segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"Educação e «educatividade»----algumas notas e reflexões pessoais" [Ainda não completamente redigido]


Desde que Henrique Medina Carreira, antigo ministro das finanças de um governo Soares, se referiu ao pessoal político dos dois maiores partidos políticos do espectro partidário nacional, com a drástica fórmula que dizia: "essa gente é um nojo" ["Essa gente??!! Mas essa gente é um nohjo!!] que se me tornou, confesso, especialmente difícil (por muito "simpático" e generoso que, para com a maioria dos políticos nacionais, pretendesse ser...) encontrar modo mais eloquente, ainda que indiscutivelmente brutal, de qualificá-los.

Devo esclarecer que coincido com o impiedoso "crítico" dos políticos do "establishment" partidário nacional, desde logo, na [evidente!] indignação e ["sonoríssima!] revolta relativamente ao modo como, de facto, aqueles que parecem ter "tomado de concessão" esse mesmo espectro---"pê-ésses" e "pê-pê-dês"---vêm, há muito, contribuindo, por inércia e pura inépcia, para, leviana e irresponsavelmente, bloquear sine die qualquer hipótese, mesmo remota, de modernização estrutural do País, trocando teimosamente as tarefas necessárias à realização desse desiderato nacional (que, se calhar, é até, cada vez mais, civilizacional) por todo um acervo ou parafernália de... "causas" onde o urgente debate colectivo sobre o que para muitos é já a questão essencial da viabilidade futura do País continua obstinadamente a naufragar.

Um dos iens básicos a considerar incontornavelmente naquele debate [que, repito, para "esta gente" parece representar um mero fait-divers por oposição a questões, essas sim, para "esta gente" questões-chave como a da co-avaliação dos professores pelos chamados 'encarregados de educação' [!!]] e/ou outras que, pura e simplesmente o não são como a das uniões ditas "de facto" e a que envolve o "casamento dos homossexuais" que são, afinal, na realidade, nestes dois últimos casos, coisas tão evidentes que nem deveriam ser objecto de "debate"]; um dos itens básicopas da verdadeuira discussão, dizia, prende-se com a questão ou questões da Educação e da educatividade, em Portugal, hoje.

Questão consistente [e persistentemente!] mistificada por gente que, se não é, como afirma Carreira, o tal "nojo" é seguramente de uma incompetência e falta de visão histórica e [não me canso de dizer] civilizacional que arrepia [Maria de Lurdes Rodrigues ou Maria do Carmo Seabra, as duas últimas ministras da educação, por exemplo e para não irmos mais longe, foram verdadeiros "aleijões técnicos e políticos que ilustram, afinal, na sua trágica perfeição a asserção de Carreira...]; questão persistentemente mistificada, dizia, ela é-o precisdamente na medida em que parte invariavelmente da des-consideração e des-peercepção da verdade básica de que todo e qualquer modelo ou paradigma de educatividade parte de uma situação de objectiva e dialéctica des-iogualdade configurável numa fórmula:

1. a 'educação', qualquer variante da relação educacional básica e nuclear genuína, existe porque um ou uns sabe[m] aquilo que outros não sabem.

2. a 'educação' [repito: qualquer variante do modelo educacionalbásico e genuíno] existe para que essa desigualicidade tética venha a ser anulada a prazo constituindo essa "anulação" ou "superação dialéctica" o objectivo mesmo da prática educacional e/ou educativa.

É versdade que um certo modelo de apropriação civilizacional e política do conhecimento tornou moderna e pós-modernamente "problemática" a relação objectiva da 'educação' e da respectiva utilidade técnica e social, por um lado e da 'educação' e, de um modo mais amplo e abstracto, dos paradigmas de apropriação e transformação crítica do real, por outro.

É verdade, dito de outro modo, que quando parte da sociedade tende a tornmar-se, como hoje acontece nas sociedades ditas "de capitalismo pós-industrial" excrescencial e redundante, próprias educação, tal como a concebíamos [se é preciso fixar uma data de referência] desde a Revolução Francesa se tornou, com ela, ela mesma potencial (ou mesmo realmente!) excedentária.

Ainda assim não há como "dar a volta" a isto: só há 'educação', repito, quando e, sobretudo, porque há uma reconhecível desigualdade inicial entre os indivíduos; só se justifica que a haja quando e porque as comunidades humanas [e até, num certo sentido, animais, em geral] estabelecem como objectivo, de um modo ou de outro, básico de intervenção na História e/ou na realidade que deixe de as haver. O fundamento epistemológico essencial da "autoridade" vem daí: da capacidade ou aptidão circunstancial que alguns têm de mediar e implementar o processo de nivelamento estrutural que tem a 'educação' no seu vértice, digamos assim.

A "autoridade" nos modelos de 'educatividade orgânica' chamemos-lhes "tradicionais" [os que, de um modo ou de outro, sairam das teorizações dos filósofos revolucionários franceses] não se dissocia dessa capacidade e/ou dessa aptidão.

Representa uma componente instrumental, primeiro e simbológica, em seguida, do próprio processo e, por isso, é dele epistemologicamente indissociável.

Quando as tarefas de 'educar' passaram dos anciãos para a "Escola" a autoridade, a efectiva e objectual como a simbológica passaram com ela.

E é só quando a "Educação" se torna, primeiro, potencial, em seguida, realmente inorgânica relativamente à própria sociedade que a "autoridade" se torna "problema" ou ou "questão" [problema em si ou questão em si] e pode começar a ser consistentemente concebida fora da utilidade ou 'utilicidade' que a fundamentava e tornava orgânica com a Educação.

O que eu quero dizer como conclusão é, pois, numa palavra, o seguinte: apenas quando/se [1] reencontrarmos como civilização para a Educação uma [nova?] utilidade social e quando [2] o Conhecimento deixar de ser uma propriedade privada estr(e)itamente integrada no [anexada ou mesmo indexada ao] processo de gerar contínua e ulteriormente capital, poderemos ter esperança de veer consistemente resolvida a "questão" da "autoridade" nas [e das] escolas e poderá ser reposta [resgatada] o esquema básico da educatividade: aquele que passa, como disse, nuclear ou verticialmente por uma relação contínua e estrutural/estruturantemente dialéctica da des-igualdade básica entre os indivíduos de uma mesma comunidade e um projecto de igualicidade organizada em que a técnica ou o Técnico mandam fazer e a Política ou o Político operativizam e operacionalizam.


[Imagem extraída com a devida vénia de tevescopio.blogger.com.br]

6 comentários:

Carlos Miguel Saraiva disse...

Um blog também a seguir para quem conheçe tantos jogadores que passaram pelo Covilhã

www.historiascc@gmail.com

Carlos Machado Acabado disse...

É, de facto, há muito, um dos meus clubes «do coração», uma daquelas coisas [felizmente!...] de todo ou quase de todo inexplicáveis que o Desporto nos permite, para nossa imensa imensa ventura e nosso imenso prazer!...
[Também] por razões familiares [um familiar meu conheceu ], há anos que [benfiquista "furioso" embora...] estou ligado ao Clube, desde os tempos em que pessoas que me são muito queridas privaram com nomes grandes do Clube como Simony, Livramento ou os manos Cavém.
Agora, que razões ponderosas de [falta de] saúde se têm obstinado em manter-me fora do contacto regular com o "Quisto" não quero, ainda assim, deixar de mandar um grande e cordial abraço para a Covilhã por intermédio de um novo Amigo virtual, o Carlos Miguel Saraiva que eu espero que cumpra a promessa feita e volte ao "Quisto" com a regularidade com que queremos "vê-lo" por cá!...

Carlos Miguel Saraiva disse...

Sem dúvida que passei acompanhar o "Quisto" depois de este interese em comum, já agora rectifico o endereço do Blog

www.historiascc.blogspot.com

Um abraço

Carlos Machado Acabado disse...

Amigo Carlos:
Lá me encontrará para conversarmos logo que a doença dê tréguas e a normalidade se restabelaça...
Um abraço, entretanto!
Carlos

Gonçalo disse...

Estava a estranhar não publicar nada já há tanto tempo.As melhoras amigo Carlos.

Um abraço
Gonçalo

Carlos Machado Acabado disse...

Um [grande e sentido!] abraço-e do Amigo Carlos!
Agradeço, Gonçalo, a simpatia.
A verdade é que o azar bateu-me à porta em... dose dupla!
Vamos ver se/quando ele se lembra de 'ir bater a outra porta'.
Gosta de Teatro?
Uma sugestão que me permito fazer-lhe: acabei de traduzir uma peça de Beckett para "A Comuna".
Por que não dá lá uma "saltadinha"?...
Olhe que vale a pena e o meu Amigo vai certamente gostar de conhecer aquele [simpatiquíssimo!] 'pessoal'.
E até pode ser que tenhamos ocasião de trocar umas palavrinhas...
...sobre Beckett ou sobre... o Glorioso...
Em qualquer caso, um abraço!

Carlos

[P.S. onde estou, não consigo entrar no blog para geri-lo mas tenho sempre um grande prazer em 'rever' os Amigos.
Vá voltando, ouviu?...