Há muito que defendo a ideia de que um dos maiores e mais graves problemas do nosso tempo derivaa de forma a que chamaria verdadeiramente primária do desencontro verificado entre a quantidade [e o tipo!...] de tecnologia presente no dia-a-dia e a desproporcional ignorância das pessoas em geral.
Não é só como professor que me permito afirmar que a Educação e a cultura deixaram, com a evolução tecnológica generalizada no mundo ocidental de hoje, de ser um direito para passarem cada vez mais a constituir um dever das sociedades modernas e pós-modernas e muito especificamente daqueles a quem compete governá-las...
Caracterizadas todas essas sociedades precisamente por não serem "sociedades do conhecimento" no sentido preciso de este não ter [longe disso, como veremos] passado a representar [como seria desejável e necessário que acontecesse para que pudessem ser legitimamente assim designadas...] um alicerce ou fundamento natural dos próprios paradigmas tópicos de existência ou de existencialidade vigentes nas referidas sociedades, tendo em vez disso ocorrido que o conhecimento de que falamos, contaminado pelo funcionamento típico das formas de organização e exploração da realidade características do capitalismo se converteu, de forma aliás facilmente previsível e até inevitável, num capital ou pré- [ou proto-] capital, i.e. numa matéria-prima essencial no processo de re/produção de capital...
Daí resultando que, tendo, como digo, a integração histórica e, mais do que simplesmente histórica: civilizacional do conhecimento sido inevitavelmente operada nos moldes capitalistas, ter-se a propriedade dos respectivos «meios de re/produção» convertido de forma não menos inevitável e até, a seu modo, natural em propriedade privada, ou seja, num tipo de propriedade tão ferozmente privada como o próprio capital que o conhecimento é topicamente usado para re/produzir de forma contínua.
Na realidade, do conhecimento que continua a afirmar-se ser a chave das sociedades ditas tecnológicas modernas [ou «neo-modernas»] apenas chegam ao conjunto da sociedade os respectivos «produtos» inertes [isto é incapazes de gerar por si só mais saber e, portanto capital].
Quem pode [até porque há "leis" muito precisas nesse sentido político de impedi-lo! Há todo um edifício jurídico, de facto, todo um Direito] quem pode, dizia, produzir capital, desviando todo o processo dos pontos para onde ele é sistemicamente feito convergir, com recurso à propriedade de um simples telemóvel ou televisor?
Na realidade, ninguém está em condições de fazê-lo à excepção dos que, possuindo o capital, adquiriram não apenas os respectivos direitos [o direito e o Direito!]; mas a propriedade exclusiva dos meios de produção do saber.
Nas sociedades ditas comummente tecnológicas, é, pois exacto e legítimo afirmar que os produtos da tecnologia são, para todos os efeitos, usados para separar políticamente os cidadãos da própria tecnologia: são um preço, e, em termos especificamente marxistas, de alguma forma facilomente demonstrável, a sua própria mais-valia.
A mais-valia gerada a partir da propriedade política [não da propriedade social, devidamente socializada!] dos meios de produção de conhecimento e, por conseguinte de mais capital.
De tudo isto resulta, a meu ver, que, a agnosia, o não-saber representa, por seu turno, uma matéria-prima essencial no processo de produção de capital, mediado pela propriedade privada dos meios de produção de conhecimento.
É, com efeito, um mito insistentemente repetido por parte dos advogados do capitalismo esse que pretende que o mesmo capitalismo e, de um modo específico o empreendedorismo privado, esse verdadeiro deus ou fetiche neo-moderno nas sociedades do Ocidente de hoje, "gera riqueza".
Gerá-la-á admissivelmente mas de forma autónoma [alienada!] relativamente à 'bondade social' da correspondente redistribuição pelo conjunto da sociedade em que se insere mas tendo sempre cumulativamente de recorrer para o efeito de gerar a tal riqueza de que gostam de falar os seus propugnadores ao "plantar" exaustivo e [as]sistémico doses maciças do que chamo «carencialidade possibilitante» ou mesmo num certo [demonstrável] sentido, «estratégica» por toda a sociedade onde vão circular os produtos do conhecimento, os quais à face da lógica profundamente disfuncional do próprio capitalismo, retiram o seu "valor" precisamente da respectiva raridade, preexistente o criada para o efeito.
um à sociedade
-se
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