Já que falo a seguir n' "O Rio Bravo", a obra-prima do Hawks, aproveito para lhe tributar aqui uma sentida homenagem com este fotograma onde o "Dude/Dean Martin" redescobre a coragem ouvindo o "Deguello"... O filme é a coisa imperfeita mais perfeita que conheço. O próprio Hawks devia pensar isso porque, depois de um "rascunho" disfarçado em "To Have And Have Not" (com um Walter Brennan/Stumpy que aí acumula: é ele o bêbado) tentou (sem êxito) refazê-lo em "Eldorado". Mas o que ele tinha a dizer já o havia feito de forma inultrapassável neste "Rio"... maior. Uma das coisas que me encanta no filme (para além do facto de cada um dos dois herois ter conseguido aí consagrar definitivamente o "tipo" a que andou toda a vida agarrado: o consumidor "profissional" de "booze": Martin; o ícone defintivo da "Americana": Wayne) é o facto de ele ser uma autêntica festa para as emoções e (até) para os sentidos e de se constituir numa absolutamente empolgante consagração da irracionalidade, um alimento como se sabe essencial à vida...
É fundamental que existam fora da vida real modos de projectarmos aquilo que em nós há de mais impossível (ou de mais perfeitamente) absurdo e irracional.
É fundamental que possamos ser ao menos uma vez na vida alcoólicos e recuperar como se nunca tivessemos provado uma única gota de álcool; que tenhamos olhos nas costas (para abater um indivíduo empoleirado no "loft" de um bar sem sequer uma vez olharmos para ele, depois de andarmos anos a fio a embebedar-nos diariamente) e que sejamos além disso os únicos a ver (o sangue no copo) aquilo que era impossível que ninguém mais visse num raio de "quilómetros" ou que um indivíduo morto (o figurante assassinado das sequências iniciais) voltasse espontaneamente à vida com o único propósito de atirar um dólar para dentro de um escarrador---e por aí fora; é fundamental que haja um génio da narração que nos faça acreditar que tudo isso é a coisa mais natural deste mundo---e não só a mais natural: a mais bela e excitante, também...
É, com efeito, preciso um génio para nos conduzir assim ao limiar mesmo da nossa própria adolescência sem deixar de nos recordar a nossa condição essencial (ou ideal?...) de Homens.
Se tivesse de escolher "o filme da minha vida"... não o escolhia porque entre este irrepetível "Rio Bravo" e o não menos irrepetível "Mon Oncle" de Tati não seria pura e simplesmente capaz de decidir-me...
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