Divertem-me
francamente, tenho de confessar, as profundas lucubrações de um mandarinato de eruditíssimos
“socialistólogos” como recentemente
fez Alfredo Barroso numa obra acabada de publicar no sentido tentar explicar a
óbvia e generalizada perda de credibilidade dos partidos a que [por uma razão qualquer
que tenho de reconhecer me escapa] teimam em designar por “socialistas”.
Tão
estimulante exegese só encontra, diria eu, paralelo na profusão de “europólogos” cuja actividade exegética
se centra na complexa “explicação”… teórica dos motivos que conduziram uma
verdadeira aberração democrática como a tal “Europa” tivesse ela própria caído miseravelmente
em desgraça a ponto de se ter transformado numa espécie de “disaster área” ou território
contaminado—económica, social e politicamente contaminado—de cuja infecção, se
fosse tumor, se pode dizer que metastatiza paulatinamente de país para país, um
pouco mais a cada novo dia.
A
verdade é que o descredito dos “pê-ésses” por esse Ocidente fora tem origem na
atmosfera mental e política que se gerou nesse mesmo Ocidente após a queda do
muro de Berlim e que levou alguns cérebros
iluminados a decretar o famoso “fim da História” que todos conhecemos defendido
pelo reaganiano Francis Fukuyama.
No
contexto dessa atmosfera de “fim” que além do mais era não sô “fim” mas
cumulativamente “natural”, às forças políticas “sobreviventes” da debâcle
comunista apenas restaria gerir um universo [politico, económico e social].
Tudo
se resumiria, segundo os analistas, “independentes” ou partidários, em geri-lo “à
direita”, isto é, como se a frustre experiência comunista institucional nunca
tivesse existido ou, em alternativa, supostamente “à esquerda”, ou seja,
visando alcançar exactamente os mesmos propósitos da direita mas de forma circunstancial
ou aparentemente “humanizada” “soft”.
Deste
imenso embuste que levou conhecidas “borboletas políticas” como Freitas do Amaral
a decretar o fim, não já da História como o já citado Fukuyama, mas da
fronteira entre esquerda e direita; foi,
pois, dizia, deste imenso embuste que emergiram não apenas o tenebroso e inefável
Blair ou, entre nós, o dificilmente qualificável e ainda muito “fresco” Sócrates
mas, de igual modo, já antes, desde os “arqueológicos” tempos da divisionista
CEUD, o conhecido nacional-populista Soares que à míngua de uma ideologia
definida, uma característica distintiva desta gente que surgiu na História como
a “esquerda da direita”, era, segundo o próprio e nas suas palavras, à falta de
melhor e mais substantivo, ”fixe”…
O
que eu quero muito claramente afirmar é que não são outras razões senão o
oportunismo e a venalidade dos pê-ésses por esse mundo fora [desde as “trapalhadas”
de um tal Bernstein, que nos idos de 20 e 30 com a sua tão sórdida quanto
desastrada colaboração com o grande capital financeiro germânico, abriu as
portas ao ascenso de Hitler ao poder que permitem explicar por que motivo os
diversos eleitorados europeus, fartos da cópia ou genérico [a falsa esquerda] optaram
por dar o seu apoio ao incomparavelmente mais transparente produto de marca [a
direita pura e dura].
Curiosamente,
é o próprio Soares quem, por mais de uma vez aponta a Blair e à sua mais do que
fraudulenta terceira via um dedo que ao próprio Soares e ao seu “projecto” que começou por ser “de inspiração marxista” para acabar “de centro esquerda” [seja lá o que for que isso signifique—ou não…] deveria em bom rigorser apontado na descredibilização generalizada da esquerda à qual nem Soares nem Blair ou Sócrates alguma vez pertenceram
1 comentário:
Política e Religião não é o meu forte.
O meu forte é como sabes o 'nosso' Benfica e aguardo as tuas sábias dissertações, pois tenho post novo.
Mega-Abraço!
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