sexta-feira, 31 de julho de 2009

"Morreu Merce Cuningham..."

...escassos dias depois de Pina Bausch, Merce Cunningham confirmando um lugar comum... comum que pretende que morte visita os artistas sempre duas vezes... de cada vez.

No dossier necrológico que lhe dedica, o jornal "Público" refere a 'esteticamente atormentada' (a expressão não é do jornal: é minha); a profunda inquietação do seu (por isso, mesmo, por vezes, para o público em geral, naturalmente mais sensível a conceitos de mais imediata apreensão como os que podem ser abrangidos por expressões do tipo "impressionismo" e/ou "figurativismo" baléticos) árido e esotérico experimentalismo.

Ou, talvez mais precisamente, da sua persistente (e consistente) "experimentalicidade".

Coreógrafo «quântico» (também neste caso, a expressão é da responsabilidade do signatário e refere-se ao modo como Cuningham organizou o seu projecto de "educada dissonância"---ou mesmo "disciplinada, metódica, algébrica, pan-estética caoticidade" que subjaz à sua obra de coreógrafo; explorador, pois, de uma ideia ou conceito genérico e criticamente "acausal" de dança ou mesmo, de um modo mais lato, de 'criticamente tumultuária' "pan-esteticidade", nunca foi, por isso mesmo, um artista acessível e fácilmente 'popular'.

Está, para mim, no mesmo 'registo existencial' amplo de, por exemplo, um Gaudì, um Francis Bacon ou uma Paula Rêgo, um Samuel Beckett, um Joyce, um Jean-Marie Straub, um Artaud, um Julian Beck ou uma Judith Malina 'dos bons tempos' ou, ainda, de um Pasolini ou de um Oshima pela sua espantosa, genial, capacidade para interpelar, questionar e inquietar ("to disquiet", em inglês) e ajudar a pôr em causa todas e cada uma das nossas aparentemente mais estáveis e firmes anteriores certezas em matéria de expressão artística.

Pessoalmente, fui mais de uma vez tentado a (como dizer?) "des-aderir dialecticamente" aqui-e-ali ao seu 'programa teórico' em matéria estética por se me afigurar não-raro, exactamente algo "teórico" em demasia no preciso sentido em que tendia a situar-se (é uma opinião ou, talvez mais exactamente, uma "impressão" puramente pessoais) excessivamente para além da realidade objectiva o que fez que a sua proposta estética corresse posssivelmente o risco de não "dialogar criticamente" com ela o suficiente.

Na medida, porém, em que me ia suscitando este tipo de "educada" reserva, estava já (é a mais pura das verdades!) a dialogar---o que significa que, no limite, era, afinal, com certeza, o próprio Merce quem estava (mesmo nos casos em que isso parecia poder não ir acontecer num primeiro momento) na---e com a---razão.

Num tempo de "zombies" intelectuais em que a maior parte da Arte se refugiou já, de um modo ou de outro na televisão senão mesmo assumidamente nos supermercados (a "Arte de supermercado" representa hoje inescondivelmente uma espécie de talvez incurável, irreversível "doença senil" da Estética) e em que esta última, Estética, integrou já em si a ideia genérica e muitas vezes acriticamente fácil de "espectáculo" que foi forçada a lá ir buscar para poder sobreviver, o desaparecimento de Artistas e Homens de Cultura como Merce Cunningham assusta de um modo muito (mas mesmo muito!...) particular.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

VOTAR P.S.?... EU QUE SOU PROFESSOR??!!



ATÉ O DIABO SE RIA!...

[Imagem extraída com vénia de cracked.com]

"Não Se Esqueçam De Mim, Ham?!!..."


basta de forrobodó!...

Leio na imprensa que os meus colegas professores em exercício vão fazer campanha contra Sócrates e as suas políticas, designadamente as que ele (e aquela improvável criatura que ele chama de ministra) se obstinam em classificar de "educativas"!

É só para dizer que contem comigo, ham?!
Contem comigo para o que for preciso, estão a ouvir?!...

[Imagem ilustrativa extraída com a devida vénia de bola7ink.wordpress.com]

"Se Não Contarmos Com A Morte Do Doente, A Operação Foi Um Sucesso!..."

Há um "estória" engraçada que li há muitos anos num daqueles livros de anedotas que fizeram as delícias da minha meninice (o "Cara Alegre", o "Mundo Ri" e, muito especialmente, emprestados criteriosamente, um a um, por um tio professor, o deslumbrante "Almanaque Bertrand", janela mágica para um mundo fantástico onde deambulava permanentemente uma multidão de gente excitantemente vestida de velhas casacas de "rabona" e/ou vestidos até aos pés; onde os polícias eram ainda "os cívicos" e onde havia "cozinheiras" e "criadas de fora" "a granel", de coifa e avental, passeando-se animadamente pelas páginas decoradas com arabescos a negro nas margens e poemas de pessoas chamadas Branca de Gonta Colaço e Fernandes Costa---este último, aliás, o director, a pesssoa a quem eu devo, ainda hoje, as horas de autêntico êxtase leitor, consumidas no saudoso sótão da minha Avó, na Rua Palmira aos Anjos); páginas onde regularmente desfilava, por via dessa gente excitantemente "impossível" e "arqueológica" (onde "luzia, por sua vez, ainda algum emocionante André Brun"...) todo um mundo já, definitivamente morto e enterrado ("perdido", diriam o Conan Doyle e, depois dele, o Tod Browning ou o Spielberg...)---mas, por isso mesmo, irresistívelmente fascinante!---nos idos de '50, quando me chegou, pela primeira vez, às mãos.

Bom, mas de tudo isto (que fez, durante vários anos, na minha à época menos que minúscula biblioteca---então "em início de carreira"...---"pendant" com mais umas, não menos religiosamente guardadas e consumidas, "Anedotas do Siô Perêra" escritas, suponho, pelo José de Oliveira Cosme, o criador do 'Tonecas' e dos diálogos dominicais do 'Sr. Vasconcelos' com a esposa e a criada "Jesuína"...); de tudo isto, dizia, houve uma "estória" que nunca esqueci.

Fala ela de um dono de talho particularmente pouco escrupuloso com a higiene do seu... "bífico" e "costelético" negócio (ainda não havia, à época, A.S.A.E., por isso, estava descansado...) que, confrontado, certa ocasião, com as queixas de uma das tais "criadas-de-fora" de coifa e avental, alertada pelo "aroma" particularmente... "feroz" de uma das peças em decomposição... perdão... em exposição no "odorífero" antro comercial do nosso magarefe 'de anedota', respondeu, explicando: "Não! A minha carne não cheira mal, não senhora! Pode comprá-la à confiança! Quem cheira mal sou eu que sou muito pouco asseado com tudo---a começar, aliás, como pode confirmar, pela própria limpeza da loja!..."

Ou coisa semelhante.

Bela e esclarecedora "explicação", não é?...

Eu acho!

Acho-a, sobretudo (e literalmente!)... "de anedota".

... ou achava até hoje.

...Até ontem ou lá quando foi que ouvi aquela extraordinária "notícia" dizendo que, se calhar, o que houve no caso dos nossos concidadãos que cegaram no hospital onde era suposto que, pelo contrário, melhorassem da cegueira que já tinham, foi... sabotagem!

Quer dizer: podem, afinal, os doentes ficar tranquilos que os médicos (ou as enfermeiras ou os farmacêuticos ou os químicos ou seja lá quem for!) de um hospital público pago com os seus e nossos impostos não falharam, não erraram, não se enganaram em coisa alguma: o que pode ter acontecido (e o ministério público já está, aliás, "atentíssimo", já "de olho na coisa"...) é que alguém tenha entrado no laboratório do hospital, tenha tido acesso franco a um serviço e, especificamente a um produto envolvendo o melindre e a delicadeza específicos daquele; que tenha tido «tempo e feitio» (e acesso livre a uma seringa) para injectar-lhe uma outra substância tóxica (que também terá tirado de lá, do laboratório ou da farmácia da instituição? Já agora... Sempre lhe ficava, pelo menos, mais "em conta", não?...), tenha voltado a sair sem ser detectado (não tem seguranças nem câmaras de vigilância, "aquilo?") e, por fim, que quem ministrou o produto adulterado não se tenha dado minimamente conta da "marosca", nem pelo aspecto do produto nem por qualquer sinal material de violação ou manipulação indevida na embalagem que não se percebe, aliás, como conseguiu, "par dessus le marché", escapar ao escrutínio de olhos experimentados como os que é suposto que sejam os da equipa médica a cargo da qual está todo o caso!...

É obra, ham?...

Só falta que alguém também diga, "explicando" o que terminou numa tragédia inominável para uns quantos portugueses que tiveram a suprema desdita de cair doentes no Portugal "tecnológico" de Sócrates, Pinhos, Linos, Rodrigues e Co. Lda. e confiar neles à semelhança da (essa hilariante, essa genuína anedota) "estória" da minha meninice: "Não! Os médicos do Sta. Maria são óptimos e os enfermeiros ainda melhores---ou vice versa!

A farmácia exemplar e os químicos paradigmas de eficiência!

Terá sido um mero probleminha "de segurança".

Mas, tirando isso, podemos todos ficar descansados!...
Como dizia "o outro": "Ah! Bom! Foi isso! Assim está bem! Afinal de contas, tudo tem uma explicação, não é!...

[Já agora e só para completar o raciocínio---isto é um raciocínio, ouviram?!...---sugiro a consulta, mesmo rápida, por exemplo, do "Público" de 27.10.08, à notícia redigida por Catarina Gomes intitulada "Portugal não tem registo de erros de medicação, que são responsáveis por sete mil mortes anuais nos E.U.A."

Sabem o que é que isso me faz lembrar, agora?

A "guerra do Solnado"!...

É! Na "guerra do Solnado", há uma parte em que, interrogado sobre o "poderio" naval do exército em que milita, o Solnado esclarece: "Não! Marinha não temos!"

E, imediatamente a seguir, acrescenta:... de fato de banho!..."

Aqui, podia ser: "Não! Estatísticas, não temos: isto de números é... conforme!"

Ou (por que não?): "tem... dias!"

É menos exacto?

Lá isso é mas, em compensação, é muito mais... imaginativo e divertido!]

[Imagem ilustrativa extraída com a devida vénia de cartoonstock.com]

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Alguns aspectos da «questão cultural»" (T.I.P, Text in Progress]




"Algumas Questões Teóricas Ligadas À Ideia Política de Desenvolvimento" (Texto em Construção)


Começo hoje por exprimir uma (enorme!) apreensão!

Informa a SIC (suponho que foi a SIC: para o caso...) que a tal fábrica braileira em Évora vai mesmo abrir.

Bom, a SIC (se foi ela) não dizia exactamente isso: dizia, isso sim, que o primeiro-ministro tinha ido a Évora (em evidente acção de pré-campanha eleitoral---isto sou eu que digo...) 'lançar a primeira pedra' do que é suposto vir a ser a tal fábrica.

Ora, num país como Portugal isso assusta.

Porquê 'num país como Portugal'?

Porque se há país europeu (fisicamente europeu, pelo menos: quanto ao resto, como dizem os brasileiros "já são mais quinhentos": a gente vê tanta coisa!...); mas, dizia eu, se há país ao qual seja por (discutível...) direito aplicável a etiqueta de "analfabeto tecnológico" é precisamente Portugal.

E o poder político (ainda?) em exercício tem feito, aliás, quanto pode para confirmar e consolidar a ideia.

(Basta recordar aquela brilhante ideia da redução de coimas por crimes ecológicos num país em que eles estão já, para todos os efeitos, objectivamente "descriminalizados" para se perceberem os meus temores...)

Mas aprofundemos um pouco mais tudo isto, começando por aqui: o que é que caracteriza, então, o "analfabetismo tecnológico"?

Que devemos aqui entender achar-se coberto por por tal designação?
Uma coisa é certa: não é seguramente (ao contrário do que sucedeu em tantos outros momentos da História nacional, designadamente até à década de setenta do século passado---desde, de um modo mais remoto, as primeiras, tímidas e, sobretudo, forçadas tentativas de "industrialização" do País levadas a cabo ainda em plena ditadura, na sua fase "marcellista"); o que caracteriza o analfabetismo tecnológico, dizia, não é, pois, nos nossos dias, o desconhecimento da existência dos objectos dessa mesma tecnologia.

Não é sequer o seu não uso mais ou menos corrente e até intensivo: nos dias de hoje, um tal desconhecimento e mesmo um tão não-uso seriam, de resto, sendo a globalização das economias o que é, na prática, completamente impossíveis.

O que caracteriza a iliteracia tecnológica (talvez seja mais rigoroso que nos exprimamos deste modo) são, na (in) essência ou na base, duas características:

Primeira: a inaptidão específica para produzir autonomamente, de forma relevante e significativa, aqueles objectos, isto é, aquilo a que muito... "marxistamente" chamo a «propriedade dos meios de produção social de conhecimento» na pratica coisa.

Portugal não possui tal propriedade.

Não gera autonomamente objectos: consome-os.

Relaciona-se com eles sempre, de uma forma ou de outra, secundária ou até mesmo terciariamente.

Este um traço distintivo da iliteracia tecnológica: a agnosia tecológica mas uma agnosia que é, sobretudo, na sua base, uma "agnosia induzida" ou seja, aquilo que a define e explica, aquilo que a substancia e fundamengta é de natureza (in) essencialmente política.

É de natureza (in) essencialmente política porque resulta do princípio teórico e prático de que a propriedade do conhecimento apto a gerar "valor" sistémico e, por conseguinte, capital (i.e. aquele conhecimento cuja vocação sistémica intrínseca e 'natural' é gerar capital) deve permanecer por definição uma propriedade, em todos os casos, estr(e)itamente privada.

É daqui que resulta tão óbvia quanto necessariamente que os valores de conhecimento em livre circulção na sociedade (nas Escolas do sistema público, desde logo) devam ser necesariamente conservados muito baixos.

Suficientemente baixos em todo o caso para que aquela propriedade ou atributo políticos do conhecimento de serem capazes de gerar "valor" (o qual atributo resulta, de um modo perfeitamente claro e, por isso, facilmente entendível, exactamente daquilo a que chamo a «raridade relatival» ou sistémica do saber numa dada sociedade---ou sistema "global" delas, no caso do actual modelo geo-ecoónomico mundial); suficientemente baixos em qualquer caso, dizia, para permitir que aquele atributo atrás citado possa funcionar natural e continuamente.

Desta primeira característica resulta a segunda que é a impossibilidade de um paradigma de economicidade assim (des?) estruturado (i.e. assente na propriedade estr(e)ita e limitadamente privada dos meios de re/produção social de conhecimento) gerar, por sua vez (e por definição) qualquer verdadeira "democracia do conhecimento" e, muito menos, como é óbvio, a tantas vezes (e por tantos...) cantada "gnoseotopia" em que supostamenter viveríamos como sociedade histórica e política sob a designação---profundamente enganadora, aliás---de 'sociedade do conhecimento'.

O meu receio (atrás expresso) vem directamente daqui, da inexistência de uma qualquer autêntica "democracia do conhecimento" entre nós.

Uma tal democracia pressuporia, no plano institucional, que as escolas impartissem, de facto, formas de saber que hoje são propriedade exclusiva de grandes conglomerados económico-financeiros tranasnacionais, onde se encontram rigorosamente protegidos (costumo, por razões que suponho se entendem facilmente utilizar neste contexto as expressões "enclosed" e/ou "knowledge enclosures"...) por um Direito particularmente severo e exigente, capaz, de resto, de produzir verdadeiras enormidades jurídicas à partida dificilmente pensáveis como aquelas que o governo francês quis recentemente ver aprovadas tendo como base o uso de informação virtual e envolvendo a suspenção drástica do acesso à Internet após xis violações desse mesmo Direito, para dar apenas um exemplo).

Ora, não havendo, de facto, difusão de conhecimento essencial ou primário numa sociedade (o que em regra e, volto a dizer: por definição, por sistema) chega à sociedade é o que foi já, na dua in/essência, desactivado como matéria-prima da re/produção do tal "valor" político que lhe é atribuido) o que daí quase inevitavelmente (apenas quase?...) é uma natural ausência de "controlo crítico" fundamentado por parte dos cidadãos em geral (mesmo de muitos dos formalmente escolarizados) e relativamente à generalidade dos produtos da tecnologia, por meio dos quais (insisto sempre neste particular) estamos, como sociedade e até (pior e mais grave, ainda!) como "cultura", separados do---não ligados ao---processo de produção do saber que está na origem da produção daqueles mesmos objectos.

Que para nós tendem, pois, a permanecer, de forma estável e, sobretudo, tópica, completamente opacos enquanto expressão concreta ou 'concretada', por um lado, de um conhecimento cuja des-propriedade, por meio da propriedade deles, aceitamos politicamente prescindir mas, de igual modo e por outro lado, das propriedades e atributos específicos (físicos, químicos, etc.) quwe a eses objectos estão organicamente associados.

Isto é, para mim um telemóvel, por exemplo, não é topicamente nem um conjunto de propriedades físicas, electro-magnéticas, etc. causal e inevitavelmente asociadas a uma teoria integrada de circuitos (daqui resultando o fenómeno subjeccional---comum nas sociedades a que vulgarmente se chama "de consumo"---a que chamo de "desrepresentação cultu(r)al persistente e típica" ou "meta-representacionalidade inorgânica e simbológica" característica do nosso modo cultu(r)al de nos relacionarmos---lá está: sempre, de forma tendencial, inorganicamente---com a tecnologia) nem um conjunto de efeitos igualmente físicos muito precisos com inevitável acção sobre nós próprios enquanto organismos vivos.

Repito porque está é uma questão verdadeiramente chave: é o fenómeno político do "enclosing cognicional" (com o paradigma muito específico de negociação e contratação social e política que lhe subjaz) que fundamenta o modelo "moderno" das sociedades ditas "de consumo".

A estas tenho, muitas vezes, designado como sociedades "endocoloniais" ou mesmo "endo-neo-coloniais".

Por que razão o faço?
Porque é possível considerar (porque é crítica e analiticamente legítimo considerar) que, as sociedade em causa (muitas delas antigas potências coloniais formais) trouxeram afinal para o interior de si mesmas o "desenho conceptual" básico, primário, das antigas relações coloniais entre o colonizador e o colonizado.

Ou seja: segundo a definição clássica de colonialismo, o colonizador (a) importa da colónia ou colónias matérias-primas em estado tão puro ou tão por transformar quanto possível; (b) tranforma-as autonomamente, gerando a partir daí uma (ou várias, mais ou menos concêntricas) indústrias e associado a elas um padrão 'desenvolvido' (estruturalmente diferente do colonial, embora também, por definição, assimétrico, desigual) de redistribuição social da riqueza gerada (o padrão de redistribuição da pobreza igual e necessariamente no processo de produção de riqueza está, em termos económicos e sociais, como se sabe, organizado de forma mais ou menos rigorosamente simétrica do anterior, como também é, aliás, sabido...) e, por fim (c), o colonizador completa o ciclo revendendo para a colónia ou colónias onde se originou a matéria-prima os produtos transformados da mesma.

Assim, se geram mais-valias mas é também assim que o saber é muitas vezses usado, ele mesmo, como uma ultra-valia que gera continuamente "valor" porque, de um mesmo conhecimnto que permanece enquanto estiver 'activo' nas mãos do mesmo proprietário é não-raro possível extrair diversos produtos e, por conseguinte, seguir "mais-valorizando" casuisticamente um mesmo saber.

É esse facto de o saber ser capaz de gerar diversos conjuntos ou séries de produtos relacionados que explica a razão por que lhe chamo, um pouco indiferentemente, além de "matéria-prima" de capital e/ou "proto-capital", também uma "ultra-valia" de si mesmo, como atrás fica dito.

Mas porque falo eu de "endo-colonialismo" num contexto em que as colónias originais dos países europeus seguidores deste modelo "de consumo" são hoje já, na sua totalidade, países politicamente independentes, sujeitos a outras modalidades formalmente mais sofisticadas de influência, senão mesmo, em diversos casos, aberto controlo económico-financeiro)?

Porque, se o observarmos com o cuidado analítico e a escrupulosa atenção crítica que merece (afinal de contas, é a sociedade em que temos de viver, não?...) não nos será, talvez, difícil constatar que onde o "velho" colonialismo formal punha matérias-primas materiais, põem agora os poderes económico-políticos vigentes nas próprias sociedades anteriormente colonizadoras---exo-colonizadoras...--- virando-se para o interior das suas próprias sociedades o nuclearmente o conhecimento e (claro!) o Direito que, como atrás recordo, permite que ele permaneça social, política (e também, já agora: também juridicamente) 'negociado' ou 'contratado' socialmente exactamente como está e nas mãos de quem está.

O resto, é em tudo similar ao antigo paradigma colonial: o "endo-colonizador" apodera-se do conhecimento, "negoceia-o politica e juridicamente" com a sociedade, guardando-o obviamente para si e dando "em troca" os produtos que dele se foram gerados.

Exactamente, repito, como no antigo modelo colonial tipo.

E tal como nele (ou em qualquer área da produção levada a cabo segundo um modelo ideológico similar) um dos prssupostos da funcionalidade ou operatividade do paradigma é que ninguém possa concorrer com ele, isto é, que numa sociedade a propriedade dos meios de produção de conhecimento permaneça ou estr(e)itamente privada ou protegida por um Direito que veda à própria sociedade consituir-se em concorrente dos produtores devidamente "autorizados".

A sociedade "de consumo" representa, neste quadro, a admissão geral do modelo desigual em causa, transformando-o secundariamente no desejo por parte dos... "endo-colonizados" de que o próprio "endo-colonialismo" (o paradigma de "troca desigual" sobre o qual ele basicamente assenta) se mantenha.

Isto é: transfere-se, deste modo, o "ónus teórico" da manutenção do sistema do "endo-colonizador" para o próprio "endo-colonizado" que, assim (como, aliás chegou a acontecer em diversas sociedades coloniais formais) é ele que pede ao colonizador que não abandone o sistema por meio do qual o oprime e priva do que chamo a propriedade dos meios de acesso cognitivo directo à realidade.

A relação "moderna" e "pós-moderna" dos indivíduos com o saber (e, onbviamente, no limite com a própria realidade) vem sempre, com efeito, mediada por um seu "proprietário legal" que a (IN!) acessibiliza via os produtos que dela autonomamente extrai e/ou vai sucessivamente transformando.

Apresentado com a minúcia possível este quadro contextualizador da questão que comecei por apresentar (o meu medo relativamente à abertura anunciada de uma fábrica de aviões ou de partes de avião em Évora) resulta que esse medo se origina, sobretudo, na incapacidade sistémica... "adquirida", isto é, "educada" (cultu(r)al e politicamente "educada") que inevitavelmente tem de ser evidenciada nas (e pelas!) sociedades como a nossa onde o conhecimento é uma estr(e)ita propriedade mas não de todos de modo que possa igualmente ser de todos o domínio das respectivas consequências objectivas necessárias.

Numa sociedade assim concebida, é fácil "vender" modelos de "desenvolvimentalidade pura" com o argumento fácil e alienante da famigerada "criação de postos de trabalho".

Com este "argumento" se justifica ("justificam" as sociedades "tecnologicamente iletradas") virtualmente tudo.

...Até a fixação de paradigmas de pura "desenvolvimentalidade des/estruturalmente inorgânica" (e disfuncionalmente "esquizofrénica") onde é possível, como também tantas vezes tenho repetido (como tantas vezes tenho denunciado!) conceber um "progresso" independentemente de um "ambientalismo orgânico" que é, por definição, uma componente ínsita (e íntegra!) do único Progresso realmente bom que é que é orgânico e simultaneamente (até por isso) sustentável.

Onde é, além disso e ainda mais grave do que isso, conceber uma "felicidade técnica" da Economia independentemente da felicidade humana relativamente à qual aquela "felicidade técnica" devia sempre e em todos os casos operar como instrumento e não como referenciador autonomo e (literalmente!) único.


[Imagem ilustrativa extraída com vénia da Net de neve.frio.blogs.sapo.pt]

domingo, 26 de julho de 2009

"E por Falar Em Monroe..."

...Por falar nela, aqui a temos, primeiro, numa pose do clássico de Hawks, "Gentlemen Prefer Blondes" (onde um sempre versátil Hawks brinca, de forma absolutamente notável, com a mesma fórmula de uma Monroe "femme fatale", infiável e pecaminosa) e depois, na pele da sempre menorizada Monroe actriz, no filme de Hathaway, "Niagara" (um filme que não lhe faz, de resto, muita justiça, limitando-se, no essencial, a fórmula retomar recontextualizando-a num argumento onde Joseph Cotten se impopulariza tiranizando-a num quadro de quase sadismo, neurótico e obsessivo mas não desprovido de fun damento, aliás...)

"The Misfits"

Grande parte da crítica desfez o filme.

Mais: a crítica literária (que antes, havia já "decretado" o fim de Arthur Miller como dramaturgo) completamente perplexa e confessando-se incapaz de resolver o magno 'problema' da definição exacta do 'género' literário onde 'deveria' ser incluido o próprio texto do guião escrito por Miller (teatro? Romance dialogado? Mero "copião"/utensílio secundário de filmagem, portanto, sem valor literário autónomo?) não o pouparia (e isso foi muito claro, no caso português onde foi editado mas nunca admitido no grupo rerstrito das grandes obras do homem que escrevera "Death of a Salesman" e "The Crucible", as célebres "Bruxas de Salem" e que, de algum modo, rivalizava com um Tennesse Williams, muitíssimo mais... "escandaloso" e, por isso, "evitado" na representação electiva da dramaturgia norte-americana da época---entre nós, pelo menos onde nomes como Aggee ou até Albee pouco diziam à generalidade do público).

Para mais e voltando ao filme de Huston, Marilyn era, à época, vista ainda quase exclusivamente não como uma verdadeira actriz mas, sobretudo, como um ícone sexual que se limita a replicar ininterruptamente de filme para filme um 'tipo' e uma fórmula; o auge do fascínio popular de Gable havia já quase completamente passado e a Monty Clift (cuja homossexualidade muito mais sussurrada---volto a dizer: entre nós, pelo menos---do que confessada poderia ser, aliás, ainda mais um problema...) associavam muitos uma imagem de estroinice e irresponsabilidade (uma imagem de 'juventude perdida', um conceito que incluía, por outros---aterradores---exemplos, um filme famosíssimo de Richard Brooks, "Blackboard Jungle" com Glenn Ford e Sidney Poitier e, claro, na vida real, James Dean, morto, como se sabe ao volante de um potente carro) devida, sobretudo, ao acidente de automóvel que o desfigurara e relativamente ao qual se murmurava que se ficara a dever, como o de Dean, à leviandade do condutor.

O resto do elenco contava ainda com uma sóbria e eficaz mas eternamente secundária Thelma Ritter (recordá-la-ei, sobretudo, pelo papel que fez em "Rear Window" de Hitchcock) e um notabilíssimo mas também ele relativamente pouco popular Eli Wallach, um homem do Actor's Studio mas sem a preponderância de um Brando ou de um Newman (longe disso!) e que nunca se tendo imposto completamente nos Estados Unidos como "leading actor" (fez, nessa condição, um escandaloso "Baby Doll", uma espécie de pré-"Lolita" que causou sensação) faria, mais tarde, uma espécie de segunda carreira no "western" italiano com Clint Eastwood ou Lee van Cleef, este último um eterno vilão estatuto com o quel foi um dos homens do gang de 'Frank Miller' em "High Noon").

O próprio Huston nunca terá sido muito bem compreendido no seu próprio país onde fez, todavia, a partir de um texto de Bill Travers um respeitabilíssimo "Treasure of The Sierra Madre" com Bogart e que era uma reflexão muito 'noir' sobre a cupidez e a desintegração fatal das comunidades humanas a partir da emergência dela, sólida constante indissociável da própria "condition humaine" como tal, no seu seio.

Por tudo isto, o filme foi um claro fracasso, associando-se-lhe ainda a morte de Gable que se disse ter sido causada pelo esforço feito durante as filmagens.

"The Misfits" é, porém, um trabalho que está longe de ser despiciendo e de não justificar uma reapreciação, inclusive como reflexão artística sobre uma época (Gable e Clift são "cowboys impossíveis" e sem glamour) e sobre alguns símbolos-chave da mesma: Miller, o dramarurgo, que seria incapaz de seguir continuamente renovando-se depois do enorme e justíssimo sucesso popular e crítico das peças citadas; Huston, queira-se ou não, autor de alguns dos mais importantes filmes alguma vez realizados; Monroe, uma "deusa pop" trágica que Hawks sublimou em "Gentleman Prefer Blondes", fazendo com ela aí o que fez, por exemplo, com John Wayne em "Rio Bravo"---oferecendo-lhe o papel onde o tipo que um e outro (cada um o seu, obviamente!) haviam feito toda a vida logrou finalmente obter estatuto definitivo e, mais do que isso, verdadeiramente arquetípico; Clift um actor notável, porém aparentemente um mau gestor da sua própria vida como da sua própria carreira; Wallach, um actor competente, sempre injustiçado.

Mas o próprio filme não está---longe disso!---despido de relevância própria: se outra coisa não ftivessse logrado ser, permaneceria sempre cna linha, por exemplo, de um "The Great Gatsby" do trágico Fitzgerald, como uma amarga e desencantadíssima reflexão sobre a falta de verdadeiras perspectivas civilizacionais---sobre, em última instância, a impossibilidade civilizacional---da própria América como tal, um país onde (como diz uma personagem de "Raintree County" de Dmytryk) se Sócrates (o autêntico!...) tivesse lá nascido teria passado a vida a mascar tabaco sentado no "porch" de uma casa rural qualquer de "Smallvile, U.S.A." ou coisa que o valha...

sábado, 25 de julho de 2009

"O 'velho' «Olympia»..."

... Tal como eu o conheci...
E "que saudades, Deus meu!", como no poema do Augusto Gil...

"Mais algumas memórias"


Afinal, ainda não foi desta que "fechei a loja" por hoje...

Falando do 'Coop', do "Olympia", do deMille e de tudo o mais de que hoje já falei, dei comigo a recordar um outro instante "emocionalmente electivo", associado, esse, ao "Lys", onde pelos idos de '50 vi outro filme com o 'Coop' que, também esse, nunca mais esqueci (e de que adquiri, de resto, recentemente, cópia em DVD).

Chamou-se "Garden of Evil" (em português, "O Jardim do Diabo" e dirigiu-o um 'Hawks menor' chamado Henry Hathaway).

Este Hathaway tem, apesar disso, coisas muito razoáveis, sobretudo no início da carreira, embora, depois, se tenha comercializado bastante, assinando, então, outras francamente mais fáceis e perecíveis, digamos assim.

Para um adolescente como eu era quando vi o filme de que falo aqui, porém (este "Garden Of Evil" que não trará propriamente nada de novo ao "western" a não ser, no essencial, um respeitabilíssimo profissionalismo, uma "oficina" muito sóbria, digna e extremamente eficaz) representava, ainda assim, uma "coisa" invulgarmente surpreendente (e ocasionalmente arrebatadora, mesmo) onde era, sobretudo (embora, à época não tivesse naturalmente podido formular ainda uma ideia muito clara do facto) a encoberta mas imponente (furiosa mesmo---às vezes, desencantadamente desesperada, emocional e existencialmente exausta em determinados pontos...) tensão erótica estabelecida entre o par Gary Cooper/Susan Hayward definitivamente o elemento do filme que mais me haveria de marcar.

Mais tarde, recordei-me, aliás, muito insistentemente desse quase doloroso e profundamente desencantado romance entre uma pujante, fogosíssima Susan Hayward (uma ruiva 'de fogo' de que guardo outras memórias fortíssimas como, desde logo, a que se prende com o filme que fez com Robert Wise, numa altura em que este tinha ainda coisas para dizer: "I Want To Live") e um envelhecido 'Coop' vivendo, no fundo, agora, sobretudo da memória de um erotismo já residual e distante, feito quase só de centelhas fugazes fulgindo aqui e ali num rosto incrivelmente decadente, trágico e fatigado onde uma espécie de obstinada, digníssima, resignação se impunha, como emoção, já visivelmente a qualquer outra emoção ou sentimento capaz de por 'ali' passar; mais tarde, dizia, haveria de lembrar-me deste improvável, tardio e tragicamente crepuscular romance entre uma sombra (estóica e sempre admiravelmente digna, embora, repito) e uma mulher onde, pelo contrário, fulgia ainda muito do vibrante esplendor de uma maturidade 'de fogo' cinéfilo quando vi "The Misfits" de Huston e me deixei conduzir (e cativar!) pelo atormentadíssimo "romance" entre os, já (de diferentes modos) "terminais" Gable e Marilyn: um Gable que haveria, segundo julgo recordar, de morrer durante as filmagens e uma Marilyn visivelmente perdida, revoltando-se numa derradeira e desesperada tentativa de resistência perante a inevitabilidade do fim e que Huston soube como poucos trazer para o Cinema; uma Marilyn completamente trucidada pela "máquina" que fizera dela, a um tempo, um ser icónico e cultu(r)almente absoluto e uma perpétua, imensamente trágica, refém pessoal e existencial inescapável de si própria, debatendo-se, como disse, completamente em vão num esforço que se sentia quase física, quase materialmente fora do écrã, com o que era já, porém, (para quem o quisesse e soubesse ver...) dramaticamente óbvio e, sobretudo, muito dificilmente evitável ou até, provavelmente, sequer adiável...

"Aligeiremos, Então, Um Pouco o 'Tom'..."


Fecho por hoje a "loja", regressando a um tema que me é afectiva e emocionalmente muito caro: o velho cinema "Olympia" onde, como digo noutro lugar deste "Diário", passei (literalmente) incontáveis horas de puro deslumbramento e completo fascíno.

O "Olympia" era na época em que eu o 'visitava' um cinema já definitivamente 'perdido' para as pessoas de uma certa (pequeníssima! Minúscula, mesmo!) burguesia "respeitável" que definitivamente lhe preferia os incomparavelmente mais "sérios "Lys" ou "Terrasse", por exemplo.

Nós, os mais jovens, podíamos permitir-nos ser vistos a entrar ou as sair do "Olympia" na época m que ele passava umas "cowboyadas" incríveis que se ouviam (outra vez: literalmente!) no exterior!

O bilhete custava "três mil e quinhentos" (três escudos e cinquenta centavos) e não havia lugares marcados: entrava-se (cheirava indescritivelmente mal, a suor---um cheiro adocicado e pegajoso que, também ele, chegava perfeitamente identificável ao exterior...) e, se não se tinham mais cinco ou dez 'tostões' para o indescritível arrumador, às apalpadelas procurava-se lugar nas inconfundíveis cadeiras de pau que, no intervalo, se deixavam marcadas com um lenço para se poder vir cá fora, fumar um "Aviz pequeno" ou um "Suave".

Muito desse adolescente fascínio de que comecei por falar prende-se com um filme visto lá (há já mais de meio século---meu Deus! Já passaram... cinquenta anos!...) com o Gary Cooper e a estonteante Paulette Goddard (a "kid" de "Modern Times" de Chaplin, que viria a casar com o Remarque, do "Arco do Triunfo" e do outrora ultra-famoso e muito generosamente pacifista "A Oeste Nada de Novo"), filme esse intitulado "Northwest Mounted Police" (em português tinha um título simplesmente fabuloso, "Os Sete Cavaleiros da Vitória") que me marcou de tal modo que nunca mais o esqueci.

Ao filme, ao Gary Cooper e à Goddard e ao puro êxtase em que segui as peripécias de um "yank" na corte dos "mounties" (que vim eu próprio a re/viver, de dólmen vermelho e revólver, um e outro imaginários mas tão excitantes---sem esquecer, 'mortíferos'!...---como se realmente existissem, Almirante Reis acima, abatendo índios no Martim Moniz e traficantes de whisky e armas, já ao virar da Rua Maria Andrade, aos Anjos...); a todos eles, dizia, deixo aqui uma sentida homenagem fotográfica, do escassíssimo material que a Net guardou, muito em particular, do filme.

Ah! Já me esquecia... Acho que, nesse mesmo dia, também matei uma "squaw" quando ia já a entrar em casa mas como estava já muito escuro, não tenho a certeza...


[Na imagem: Gary Cooper e Madeleine Carroll em "Northwest Mounted Police" de Cecil B. de Mille]

"Dois Importantes Dialectizadores no (e do) Cinema"

Dois/três desconstrutores (ou, poderíamos talvez chamar-lhes mais adequadamente: "dialectizadores") essenciais do Cinema aqui recordados a propósito da 'entrada' mais abaixo onde se fala especificamente de "western" apresentando-o (muito argumentativa e, também---e sobretudo!---muito provocatoriamente) como sendo, em última instância, O Cinema:

Jean-Marie Straub (com Danielle Houillet) e Rainer Werner Fassbinder.

De notar que este último coincide (a meu ver, erradamente) no projecto de "recinematizar o cinema" com recurso central à Palavra, ao Verbo---perspectiva que fica, em meu entender, completamente clara em "Die Bitteren Tränen der Petra von Kant".

É, em todo o caso, um esforço teatralmente digníssimo cujo (em meu entender, relativo ou relatival) sucesso vem do extremo desconforto que o seu Verbo quando (como dizer?) "bate" de frente (ou "em cheio") nas imagens acaba sempre por causar...

"E Por Falar Em 'Coop'..."


Aqui está ele, o herói de inúmeras tardes de puro deslumbramento no velho "Olympia" de 1950 e tal a.L.F., que é como quem, de 1950-e-qualquer-coisa, antes de La Féria...

Quando a Escola era "risonha e franca" e nenhum espertalhão se tinha lembrado ainda de "fazer a barba aos clássicos", para gáudio dos parolos que vêm regularmente vê-los barbeados, em ruidosas excursões diárias....

Outros tempos.

Melhores?

Piores?

Outros tempos, em todo o caso...

...E o velho 'Coop' ("a man made os steel on a horse made of gold" como na canção...) é indiscutivelmente parte integrante, absolutamente incontornável, deles!...

"High Noon" de Fred Zinnemann

Escolhi por duas razões essenciais este famosíssimo plano de "High Noon" de Zinnemann para ilustrar a tese de que um certo (e, se calhar, 'perfeito', puro) paradigma de "cinema" ou de "cinematicidade" (de... "film-hood") está, todo ele, idealmente, no "western" onde, de facto, salvo raras excepções, o "Teatro" (ou "teatralicidade") não acham, a não ser muito indirecta e muito remotamente, eco reconhecível; escolhi-o plano em causa, dizia, porque ele, efectivamente, na sua aparente simplicidade (um homem com um chapéu e uma estrela no peito desce uma rua deserta, no fundo, nada mais do que isso) possui, de facto, uma "carga sémica" poderosíssima, muito dificilmente esquecível .
Pessoalmente, devo dizer que vi o filme há muitos anos (no antigo "Império") e nunca mais, desde esse momento, esqueci a fortíssima impressão global de trágica, irregressível, absoluta e irremediável fatalidade (de Fatalidade com maiúscula!) a que a caminhada de 'Coop' dirigindo-se (determinao? Resignado? "Determinado à resignação" e conforme com as "leis" de uma certa realidade que anteriormente desencadeou ou detonou?) para o duelo (o "showdown" final que o é também, na realidade, consigo próprio e com a sua condição específica de homem 'condenado' a fazer escolhas cujas consequências inevitavelmente lhe escapam como escapam, no fundo, a todos nós, homens como ele) fornece, de facto, um suporte visual verdadeiramente 'perfeito', arquetípico mesmo, num certo sentido visualmente revelador e absoluto (eu chamar-lhe-ia, certamente por deformação profissional, devida à minha formação académica de natureza primordialmente linguística: num sentido ideogramático total).

Torna-se, com efeito, a meu ver, muito difícil voltar a conseguir transmitir uma ideia ou um conceito, no fundo, abstractos (o da inevitabilidade completamente inelutável da Morte como algo de, repito, fatalmente indissociável da própria condição humana como tal) de um modo onde ela surja deste modo, a um tempo, concreto mas sem perder, em momento algum, essa essência abstracta que nos une, no limite, a todos, homens como 'Will Kane'; de uma forma tão poderosa e tão tragicamente despida de qualquer elemento de supérflua emocionalidade ou até de outra forma de beleza que não seja essa que resulta, de forma involuntária, natural e, ao mesmo tempo, inerente, intrínseca à assunção integral final da própria condição humana enquanto tal, por parte de si mesma; da assunção dos seus limites mas, de igual modo de uma estóica, inelutável necessidade estritamente pessoal---dignamente pessoal!---de cumpri-la com o 'rigor' e a elevação necessárias até ao seu impiedosamente inevitável fim).

O que me impressionou (e continua, ainda hoje, a impressionar) é que, num filme em que as palavras não se substituem, em caso ou circunstância essencial alguma, às imagens, essa informação tão dificil de "dar" num filme, sem retórica, tenha chegado a um espírito adolescente como era o meu à época, da forma clara e marcante por que chegou.

A essência da cinematicidade"---um "específico cinemático" nuclear, 'endógeno' e completamente autónomo---é, em última instância, exactamente isso: a arte de dispensar estrategicamente a mediação determinante das palavras (muito belas, seguramente, quando sabiamente trabalhadas por quem saiba fazê-lo xcom exactidão e rigor mas, de algum modo, algo de in/essencialmente "estrangeiro" à própria essência do medium) a fim de transmitir, não tanto 'emoções' (que se prestam sempre a uma certa superficialização e a uma certa vulgarização secundárias que nem sempre fazem, uma e outra, inteira justiça às potencialidades expressionais intrínsecas e autónomas do 'medium', do Cinema com maiúscula---mas ideias e reflexões, pensamentos, algo de muito mais sério e profundo envolvendo o estudo realmente significante e nobre do Humano.

Ora, sucede que o "western" é, mau grado os que medem o seu peso narracional e representacional-projeccional específico da mente humana pelos exemplos mais fáceis e até (por isso, mais banais e, naturalmente, mais facilmente populares) o verdadeiro herdeiro da atitude épica clássica, por oposição à atitude trágica igualmente clássica, grega sobretudo, a qual acha na palavra o seu suporte comunicacional electivo e até, possivelmente próprio, específico.

Não concordo, por exemplo, com Manoel de Oliveira quando, insurgindo-se, como eu próprio tantas vezes faço, contra uma certa tendência inconfundivelmente comercial ou industrial para superficializar des/estruturalmente a mensagem cinematográfica ou, de um modo mais lato, a própria comunicação cinematográfica como tal, propõe que a palavra substitua (dialecticamente, embora) a visão como meio epistemologicamente ideal de percepcionar e representar cinematograficamente a realidade.

Oliveira é um experimentador, é verdade.

No início da sua carreira, experimentou o cinema "no sítio" (e no modo---no "way" e no "mood") certos, isto é, retirando-lhe o som (porque "cola" o sujeito de cinematicidade---não gosto do termo "espectador"...---excessivamente às representações superficialmente cinematográficas do real, não deixando espaço para a percepção verdadeiramente crítica daquele mesmo real que é cinematograficamente possível de ser feita) e não deixando, também, desse modo, que essa percepção "respire" de forma realmente cinematográfica, por assim dizer, isto é, que ela possua "respiração crítica e analítica" natural e, sobretudo, intrínseca ao meio que utiliza para produzir-se e realizar-se.

Retirar o som ao Cinema (à filmicidade) e impedir (como fez Oliveira em "Douro, Faina Fluvial" e "Aniki-Bóbó", por razões que terão sido tanto "teóricas" quanto o foram por imperativos de ordem técnica e até prática, económica) que as representacionalidade cinematográfica, cromatizando-se inutilmente, se 'confunda criticamente' em excesso com a própria realidade como tal, opera na prática como a integração de um elemento épico ou epiforme, intelecccionalmente distanciador que nobilitava poderosamente o próprio medium, o Cinema, justamente na medida em que o autonomizava ou tendia a autonomizar de todos os outros.

O equívoco veio depois---quando Oliveira, sempre (diversamente, embora) incomodado com o "naturalismo" excessivo dos "produtos" correntes da indústria, pretendeu voltar a encontar-se com o específico cinemático generizadamente perdido, como disse, através do uso intensivo do discurso verbal como "perturbador crítico" "dialectizante" da própria imagem---ou dos usos que lhe eram vulgarmente dados por aquela indústria.

A inteligência em geral (incluindo a que a Arte permite formar da realidade) precisa constante e "educadamente", é verdade, de estímulo---e até de provocação e mesmo alguma bem medida e "bem educada", disciplinad(or)a "dor".

Dispensa, todavia, "soluções" que pretendendo, embora, 'generosamente' autonomizá-la e renobilitá-la, passem, afinal, pela sua entrega mais ou menos total aos "utensílios expressionais" específicos das restantes Artes---como o Teatro ou a própria Poesia.

Isto, para detalhar uma das razões que me levaram a escolher o plano de 'Coop' descendo a rua como ilustração da tese de que... em tese, "todo o cinema" pode, no limite, esgotar-se (talvez) no "western".


A segunda razão prende-se com a escolha feita por Zinnemann de Gary Cooper para o papel de 'Will Kane', o sheriff: o rosto envelhecido, provavelmente já doente, de 'Coop' foi a opção perfeita. Nesse rosto decadente e tragicamente conformado com a esmagadora enormidade da sua solidão (metáfora ideal da solidão da própria condição humana enquanto tal, eterna refém da sua necessidade intrínseca, estrutural, tópica, de agir fazendo, como atrás recordo, continuamente opções cujas consequências se situam, sempre, no limite, para além da capacidade humana natural para controlá-las e de submetê-las controladamente a projectos, reconhecivelmente autónomos, de actuação ou de intervenção humana na---e sobre a---realidade; nesse rosto, dizia, está, com efeito, espelhada, num plano identificavelmente pessoal, individual, concreto, toda a tragédia da condição humana (da "condition humaine", numa formulação precisa que Malraux celebrizou) tal como atrás também já disse, especificamente enquanto tal.

Esse rosto permite, assim, manter inextricavelmente ligados o conceito abstracto e a experienciação estritamente individual, inalienavelmente pessoal, dele, obtendo-se , desse modo, um modelo conceptiva e narracionalmente [no fundo] 'perfeito' porque total de discorrer e/ou de pensar o humano que somos todos nós enquanto tal.

Isto, claro, sem prejuízo da referência figurada que no filme é feita a uma realidade histórica---e política---tristemente bem concreta que foi o maccarthyismo.

Uma coisa não prejudica, de modo algum, a outra: bem pelo contrário, aliás!...

"«Para Grandes Males, Grandes Remédios!...»" ou «Ministra da Saúde 0 - Senhora da Saúde 1»"

Legenda:

---A ministra da Saúde não garante vacinas contra a gripe A para todos os portugueses...

---Isso é incrível! Acho que o primeiro ministro devia demiti-la e substituí-la por alguém que tivesse um verdadeiro plano de saúde para o País!

---E foi o que ele fez! Na prática retirou o poder para gerir a crise à ministra da saúde e entregou-o inteirinho à... Senhora da Saúde que é de muito maior fiabilidade e eficácia e já está, de resto, há muito habituada a substituir, entre nós, políticas inúteis e ministros incompetentes!...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

"Good News!..."

Afinal, diz-me a Estela, o Triplov não acaba!
Hoje, à Ceia, Cristo comemorou o facto na intimidade, brincando com os apóstolos para mostrar o seu contentamento...

[Imagem alusiva: colagem de Carlos Machado Acabado, originalmente publicada em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com/]

quinta-feira, 23 de julho de 2009

"O Triplov Acaba!"

Tive agora mesmo a brutal notícia de que o Triplov vai acabar!

Bem vistas as coisas é, afinal, "apenas" (mais!) um Amigo que morre!

Palavras para quê?...
Não as tenho, no momento mas, se as tivesse, seriam seguramente inúteis perante a crueza dos factos: o Triplov vai acabar.

A Estela (que "era", afinal, o Triplov!) diz que que está só e cansada.

Também o País...

...Que devia, aliás, ser castigado pelo deus ou deuses da Inteligência por continuar obstinadamente a não merecer os Artistas e Pessoas de Cultura que possui e, especificamente, pelos que deixa cansarem-se e ficarem por fim desesperançadamente sós como a Estela---depois de terem, em vão, tentado (com uma persistência e um denodo que os portugueses em geral apenas usam de quatro em quatro anos para eleger um novo Sócrates ou enriquecer uma corja qualquer de gatunos disfarçados de banqueiros e homens-de-negócios...) lutar, sempre cada vez mais sós, contra a persistente mediocridade que há séculos se obstina em nos circundar por todos os lados, como a uma ilha...

O Tavares, por exemplo, já vendeu para aí umas dez toneladas só em "Equador", desde que comecei a redigir este obituário; a Rebelo Pinto para aí metade, de uma inominável porcaria qualquer expressamente copiada da anterior enquanto na sombra mais vinte locutores da televisão se preparam em segredo para uma nova vaga de lixo impresso a ser copiosamente lançada sobre as mil duzentas e vinte e uma indefesas donas-de-casa que compõem a "elite" intelectual de uma Subúrbia qualquer da Vulgária (ou Parolina do Norte) lusitana!...

Que tristeza!...

Como digo noutro lado: não há dúvida, Portugal é mesmo uma loura burra!...


[Imagem extraída de fastfoodfever.com]

"Un Homme C' Est Rare"

Uma das minhas colagens de que gosto especialmente e que "fala" de algo (porque fala de algo!) que nos envolve a todos, ibndependentemente da cor, idade ou sexo: a desumanização civilizacional expressa na utilização exaustiva (e intensiva!) do humano por um ou vários "sistemas" (pelos vários "círculos" do «sistema», talvez seja mais exacto e mais rigoroso dizer deste modo) ao qual ele, humano, na realidade apenas interessa secundária ou mesmo "terciariamente" na (in!) justa medida da sua estr(e)ita utilicidade contextual e/ou instrumental, digamos assim.
A Maria Estela Guedes teve a amabilidade de a publicar no seu Triplov, integrada, aliás, num conjunto de dez que pode aí ser visto sob o título genérico de "De um Não-Alexandre Onírico" que é nome do meu blog alternativo e uma expressão heterónima que me acompanha desde uma exposição que fiz no Seixal, em tempos.
Espero que gostem---e, já agora, se puderem, não deixem de dar um saltinho ao Triplov, "ver" a Estela e o muito que lá há para ver---e fruir...

"Este País É Uma Loira Burra..."

...e por isso, escolhi para ilustrar a 'entrada' imediatamente a seguir a imagem de uma mulher, loira, bela mas idiota como as "loiras das estórias", adequadamente amputada da própria cabeça sem, todavia, do facto parecer ter-se dado conta.
Tal como o Portugal de que aí falo que, dos ombros para cima, inexiste por completo ainda que tal não tenha sido, pelo menos, até ao momento (ao momento em que elegeu o actual poder político, em todo o caso) registado opnde quer que fosse na sua inexistente cabecinha (de) "loira"...

A opção pela loira não foi, todavia, na minha própria cabeça, pacífica.

Tinha, com efeito, uma alternativa possivelmente até mais eloquente: a de uma velha camponesa beata e cadavérica, que se antecipou à própria morte ou, pelo menos, ao seu próprio funeral, tal como eu próprio a vejo e deixei registada na colagem que aqui, a propósito, republico...

...Que (esperem só até às próximas eleições e verão!) já nâo deve, em qualquer caso, tardar muito: só Sócrates são dois: um no governo, outro, no "Diário de Notícias"..

"Fatalidades..." (T.i.P, text in progress)


De um "Público" já consideravelmente 'idoso' do meu cada vez mais farto e variado arquivo pessoal, começo, desta vez, por extrair um cabeçalho (cf. "Público" de 10.12.07) que diz: "Portugal falha meta europeia para redução de mortes nas estradas".

Surpresa?

Pelo contrário: pura inevitabilidade para não dizer: absoluta, total fatalidade!

O que seria difícil seria, aliás, o contrário, isto é, que as não falhasse.

Falha essas como falha, de resto, as que dizem respeito aos valores de sucesso educativo real (em Matemática, Português ou... Chinês Aplicado!) como falha as que se reportam às áreas (também essas, porém, democraticamente nucleares!) da Justiça, da Segurança Social e/ou da Saúde.

E falha-as (está condenado a falhá-las) diria eu, exactamente porque se trata de componentes essenciais---de componentes básicas---de uma Democracia orgânica de que Portugal, o Portugal actual, o Portugal dos Cavacos, dos Sócrates que é, também, o Portugal dos Freeports, o Portugal dos "bê-pê-énes", o Portugal dos Loureiros (dos diversos---e ainda são bastantes...); o Portugal dos Oliveira Costas, das "motas-engis" e por aí fora---o Portugal cada vez mais... mera desculpa económica e geográfica para país...; esse Portugal, dizia, falha todas as metas como aquela que o jornal refere por uma razão, afinal, bem vistas as coisas, bem simples: porque, na realidade, dessa democracia de que todos falam sem cessar sem que, na verdade, para aí oito em cada dwez dos que o fazem tenha, no fundo, a mínima noção do que diz, dela apenas conhece, na prática, uns avulsos (e, por isso, completamente inoperantes!) 'arremedos' puramente formais e inorgânicos extraídos "pêle-mêle" do folclore respectivo institucional ordinário (umas eleiçõezinhas de vez em quando, uma Assembleia dita "da República" pontualmente eleita a pretexto de ser necessário que os legítimos interesses da Cidadania possuam expressão operativa real mas da qual, na prática, se espera, todavia, apenas que forneça uma espécie de grande alibi político regular "por avença" aos manejos vulgares do que não passa, na realidade, de uma grande "off-shore... terrestre" «com um regime político a toda a volta»---e pouco mais).

A outro nível, o das elites que, porém, o poder já conseguiu quase completamente "engolir" (eu diria: que o poder logrou já definitivamente pôr, na sua esmagadora maioria... "por conta") o costume é o consumo mais ou menos diário de uns quantos acepipes "pós-ideológicos" sortidos (um Popperzinho com trufas seguido de um suculento "Keynes aux petits avec un soupçon de Tocqueville" com a alternativa de um "Lipovetski aux haricots verts "tudo regado com um bom Habermas tinto 1980) que o mesmo é dizer, como na clássica alegoria platónica, as sombras ou os ecos puramente teóricos constantes dos livros que a maioria, pantagruelicamente alimentada a telenovelas da TVI e a graçolas de Fernando Mendes nem sonha sequer que existem e os que sonham nem em... sonhos gostariam, na realidade, de ver postos em prática.

Este é, como disse, o país dos Cavacos e dos Sócrates---onde os livros (quaisquer livros exceptuando os calhamaços intragáveis do Sousa Tavares vendidos "a peso" a uma audiência que prometeu já aprender a ler para poder degustá-los, talvez, um dia ou as coisas inomináveis que a Sra. D. Rebelo Pinto recopia pacientemente de si mesma, à média de um por mês); os livros, dizia, só atrapalham num país onde o sonho da juventude, devidamente "incentivada, mesmo quando [os seus componentes] ainda são bébés [sic!], pelos pais" passa por "ser a próxima Floribella" (cf. o "Público" de 27.05.07); onde a "Economia viveu em crise durante quatro anos" (cf. "Correio da Manhã" de 11.05.07) mas onde "os lucros cresceram 72,5% nos quatro grandes bancos portugueses (ibid. loc.cit.); onde "a caopitalização bolsista dos três maiores bancos cotados [atingiu] no final de 2006 21,4 mil milhões [sublinhado meu] (ibid. loc. cit.) mas onde, em contrapartida, por exemplo, "só 10 por cento [sublinhado meu] dos idosos e pessoas dependentes têm cuidados adequados (cf. "Público" de 24.05.07) e onde não só a "miséria atinge nove mil pessoas e está a aumentar" (cf. "Correio da Manhã" de 03.02.07) como "metade das famílias portuguesas [metade!---Destaque meu] esteve em situação de pobreza pelo menos um ano entre 1995 e 2000" (cf. "Público" de 27.05.07).

Este é o país onde "cresce [o] número de filhos que batem nos pais (cf. "Correio da Manhã", desta vez a edição de 23.03.07); onde "faltam opções de transporte público para quem quer deixar o carro em casa" (cf. "Público" 26.05.08); onde, segundo "Os Verdes" "o governo vende o ambiente" (cf. "Público" de 18.04.08) e onde, realmente, segundo o "Diário de Notícias" (desta vez a edição de 30.05.00) "empresários atacam a serra" [de Aire e Candeeiros para pedreiras]; onde, segundo o mesmo jornal, agora na edição de 11.05.07, só "as dez maiores empresas nacionais subiram 122%" o que vale por dizer que "enquanto o número de trabalhadores diminuiu" os lucros das empresas em causa cresceram "oito vezes mais [sublinhado meu] que a economia nacional" inteira, sempre segundo o mesmo número do jornal citado; onde (ainda segundo a mesma fonte) a Caixa Geral de Depósitos, o banco "do Estado", "revela lucros consolidados globais de 5,5 mil milhões de euros", ou seja, "mais do dobro do registado [...] em 2002"; onde "o mais comum é ex-políticos fecharem a sua carreira profisional com uma saída em beleza para as empresas" (cf. "Expresso" de 12.04.08 que dá o exemplo da "contratação de Jorge Coelho para a administração da Mota-Emgil---a quem concesionou negócios no valor de 1000 milhões de euros, durante o período em que foi ministro das Obras Públicas" assim como a revista "Sábado" de 17.01.08, dá o de um outro ex-ministro, "Ferreira do Amaral [que] sem vergonha [sic] negociou contratos de um lado e renegociou-os de outro [e] deu benefícios de um lado e recebeu-os do outro"); onde segundo Luís Sousa, "politólogo e mentor do Observatório de Ética para a Vida Pública", "em Portugal não há regulamentação para o lóbi [...] porque nós não somos uma democracia plural e participativa" (ibid. loc. cit.) mas onde o "PS rejeita criação de um observatório da corrupção" (cf. "Público" de 01.02.08).

Este é, ainda e sempre, o país onde "estudo inédito [...] confirma persistência da pobreza" (cf. "Público" de 27.05.07); onde "o problema do desemprego ainda não teve solução" (cf. "Diário de Notícias" de 11.05.07: só a PT, por exemplo, em cinco anos desfez-se---e volto a citar aqui o "Diário de Notícias" de 11.05.07---de 25%, isto é: um quarto (!) dos seus funcionários) mas onde um idiota qualquer "de pena em riste" afirma em título, com a negligente pesporrência que dão a loucura (ou a "simples" estupidez) que... "a tristeza é marxista" (cf. "Dia D", 16.02.07, página 37) o que talvez se explique, aliás, precisamente pela lucidez agudamente estimulada desse mesmo marxismo ao contemplar o inenarrável "espectáculo" social, político e (mais grave ainda!)civilizacional dado, nas múltiplas áreas e domínios citados, pelas sociedades "democráticas" não... marxistas...

É este país que não cumpre as metas--- no caso, como disse, as que se referem à segurança rodoviária, mas lendo todos estes cabeçalhos de jornal percebe-se sem dificuldade porquê.

Como pode, com efeito, um país onde todas estas coisas acontecem (e recolhi a informação que agora presto de apenas meia dúzia de recortes de jornal escolhidos quse aleatoriament de uma pasta titulada "Portugal") cumprir metas, sejam elas de que tipo for?!

A única surpresa (ou até... escândalo!) será mesmo haver algumas que... se cumprem!

É que este é também o país onde (e isto para terminar, para já) um condutor embriegado que atropelou (e matou!) um jovem que seguia com outro (que ficou ferido) na berma de uma recta com boa visibilidade em Leiria---factos que o tribunal que o julgou considerou, naturalmente esegundo o "Correio da Manhã" de 01.06.07---de (e cito) "particular gravidade" apanhou... "três anos de cadeia" (!!) e ainda por cima "com pena suspensa" (!!!) pois, segundo o mesmo tribunal, "é merecedor de um voto de confiança" (!!!)

É incrível como a morte de um jovem "custa" a quem o matou (além de 181 mil euros que é, plos vistos, o valor monetário oficial de uma vida humana) três anos, não na cadeia, mas, na realidade, fora dela?

Não!

Tendo em conta quanto para trás fica dito, não é incrível---longe disso!

É forçoso e natural!

E esse é que é o mal!...


[Imagem extraída com a devida vénia de integras.blogspot.com]

quarta-feira, 22 de julho de 2009

"Stanley Kubrick"

Na 'entrada' imediatamente a seguir, faço alusão a um dos meus realizadores "de cabeceira": Stanley Kubrick.

Homenageando um dos cineastas mais visionários e geniais que conheço, deixo aqui alguns fotogramas extraídos da sua (fabulosa!) Obra.

De cima para baixo, fotogramas de "Paths Of Glory" (1957, Kirk Douglas), "Lolita" (1962, James Mason e Peter Sellers), "2001, A Space Odyssey" (1968, Keir Dullea), "A Clockwork Orange" (1971, Malcolm McDowell) e "Barry Lyndon" (1975, Ryan O' Neal).

terça-feira, 21 de julho de 2009

" O 'mito' de «Gnoseotópolis»: a «gnoseotopia» ou a ficção (falsamente!) política da «gnose futurológica»" [T.I.P., text in progress]

Com uma média de "quase um ministro por hora" a anunciar com as adequadas trombetas a mirífica "retoma" que há-de , como D. Sebatião, vir em breve confirmar as excelsas virtudes sistémicas do capitalismo vigente, o capitalismo pós-industrial neo-liberal ("soft" dos "pê-ésses" e "hard core" dos 'outros')---tudo isto, configurando, no fundo, uma versão "revista" do célebre "fim-da-História" decretado e, imediatamente a seguir, revogado por Francis Fukuyama ainda não há muito; com este "golpe de "marketing" económico-político a chegar-nos regularmente a casa via televisão, via órgãos de propaganda oficial impressa (nos jornais onde o poder político opera no sentido de condicionar a respectiva linha editorial, teleguiando esta estrategicamente através da escolha regular das administrações; com tudo isto, então, por um lado e com a fábula, não menos tópica e regular, de uma tal "Gnoseotópolis" (o termo é da minha responsabilidade, não da governo) ou "(so)ci(e)dade do conhecimento" a saltitar de forma tão constante quanto alegre e ligeira, nas lucubrações (em regra, todavia, cultu(r)almente vácuas e delirantes) de um Estado-de-partido onde, todavia, nada ou muito pouco parece entender-se e funcionar em matéria de 'fomento estrutural e orgânico de futuridade', numa era histórica em que esta última, a futuridade, ou começa organizada e competentemente a ser preparada na cuidada, na esclarecida determinação de paradigmas educacionais estratégicos, consistentes e, sobretudo, inteligentes---isto é, naturalmente aptos a responder em tempo real às contantes (e sempre novas) questões levantadas pela História---ou está fatalmente condenada a apenas reproduzir, de um modo ou de outro, o 'espírito' e genericamente a realidade da velha Arcádia setencentista, actualizada apressadamente no rosto quie (como dizer?) vira sempre inutilmente para a própria História; com tudo isto, dizia, a bater-nos diariamente à porta na forma de discursos e mais discursos, de entrevistas e mais entrevistas, de 'recados' e mais 'recados' da magistratura política chovendo ininterruptamente sobre a Cidadania, vale, em meu entender, a pena reabrir aqui um livrinho já com muitos anos (vai, na realidade, fazer quarenta!...) editado pelo extinto jornal "O Século" nuns episódicos "Cadernos" de que chegaram, aliás, a ser editados vários números e onde esse (por essa altura, já 'crescidinho') século XX português tentava---como podia---discorrer em ditadura sobre um futuro que a todos nos parecia, porém, imensamente fantástico e sempre, de um modo ou de outro, na prática inalcançável e alheio.
Porque alheio.

Portugal vivia, então, a triste realidade de um País onde, como nota César de Oliveira, concretamente, na modernidade, a Revolução Industrial permaneceu sempre uma circunstância estranha e alheia---desde logo, em meu entender, com uma consequência historicamente decisiva e também, no plano do 'significado' (histórico, social, político: civilizacional) futuro, verdadeiramente trágica: a incapacidade de a sociedade portuguesa gerar do interior da sua própria relação visceral com a História um proletariado próprio e específico.

Muitos pensarão que, ao dizer isto, estou a fazer uso de uma semântica e, sobretudo, a confessar implicitamente possuir uma visão da História, irremediavelmente arquelógicas e epistemologicamente ultrapassadas.

Não o creio, porém.

Quando lamento que (devido a uma série de circunstâncias específicas que vão, por exemplo, a dado passo, das invasões francesas à guerra civil) o País nunca tivesse sido capaz de dar origem a formas relevantes de industrialidade e de um capitalismo industrial próprio de onde, por sua vez, emergisse, como em França ou em Itália, um proletariado estruturado (ou, no mínimo, estruturável) aquilo que estou, na realidade, a lamentar é que entre nós, por imperativos de realização histórica e civilizacional concreta, nunca tivessem podido gerar-se, por sua vez, uma consciência cívica, um espírito nacional colectivo onde a ideia (ou a impressão inconsciente colectiva) de que a propriedade da História e concretamente da acção histórica é algo que não necessariamente de ser "mediado" por uma 'classe sacerdotal' qualquer que a «signifique» previamente, antes de «redistribui-la», digamos: 'secundária e descensionalmente'.

A existência histórica e política' de proletariados próprios foi, em meu entender, aquilo que permitiu, na realidade, à França, à Inglaterra, à Itália ou à Alemanha, ao contrário de Portugal ou de Espanha, apoderarem-se nuclear e, de algum modo, democraticamente de formas significativas de acção histórica: a partir de Marx, com efeito (o Marx que centralizava muito do seu pensar histórico na ideia de "meios de produção")---poderíamos dizer que, naqueles países e naquelas sociedades, não foi apenas uma classe que possuíu os "meios autónomos de produção de uma inteligência qualquer de realidade" assim como apenas uma ideia dos modos de, concreta e objectivamente, transformá-la.

É, ao invés, nas sociedades onde a própria sociedade não se encontra, de um modo ou de outro, estrutural e estruturadamente organizada (em classes, embora, como é óbvio); nas sociedades onde não existem, pois, estruturas institucionais organizadas (formas significativamente alargadas de trabalho em comum, por exemplo, como no modelo de produtividade capitalista-industrial); estruturas que permitam ligar as pessoas colectivamente à História através, primeiro de um vínculo material e, em seguida, de um outro, dele decorrente, de ordem estável e organizadamente intelecccional e subjeccional, que a ideia da própria possibilidade material de um "apoderamento objectual da História" e dos modelos de "acticidade material" que à sua 'produção' e reprodução por parte das pessoas ou dos cidadãos em geral inevitavelmente se associam que surge a tendência natural para substituir a própria História por desformulações utópicas que, com ela, História (ou historicidade como tal) têm, todavia, na realidade, muito pouco em comum.

Nas formas de auto-representação cultu(r)al destas sociedades a História tende sempre, de forma natural, a surgir como de fora de si mesma, na forma muitas vezes de uma espécie de morfocausalidade inorganicamente providencial, sujeita a regras que são emprestadas à História e ao seu funcionamento específico, não pelo pensamento científico mas por formas exógenas de pensar mágico e/ou ritual que apenas simbolicamente com ela se casam.

É o que sucede, no fundo, com a "gnoseotopia" (ou "pensar gnoseotópoco") "pê-ésse" (pura "mágica" no sentido em que imagina e pretende que imaginemos, o futuro a obedecer arbitrariamente à vontade humana individual e, sobretudo, espontânea ou inorganicamente considerada---o futuro como o coelho ou a pomba que saem da cartola do mágico...); conceituação apenas possível numa sociedade nuclearmente mágica e/ou ritual (as campanhas eleitoriais, por exemplo, que são senão a expressão tribal-ritual de uma 'magia' epidermicamente "actualizada" de modo a parecer à primeira vista um verdadeiro presente?).

Uma sociedade de onde a infra-estrutura ou fundação e fundamento---o «alicerce epistemológico»---foi, de facto, "roubado" a um pensar mítico genuinamente "primitivo" não podendo, em caso algum, ser entendido como integrando, pelo contrário e idealmente, todo um conjunto de modos-de-ver de "episteme" realmente científica, como encontramos, por exemplo, nas formulações de um Locke sobre Democracia onde a formulação de natureza especificamente política---"todos os homens são iguais em direitos"---radica directa e naturalmente na Ciência---"todos pos homens são iguais em direitos porque cientificamente não há diferenças de natureza estrutural entre todos os homens".

É essa radicação (ou "radiciação") natural e necessária na Ciência que falta, em meu entender, na (in) essência, a todo o edifício político (ou, por isso, meramente 'politiforme') da pós-modernidade, em geral---o que se explica, como tantas vezes tenho repetido, pelo carácter de propriedade privada e proto-capital ou matéria-prima nuclear do processo de re/produção contínua do próprio capital atribuído ao próprio Conhecimento nas sociedades capitalistas contemporâneas cujo projecto civilizacional passa nuclearmente por aí: pela inevitabilidde de privatizar ou "enclose" continua e centralmente o conhecimento como (lá está!) matéria-prima essencial da sua própria transformação industrial em "valor" e, deste, em mais capital.

Um processo que usa, por outro, o próprio Estado como utensílio (o mito do Estado Social como sobrevivendo a si mesmo na condição de conquista civilizacional quandpo ele já opera, na realidade, como uma almofada de protecção da estabilidade, sim, mas do modelo de exploração capitalista como tal e como "argumento politiforme" deste) determinando que seja possível (de facto, que seja inevitável) que seja cunhado um outro conceito sistémico que é o de "democracia funcional", constituindo-se como expressão formal de um sistema que, por quanto disse, configura, na realidade, uma "economocracia" (im) pura, em toda a sua extensão pou m todo o seu "esplendor".

Onde 'entram', então, aqui o "Século" e os seus 'Cadernos', atrás referidos?

'Entram' muito claramente num ponto: naquele ponto exacto centrado num texto introdutório e globalmente situador (o livrinho, intitulado "Etapas para o Ano 2000" é, na realidade, uma antologia de que texto que comecei por referir, um texto anónimo extraido do "Stuttgarter Zeitung" de 13 de Novembro de 1967) cujo título é: "Entre a Arte e a Ciência" onde o seu anónimo mas muito escrupuloso autor propõe algo que, por muito estranho (e até inquietante) que pareça conserva tantos anos volvidos, toda a sua pertyinência e toda a sua actualidade.

Mais (e, por isso, eu falava atrás de uma possível 'inquietação' por parte de quem, hoje-por-hoje, como eu, o re/lê): é admissível que ele, no limite, mostre como o futuro pode, afinal, ter-se (como dizer?) de alguma forma "suspendido" a si próprio nessa já longínqua década de '60 podendo (ou devendo?) na realidade ser hoje retomasdo aí, no exactro ponto m qwue tinha, na ocorrência, ficado.

Por que assim falo?

Porque aí se fala (com extrema concisão e escrúpulo, volto a dizer) de coisas absolutamente essenciais como, desde logo, a necessidade fundamental de fundamentar consistenemente não apenas o futuro mas, desde logo, as nossas ideias, ideações ou 'visões' dele, exactasmente como base e prolegómeno de uma construção estruturada e consistente dele.

Não é, como fazem, regularmente, os vulgares "mágicos" da "gnose futurista" no poder hoje, "conjurando" avulsamente modos e formas de um, afinal virtualíssimo, "futuro" que só existe nas suas 'ilumindas' cabecinhas que se pode, com o Futuro com maiúscula, estabelecer qualquer forma minimamente consistente de vinculação causal, realmente operante---e dialéctica (sem esquecer democrática): é, como nota o articulista do "Stuttgarter" citando Picht (que, segundo ele refere, distingue três fases ou estações inerentes a uma possível 'ciência' (ou ciencialidade) futurológicas: previsão, probabilidade e projecto---sublinho: 'projecto') e Jungk (que fala, por sua vez, em prognóstico, utopia e planificação---sublinho: 'planificação').

Ora, num momento da História em que o mito neo-liberal do economocentrismo do mercado claramente falhou ficando a descoberto um outro mito teórico a ele directamente ligado---o da desnecessidade estrutural do Estado: é preciso, com efeito, dizer toda a clareza, que é, exactamnte ao contrário, no recurso ao Estado---a um modelo instrumental (instrumentalmente infixo e estr(e)itamente ancilar) de "Estado funcional" que assenta, afinal, toda o ilusório «edifício operativo» da mistificação economocrata neo-liberal e mais ou menos "pós-moderna" do celebérrimo 'menos-Estado-melhor-Estado, tantas vezes propalado pelos seus adeptos da facção... "hard core").

Mas (lá está!) não a um Estado onde se façam realmente ouvir e possuam expressão operativa realmente demonstrável as 'vozes' das diversas classes sociais que compõem a sociedade no seu todo; um Estado que seja, pois (e para utilizar um conceito e uma expressão que me são teoricamente caros) mais do que um Estado formal e, sobretudo, instrumentalmente 'social', um Estado-consciência efectivamente operante, 'herdeiro dialéctico' legítimo do velho Estado nação moderno, capaz de planificar e estruturar, desse modo, organizadamente próprio futuro e tendo, desse modo ainda, sempre prsentes (e integrando-as mesmo no seu próprio funcionamento institucional específico) as legítimas aspirações não apenas políticas e sociais mas, de um modo mais lato, históricas, cultu(r)ais e civilizacionais das diversas forças sociais em presença.

Não há que ter medo das palavras---e muito menos dos conceitos que lhes subjazem (se subjazem, nos casos em que as palavras não são meros chavões sem demonmstrável conteúdo).

Foi, de resto, em larguíssima medida, pelo facto de os economistas e os "seus políticos" terem continuamente aterrorizado as sociedades com termos como "projecto", "planificação" e "prospectiva" (quando não, em última análise, "mudança" e até "História"...) no sentido perversísimo de impor um modelo político e civilizacional árida e impiedosamente economocrata, porque completamente desregulamentado e "livre", que se chegou à situação actual de crise que, mais do que crise, representa, em última análise, isso sim, um verdadeiro estado.

Ora, é contra esse estado que é preciso combater.

É contra ele que é preciso "recomeçar" a concepção dos nossos paradigmas civilizacionais de "economia" e de "política", volto a dizer, exactamente onde a tinham deixado alguns observadores e teóricos das décadas de '60 e '70, quando certos termos não se tinham ainda instalado no consciente mas, sobretudo, no inconsciente colectivo 'ocidental' como verdadeiros espectros, assombrando os diversos propósitos e intenções, individuais e colectivos, de reflexão histórica, económica, social e política, minimamente independente.


[Imagem ilustrativa---fotograma de "2001, A Space Odissey" de Kubrick---extraída, com a devida vénia, de cedarlounge.wordpress]