Parece-me francamente significativo da confusão que se encontra instalada em Portugal no que à vida política nacional diz respeito, resultante em larga medida, a meu ver, da inexistência de uma verdadeira inteligentsialúcida, serena, séria e isenta [temos, para usar uma linguagem “à Eco” na ausência global de uma elite actuante de apocalípticos de qualidade, óbvio excesso de “integrados” i.e.gente dos partidos a formar opinião nos média disfarçados de analistas independentes e falta de uma sociedade civil como a que parecia poder ir emergir do período de fecundo laboratório social que foi o que mediou entre Abril de 1974 e Novembro de 1975, depreciativamente chamado de PREC pelos sequazes e epígonos do novembrismo triunfante] parece-me, ia dizendo, francamente significativo da confusão que se encontra instalada em Portugal no que à vida política nacional concerne, que até já a improbabilíssima reposição de um regime historicamente abortado e intrinsecamente contra-natura que entre nós caiu pura e simplesmente de podre [2] como o regime monárquico é susceptível de aparecer a alguns como solução e saída credível [senão mesmo providencial…]para a criseem que, como sociedade política, económica e mental nas últimas décadas, objectivamente desde o primeiro governo constitucional, nos achamos manifestamente mergulhados.
Ou seja, a “choldra” do rei D. Carlos, perante a choldra actual, filha dilecta do nacional-porreirismo reposicionista encarnado pelo ideológica e politicamente escorregadioMário Soares pode já aparecer a alguns, pelo menos, como um mal menor quando não mesmo na forma do próprio Bem encarnado.
O Bem encarnado, um regime que, de acordo com José Manuel Sardica [1] possuía uma esperança de vida de uns meros 40 anos, com um fluxo migratório médio anual de 30.000 pessoas “fugindo da pobreza”, uma sociedade em que 67% da população era composta por rurais, “com escassas bolsas de indústria (localizadas nas nascentes cinturas operárias de Lisboa e Porto)”, com um rendimento médio per capitaequivalente a menos de metade [45%] dos países desenvolvidos, atraso este resultante “de um sistema educativo elitista e restrito”com uma taxa de analfabetismo a rondar os 75%, configurando todo este quadro de atraso estrutural e consistente, um país pobre, rural, analfabeto e subdesenvolvido, onde a multidão camponesa era governada por uma pequena elite culta e cosmopolita, e onde potências sócio-ideológicas como a Igreja católica, a Coroa e as forças armadas tinham ainda uma enorme influência?
Falam alguns [ou têm-na implícita nas respectivas lucubrações] uma espécie de natural “superioridade moral” da monarquia em relação à república, uma suposta superioridade que, mesmo onde a primeira vigora como é o caso da Inglaterra ou da Espanha de hoje não logrou evitar a emergência de autênticos trapaceiros e embrulhões como Blair e/ou Aznar, indivíduos que mentiram descaradamente aos seus povos, tendo-os mesmo arrastado, em especial no caso do primeiro, com recurso à intrujice mais ignóbil para uma mortífera guerra de pilhagem, que as respectivas cabeças coroadas não souberam ou não quiseram evitar.
Eu creio que com o 25 de Abril o nosso país abriu efectivamente a porta a uma «via original» para a Democracia e para o Socialismo, via essa cortada cerce pela emergência do novembrismo de matriz pseudo-social-democrata que era, na realidade um marcelismo retardado e sem guerra.
Fonteda imagem Pedro Palma
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