segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Cahier"

"Uma História Verídica"


Quando passou em Portugal o filme do Godard "Je Vous Salue, Marie" ("Pleine de merde, pourri soit ton nom" e por aí adiante) um Abecassis qualquer quis invadir a sala de cinema onde passava o filme e partir tudo.

Mais ou menos na mesma ocasião, um Sousa Lara e um Santana Lopes quaisquer pretenderam, por sua vez, proibir a venda do livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" do Saramago.
Então na ocasião e para a ocasião, fiz uma "coisa" com papéis recortados que dizia assim:

"Mon cher Saramago. Meu caro Godard. Il n'y a plus de dúvidas de que a Incultura Portuguesa est de plus en plus PURITAINE..."

Vous pigez?...

"Naughtopy: a visual texticity on Beckett"

"Naughtopy--A Visual Survey Of Samuel Beckett's Naughtopy-I"

SAM N UEL BECKETT'S
SAMUEL BECK A ETT'S
SAMU U EL BECKETT'S
SAMUEL BECK G ETT'S
SAM H UEL BECKETT'S
SAMUELBEC T KETT' S
S O AMUEL BECKETT'S
SAMUEL P BECKETT' S
SAMUEL BECKETT Y 'S

"Der Müde Tod"

Uma tripla homenagem: a Pabst, a Dreyer e a Kafka [e um pouco, também, a Lars von Trier].

[Na imagem: "Der Müde Tod", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado, originalmente pblicada em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com/]

"HERBECKETT"

HERBERTOHELDER

HEDEATHERBERTO

HERBERTOBECKET

HDEATHDREDLEHO

OTREBREHHELDER

"Allthatfallthatbeckett"

ALL THAT FALL

ALLTHATFALLTHATFALL

ALLTHATBECKETTHATTG

BECKETTTHATFALLMIS

FITTTHATFALLRRUINEYTH

ROONEYTHATFALLRUI

BECKETTDEATHTHATF

FALLFALLFALLFNAUGHT

ALLTHATFALLTHATBECKETT

"O Espírito (Talvez) da Casa [sobre uma fotografia de Maria Filomena Mónica]

Sobre uma impressionante fotografia de Filomena Mónica, tirada (julgo eu, em Sarajevo, em plena "agonia iugoslava") tento sugerir a sombra persistente, obstinada, da vida humana brutalmente ceifada---"abstractizada", "coisificada", tragicamente convertida já em vago objecto de consideração 'teórica' [como inevitavelmente sucede em qualquer guerra... vista do exterior.
Vista, por exemplo, do lado do poder que fomenta e dá corpo e existência material às guerras.
À Guerra].

[Na imagem: "O Espírito (Talvez) da Casa", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

"Photomaton [Sem Vox]"

Uma das minhas várias homenagens pessoais a Herberto---o mais beckettiano dos Poetas nacionais.
[Colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

"La Leçon"

Mon hommage personel à Ionesco.

[Na imagem: "La Leçon", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

"Cruci-fiction"


Colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado.

"His Own Small Sky"


Enquanto toda a espécie de malandrins e embusteiros se peparam para no-la "pregar" de

novo, aprendamos a construir o nosso próprio refúgio de Poesia e sanidade...


[Na imagem: "His Own Small Sky", colagem sobre papel do titular do blog, originalmente publicada em http://umnaoalexandreonirico.bloghspot.com]

"Um 'sinal'?..."

Vasco Pulido Valente (com cujas sempre avinagradas mente e pena não nutro, humildemente o admito, qualquer empatia intelectual de que 'valha a pena falar', devo dizer...) chamou-lhe, um dia (Cf. "Público" de 17.07.09) "uma vergonha" .

"Uma vergonha" é favor: a criatura é uma autêntica aberração pessoal e política, senhor de um discurso, em regra, inadmissivelmente desbocado e inimaginavelmente desassisado (cheio de "cubanos", "colonialismos", "senhores silvas" e necedades ou grosserias afins) a quem uns quantos representantes desse "Portugal incuravelmente boçalão, beato e obstinadamente menor" que se espalha, como uma doença, um pouco por toda a parte do território nacional, se obstinam em fazer, mau grado as evidências, um... "homem de Estado" (!!).

Falo, claro, do projecto de revisão constitucional local em que se incluía a brutal proibição do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda.

Ora, eu, devo dizer, li a notícia (e a crítica de Pulido Valente) praticamente na mesma altura em que tomei conhecimento de uma outra, de natureza aparentemente muito distinta (cf. "Público" de 13.06.09, artigo "Casa Branca pode desistir de instalar prisioneiros de Guantánamo nos E.U.A.", da autoria de Rita Siza) envolvendo, pois, estes "extraordinários" "prisioneiros de Guantánamo" e uma possível "desistência" por parte dos E.U.A. (que os têm presos há vários anos, nas mais degradantes condições de selvajaria prisional e jurídica: sem julgamento, culpa formada e/ou genericamnte o mínimo substantivo fundamento: jurídico ou até "simplesmente" humanitário) relativamente à hipótese de instalá-los no mesmo território nacional do país que ora persiste, pois, em, de forma juridicamente de todo insustentável (leia-se: à mais escandalosa e indigna revelia de qualquer princípio reconhecível de Direito e mesmo de Civilização) tê-los presos.

Aparentemente, como disse, nada permite ligar entre si as lucubrações pretensamente políticas de uma criatura vagamente antropomórfica qualquer perdida no meio do Atlântico e gerindo aí uma espécie de "Zimbabué insular" de que não se decide, pelos vistos (e ouvidos), a largar de vez de mão e esta outra envolvendo, por sua vez, os inimagináveis atropelos à Civilização de um fulano que (honra lhe seja por fim feita!) a América lá se decidiu finalmente, num assomo de lucidez e dignidade, a "pôr, de vez, com dono", uma ou duas guerras estúpidas e sangrentas depois...

Eu próprio só me dei conta da espécie de nexo que liga ambas as notícias quando, naquela que se refere aos presos de Guantánamo, se escreve: "A Casa Branca cederia assim [ao recusar a instalação, como diz o jornal, nos E.U.A. dos presos entretanto libertados em território norte-americano] à pressão dos legisladores do Congresso que não aceitam receber homens que foram anteriormente classificados de "combatentes inimigos" e suspeitos de terrorismo nos respectivos estados".

Lida, pois, a notícia e este período dela em particular, conclue-se, com a indignação que se compreende, que os E.U.A. aceitam, afinal---que o congresso deles aceita, afinal---que uma suspeita baste (em determinados "casos", pelo menos...) "perfeitamente" de sentença final irrevogável e que seja ela e/ou uma qualquer "classificação" (?) de "combatente inimigo" (com que fundamento jurídico demonstrável, isso não interessa aparentemente nada!) suficiente "fundamento" jurídico e político para condenar ao exílio sabe-Deus-para-onde (em muitos casos, à própria morte: é, de resto, por isso que alguns países, apesar de tudo, mais civilizados aceitaram, esses sim, recolher alguns) homens que estiveram anos injustamente presos!!

Grande "democracia" esta, não!?...

E lá está! Temos achado o 'elo que faltava' para ligar este singularíssimo entendimento da democracia e a não menos bizarra ideia que dela faz o "jardinismo" ao considerar que um partido político que expressamente declara aceitar as regras do chamado 'jogo democrático', esconde afinal, sabe-se lá-que cavilosos projectos de tomada ilegítima do poder.

Quando condenavam, os tenebrosos juízes 'plenários' utilizavam um aparelho argumentativo indecorosamente ilegítimo e insustentável do mesmo tipo quando declaravam condenar este ou aquele "inimigo do regime" sem provas mas por... convicção do "tribunal"!

Chama-se a isto julgar intenções, chama-se a isto abusar escandalosamente do poder, chama-se a isto aviltar indecorosamente o Direito, a democracia e a própria inteligência de cada um; chama-se, numa palavra, a isto reencenar, à custa da legitimidade política e jurídica mais básica e elementar, a velha (e, no fundo, sinistra) fábula do lobo e do cordeiro, no ponto exacto em que aquele, para "justificar" e "legitimar" a matança deste último, o acusa de um crime que, se não foi cometido pelo próprio, foi-o, com certeza, pelo... pai dele...

Imagina a besta que com a expressão (a expressão animalesca e sanguinária) de tal "convicção" (que, porém, facto algum permite sustentar) que "legitima" o canibalismo bestial a que pretende entregar-se.

Ele, claro, tem, em última instância, desculpa: é uma fera (uma verdadeira fera, quero eu dizer) mas e... os outros: que desculpa terão?...

Mais: precisarão eles sequer de desculpas?...

Uma terceira notícia do "Público" (que me chega, essa, sem data) fala de uma lei recentemente revogada envolvendo o arrendamento de casas camarárias, lei essa que datava, diz o jornal, ainda dos anos de chumbo do salazarismo.

E eu pergunto: tratar-se-á, afinal, bem vistas as coisas, de um sinal?

É que há, pelos vistos, outras coisas para além dessa lei que o "Público" agora recorda que vêm (e---pasme-se! Não apenas cá, naquele que foi o "habitat natural" da selvajaria autoritária) desse negérrimo (e, pelos vistos, difícil de morrer!) "tempo dos Salazares" e que se obstinam em ir ficando "por aqui", onde houver almas... caridosas que, troçando alarvemente da democracia onde vieram sabe-Deus-como-e-porquê, um dia, "cair" lhes vão, apesar de tudo, dando guarida e providencial alimento...

Tratar-se-á, pois, de um 'sinal'?

A dúvida, juro, não me larga!...

Ou, como dizia (ainda e sempre...) o famoso 'outro': isto, afinal, anda tudo ligado, não?...

"Manchase"


Outra reflexão sobre a identidade e "a procura do impossível orgânico em nós"...

[Na imagem: colagem sobre papel originalmente publicada como "I me mine" em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com]

"Le Jeu de La Vérité"

Reflexão visual sobre muitas perguntas---algumas delas impronunciáveis mas todas mais ou menos dilacerantemente diversas e pessoais...

[Na imagem: colagem sobre papel, original do titular do blogue originalmente publicada em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com/]


"Outra visão do corpo nu"


...devidamente intelectualizada e colocada sob a custódia legitimadora da "Arte", como convém...


[Na imagem: "Nu Mole", relógio, de Salvador Dali]

domingo, 30 de agosto de 2009

"Topsy Venus"


"Man Of Providence!"

Numa altura de eleições, vale a pena reflectir sobre a consistência e a coerência dos políticos!

Essa reflexão pode obviamente ser plástica e visual.

É o que aqui se tenta com uma colagem sobre papel, originalmente divulgada em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com

[Na imagem: "He", colagem sobre papel do titular do blog ]

"Uma última..."

...reflexão, hoje...

...Para dizer que NUNCA foi para permanecer indiferente que, de um modo ou de outro, a Arte existiu!

Tenho hoje reservas que não tinha aos 20 anos sobre a arte 'militante'.

Tenho-as em muito menor número, porém, relativamente a essa mesma Arte como forma de militar na vida.

Como consciência ou persistente (às vezes, mesmo obstinada!) 'inteligência da realidade'.

Para mim (num certo sentido dialéctico e nobre---dialecticamente nobre, se quiserem) Ética e Estética são, em última instância ("en fin de partie", como diria o Beckett) uma única e mesma ininterrupta, contínua---e singularmente bela---palavra.

Não sei se um "redondo vocábulo", como dizia o Zeca...

...Mas um único vocábulo (vocábulo-ideia) em todo o caso.


[Ilustração: "Art For Heart's Sake", colagem sobre papel do titular do blog]

"Nu, nudismo e pornografia" [T.I.P. Text in Progress]


Algo que nunca deixou de me causar um profunda inquietação e desconforto é o modo como, enquanto cultura ou 'universo cultu(r)al' mais ou menos próprio e específico, lidamos com o corpo humano.

Já aqui teci algumas considerações pessoais sobre o que entendo ser enquadramento histórico e cultu(r)al do tema.

Tendo decidido, desta vez, deter-me (muito breve e muito sumariamente, embora) sobre um aspecto particular dessa sempre dificil problemática envolvendo a nossa relação mais ou menos estável e tópica, cultu(r)al, com o corpo, decidi começar por partir numa brevíssima viagem---numa rapidíssima "journey without maps", como diria o Greene do início de carreira---pelo (não?) espaço 'virtual' em busca de diversos modos mais ou menos... 'avulsos' de representá-la e documentá-la.

E constatei que, do nudismo à pornografia confessa, permanecemos sempre, de um modo ou de outro, separados do acesso franco e, sobretudo, livre (liberto de pré-juízos e pré-conceitos ou, na melhor das hipóteses: pré-conceituações mediadoras daquela relação) às múltiplas visões do nosso próprio corpo (desde logo, da nudez, do corpo nu, do corpo real) por uma espécie de "tabuleta moral" persistente que, no caso da "Rede" se converte em letreiro efectivamente material, avisando de que o que o blogue ou site que se está "prestes a ver poderá incluir conteúdos próprios apenas para adultos" ou coisa que o valha.

O corpo humano algo... "próprio apenas para adultos"?!

Ora, aqui, nesta espécie de fronteira absurdamente "moral(ista?)" onde deveria iniciar-se a confrontação, volto a dizer: franca e aberta---idealmente "fenoménica" ou fenomenologizada: é assim que começam todas as ciências genuínas---com o corpo humano (connosco próprios, na realidade: com toda uma "pré-ciência" ou objectiva e aberta ciencialidade do corpo) começa, sim, diria eu, uma espécie de mais ou menos discretamente impositiva e persistente mas muito subtil, quase transparente (in) acção de "generosa, estratégica desinformação" que todos, na realidade, sabemos (ou deveríamos saber) como e, sobretudo, onde vai acabar: na potenciação sempre diáfana mas firmíssima da nossa também ela ("et pour cause"...) persistente suspeita relativamente a nós mesmos, algo a que a chamada "revolução sexual" dos anos '60 (que foi sempre, aliás, entre nós, alguma coisa de profundamente tépido, hesitante e nunca mais do que realmente tentativo ou exploratório) (1) não conseguiu opor-se com um mínimo de sucesso.

Ou seja: logo de início e sob a capa de uma benevolente e prévia (porém, inescondivelmente conceituadora e significadora) preocupação relativamente à nossa saúde "moral", somos levados a intuir (por 'induzida, consistente pressuposição') que o corpo (repito: o nosso próprio corpo: nós mesmos "whatever that means"...) é---somos---afinal [continua(mos), afinal, a ser!] algo que estamos legitimados para usar (que precisamos de legitimação para usar) mas sempre (i) com extremas reservas (i.e. com áreas específicas, pré-determinadas de reserva e suspensão) que operam, na prática, já como um subtil (ou não-afinal-tão-subtil quanto isso...) anátema sobre esse domínio da personalicidade que, vista por aí, não somos realmente nem na realidade temos mas estamos, sim, em certas circunstâncias precisas, autorizados a usar---o que é substancialmente diferente)---e sempre também (ii) sob tutela.

Logo de início, é-nos, pois, dito que o nosso corpo não nos pertence, de facto (ou, pior ainda: de direito) mas à cultura ou à sociedade (a uma tradição conceptiva que começou por ser especificadamente religiosa) que nos rodeia e segue velando, atenta---e sempre generosamente, claro!---por nós.

Uma espécie de 'cone de penumbra cosmovisional' e, depois, naturalmente 'comportamental' envolve o corpo (falo especificamente do corpo como sede específica de uma ou várias sexualidades) envolve sempre áreas determinadas desse mesmo corpo (envolve, diria eu---e sublinhá-lo-ia de modo particular: a propriedade material efectiva dele e dos seus atributos).

O que é grave em tudo isto é, desde logo, que, na prática, se torna difícil (se torna, no limite, impossível) distinguir a verdadeira pornografia i.e. as modalidades particulares de representação do corpo que passam por formas especificadamente sexualizadas de poder e especificamente de opressão (concretamente de domínio ou 'colonização' de um sexo e de uma sexualidade pelo outro ou por outros) do que é o direito à propriedade livre desse mesmo corpo---e que configura um direito cognicional (e cultu(r)al e político!) verdadeiramente básico e essencial, diria eu: de cidadania.

A verdadeira pornografia não incide, a meu ver, com efeito necessariamntye sobre o sexo e a sexualidade, como mais de uma vez tenho defendido: há pornografia (sentimental, emocional) nas "telenovelas", por exemplo e "toda a gente" as vê e aceita implicitmente como forma perfeitamente legítima de "estretenimento familiar".

Há pornografia nelas porque, para além da pobreza especificamente estética que em geral as identifica nelas se verificam formas demonstráveis, endógenas (constantes da estrutura narrativa, do argumento da esmagadora maioria) e exógenas (exercidas pelo genre sobre quem o consome e, sobretudo, sobre quem o consome em exclusivo---e são muitas as pessoas que entre nós o fazem, como é sabido) de dominação exactamente como existem na pornografia "convencional" ou "formal", digamos assim.

O facto de identificarmos automáticamente "pornografia" com "sexo" e, de um modo mais subtil não-raro "sexo" com pornografia" diz muito relativamente à nossa relação cultu(r)al tácita com aquele.

E, de algum modo perfeitamente demonstrável, tudo começa em coisas aparentemente generosas como os "avisos" que referi.

Que eu acho, por conseguinte, que deviam pura e simplesmente ser eliminados e os conteúdos por eles "protegidos" abertos incondicionalmente à exploração por qualquer pessoa ou melhor dizendo: pelas pessoas de qualquer idade?
Não!

Que eu acho que deviam ser (como dizer?) institucionalmente sempre genericamente antecedidos de uma verdadeira Educação Sexual ministrada curricular e naturalmentre nas escolas.

Aquilo que o actual poder político (não!) tem feito nestas matérias é algo de literalmente obscurantista e medieval.

Não tem, com efeito, o mínimo sentido numa sociedade realmente moderna e, sobretudo, que se reclama "do conhecimento"; numa sociedade onde as formas de exercício do poder político têm necessariamente de ter incorporadas naturalmente as determinações e formulações mais avançadas da Ciência, questionar a xcomunidade sobre se ela deseja que a "sua" escola, a escola pública deve ensinar o conhecimento ou, exactamente ao invés e por absurdo, leccionar o seu contrário.

Ignorar o cohecimento (e absurdamente "referendá-lo") não é um comportamento nem responsável nem sequer remotamente moderno.

E, no entanto, é (in!) exactamente isso que o poder político faz quando acha que deve submeter o ensino de determinados conteúdos que são de natureza objectiva e genuinamente científica e não política a referendo, considerando-os, de forma, como disse, medieval e obscurantista, uma questão "de consciência" quando são, na realidade, de índole, volto a dizer, genuína e especificamente científica, e envolvem a questão (epistemológica e politicamente capital) do que chamo "a propriedade social dos meios de acesso e transformação da realidade" que é precisamento o domínio particular e específico, primário, da Ciência.

Pessoalmente, entendo que não há diferença---diferença substantiva!---entre considerar o ensino do conhecimento de algumas funções e atributos naturais do corpo àqueles a quem ele deve legitimamente pertencer (todos nós, seres humanos) como uma questão "de "consciência" ou considerar que o é o ensino das teorias de Darwin e dos pós-darwinianos em geral, como sucede, ainda hoje, em alguns pontos do Sul "criacionista" dos E.U.A. ou (porque não?) considerar que há verdadeira alternativa possível (desde logo, académica, escolar) entre medicina e feitiçaria.

Não-ensinar uma matéria que existe (e o corpo humano existe e nnguém de bom senso e em seu juízo perfeito duvidará que as leis biológicas, fisiológicas, etc. precisas por qui ele se rege existem também) configura a ensinar o seui contrário que é a nescidade ou, numa palavra que toda a gente ndende, a ignorância.

É converter a ignorância na décima ou décima primeira disciplina do (aberrante) currículo assim (des) concebido para gerir.

Ora, eu acho que poder político algum tem---deve ter---precisamente o poder material de tutelar desse modo e a esse ponto, o direito das pessoas a serem informadae sobre formas de funcionamento específico da realidade que lhes diz, directa e na verdade, inalienavelmente respeito.

É preciso perceber que, quando hoje (ainda!) se põe esta (falsíssima!) questão do estatuto a atribuir a partes relevantes do conhecimento (aquele "problema" de saber se a ciência ou ciências da sexualidade são matéria de necessidade ou de alvítrio e/ou "consciência) é, na realidade o problema de uma (absurdíssima!) "opção" entre conhecimento e ignorância, por um lado mas, de igual modo, entre poder e abuso do poder por parte dos governo ou governos, que estamos, na realidade, a permitir que seja posta.

É preciso---é essencial!---desmistificar, das mais diversas formas responsáveis possíveis, o corpo e a "questão do corpo".

Falo da "questão do corpo" como outros falam por exemplo, da "questão homossexual" ou da "questão judaica".

Nenhuma dessas questões existe, de facto, senão na cabeça daqueles que ainda não deixaram, realmente, a 'Idade Média intelectual e/ou intelectiva e inteleccional': o conhecimento objectivo do corpo---uma ciência ou mesmo uma genuína "ecologia da corporalicidade"---não é ou não são todos esses itens uma questão "política" ou "moral".

É---são---uma questão de necessidade científica: uma sociedade que (sem qualquer justificação ou fundamento demonstrável, aliás) se reclama "da informação" deveria, em qualquer caso, ser a primeira a percebê-lo!


NOTA


(1) Recordo-me, desde logo, de duas coisas que me marcaram: a exibição do filme "Helga" que passou entre nós com uma classificação "especial" ("para maiores de 21 anos"!) que deixou algumas mães de dezanove e vinte fora da possibilidade de vê-lo (!) e um célebre e, para mim, decisivo livro de Kenneth Walker, editado entre nós pela Europa-América, do saudoso Lyon de Castro, intitulado "Sex and Society" e que apenas pude ler, já na Universidade (!!) levando comigo o cartão de identidade que provava que "tinha mais de dezoito anos", idade mínima obrigatória para lê-lo...




[Na imagem: "Venus", colagem sobre papel do titular do blogue, originalmente publicada em http://umnaoalexandreonirico.blogspot.com]

"Do «Estado funcional economocrático»: Algumas reflexões pessoais" [Texto em Construção]

O "Público" de hoje, domingo, dia 30.08.09 fornece, num artigo sobre a as eleições (e, de um modo geral, a situação económica) no Japão (cf. in "Público" de 30.08.09, Sérgio Aníbal, "A economia que não se consegue livrar da deflação") um contributo relevante para o esclarecimento ulterior de dois conceitos que considero essenciais: o de "Estado funcional" (nome que eu próprio dou ao que os diversos capitalismos existentes costumam designar, sem grande rigor, por "Estado social") e o "Economocracia" ou " Inversão" (em termos mais amplos, abstractos e teóricos: "inversionalidade") economocrata" de refrência.
Primeiro item: o "Estado funcional".

Refere o "Público" como o governo liberal japonês foi conseguindo amortecer o que para o articulista constitui claramente uma tendência---um "trend"---de persistente (consistente, pelos vistos) e profundo declínio a nível das dinamias nucleares da "máquina económica" (e "económico-social") japonesa, de natureza muito dificilmente reversível, com recurso a injecções de investimento público que, precisamente, impediram o desabamento ainda mais rápido de todo o sistema.

Ora, isto diz muito sobre o modo como o capitalismo "social" ("à pê-ésse") concebe e interpreta na prática concreta a consigna ou 'cliché operativo' do "menos Estado/melhor Estado".

À revelia das concepções orgânicas verdadeira (e teoreticamente) modernas de Estado, aquilo que o capitalismo "social" (ou 'neossocial funcional') pretende na realidade do Estado é que opere como uma espécie de, ele próprio, "superfuncionário móvel" ou mesmo "operário especializado" da máquina económica como tal.

Quer dizer: o capitalismo dito "social" (ou mesmo em determinados casos de menor escrúpulo e rigor: "socialista") pretende, na prática, aplicar ao próprio Estado o modelo de contratação infixo e instrumentalmente descontínuo a que chama "flexível" (ou mais "modernamente": "flexiseguro"...) desactivando-o, assim, estrategicamente sempre que os "ventos estr(e)itamente técnicos" da economia correm de feição mas reintegrando-o no quadro de funcionários quando o próprio sistema se revela incapaz de reequilibrar-se na sequência de qualquer "crise" mais profunda por ele mesmo provocada, como neste preciso momento (e não apenas no Japão) acontece.

Tão simples quanto isto: o "Estado funcional" dos capitalismos "sociais" está vinculado, não directa, imediata e naturalmente à sociedade que o vota para representá-la mas, na realidade, ao núcleo económico 'motor' dessa mesma sociedade apenas produzindo ou admitindo, na prática, produzir paera esta com0o tal qualquer admissível benefício como efeito secundário daquela "aliança" com um elemento infra-estrutural dela ou nela situado.

Estamos, pois, perante uma deriva objectual e um esvaziamento material (não completamente admitido, embora) a do conceito verdadeiramente moderno de Estado.

Aquilo a que chamo o "Estado-consciência" moderno ('descendente civilizacional' dos modelos teóricos---em si mesmos contraditórios mas dialecticamente interactivos---de Estado hegeliano e, posteriormente, marxista) nasce, como conquista civilizacional, da necessidade sentida por grupos humanos cada vez mais estáveis e auto-conscientes de adequar operativamente os seus próprios desejos e legítimas aspirações individuais mas, sobretudo, colectivas aos próprios paradigmas operantes estáveis, básicos, essenciais, de vida política mas, de um modo que não pressupunha qualquer ideia de "mediação verticial" de um modelo económico fixo, situado angularmente entre ambas.

As versões "funcionais" pós-modernas diastinguem-se (in?) exactamente por introduzirem esse "deflector e retardador institucional" da "economia" entre as sociedades e a sua expressão política natural e concreta.

Ao intrometerem-se---de forma, a todos os títulos apócrifa---entre ambas essas realidades, forçaram aquela deformação tácita do próprio papel histórico do Estado a que atrás faço referência, passando a vincular o Estado primariamente às operações técnicas de servir a manutenção do sistema económico e apenas secundariamente, como disse, o objectivo original e essencial de servir de instrumento político directo à concretização dos anseios das próprias sociedades como tal.

O próprio papel (secundariamente disfuncional) da democracia passou, como tantas vezes tenho dito a ser o de demonstrar institucionalmente a pretensa 'imutabilidade natural' do modelo económico preciso situado no seu centro, forçando, desta vez a democracia, a um papel espúrio e profundamente disfuncional: o de manter a História sólida e artificialmente fixada a si mesma em vez de ser, como era nos projectos teóricos nobres anteriores, o de permitir exactamente, ao invés, que ela se soltasse sempre que o desejasse das sua circunstâncias objectuais concretas e pudesse (volto dizer: exactamente ao contrário) deslocar-se não só livre como também, de modo cumulativo, organizadamente no Tempo, sempre em busca de novas soluções institucionais e de todo o tipo para si própria.

Aquilo que os capitalismos de todo o tipo abominam no socialismo (mesmo nas formas reconhecida e ulteriormente disfuncionais de socialismo praticadas no interior das sociedades ditas 'de Leste', quando estas iniciaram um processo de esvaziamento continuado das generosas concepções originais) foi exactamente a utilização formalmente certa do Estado, ocupando---mal, embora, naquele caso---o lugar que para eles devia "naturalmente" ser o da economia).

Por isso, abominaram, como disse, o verdadeiro socialismo (que, é preciso dizer, não tem nada com aquilo que os partidos que abusiva e atrevidamente usam essa designação para tentar legitimar a sua desarticulação do próprio socialismo) e, por isso, também, durante muito tempo não viram o que quer que fosse de "errado" nas formas concretas de "capitalismo total" visadas pelos autoritarismos dos anos vinte e trinta do século passado até que a consabida e incontrolável voracidade deste forçasse um confronto que acabou, como se sabe, numa guerra mundial (1).

Absurdamente visto como um "irmão gémeo" do socialismo, o fascismo (e o nazismo!) foram o seu contrário integral: em qualquer deles, com efeito, o Estado não opera, em caso algum, como 'vértice operativo' da vida ecnómica, social e política.

Pelo contrário!

Eu sempre disse que o decantado poder absoluto de Mussolini ou de Hitler (ou de Franco ou de Salazar) num certo sentido muito preciso e perfeitamente demonstrável, nunca, na realidade existiu: o poder de Hitler e do Estado nazi nada (ou pouco mais)era na realidade do que a precisamente a exponenciação até um (quase?) limite do poder funcional que têm hoje os dirigentes políticos "democráticos" que lhes sucederam: o de mediar o verdadeiro poder que é o do grande capital financeiro de que eles operam como agentes e mediadores.

Daí, eu usar com frequência a expressão "Estado broker" ou mesmo "Estado... almocreve" para designar o que comecei por chamar "Estado funcional".

Em países e economias como as da extinta União Soviética, quem conduz a Economia; quem dertermina quem dela deve partilhar, de que modo preciso e em que nível ou escalão é, ao contrário disso, mesmo o Estado---e é isso (o imenso valor social que esse modelo em si contém e que a gestão do próprio Estado, no fundo, já pós-soviético e até pós-socialista, não foi, a partrir de dado passo da sua História, capaz de seguir garantindo que chegasse contínua e realmente à prática) que o capitalismo (ou os "capitalismos") nunca lhe puderam perdoar e que, de facto, não perdoaram.

Porque, repito, o paradigma de sociedade e especificadamente de economia que o verdadeiro socialismo propõe e que, enquanto vigorou o espírito original da tomada do poder pelos sovietes, foi seguido nos países de Leste) é exactamente o oposto do modelo "funcional" ambicionado e realizado por eles nas sociedades onde capitalismo permanece o padrão organizacional concreto e a que chamo, pois, por tudo quanto disse, de "Estado" (ou "estaticidade") "funcionais" sendo que as formas de revestimento politiforme respectivas devem, a meu ver, ser naturalmentre designadas, por seu turno de "democracia (meramente) instrumental" ou mesmo "inorgânica".

Dito isto, é fácil de perceber (eu, de resto, já atrás praticamente o disse) como se articulam os modelos de "Estado funcional" e o que designo por "economocracia" ou "deriva economocrata" pura do capitalismo que comecei por referir utilizando, para ionduzir a ideia em causa, o exemplo da economia japonesa actual .

Na realidade, falhada implementação do capitalismo total (cf. a noção luddendorfiana de "Totaler Krieg" ou "guerra total" seguida por Hitler no plano militar que visava, para ele e pra o grande capital financeiro alemão que o levou ao poder abrir o caminho para a Economia, daí o reforço da ideia de "totalidade" que o nazismo e, em geral, os fascismos procuravam, a partrir da consolidação de uma visão específica de economia); na realidade, falhada a tentativa de "totalizar" expressa e institucionalmente o capitalismo, dizia, este virou-se para formas mais subtis que passavam pelo esvaziamento operativo objectual das formas de expressão e organização política---designadamente o modelo eleitoral---levando-o, como atrás disse, a operar na prática como entidade objectivamente bloqueadora da dinâmica histórica mas, também, adicionalmente, como dispositivo de 'justificação teórica e prática' da suposta 'inevitabilidade' dessa mesma ausência de dinâmica e concretamente de mudança da própria História.

Criou-se assim a ilusão (permitam-me o jogo de palavras: não sei se "de óptica" se "de... ética") de que a História (e dentro dela a Economia e a Política que do seu uso histórico concreto, deriva) não mudam porque a sociedade não quer que elas mudem.

Não já porque existem leis para o efeito mas porque livremente as sociedades assim o determinam.

Esta ilusão latencial (Esta ilusão de óptica? De ética políticas?) de que a sociedade poderia mudar tudo se assim o desejasse é, no fundo, o grande instrumento do capitalismo moderno e, sobretudo, pós-moderno---do "democapitalismo neo-moderno"---e o grande suporte do Estado "funcional).

Na verdade, o capitalismo joga, hoje, com a possibilidade pura ou impuramente teórica de mudança onde ontem jogou com a imposição da ausência dessa mesma mudança.

Na prática, ele não mudou: nem ele nem as formas muito concretas, muito precisas de distribuição social e política do poder que dele resultam.

Mudou o seu modo de negociá-las social e políticamentre--ou mais exactamente: de parecer fazê-lo.

Mudou o seu modo de usar secundária e instrumental ou funcionalmente a "política" para consolidar-se e perpetuar-se.

Como comecei por afirmar.


NOTA


(1) Nem precisaria de citar Henry Ford, o Ford do "Judeu Internacional", um dos casos mais extremos (e embaraçosos!) de expressa aprovação do modelo de "capitalismo total" do nazismo.

É certo que Ford viria posteriormente a renegar o que aí disse mas não é menos verdade que o disse e que o disse numa altura em que era significativo que o fixesse porquanto era o momento da História contemporânea em que a luta anti-comunista, no seu afã de resultados, não olhava nem a meios concretos nem a sugestões teóricas para fundamentá-los e guiá-los.

Mas, como disse, nem seria necessário citar o caso limite de Ford.

Bastar-me-iam duas citações que me chegaram quase por mero acaso no próprio instante em que me pereparava para redigir esta 'entrada' extraídas de um romance muito conhecido de Sven Hassel (cf. Sven Hassel, "General S.S." ed. port. Editorial Europa-América, col. "Século XX", 2ª edição s/d, trad. port. de M. Canaveira de Campos, da edição francesa das Presses de la Cité")

Vejamos quais são:

"Nem o pior inimigo de Hitler lhe pode contestar as vantagens já atingidas por uma civilização renovada" (jornal "The Times", Londres, 24.07.33.

"A Alemanha teve a sorte de encontrar um chefe que soube juntar todas as forças do país em proveito da colectividade" ("Daily Mail" de 10.07.33, cf. ibid. loc. cit.)"


[Imagem extraída com a devida vénia de carloscharlesramos.blogspot.com]

sábado, 29 de agosto de 2009

"Ele Há Dias!..."


Sugere-me, agora, o meu gato Silvério [eu não sei, de todo, onde é que o Silvério vai buscar estas coisas! Só podem ser "coisas de gato"---e muito vadio, de certeza!] outra, envolvendo, desta vez, um "pê-pê-dê" muito cumpridor e diligente que resolveu construir, lá na terra, um anúncio enorme em néon, onde, baseando-se nos sábios conselhos da sua mentora máxima, mandou, por sua iniciativa, escrever, para lhe agradar:


NÃO ILUDAM OS PORTUGUESES!
PROMETAM
-LHES APENAS O QUE PODEM CUMPRIR: DEDICAÇÃO, SUOR E MUITO TRABALHO QUE É ISSO QUE O POVO QUE VOTA EM NÓS MERECE PELA SUA INGENUIDADE, BOA-FÉ E INCONDICIONAL CONFIANÇA NA NOSSA PRÓPRIA BOA-FÉ E HONESTIDADE!...


Então, não é que a coisa (que ele mandou instalar, com permissão do pároco local que votava---claro!---C.D.S. mas, complacente e tolerante como era, fechava sempre os olhos às 'ousadias' e 'maldades' politicamente mais atrevidotas e "avançadas" dos "esquerdistas" do P.P.D.) se avaria mesmo na noite da "estreia" e, nas barbas incrédulas e escandalizadas das "forças vivas" da aldeia, se transforma, por acção de um indiscretíssimo apagão que virou providencialmente "crítico", no seguinte:


NÃO ILUDAM OS PORTUGUESES!

PROMETAM-LHES APENAS O QUE PODEM CUMPRIR: DEDICAÇÃO, SUOR E MUITO TRABALHO QUE É ISSO QUE O POVO QUE VOTA EM NÓS MERECE PELA SUA INGENUIDADE, BOA-FÉ E INCONDICIONAL CONFIANÇA NA NOSSA PRÓPRIA BOA-FÉ E HONESTIDADE!...
Ele há dias em que não se pode, de todo, sair de noite à rua, ham?...

Para o Morais e Castro [anteriormente publicado como comentário no blog "Cantigueiro", do Samuel]

Não quero deixar de juntar a minha às vossas vozes, nesta circunstância particular!
Ver morrer os "nossos", faz doer como se nós próprios tivessemos morrido um pouco.
Senão física, com certeza, moralmente.
É que já somos tão poucos!...
...Para o que é preciso, pelo menos.
Para mim, o Morais e Castro era um dos "nossos" que ainda "mexia", lá onde os "nossos" em regra não chegam exactamente porque são "dos nossos"...
Era mais do que isso, claro: era um excelente actor que adorava sê-lo e cuja adoração pelo que fazia transparecia e contagiava, chegando, por vezes, a comover e a empolgar.
Era um 'sinal'---quase um código, uma cifra, algo que nos fazia acreditar que estávamos, como 'família', afinal, vivos: ele era a prova disso de cada vez que (res) surgia---mas era também, de um modo muito especial, um motivo de íntimo e vibrante orgulho porque demonstrava que, afinal, também 'nós' éramos bons e sabíamos fazer coisas como os 'outros', aqueles que não tinham, como 'nós', de lutar diariamente contra "dragões" e coisas assim para serem ouvidos.
Agora, a "nossa" voz ficou, para já, um pouco (ou , pelo contrário, um muito?) mais débil mas estou certo de que vai, não há-da tardar muito, ressurgir (como ressurgiu, antes, uma e outra vez, depois de perdas em si mesmas irremediáveis, algumas tragicamente ainda bem recentes) e com a mesma clareza, o mesmo vigor e o mesmo cristalino timbre de sempre até porque havemos de querer que o 'Zé' Morais e Castro, lá para onde foi, saiba exactamente isso: que não nos calamos e que continuamos o labor que foi dele e dos outros cujos ideais não cedem, como os do 'Zé' Morais e Castro, cidadão e actor, não cederam.
Por nós próprios, por ele, por tudo aquilo em que nós e ele acreditamos e queremos que seja realidade.
Uma realidade pelo menos tão grande, viva e intensa como esta dor que não conseguimos, apesar de tudo, deixar de sentir pelo Amigo que partiu.

Adeus, 'Zé'!
A gente (re) vê-se, um dia destes, lá "em cima", ham?...
[Bruuuuxo!...]

"As palavras matam? Pois matam! Mas também servem para desfigurar a realidade e de que maneira!..."

Podem chamar-me anti-semita!

Não o sou (de todo!) mas podem chamar-mo!

Faz parte de uma certa propaganda (agressivamente!) pró-sionista que "foi à escola com Goebbels" e os amiguinhos deste e lá aprendeu que, para desacreditar com alguma eficácia uma verdade, o melhor caminho é antecipar-se a quem sabemos que há-de proferi-la e tentar condicionar, atenuar e recuperar, a partir dessa astuta mas já gasta 'jogada de antecipação' as reacções que sabemos irem inevitavelmente suceder-se: é velho, é conhecido, é truque de compêndio.

Quem está de fora vai pensar: se fosse verdade, eles não se atreveriam a abordar o assunto; por outro lado, ao referirem-se ao tema eles mesmos, antes de alguém mais, esses 'tipos' devem saber "alguma coisa" porque eles não iam espontaneamente levantar uma questão que obviamente os desfavorece.

É, repito, uma táctica como qualquer outra.

Sócrates, por exemplo, usou-a abundantemente na primeira metade do seu 'reinado' por instigação da empresa de publicidade política e (des) informação que o "aconselhou" quando, em nome de uma "contabilidade de mercearia" que sob a sua tutela sempre vigorou (e continua, de resto, a vigorar) na gestão do Estado dito 'social', decidiu atirar-se, como "gato a bofe", a tudo quanto era "social" (se é "social", é "caro", para ele: foi, em síntese, o lema---não assumido---da sua in/acção política geral) baralhando intencionalmente as coisas e confundindo, sempre, estrategicamente, "social" e (como lhe ensinaram a dizer) "interesses corporativos"...

Outro tanto fazem, como ia dizendo ao início, os "mestres cantores" israelitas, senhores de uma "Mossad informativa" informal, astuciosíssima (e, pelos vistos, tentacularmente multinacional também) cuja missão consiste, precisamente, em (tentar) branquear sistematicamente uma imagem, sobretudo externa, a que o crime e a barbárie se "colam", porém, tão persistente quanto indelevelmente, digamos assim.

Basta pensar na política de "assassínios selectivos" (um dos meus inúmeros recortes, extraído quase ao acaso de uma extensíssima pasta onde não faltam, aliás, outros como ele---Cf. "D.N." de 4ª feira, 08.02.06---diz, com uma eloquência que arrepia, "Israel intensifica política de assassínios selectivos").
Pois, apesar desta cínica e persistente "estratégia de sangue" a que, com metronómica regularidade, se entrega, não teme, ainda assim, Israel reclamar-se, com um desplante de deixar qualquer um boquiaberto, a (inimaginável!) condição de (imagine-se!) "único estado democrático na região"...

Enfim...

A "última" da central des/informativa sionista prende-se com uma notícia (que cito indirectamente via imprensa portuguesa) do sueco "Aftonbladet" de 17 de Agosto onde se põe a (aterradora!) questão de uma quadrilha internacional de tráfico de órgãos operando nos E.U.A. (Cf. por exemplo, "Público" de 25.07.09, "Autarcas, rabis, tráfico de rins e corrupção") e de que faziam parte, também, ao que parece, alguns rabinos (!) poder ter utilizado "jovens palestinianos" assassinados pelo exército judaico a fim de precisamente lhes utilizar os órgãos para tráfico.

A notícia, envolvendo aquilo que mediaticamente é identificado pela designação de "Operation Bid Rig", levanta uma questão de tal modo monstruosa que qualquer sugestão de possível silenciamento em torno dela se reveste de um carácter de (im!) pura abominação que só pode, como é evidente, escandalizar e despertar o mais vivo horror.

Esther Mucznik retoma-a num escrito intitulado "As palavras também matam" (cf. "Público" de quarta-feira, 27.08.09) insurgindo-se, porém, não contra a possibilidade, mesmo remota, mesmo muito distante e apenas suposta, de haver algum fundo---insisto, mínimo---de verdade nela (a quadrilha existiu, foi, recentemente, desmantelada pelas autoridades policiais norte-americanas, o tráfico de órgãos ao que tudo indica também existiu, estes têm obviamente de vir de algum lado e, afinal, ao contrário do que acontece com a tal questão dos "assassínios selectivos" que são mesmo política... de Estado, neste caso, não são---não serão, em tese...---todo o exército e/ou o próprio Estado de Israel como tal a estar em causa mas, apenas, um bando de criminosos dentro do primeiro e/ou talvez também do segundo.

Motivo pelo qual, partindo do princípio teórico de que instituições políticas realmente sérias pretendem assim permanecer, seria previsível que a atitude de qualquer judeu igualmente sério e digno fosse a de exigir a todo o custo o esclarecimento cabal do (possível) "affaire" em nome da credibilidade do próprio Estado de Israel---o qual, repito, até poderá neste caso nem estar como tal propriamente em causa sendo que é possível que o possa estar apenas uma parte invulgarmente 'pôdre', no seu interior.

Não é esse, todavia, o sentido da 'argumentação' utilizada pela articulista do "Público" que opta por começar logo por increpar o jornal sueco quando escreve que a notícia (e cito, do próprio artigo dela, as palavras do editor sueco): "levanta numerosas questões que devem ser investigadas".

Ora, será que não devem?!

É falso e/ou é errado que devam?

A articulista do "Público" acha que uma exigência que devia ser a de qualquer pessoa minimamente humana e séria (nem seria preciso que editor de jornal algum o viesse lembrar!...) configura a intolerável atitude de (e volto a citar) "cabe[r] aos judeus e israelitas provarem a sua inocência" (!!).

E acrescenta: "num perfeito remake inquisitorial--onde uma acusação servia de condenação até prova de inocência---obviamente improvável (?)"...

Ora, segundo a própria transcrição feita por Mucznik, o que o "Aftonbladet" pede é que se investigue; repito: é mau (é crime, é... "remake inquisitorial") investigar uma suspeita desta dimensão e gravidade?

Há aqui um problema de semântica (Mucznik não apenas ignora o que é "inquisição" como não sabe distinguir uma "investigação" de uma "acusação") ou, mais grave, de ética e de humanidade?

Afinal, não é Israel aquele Estado cujos soldados (e cito, de novo, o "Público", agora a edição de 23.02.09) "mandaram fazer T-shirts com imagens de crianças mortas e de mulheres grávidas (!!) transformadas em alvos"?

E não diz ainda o mesmo "Público" de 23.02.09 pela pena da jornalista Ana Fonseca Pereira que "o jornalista Uri Blau, que assinou a investigação [em torno destas práticas horrendas e verdadeiramente bestiais] [que] esta é uma prática habitual para assinalar o fim da recruta ou o fim de uma missão"?...

E não acrescenta ela que "[...] as encomendas que chegaram nos últimos meses às lojas de estampagem, muitas delas com o aval das hierarquias (sublinhado meu) retratam uma violência sem precedentes" sendo que "uma camiseta mandada fazer por uma brigada de snipers mostra uma mulher grávida na mira de uma caçadeira" e que "por baixo [se] pode ler: "Um tiro, duas mortes", divulgando o "Público", de resto, como ilustração do inimaginável artigo, uma foto das costas de um soldado com a (abominável!) legenda em inglês e em hebreu?...

Pergunto eu: não será normal que um Estado que se reivindica, apesar disto, da democracia se sinta obrigado a investigar (se) perante tantos e tão comprometedores elementos contra si, quando à barbárie pura (?) e simples (??) se junta agora, na forma de, no mínimo, uma horrível possibilidade e/ou aterradora suspeita, o comércio e a venalidade---a possível 'indústria da selvajaria' mais desapiedada e primária?...

O que o "Aftonbladet" pede, afinal, é que ao Estado de Israel seja dada a posibilidade de limpar o seu nome, talvez injustamente misturado com políticas de "assassínios selectivos" (essa ao que se sabe, bem real!) e/ou envolvendo uma dificilmente imaginável "protecção hierárquica" dada aos mais ferozes crimes de guerra e à respectiva propaganda (também estas bem reais): é isso um "acto inquisitorial"??!!...

É isso crime?...

Valha-nos Deus...

Mas fala, ainda, Muzcnik de supostas cavilosas propagandas anti-semitas (o "chavão" e o "papão" do costume...), de "calúnias", "difamações" e de um ódio, ao que parece, generalizado por parte das nações do mundo a Israel cuja etiologia, porém, a autora do artigo (claro!) desconhece.

Mas se o desconhece é porque não lê os jornais, incluindo aquele no qual regularmente escreve---ou, então, porque o não faz com a atenção e o cuidado com que deveria fazê-lo.

Se o fizesse, saberia, por exemplo, que, para além do que eu próprio aqui já escrevi (e que está, de resto, publicado, é do conhecimento de toda a gente que queira informar-se, vem na imprensa isenta e respeitável onde, repito, a própria Mucznik escreve); se o fizesse, dizia, não ignoraria, por exemplo, o que o "Público" insere na sua edição de 2o de Maio de 2008 sob o título "Bombas de fragmentação matam de meia em meia hora e 109 países querem eliminá-las".

"109 querem" mas (escreve a autora do artigo, Sofia Branco) "outros, como os E.U.A. (que detêm entre 700 a 800 milhões de bombas de fragmentação, segundo a Handicap International) Rússia, China, Índia, Paquistão e Israel pura e simplesmente opõem-se e nem sequer compareceram ao encontro de Dublin" [sublinhado meu].

Não será também por isso que... enfim... não é... a tal generalizada desaprovação que a autora confunde com ódio emerge, muito justamente aliás, no interior das opiniões públicas dos países civilizados e verdadeiramente democráticos ?...

Por isso e/ou porque (para dar outro "exemplo", ainda do jornal "Público", desta feita da edição de 02.01.09, no texto intitulado "A humanidade está em jogo em Gaza")"[...] Israel [...] obriga[...] os 1,5 milhões de habitantes de Gaza a enfrentar uma situação de fome real" [sublinhado meu].

Por isso e por "coisas" como as que, ainda e sempre, o "Público" divulga, agora a 29.09.08 pela pena de Margarida Santos Lopes (Cf. "Radicais judeus ameaçam de morte pacifistas em Israel") onde ficamos a saber que a sanha assassina dentro do Estado de Israel já se vira contra os próprios judeus numa demonstração de singularíssima "democraticidade" que deve, pelos vistos, constituir uma "especificidade" local?

"Junto à residência [de "um dos maiores intelectuais do país, o historiador Ze'ev Sternhell"] foram [...] encontrados panfletos oferecendo uma recompensa de 220 mil euros a quem assassinar (sic, sublinhado meu) membros do movimento Peace Now".

Isto, depois de o mesmo ter sido vítima de um "atentado" a tiro que, escreve M. Santos Lopes, deixou o país em estrado de choque.

"Et pour cause", não?...

Se tudo isto (e, note-se, que poderia, como disse, sempre reportando-me ao meu extensíssimo arquivo de recortes, seguir por aí fora citando...) não basta para explicar, desde logo, a repugnância que este Israel tem forçosamente de despertar junto das pessoas sérias, efectivamente civilizadas e de espírito genuinamente democrático mas de igual modo e, num certo sentido, sobretudo, a desconfiança relativamente ao Estado que assim procede; se, dizia, isto não basta para explicar a indignação generalizada e a justíssima vontade de firme distanciamento, não sei francamente o que seria necessário para o efeito...

Insinua ainda subtilmente Esther Mucznik (é outro 'gag' argumentativo muito conhecido e comum, aliás!) nas derradeiras linhas do seu artigo uma identidade entre a resistência à barbárie institucionalizada usada como política de Estado (e que ela se obstina teimosamente em confundir com ódio e anti-semitismo mais ou menos "primário") e o próprio nazismo; há, todavia, uma outra analogia que (sem que seja, como pede o "Aftonbladet", apurada toda a verdade deste 'caso') é inevitável que façamos: a que existe ou pode existir entre precisamente uma Alemanha nazi que além de extinguir fisicamente--de dizimar de forma brutal, maciça e indiscriminada---os judeus ainda lhes aproveitava exaustivamente os óculos, os dentes, o cabelo quando não, literalmente, a própria pele e um povo ou parte dele [recordo que a quadrilha detida incluia sacerdotes (!) judaicos] que, outrora sujeito a estas exacções e vilanias, volto a dizer, pode (e sublinho: pode) estar hoje a protagonizar algo em tudo semelhante semelhante com os próprios órgãos de alguns jovens palestinianos "cirúrgica" (ou devo dizer: "selectivamente"...) abatidos para o efeito.
Não basta esta aterradora possibilidade para que se investigue exaustivamente e sem preconceitos de qualquer espécie, por escrúpulo de humanidade e compostura humanista, a possibilidade levantada?
Espírito "inquisitorial"?

"Anti-semitismo"?

"Calúnias"!

Ora, adeus!

Contra-informação, (im!) pura propaganda e a mais insustentável campanha de branqueamento de um Estado sem memória histórica e cada vez mais refém da sua própria ferocidade e bestial estratégia de cega e indiscriminada fereza, isso sim!

"País ou Donkey Crossing?"

Agora, boa-boa é aquela entrevista do "D.N." sobre os malefícios do tabaco [lembram-se do Tchekov mas também do Gogol, das "almas" (ou dos cérebros?...) "mortos" e assim?...]

Pois... é caso para dizer: com 'páginas de opinião' como aquelas, qual é a sociedade que ainda precisa de andar preocupada com a sujidade e os detritos que produz?!...

Então? Co-incinera-os?

Não! IMPRIME-OS!!