Informou ontem aqui no Facebook a minha Amiga e ex-aluna Ana Carina Estróia da decisão do Dr. Carlos Pinto de Sá presidente da Câmara municipal de Montemor-o-Novo com o mandato suspenso de candidatar-se ao município da capital de distrito, a vizinha cidade de Évora. Devo dizer que não conheço o Dr. Pinto de Sá o suficiente para estar a par dos seus projectos pessoais em matéria de carreira política nem se esta mudança corresponde a qualquer ideia de “promoção” ou se, muito simplesmente, configura o desejo mais do que legítimo, aliás, da força política pela qual concorre de recuperar à direita “de esquerda”, vulgo P.S. uma Câmara a vários títulos, incluindo o cultural que aquela força perdeu, salvo erro, há duas eleições.
Devo, porém, é justo dizê-lo à liderança do Dr. Pinto de Sá em Montemor a possibilidade de ter visto ao vivo, no hoje praticamente desactivado teatro Curvo Semedo, o absolutamente referencial Living Theatre, desprovido já do fundador Julian Beck, é verdade, mas comportando no elenco a igualmente fundadora e não menos referencial Judith Malina, num espectáculo fabuloso, que repito nunca julguei ser possível ver em pleno hinterland alentejano, sempre tão abandonado pelo poder central muito mais concentrado na desintegração do País através da focagem no litoral de uma serie de peculiaríssimos [tão peculiares quanto vãos] “projectos de desenvolvimento”.
Ainda que efémera e muito contrariadamente envolvido na actividade politica concreta [fiz parte de um efectivo de junta de freguesia local para corresponder à solicitação de um Amigo que muito prezo, situação essa de onde fui afastado por diversos motivos que não vêm ao caso mas que envolvem de uma forma muito clara, um grosseiro desrespeito pela minha pessoa enquanto pessoa e enquanto cidadão] a verdade é que, fosse eu outro Carlos diferente [não o Acabado que sou mas o Pinto de Sá que obviamente não sou…] e, para mim, constituiria, sem dúvida, um desafio muito mais aliciante o tentar promover ulteriormente Montemor com todo o seu assinalável potencial no âmbito da Cultura, para mais agora que Rui Horta e a sua notabilíssima companhia decidiram instalar-se na cidade juntando-se na prática a outros relevantes promotores culturais como Samuel e/ou Maria do Amparo, para já não falar do meu antigo colega João Luís Nabo e do seu activo Coral de S. Domingos.
Évora tem uma actividade cineclubista assinalável, a cargo do meu novo amigo José Manuel Martins, tem o magnífico CENDREV e o excelente José Russo, o CENDREV onde vi uma das mais espantosas encenações de Beckett, um “Acto Sem Palavras” onde Russo, um homem fisicamente corpulento se transformava muito beckettiana e muito inteligentemente num insignificante verme, ao serviço da típica “comédia ontológica” tão cara ao criador de Godot. Évora tem Russo, a excelente actriz que é Rosário Gonzaga e, apesar das dificuldades de apoio municipal, o CENDREV mas, sem prejuízo de outras opiniões diferentes da minha, Montemor tem, pelas razões que já aduzi, designadamente a presença e a acção de Rui Horta e da sua companhia potencial para se alcandorar a um estatuto similar ao que, nos planos cultural e especificamente artístico tem a capital de distrito.
Claro que cada um é livre de agir como lhe manda a respectiva consciência, pessoal e/ou politica, mas, insisto, para mim, sem pretender criticar quem ou o que quer que seja, devo acrescentar; para mim, dizia, se acalentasse qualquer projecto político pessoal constituiria sempre um desafio preferencial e especialmente aliciante esse de lançar [“to launch”] ou mais exactamente [de continuar a lançar!] Montemor como uma alternativa efectiva a Évora numa região quase completamente esquecida pelos políticos de Lisboa. Os actuais como os outros que os antecederam.
Desde que fui, digamos: persuadido pela deselegância de uns quantos a abandonar uma acção politica que nunca pretendi até por completa e logo confessada falta de vocação ter, eu até mudei a residência fiscal para Oeiras onde voto. É-me, por isso, de facto, tão indiferente quanto pode ser que o candidato à câmara de Évora se chame Carlos como eu ou Abílio como o ainda em exercício e venha de Montemor ou do Paquistão. Para mim, a questão é, insisto e sublinho, puramente académica.
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