quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Deus Nosso Senhor o veja ir!...


Acordo com metade de uma boa notícia: está demitido o (chamemos-lhe assim...) ministro da (chamemos-lhe assim...) saúde.

Ora, nós cá em casa temos uma espécie de "idiolecto familiar" interno de onde consta um amplo "glossário" de expressões que dão corpo à cumplicidade instintiva que, há anos, nos vem ajudando a unir solidamente a todos, à Mia, a mim próprio, à "velha" Tanas, em tempos a um periquito falante (que se chamava Luciano e que vivia numa casa de banho alugada cá em casa...) e agora, também, a uma autêntica 'preciosidade canina' que fez o favor de se juntar oficiosamente a nós e que dá pelo seriíssimo e nobilíssimo nome de "Nokas"...

(Já agora, acrescento: há também quem lhe chame em privado "Gaitinhas" e ainda "Xuga" ou "Xuguinha", abreviatura carinhosa de "Texuguinha", 'nom-de-guerre' que se explica por razões que a 'desafogada' barriguinha da nossa nova Amiga explica, aliás, à saciedade mas cuja etimologia exacta pode também derivar do inglês "sugar"---tenho de apurar isso muito bem, um dia, quando tiver de elaborar a "carta nobiliárquica" da jovem em causa...)

Bom, mas isto para dizer que, "cá em casa", para os casos em que alguém, particularmente odioso e detestável, se decide finalmente obsequiar-nos com a sua ausência, a Mia trouxe (de casa dos pais, suponho) a luminosa frase: "Ora! Deus Nosso Senhor o veja ou (a veja) ir, com as pèrninhas a bulir" (ela diz mesmo assim, "pèrninhas", é mais giro, mais incisivo, mais... miosco!)

Pois, nem de propósito! Ao ouvirmos dizer que as tropelias em matéria de insensibilidade e mesmo 'selvajaria institucional', a que a criatura a que atrás me refiro vinha, aliás com um descaradamento e uma insolência verdadeiramente inomináveis, dando o rosto, olhámos um para o outro e de imediato disparámos ao mesmo tempo: "Olha! Só pecou por tardio! E por se tratar de um acto mais ou menos isolado e solitário!"

(Sim, que "a outra", essa coitada já há muito era uma tão gloriosa quanto absoluta vacuidade, uma total inexistência pessoal, cultural, estética, política, etc.!...).

Quer isto dizer que vamos finalmente (voltar a?) ter uma Saúde de gente civilizada ou, simplesmente, de gente com humanidade e sentimentos?

Bom, isso, como dizem os brasileiros, "já são mais quinhentos"...

Já deu para perceber (quero eu dizer: pelos vistos, já deu para que eu e poucos mais nos apercebêssemos) de que, histórica e politicamente, entre nós, nestes mais recentes, árduos, dificilmente imagináveis tempos de (im!) puro delírio neo-liberal "social", o velho Estado Providência (apesar de tudo, uma descoberta e uma conquista "generosamente burguesas", saídas da Modernidade revolucionária francesa de '89---por sua vez, um modelo de Estado a que eu, pessoalmente, prefiro chamar o "Estado-consciência", por razões que nem valerá a pena detalhar de tão evidentes são); pois, já deu para perceber, dizia, que até aquele modelo de Estado (que, em meu entender, o democapitalismo industrial e pós-industrial moderno havia já há muito desvirtuado e convertido numa espécie de "air bag institucional" da sua própria contínua sobrevivência...); até esse tinha já dado lugar a uma "nova" figura conceptual-política passível de ser designada pelo Estado... almocreve.

O "Estado almocreve" são primeiros ministros e presidentes da república (da "res... pública, não é?...) a viajarem para Angola ou para China "carregados de empresários" com os olhinhos ávidos a luzir de "corporativa felicidade" e era (ou é!) agora hospitais públicos a fecharem por falta de "fregueses" e "modernas unidades de saúde privadas" a saltarem do chão como cogumelos no próprio lugar onde não havia "fregueses" para os primeiros e era, por isso, "irracional" e "absurdo" manter abertos serviços de saúde pública...

É assim a vida: mais do que previsivelmente, nada irá mudar com a troca mas a gente ainda consegue, apesar de tudo, achar ali, no espacinho exíguo de um péssimo servidor público que parte e de outra qualquer desconhecida que chega, um momentinho de efémero conforto do mal que a (quase) todos como uma monstruosa, aparentemente ininterrupta, maldição assola!

"Les portugais sont toujours gais", espantava-se um francês que nos visituou em plena noite salazarista.

Pois são! E agora, ao que parece, mais do que nunca é preciso fazer apelo a essa espécie de "gaité" ínsita com que o Criador nos brindou para nos consolar e indemnizar da generosidade do "socialismo" de uns quantos "modernizadores" assanhados, "caught in the act" de... "refrescarem" (para mal dos pecados desta e de todos nós!) a nossa púbere "democracia".


Ou seja: chegámos desgraçadamente a um ponto da nossa existência nacional comum em que é quase apenas destas não-coisas (como um mau político que se vai finalmente embora ou uma não-política que o acompanha) que se faz a nossa pós-moderna felicidade... cidadã!

Pois que Deus Nosso Senhor nos acuda que é o único que pode!

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