Vi-o recentemente.
Devo confessar que tinha do Edward Zwiek, o realizador, a pior das impressões.
Vi "O Último Samurai" e achei-o simplesmente intragável!
Mas não é, de facto, fácil fazer filmes "históricos"! Há o Rossellini, claro, que fez "A Tomada do Poder por Luís XIV", há o Hawks que fez a "Terra de Faraós" com a 'ajuda' do Faulkner que começou, segundo o próprio (o próprio Hawks), por ser a "estória" da construção de um aeródromo na... China durante a 2ª Guerra e acabou como a da construção de uma pirâmide no Egipto dos faraós, um filme onde o Hawks quis "escrever" a "crónica" "daquilo que o Homem, servindo-se só das mãos, é capaz de fazer com areia e pedra", como ele próprio diz numa entrevista.
Há isso, há "Intolerance" e "Birth of a Nation" daquele "facho" de génio que era o Griffith e algumas coisas mais---mas geralmente a "coisa" fica-se ali por aquele nível rasteirinho e farfalhudo da "Cleópatra" e dos "Dez Mandamentos" ou, entre nós, do "Chaimite" e agora, mais recentemente, da "Inês de Portugal"...
Ah, pois, mas estava a falar do tal "Diamante"...
Pois surpreendeu-me.
Conquistou-me.
Ganhou-me.
Eu diria: é naquilo que a indústria dos "américas" é inigualável. Na construção de solidíssimos «objectos narrativos» que, ainda por cima, não envergonham nem ideológica nem em geral politicamente ninguém: nem quem os faz nem quem os vê.
"Aquilo" em si mesmo não resolve nada? Pois não!
Não resolve nada e ainda ganha dinheiro "à pala" disso? Pois ganha!
Mas dá um contributo potencialmente importantíssimo para quem quiser, se quiser, quando quiser, começar a resolver----o que já não é nada mau!
É como aquela "estória" dos campos de concentração: no caso d' "O Diamante..." depois de ver aquilo (onde é que os tipos vão desencantar actores como o Don Cheadle, do "Hotel Ruanda" e agora Djimon Hounsou, aquele actor que faz de "Solomon Vandy" e que é um actor fabuloso?!...) ninguém pode dizer que "não sabia" ou que "talvez não seja bem assim".
Eh, pá! Está ali para quem quer ver!
Se a gente quiser acabar com o "neo-colonialismo dourado" tipo-Cimeira Europa-África já sabe por onde começar.
Mais: sabe PORQUÊ começar.
É claro que, se a gente começar mesmo, lá têm os tipos de voltar a chamar o De Mille e esses fulanos todos mas, enquanto isso não se passa, é aproveitar, rapaziada!
É ver e perceber!
É perceber que não é a África que está errada.
Ou que, se está, não está errada... sozinha.
A África está errada, em larguíssima medida, porque é do interesse da "Europa" que ela permaneça incapaz de transformar as suas próprias riquezas em produtos de modo a não deixar, em caso algum, de permanecer sempre exportadora de matérias-primas, numa fase, e compradora dos produtos que não 'deve' ser capaz de produzir ela mesma, noutra.
É tão simples quanto isso!
Há uma personagem no filme que diz, por estas ou por outras palavras, esta coisa verdadeiramente espantosa: "Que Deus não nos dê, um dia, a desgraça de termos petróleo, também!..."
Em termos cinematográficos, o filme é "A Desaparecida" ("The Searchers") do Ford vista a quatro décadas (e muitos anos, muita prática de cinismo cultu(r)al e político ou de... "filha-da-putice civilizacional e, sobretudo, pós-civilizacional"!...) de distância...
A "Debbie", hoje chama-se, "Dia" e é um miúdo negro notável, o velho "Ethan" é aqui "Danny Archer" a personagem de Di Caprio e "Martin Pawley", feito no filme do Ford pelo Jeffrey Hunter, é, neste caso, "Solomon Vandy", Djimon Hounsou, o tal actor negro de que falava atrás. No essencial, a "estória" é a mesma. E até um fulano como eu (que tende mais ou menos instintivamente a ser parcial em relação a tipos como o velho Ford...) tem de reconhecer que, por muito grande realizador que este tenha sido (e foi, inquestionavelmente!) o Zwick, o Zwik de "Diamante de Sangue", não tem nada que se envergonhar por ter feito este "remake clandestino" da obra-prima do Mestre, muito longe da qual, é preciso ter a lucidez e a coragem de reconhecer, não fica, com certeza. ´
[Na imagem: o actor Djimoun Hounsou, do elenco de "Blood Diamond"]
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