pior ainda, numa vocação...); cheguei, dizia, a planear sair de Lisboa para ir a Paris, derivar para sul e acabar não passando de Córdoba!... Foi maravilhoso! (Para alguma coisa sou Aquário, não?...)
Conheço de Paris (onde, como disse, vivi nesse ventrudo "Alto do Pina maiorzinho" que é ou era Montparnasse-Bienvenu...), a Torre (não preciso de dizer qual, pois não?...) e essas "coisas" todas mas conheço também as catacumbas, o Père Lachaise, a casa de Balzac e mais uma série de coisas que a maior parte das pessoas que conheço... não conhecem e "até têm raiva a quem conhece"...
De Bruxelas (para onde as gracinhas e, sobretudo, os delírios imperiais de um regime de "velhas damas políticas" ou "de velhas gaiteiras da política" me empandeiraram em tempos) cheguei a conhecer um a um (e não é exagero, ham?!...) os buracos de algumas ruas que percorri, vezes sem conta, aos comandos de um eléctrico que parecia um avião e com quem mantinha excelentes relações porque era quem, nesse tempo, me dava, afinal, de comer e de beber, a mim e à minha companheira de desventuras.
Bom, mas isto para dizer o seguinte: houve em todos esses lugares um sítio que NUNCA deixei de visitar: a Escola ou o Liceu locais.
Lembro-me de estar em Estrasburgo com um grupo de alunos e colegas e, enquanto eles iam ver o "não-sei-quantos-europeu" corria eu, "avenida qualquer-coisa" acima, em busca do liceu!
Um dia, farta de se esgueirar por portões dos mais inverosímeis liceus e escolas por esse mundo fora, a minha mulher saiu-se com esta: "Como é que era aquela doença de que o teu pai (o meu pai, que já faleceu, era veterinário: é preciso explicar isto para se perceber a "coisa") estava sempre a falar?
Conheço razoavelmente a Andaluzia (a Espanha "sanguínea e africana"...); conheço (um pouco menos bem, admito) a Espanha "germânica" (Catalunha e Países Bascos); e conheço (como dizer?) assim-assim-para-o-meu-gosto (que era conhecer a fundo) a Espanha rústica e seminal: a Galiza.
Conheço de lá ter vivido a Holanda, a Bélgica e esse Portugal ideal e perfeito que foi, para a minha geração, a França.
Sempre me gabei de fazer um turismo orgulhosamente "contra-corrente": evitava os hotéis (mesmo aqueles que podia, se quisesse, pagar: detesto a "gentileza de hoteleiro" (que é o nome "fino" que a abjecção e a subserviência mais vis tomam quando se está perto do mar...); fugia (como o diabo da cruz!) dos campings "com court de ténis e piscina" com a mesma convicção e a mesma rapidez com que fujo dos livros do Sousa Tavares e das homilias do Marcelo) e fazia absoluta questão de viajar sem itinerário.
Cheguei a planear (vagamente! Vagamente! Sempre planeei vagamente: é a única maneira de planear sem que isso se transforme num dever e, pior ainda, numa vocação...); cheguei, dizia, a planear sair de Lisboa para ir a Paris, derivar para sul e acabar não passando de Córdoba!... Foi maravilhoso! (Para alguma coisa sou Aquário, não?...)
Conheço de Paris (onde, como disse, vivi nesse ventrudo "Alto do Pina maiorzinho" que é ou era Montparnasse-Bienvenu...), a Torre (não preciso de dizer qual, pois não?...) e essas "coisas" todas mas conheço também as catacumbas, o Père Lachaise, a casa de Balzac e mais uma série de coisas que a maior parte das pessoas que conheço... não conhecem e "até têm raiva a quem conhece"...
De Bruxelas (para onde as gracinhas e, sobretudo, os delírios imperiais de um regime de "velhas damas políticas" ou "de velhas gaiteiras da política" me empandeiraram em tempos) cheguei a conhecer um a um (e não é exagero, ham?!...) os buracos de algumas ruas que percorri, vezes sem conta, aos comandos de um eléctrico que parecia um avião e com quem mantinha excelentes relações porque era quem, nesse tempo, me dava, afinal, de comer e de beber, a mim e à minha companheira de desventuras.
Bom, mas isto para dizer o seguinte: houve em todos esses lugares um sítio que NUNCA deixei de visitar: a Escola ou o Liceu locais.
Lembro-me de estar em Estrasburgo com um grupo de alunos e colegas e, enquanto eles iam ver o "não-sei-quantos-europeu" corria eu, "avenida qualquer-coisa" acima, em busca do liceu!
Um dia, farta de se esgueirar por portões dos mais inverosímeis liceus e escolas por esse mundo fora, a minha mulher saiu-se com esta: "Como é que era aquela doença de que o teu pai (o meu pai, que já faleceu, era veterinário: é preciso explicar isto para se perceber a "coisa") estava sempre a falar?
O "quisto hidático", não era?
Pois, olha, tu deves ter uma variante dessa doença: dever sofrer de um quisto... didáctico!"
E "quisto didáctico" ficou para sempre a minha doença "de eleição".
É uma expressão fabulosa, verdadeiramente genial!
Todos quantos por amor a uma profissão (hoje morta) comungam dessa doença talvez incurável de querer ver o próximo saber (o pouco, embora) que eles mesmos sabem; todos quantos sonham que Portugal possa, um dia, ter também Políticos, um Governo e um ministro da Educação como alguns países civilizados já hoje têm, ou seja, todos quantos partilham , por isso, (leia-se: por imperativo de consciência: pessoal, profissional e até civilizacional) o desprezo e o profundo asco que é devido às imitaçõezecas baratas (bem, baratas é como quem diz, não é?...) de qualquer dessas coisas; todos quantos, pois, numa palavra, mau grado as instituições, se obstinam em ser, apesar de tudo, professores conhecem, claro, os sintomas: a gente lê um livro e pensa: "Isto era giro era para uma aula sobre tal ou tal assunto".
Vê um filme e pensa: "Se se pudesse passar isto na escola podia perfeitamente servir para dar aquela ou aquela matéria".
E assim por diante.
Vinte e quatro (ou mesmo vinte e cinco ou vinte e seis...) horas por dia, estamos a "pensar escola", a "raciocinar escola", a "respirar escola".
Todos temos, afinal, o... "quisto didáctico".
Pois este blog é para eles.
Beijinhos!
Escrevam.
[Na imagem: a gare de Port Bou onde a minha relação com a espécie humana por razões que talvez, um dia, aqui recorde, ganhou um grande e decisivo impulso... Ao fundo, o túnel que liga Port Bou a Cérbere]
E "quisto didáctico" ficou para sempre a minha doença "de eleição".
É uma expressão fabulosa, verdadeiramente genial!
Todos quantos por amor a uma profissão (hoje morta) comungam dessa doença talvez incurável de querer ver o próximo saber (o pouco, embora) que eles mesmos sabem; todos quantos sonham que Portugal possa, um dia, ter também Políticos, um Governo e um ministro da Educação como alguns países civilizados já hoje têm, ou seja, todos quantos partilham , por isso, (leia-se: por imperativo de consciência: pessoal, profissional e até civilizacional) o desprezo e o profundo asco que é devido às imitaçõezecas baratas (bem, baratas é como quem diz, não é?...) de qualquer dessas coisas; todos quantos, pois, numa palavra, mau grado as instituições, se obstinam em ser, apesar de tudo, professores conhecem, claro, os sintomas: a gente lê um livro e pensa: "Isto era giro era para uma aula sobre tal ou tal assunto".
Vê um filme e pensa: "Se se pudesse passar isto na escola podia perfeitamente servir para dar aquela ou aquela matéria".
E assim por diante.
Vinte e quatro (ou mesmo vinte e cinco ou vinte e seis...) horas por dia, estamos a "pensar escola", a "raciocinar escola", a "respirar escola".
Todos temos, afinal, o... "quisto didáctico".
Pois este blog é para eles.
Beijinhos!
Escrevam.
[Na imagem: a gare de Port Bou onde a minha relação com a espécie humana por razões que talvez, um dia, aqui recorde, ganhou um grande e decisivo impulso... Ao fundo, o túnel que liga Port Bou a Cérbere]
2 comentários:
Amigo Carlos:
Esta surpresa é aquilo a que eu chamo uma traição didáctica, agora quer goste quer não (grande vingança) vai ter que me ler... Passe pelo meu http://alhaffa-blogspot.com (que por preguiça está parado desde novembro)e talvez fiquemos a falar sózinhos! eu divulgo o seu e vive-versa. Vale? Augusta
EH, compadre seja bem vindo á blogomania!
Você vem cá com um Speed, que ninguém o agarra, foge.
Só no dia 27 produziu uma catrefa de Post's, isso é que é memo bolir de empretada, chiça!
Na gaste as pilhas todas só de uma vez.
Estou a comentar este primeiríssimo Post, foi também o que mais gostei, as aventuras e desventuras pela Europa, algumas já conhecia outras não, a do "Quisto Didático" é demais e é por sua vez uma bela homenagem ao velhote veterinário, sempre presente, nas lembranças mais singelas, mas de valor superior a qualquer diamante, que o alfarrabista do r/c Esq. do Bl.19 da rua com pouca saída que é quase um beco, guarda com tanto carinho.
Compadre, gostava de saber quem é a Comadre Maria de Sousa, que está com preguiça desde Novembro, que tambem assina por Augusta.
Parabéns, Ti Carlos,
Um abraço do compadre Lechandre!
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