terça-feira, 15 de fevereiro de 2011


Gostava francamente de perceber por que motivo, em Portugal, parece sempre partir-se se do curiosíssimo princípio de que o ensino privado é melhor do que o público. Tratar-se-á de uma qualquer fatalidade? Se assim é, por que não apontar o dedo aos sucessivos governos cujos ministérios da Educação nunca foram capazes de perceber onde residia o truque ou, se assim se preferir dizer, o segredo da alegada superioridade do privado sobre o público a fim de o copiarem para a escola pública de modo a que esta pudesse atingir o suposto nível único e especial dos estabelecimentos de ensino privados. Tal como quando o mesmo poder político que foi continuamente incapaz de dar com a solução para a suposta desigualdade dos ensinos público e privado declara imprescindível que aqueles professores que forma nas suas universidasdes e escolas superiores sejam avaliados à entrada na profissão.
Também aí é o poder político que forma os professores que está realmente em causa e se põe a si mesmo em causa ao não confiar na sua própria capacidade e na das suas instituições para formar os técnicos que, apesar disso, não se exime de licenciar.

A admissão implícita de que a formação dos técnicos preparados nas universidades e Escolas Superiores de Educação não é fiável não deveria, só por si, justificar a censura e a rejeição de toda a sociedade que paga com os seus impostos a Escola pública e o ensino aí ministrado?
Se, com efeito, o Estado não confia no trabalho que ele próprio faz para formar ou até "simplesmente" avaliar [um ponto de que as "propostas" verdadeiramente surreais de uma anterior ministra da tutela, Maria de Lurdes Rodrigues, envolvendo a... "co-avaliação" pública do trabalho docente foram um sinal evidente [não poderá admitir-se que aí possa residir aí uma das chaves para a compreensão s das raízes da evidente e generalizada má imagem do ensino público?
IMas se os privados são tão diferentes para melhor, possuirão, de facto, como atrás digo, algum segredo especial insusceptível de ser copiado?
Ou será que o poder técnico-político, além de se confessar à partida não-conhecedor do segredo nem sequer é capaz de ao menos de perceber em que consiste o referido "segredo" e como introduzi-lo nas suas próprias escolas?

Mas se os privados são tão diferentes para melhor, possuirão, como atrás digo, algum segredo especial insusceptível de ser percebido e, como digo, imitado ou, pelo menos, adaptado à realidade do ensino público? Só pode ser alguma coisa desse tipo, um segredo qualquer de que o privadv seja detentor uma vez que os professores que leccionam nesse mesmo privado [eu sou um exemplo]p ossuem uma formação académica em geral comum aos colegas da escola pública pública.
Ou será que o poder técnico-político, além de se confessar à partida não-conhecedor do "segredo" nem sequer é capaz de ao menos de perceber em que consiste o referido "segredo" e como introduzi-lo, devidamente adaptado, nas suas próprias escolas? Parece-me, com toda a sinceridade, enquanto professor que fui de anbos os ensinos, que seria para aí para quem gere todo o sistema [e não para especulações gartuitas sobre os corpos docentes das várias escolas, casuisticamente considerados para aquela espécie de "ilusionismo ou prestidigitação argumentativos" tão do gosto dos média e dos atletas medi´áticos que são muitos dos "comentadores" que por aí se movimentam sempre em busca de um escandalozinho que os lance ou os conserve no "estrelato pop" que alguns alcançaram precisamente à custa da defesa de pontos de vista e de posições sensacionalistas sem dúvida eufónicas e de sucesso pop garantido e que é manifestamente o maior dos sonhos de todos eles.
Pessoalmente, estou em crer que as causas do possível menor rendimento dos alunos da escola públicas resulta sobretudo,para além como disse, de falhas graves na gestão técnico-política do mesmo [entregue muitas vezes a meros comissários políticos sem qualquer qualidade pedagógica demonstrável] de um entendimento errado dos princípios básicos da democracia.
Com efeito e ao contrário do que os respectivos inimigos, gostam de afirmar, a escola pública não tem de ser igualitária e,muito menos, forçadamente igualitarizante para ser autenticamente democrática.
Na democracia, a igualdade certa é a de acesso ao ensino, não a de rendimento , uma vez entrados os cidadãos neste.
As escolas privadas podem permitir-se seleccionar com base no rendimento real dos alunos. O des/entendimento que temos, como sociedade, tido da escola pública obriga esta a conservar mesmo os piores alunos que ela dispensa absurdamente de terem de justificar a sua permanência num sistema custeado pelo dinheiro dos impostos de todos.
Naa escola particular, ao invés do que sucede, por sistema, na pública estimula-se, muitas vezes, o mérito dando expressão institucional eferctivo à rejeição da respectiva ausência.
Queiram-no ou não os sem dúvida bem intencionados teóricos da escola que mais do que pública deveria ser chamada de "assistencial", a meritocracia tem dois sentidos. O problema não é [não deve ser] o de ocasionalmente precisar de afastar alunos do sistema: o problema deve ser o de afastar os que nele não se enquadram segundo critérios técnicos consistentes e idóneos.
Não me repugna hoje [bem pelo contrário, de facto] que os exames possuiam carácter eliminatório. A questão é que sejam bem elaborados por quem sabe realmente fazê-lo e não por alguns falsos iluminados apavorados com a ideia de que o produto da sua actividade contribua para "salgar" as estatísticas e que parecem, com frequência, conhecer tudo menos a realidade concreta do ensino e das escolas, no terreno.
Não compete, efectivamente às escolas, sacrificando o seu propósito básico que é ensinar e certificar-se de que o fizeram, operar na prática como uma espécie de gabinete oficioso de assistência social destinado a distribuir o equivalente pseudo-educacional e falsamente avaliativo de um rendimento escolar mínimo, concebido para contrabalançar a ausência de condições prévias de sucesso um nível de vida razoável e hábitos de consumo cultural facilitadores do sucesso.
Surprende-me que a direita política, que passa, como se sabe, a vida a reclamar contra o que cionsidera o "garantismo" em matéria de rendimento mínimo não consiga, em geral perceber a similitude entre ambas as realidades, no ponto que atrás refiro.
E custa-me, como homem de esquerda que esta deixe que a embar quem no combóio daquilo que, mais do que "garantismo" configura óbvio oportunismo praticado ou tolerado, a coberto das melhores intenções de justiça social, é verdade.
Eu penso que não compete, com efeito, à escola sobrepor-se a própria realidade tentando "corrigir", com sacrificício do aparelho técnico que deve conter [falo aqui, concretamente da avaliação rigorosa do rendimento escolar dos alunos], tentando "corrigir", dizia, as disfunções em matéria desse mesmo rendimento escolar decorrentes das eventuais dificuldades de natureza económica, social e cultural dos alunos, transformando, no limite, em nome de uma ideia completamente abusiva de "reposição da justiça", a atribuição de graus escolares numa espécie de outorga, no fundo, arbitrária de "títulos honoríficos", como "compensação"---bem intencionada embora, repito---para o próprio insucesso quando entende que este deriva primariamente daquelas causas exógenas anteriores e de algum modo, exteriores à entrada dos alunos no próprio sistema. Reside neste ponto, aliás, o principal pomo de discórdia entre os professores e uma certa pedagogia teórica assim como de uma certa psicologia pós-rousseauiana dita 'escolar' mas, na realidade, meramente puerocrata cujo objectivo parece ser sempre, em última instancia, o de fornecer, no primeiro caso, justificação teórica para as próprias disfunções que o sistema contém enquanto que muita da segunda pouco ou nada tem feito para ajudar a garantir que o sistema escolar permanece desejavelmente técnico [técnico-pedagógico] em todas fases e momentos do seu funcionamento normal, parecendo, com efeito, muitas vezes mais interessada, no seu, não-raro, obsessivo pietismo em justificar os mecanismos disfuncionais que ajudam a que assim não aconteça.
Não me rrestam muitas dúvidas de que a relação do-discente é uma relação intrinsecamente des-igual envolvendo alguém que detém o poder, a autoridase, porque sabe alguma coisa que a outra parte não sabe mas cuja propriedade está ali para adquirir, alcandorando-se, uma vez o processo concluído, e só fundamentadamente então, à igualdade de estatuto que muitos erradamente entendem constituir um dado a priori de todo o processo.
A democracia, tal como a temos [des]entendido, em geral nestes três decénio mais próximosesvazuiou, a meu ver, a autoridade do seu fundamento material reconhecível que era, no caso da educação, a propriedade do saber: adquiria-se autoridade À medida que se adquiria saber e era isso que fornecia conteúdo fundanmentado à própria autoridade: a ideia de que é opossível separar a autoridade da propriedade do saber conduziu a ideias de que a igualdade é aklgo que não se discute nem se pode, em última instancia medir nem explicar por coisa algumaÀ tal ideiac de que ninguém precisa justificar a sua permanência dentro de uma instituição como a escola porque esse é um direito natural e absoluto da democracia sem qualquer relação com o próprio real e com a História.

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